O despertar da Herdeira escrita por Course


Capítulo 4
III - O que há no interior da floresta


Notas iniciais do capítulo

Olá, leitores maravilhosos!

Gostaria de agradecer à você por estar lendo, mesmo que não necessariamente vá comentar algo ao final deste capítulo. Saiba que o seu view nas estatísticas é luz em minha vida. Obrigada.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/775933/chapter/4

| 3 |

O que há no interior da floresta

 

Com o primeiro raiar do dia, colocamo-nos de pé, guardamos as coisas de nosso acampamento e começamos o nosso caminhar rumo à Clareira. O silêncio da floresta foi o nosso único companheiro durante um bom tempo da viagem e aquilo, de uma certa maneira, era estranho para mim, mesmo que eu tivesse passado os dois últimos dias vagando pela floresta, somente na companhia de meus pensamentos.

Encarei as árvores ao nosso redor e seus longos galhos, buscando algum tipo de movimento esperado.

― Elas estão muito paradas. ― Murmurei, não para ninguém específico, apenas observando algo que deveria ser óbvio para todos.

― E o que esperava? ― Caspian indagou, aproximando-se mais de mim e encarando a enorme árvore de casco branco e coberta de flores amarelas à nossa frente ― Que elas saíssem andando por ali?

Olhei-o afetada com sua brincadeira e suspirei pesado, sem conseguir encontrar palavras certas para expressar minha preocupação com as árvores.

― Contam as lendas que no tempo do reinado dos reis e rainhas de Nárnia, as árvores tinham vida. ― Relatou o texugo enquanto prosseguia com sua marcha e nos ultrapassava, seguindo seu caminho.

― Mas, quando o povo de Telmar veio para cá, elas se esconderam tão profundamente que jamais se comunicaram com o povo exterior novamente. ― Nikabrik complementou a narração do amigo, também nos ultrapassando.

Eles foram se afastando, aos poucos, e os comentários com relação às arvores partiram com eles, deixando-nos sozinhos, bons metros para trás.

Encostei minha mão na árvore exatamente no mesmo instante em que Caspian fez seu movimento pensando no mesmo que eu e, por fim, sua mão pousou exatamente acima da minha, transmitindo um calor confortável aos meus dedos. Tomei coragem para elevar meus olhos e encontrar o par castanho que parecia enxergar o mais profundo da minha alma e, de forma surpreendente, gostar do que via nela. Um brilho intenso refletia em sua íris e eu podia sentir uma força magnética puxando-me para cada vez mais perto de seu corpo.

Foi quando senti um leve aperto em meus dedos e Caspian movimentar-se milímetros para mais perto de mim, que Nikabrik gritou lá na frente:

― Precisam fazer alguma parada para descansar? Nós nem começamos o trajeto direito!

― Deixe os dois, Nikabrik! ― Caça-trufas repreendeu o amigo, em nossa defesa.

Puxei minha mão de volta e, forçando-me a desviar minha visão do feitiço castanho, comecei a caminhar para longe, buscando voltar à trilha que percorríamos.

Não sabia bem que espécie de sentimento era aquele que estava desabrochando em meu interior, mas com o calor em meu rosto, pude ter certeza de que algo realmente arriscado estava tomando controle de minhas ações. Caspian era perigoso. Ele me fazia esquecer de meus instintos e deixar-me levar por seus movimentos, como se ele tivesse uma força profunda, capaz de forçar-me a abdicar de minhas certezas e segui-lo por onde quer que ele fosse. Talvez fosse coisa de telmarino, quem sabe? Mas tudo o que eu sentia era que precisava me distanciar, antes que esse sentimento me colocasse em maus lençóis.

Aquele era um mundo estranho, em que, por mais que eu sentisse que as coisas seguiam um fluxo natural, por outro lado, sentia que uma enorme história estava sendo escondida de mim e o pior era que a única que obtinha a resposta para o enigma por trás da história era eu mesma.

Voltamos à estaca zero, em que o silêncio possuía poder sob nosso entorno e os movimentos de nossos pés pela relva era a única coisa audível por aqui, além de nossas respirações e o farfalhar de meu vestido no chão.

Apesar da boa refeição e da noite de sono segura que eu tive, ainda sentia meu corpo dolorido com a caminhada intensa e, quanto mais alto o Sol ficava no céu, mais calor eu sentia e mais fraqueza também. Quando o Sol alcançou o topo, no céu, Caça-trufas resolveu que seria uma boa hora de parar para comer. Escolhemos uma boa árvore, com uma copa extensa e que nos forneceria uma boa sombra e repousamos ali. Aproveitei para puxar meu vestido alto o suficiente para analisar os estragos do meu pé. Não estava tão ruim, no fim das contas. Apenas alguns cortes superficiais e uma mancha avermelhada próximo ao meu calcanhar do pé direito. Enquanto eu observava meu pé atentamente, após terminar de comer meu pão, não notei que Caspian se aproximava.

― Ella, como você tem conseguido andar com esses pés tão machucados? ― A preocupação era eminente em seu tom de voz.

― Não está tão ruim como parece. ― Defendi-me enquanto tentava esconder meus pés pelos tecidos do vestido, o que foi um ato falho, visto que ele tornou a puxar o tecido para cima, sentando-se a minha frente e pegando um dos meus pés cuidadosamente para analisar com cuidado.

Suas mãos eram grandes e quentes e enquanto passeavam por minha pele, deixava um rastro de calor por onde tocava e causava-me leves calafrios.

― Oh, céus! ― Caça-trufas aproximou-se para checar meus ferimentos também.

Tentei puxar meu pé de volta, mas o olhar repreensor de Caspian fez-me parar de me mover.

― Talvez tenham algumas plantas por aqui perto que posso colocar para ajudar a cicatrizar e a não criar problemas maiores. ― Coçando seu queixo, Caça-trufas se colocou a examinar nosso entorno, enquanto Caspian prosseguia com meu pé descansando em seus joelhos dobrados e examinava com cuidado os ferimentos.

― De verdade, eu realmente estou bem. ― Resolvi insistir, sabendo que causaria mais constrangimento ao grupo que agora tinha sua refeição de viagem reduzida graças à minha aparição surpresa.

― Não seja boba, Ella. Deixe que eu... é... que nós cuidemos de você. ― Atrapalhando-se nas palavras, ele encarou-me firmemente em retribuição, enquanto mantinha sua mão repousada em meu tornozelo.

O toque parecia muito mais do que apenas alguém que quisesse cuidar de mim. Era pessoal demais, carregado de sentimentos e extremamente íntimo. O farfalhar de seu dedo polegar na erupção na lateral de meu tornozelo permitia-me sentir leves ondas de calor que passeavam pela minha perna e causavam-me arrepios. Eu tentei fortemente lutar contra a conexão criada entre nosso olhar, mas fora algo totalmente em vão. Estava perdida novamente na profundidade intensa que ele possuía e não via escapatória para me livrar do calor que cada vez mais aumentava em meu rosto e inundava meu peito.

― O que foi, Caça-trufas? ― o retumbe de Nikabrik fez com que nosso encanto se quebrasse e voltássemos nossa atenção ao texugo que puxava fortemente a respiração pelo ar, buscando farejar algo.

― Humano. ― Foi o que ele disse.

― Ele? ― Nikabrik apontou obviamente para Caspian, que, assim como eu, analisava a situação com cautela.

― Não. ― Cortante, Caça-trufas apontou para alguns metros de distância, onde a relva era mais alta e gritou ― Eles.

E foi aí que vimos a fila de soldados telmarinos aproximando-se de nosso grupo, apontando suas armas firmemente em nossa direção.

― Eles estão ali! ― Bradou alguém do grupo segundos antes de Caspian puxar meu braço para cima e nos colocar para correr em direção contrária da do ataque eminente.

A cada passo que eu dava, podia sentir as folhas quebrarem contra nossos pés, que buscavam agora não uma trilha segura, mas uma forma de escapar das flechas que logo começaram a serem lançadas.

Olhei para trás brevemente, afim de verificar se Nikabrik e Caça-trufas nos acompanhavam. Assim que os captei com minha visão, voltei a focar-me no caminho que Caspian insistia em me guiar, enquanto possuía sua mão firme, colada em meu punho fino.

As flechas não pareciam acabar e quanto mais eu sentia que nos afastávamos do bando, mais ferozes eles pareciam ser em seu ataque. Foi então que ouvimos o som de gemidos vindo de Caça-trufas que pausamos nossa corrida imediatamente e voltamos para checar nosso amigo que estava caído no chão, com uma flecha fincada em sua lateral.

Nikabrik tentou se aproximar também, mas Caspian pediu para que ele continuasse a correr em minha companhia, que ele retornaria para buscar Caça-trufas.

Encarei o grupo que já se aproximava e percebi que não haveria tempo hábil o suficiente para que ele pudesse escapar dali com vida. Num ato rápido, ele ajoelhou-se próximo ao texugo e antes que ele pudesse fazer qualquer movimento, Caça-trufas começou a sussurrar:

― Não. Pegue e vá. É mais importante que eu. ― Notei pela primeira vez em sua mão o que parecia ser um objeto similar a um cilindro de marfim com um entalhe de leão na lateral mais grossa.

Os guardas se aproximavam cada vez mais e, assim estávamos todos perdidos. Caspian ponderou pegar sua espada para atacar e quando o fez notamos um rebuliço no meio da linha disforme de nossos inimigos.

Um a um eles eram sugados pela relva alta que nos circundava e desapareciam, sem deixar rastros de vida para trás. Aquilo fora algo notável como distração e o que Caspian precisou para colocar Caça-trufas em seu ombro e começar a correr carregando-o e nos guiando floresta adentro.

Notando que os soldados mais próximos a nós também estavam desaparecendo, mesmo com a corrida, pude perceber que logo a fera que atacava-os se voltaria contra nós. As nossas mentes pareceram trabalhar em conjunto, pois, assim que nos distanciamos bem do pequeno grupo que ainda permanecia de pé, paramos para que Caspian nos entregasse Caça-trufas e o vimos erguer sua espada em direção à fera que logo nos encontraria.

Um aperto no peito surgiu quando percebi que minha obrigação seria correr e salvar a vida de meu pequeno amigo, contudo, deveria deixa-lo para trás e enfrentar o temível ser que se apoderava dos corpos dos humanos. E antes que eu pudesse fazer um movimento para nos distanciar, Caça-trufas pousou sua mão em meu ombro e tentou sorrir levemente enquanto dizia.

― Não, Ella! Não irá nos atacar, estamos seguros, posso lhe garantir.

Encarei o último dos soldados sendo puxado para os confins da relva e notei o último humano de pé, Caspian, que, ainda mantinha sua espada de pé e, mesmo de costas para nós, sabia que analisava atentamente o seu redor, procurando pelo responsável pela captura dos soldados telmarinos.

Foi só quando Caspian foi sugado para a relva, agora mais baixa, que pudemos realmente ver o verdadeiro monstro que atacava sem dó ou piedade os humanos.

― Escolha suas últimas palavras com cuidado, telmarino. ― Foi a primeira coisa que ouvi do enorme rato que apontava uma espada diminuta em direção à face do homem no chão.

― Você é um rato. ― E fora o que ele obteve em resposta de Caspian, que olhava atordoado para o seu captor.

― Ah... ― soltou um suspiro pesado ― Eu esperava ouvir palavras mais originais. Bem, vamos! Pegue sua espada.

Eu sabia que alguma parte de mim deveria sentir que era necessário fazer algo para proteger a Caspian, contudo, agora distante o suficiente dele, sentia que minha intuição pedia paciência para o desenrolar da história.

― Hmm... não. ― Foi a resposta de Caspian ao rato.

― Pega logo! ― Ordenou o outro ― Eu não luto com um homem desarmado.

― É por isso que talvez eu viva mais se escolher não cruzar lâminas com você, nobre rato.

Arfei em surpresa com a perspicácia de Caspian e senti em meu coração que ele conseguiria contornar a situação com perfeição.

― Eu disse que não lutaria. Não disse que o deixaria viver. ― E pressionando firmemente sua espada frente à face de Caspian, temi que meus instintos estivessem errados.

― Ripchip! ― Proferiu Caça-trufas, pegando a todos de surpresa, principalmente o rato repleto de honra e bravura ― Não o mate!

― Caça-trufas, é você velho amigo? Espero que tenha um bom motivo para me interromper de forma tão inconveniente. ― Retrucou o rato.

― Ele não tem, vá em frente. ― Nikabrik falou antes de todos e eu o olhei com repreensão.

― Não diga isso! ― O repreendi, tomando a defensiva por Caspian, antes de me voltar ao nobre rato ― Senhor Ripchip, por gentileza, este telmarino em sua mira nada mais é do que um jovem cavalheiro que nos ajuda a atravessar a floresta em direção à reunião na clareira.

Não fazia ideia de que tipo de rato era aquele ou qual seu envolvimento com a reunião para qual íamos, entretanto, o brilho em seu olhar fez-me instantaneamente perceber que, no fundo, era um guerreiro realmente honrado.

― Ele é mais do que isso, doce Ella. ―Complementou Caça-trufas ― Foi ele quem soprou a trompa. ― E com aquelas palavras enigmáticas, ele venceu a discussão.

Ripchip pulou para longe do corpo de Caspian, guardando sua espada de forma segura na lateral de seu corpo.

― O que? ― o rato indagou, perplexo.

Ouvindo um movimento pesado no chão logo atrás de nós, voltei minha atenção às folhagens, contudo, fui pega de surpresa ao me deparar com grandes patas que sustentavam um tronco humano. Centauros.

Um grupo de cinco, todos portando lanças, aproximava sorrateiramente de nossa pequena reunião.

― Então deixem que ele se explique. ― a voz grande do mais alto dos centauros ali ressoou até de encontro com meu coração e senti, novamente, que estávamos em segurança.

Pelo jeito Caspian realmente teria sua chance de falar no conselho, mas a minha dúvida maior agora era: que trompa fora essa que ele soprou?


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Ripchip é outro personagem notável e por quem eu carrego um grande carinho.

O que estão achando até aqui? De fato, quem conhece a história sabe o que Caspian conseguirá da reunião, mas, além disso, o que será que acontecerá com Ella, já que, notavelmente, Nikabrik apresentou uma recusa à presença das fadas. Será que mais alguém na Clareira também pensará isso dela? Veremos no próximo capítulo.

Até lá, deixe sua opinião do que acha da história até aqui.

Beijos!



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "O despertar da Herdeira" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.