O despertar da Herdeira escrita por Course
Notas iniciais do capítulo
Olá, pessoas maravilhosas!
Estou evitando escrever capítulos muito longos, mas não se assustem se encontrarem alguns demasiadamente grandes. Este, por exemplo, dividi para que não ultrapassasse um limite agradável.
Estou ansiosa para escrever essa história e espero, de coração, que vocês gostem tanto da "Ella", assim como eu.
Boa leitura ♥
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O que há na correnteza
― Parada aí!
Senti uma rajada de vento fluir bem próxima a minha face em sentido contrário e fui capaz de distinguir que uma flecha acabara de ser lançada em minha direção, o que significava, logicamente, perigo. Pus mais força em meus movimentos e corri evitando tocar muito tempo o chão, pois, assim, alcançaria meu destino mais rapidamente.
Eles eram loucos se pensavam que gastando seus fôlegos para gritarem que eu parasse e aguardasse que me capturassem, renderia algum sucesso. Definitivamente não sabia exatamente o motivo da minha fuga, bem como não compreendi o motivo de tanto ódio nos olhos dos meus quase-captores, contudo, quando percebi suas intenções ao me observarem na margem do rio, coloquei-me a correr o mais depressa que minhas vestes permitiam.
A longa veste dourada que protegia meu corpo do frio arrastava-se pela relva da floresta, enquanto eu buscava por uma distância considerável entre mim e os berros incansáveis dos homens logo atrás. Eu sabia que o cansaço logo viria e, junto dele, a fraqueza em minhas pernas, bem como fora na outra noite, contudo, não pude permitir-me pensar demais nisso, já que, desta vez, realmente era uma questão de vida ou morte.
Não possuía um mapa para me localizar, contudo, seguia meus instintos que me garantiam que a direção que eu tomava, de alguma forma, me ajudaria a alcançar um lugar seguro. Era um pouco absurdo, tinha total noção disso, porém era a única coisa que eu possuía e me mantivera viva desde que me lembrava, ou seja... dentro desses dois últimos dias.
Foi chegando ao fim de uma clareira, que pude observar uma enorme depressão logo a frente e um estrondoso som de água corrente e tive certeza de que teria que fazer algo louco para sobreviver.
Reuni o que me restava de força e lancei meu corpo para mais perto do precipício que se aproximava.
Outras duas flechas passaram cortantes bem próximo e eu pude ouvir o silvo de uma outra que não fora tão longe.
Uma dor latente em meu braço forçou-me a reduzir meus passos e observá-lo atentamente. Oh, ótimo! Um corte fora feito por alguma das flechas lançadas copiosamente em minha direção.
― Ela está ali! ― um grito de um dos homens um pouco distante fez-me voltar a apressar meus passos até estar cara a cara com a enorme cascata bem a minha frente, apresentando uma força descomunal enquanto fazia sua água cair no precipício fundo que me aguardava.
Dei uma breve olhada para trás e notei que os temíveis homens se aproximavam. Não podia mais perder tempo. Lancei meu corpo em direção à nuvem de água que flutuava em direção à piscina de água formada logo abaixo e deixei que meu corpo caísse em uma vertical, rumo ao meu objetivo: o mais longe possível daqueles trogloditas.
Quando senti a água tocar todo o meu corpo, uma ansiedade súbita possuiu minha mente e forcei-me o máximo que consegui para a superfície. Eu sabia que minhas forças já estavam se esgotando e, muito em breve, eu perderia a batalha para permanecer consciente. Meus braços batiam exageradamente em meu entorno, assim como meus pés e vi-me bem perto de conseguir nadar para a margem daquele veloz rio que me guiava para uma infinidade de água em abundância.
Agarrei-me a um enorme tronco que pendia próximo ao local em que a correnteza me carregava e permaneci abraçada àquela árvore sem vida pelo máximo de tempo que me foi permitido. Já não aguentava mais lutar. O som estrondeante da cascata estava me deixando confusa, dificultando a formação dos meus pensamentos ou de um plano de fuga. Meus braços logo perderiam o restante de suas forças, meu vestido pesado que ainda decaía sua metade dentro da veloz correnteza iria me forçar, cada vez mais, para desistir de permanecer segura.
No momento em que realmente pensei em me deixar levar pelo rio, senti uma espécie de impulso em um de meus braços e logo, vi-me sendo puxada para a margem.
Era meu fim. Eles haviam pulado atrás de mim ou buscado uma forma de alcançar-me ali.
Quando finalmente meu corpo acomodou-se no chão duro, forcei meus olhos para permanecerem abertos enquanto erguia-me pelos cotovelos, afim de tentar ficar de pé.
― Senhorita, por favor, acalme-se.
Senhorita?
O som grave e dócil do meu raptor causou uma sensação estranha em meu interior, entretanto, ainda não estava pronta para abaixar minha guarda.
Foi então que olhei atentamente para o grande par de olhos castanhos que encaravam-me, agora bem próximo de minha face, acompanhados de uma feição preocupada.
Arfei em surpresa com a proximidade e pus-me a puxar meu corpo para longe do rapaz.
― Quem é você? ― Sua voz ainda me era estranha, com toda a gentileza que a circundava.
Franzi o cenho, enquanto olhava-o melhor, buscando qualquer traço de perigo. Suas vestes não fugiam muito dos padrões dos homens que a pouco me perseguiam, contudo, sua face não me era familiar.
― Eu sou Caspian. ― Apontando para o próprio corpo, ele apresentou-se apressadamente.
Ele estava com o corpo abaixado, deixando o peso em um dos joelhos que tocava o chão, enquanto o outro permanecia erguido. Seus ombros eram largos e definitivamente pude perceber que o bom comprimento de suas pernas poderia lhe garantir uma vantagem em centímetros comparados ao meu tamanho.
― Olhe, juro que não lhe farei mal. Você estava fugindo, certo? Dos guardas telmarinos. ― E apontou para o local de onde eu havia fugido ― Eu vi os guardas há não muito tempo, buscando um jeito de descer. Sei que você não me conhece, mas se quiser continuar a fugir, temos que sair daqui o mais rápido possível.
Foi aí que ele ergueu sua mão, numa tentativa, ainda amigável, de ajudar-me a erguer-me do chão.
E, como se minha intuição tomasse o controle total de meu corpo, senti meus dedos pousarem em sua pele macia e segurar firme em sua palma, enquanto sentia seus músculos tencionarem enquanto ajudava meu corpo a se erguer.
― Eu estou muito fraca. ― Precisei admitir, enquanto puxava boa parte do tecido amarelado para mais perto e buscava olhar para qualquer coisa que não fosse seus olhos chocolate que me olhavam de um jeito incômodo.
― Posso lhe ajudar com isso, mas precisamos ir. Tenho alguns amigos na floresta que podem lhe dar algo para comer e, se assim desejar, algumas roupas novas.
Ele deslizou sua mão para minha cintura, aproximando nossos corpos e num movimento rápido de defesa empurrei-o para longe, finalmente o olhando nos olhos deixando meus sinais de acusação moldarem minhas feições.
― O que pensa que está fazendo? ― Grunhi, ainda o encarando atordoada.
― Sinto muito, senhorita. Eu ia apenas... pega-la e carrega-la.
― Seus amigos estão muito longe? ― Encarei a floresta atrás de nós por um breve instante, enquanto aguardava sua resposta.
― Bom, sim... um pouco. ― Ele respondeu.
― E pretendia me carregar no colo, com esse vestido pesado, até lá? ― Olhei-o agora com curiosidade, um pouco perplexa com sua estupidez.
― Você não parece tão pesada assim e eu tenho músculos fortes o suficiente para carrega-la pelo caminho. ― Parecia que eu havia ferido seu ego ou algo similar, pois agora ele encarava-me notoriamente ofendido.
― Agradeço a gentileza, hm... Caspian, mas acho que o que me resta de forças pode me permitir andar pela floresta. ― Dei mais um passo para trás, afim de apresentar meus argumentos ― E, diferente do que acredita, meu vestido é bastante pesado. ― Era um absurdo defender-me usando o peso de meu vestido, eu sabia, mas ele parecia ter o efeito de sugar o pior de mim.
― Desculpe se ofendi suas vestes, milady. ― Um sorriso largo escapou de seus lábios, fazendo com que pequenas rugas de expressão surgissem entorno de seus olhos e eu o amaldiçoei por fazer meu coração latejar ardentemente enquanto o notava sorrir às minhas custas.
― Bom, para alguém que quer se esgueirar pela floresta, você parece estar se divertindo bastante aqui na margem, dando sopa para os guardas. ― Cruzei os braços, fitando-o desafiadora.
Imediatamente suas feições tomaram uma forma mais séria e logo o vi caminhando em pequenos passos rumo a floresta, olhando apenas uma vez pelo ombro, para ter certeza de que o seguiria.
Meus pés ardiam enquanto eu deixava o solo claro da areia e adentrava na relva baixa da floresta atrás de Caspian, porém não queria reclamar sobre isso, com medo de que isso o fizesse cometer algum ato absurdo como, por exemplo, retirar seus calçados e oferece-los a mim. Pelo pouquíssimo que conhecia dele, minha intuição dizia-me que esta seria uma típica atitude sua.
― Então ― Ele começou ―, o que fez para irritar tanto o exército telmarino?
Fiquei calada.
Ele demorou em suas passadas em suas longas pernas, afim de colocar-se ao meu lado enquanto costurávamos as altas árvores em nosso caminho.
Permaneci em silêncio e aquilo pareceu o incomodar.
― Não pode falar? ― Insistiu ― Olhe, sinceramente, se eu a quisesse ferida, teria a deixado ser levada pela correnteza.
Mais uma vez, ele obteve como resposta o silêncio.
Não era como se eu simplesmente não quisesse responder. A verdade é que, no momento em que eu lhe contasse, temia que todo o resto da minha história viesse à tona e eu não sentia meus instintos me apoiando na decisão de revelar-lhe imediatamente toda minha situação dos últimos dias. E meus instintos eram a única coisa em que depositava minha confiança, no momento.
― E o que você fez para estar fugindo deles? ― Revidei, depois de uma longa pausa e o olhei sugestiva, deixando-o perceber que eu não estava confortável o suficiente para falar sobre mim.
― Bem, acho que nasci. ― Ele riu secamente de sua piada de mal gosto.
Observando-me de soslaio, Caspian deve ter notado minha confusão com suas palavras e, diferente de mim, o rapaz, feito um livro aberto, abriu-se sem hesitar.
― Sou Caspian X, filho do Rei Caspian IX, herdeiro legítimo do trono... ou, pelo menos, eu era. Meu tio Miraz, sempre me teve sob seus cuidados desde a morte de meu pai e quando, recentemente, seu filho nasceu, ele sentiu que eu não era mais útil, então mandou me matar. ― Ele pausou sua história quando me ouviu arfar, em surpresa, com a última parte ― Meu tutor, o doutor Cornelius, me ajudou a escapar e vim parar aqui, na floresta da antiga Nárnia, para me esconder de um exército que deveria obedecer aos meus comandos, mas tudo o que faz é ouvir o que meu tio tem para lhes oferecer.
Levei um tempo para assimilar toda sua história e, enquanto isso, ele deixou-me na companhia do silêncio desconfortável que se instaurou entre nós.
― Então, os soldados estão na floresta atrás de você. ― Resolvi perguntar, tentando reduzir o tempo de silêncio que já me incomodava.
― Sim, acredito que sim. ― Ele assentiu.
Contando sua história, revelou que cavalgou pela floresta adentro, buscando fugir de um pequeno grupo de cavalheiros que queriam a sua cabeça. Por fim, perdeu seu cavalo, desmaiou no meio da floresta e acordou em uma pequena cabana. Ele narrou que fora salvo por um anão e um texugo falante, ambos narnianos. Agora, eles caminhavam rumo a uma grande reunião que ocorrerá ao centro da floresta, em que estarão os principais líderes dos narnianos que conseguiram escapar dos telmarinos, afim de buscar ajuda para derrotar seu tio tirano.
Pensei em perguntar se ele não estava assustado ou com medo de se encontrar com seres de uma cultura que há pouco ele imaginava inexistir, contudo guardei aquela indagação para mim, com medo de parecer duvidar de sua coragem.
― Quando a vi, de longe, correndo, pensei que você fosse uma deles. ― Ele prosseguiu com sua fala ― Bom, uma telmarina, pelo menos. Ou algo próximo aos humanos, mas... quando a vi de perto, ainda caída, tive certeza de que era uma narniana.
Oh, não. Esse era um dos assuntos que eu não queria entrar em detalhes. Uma sensação de enjoo surgiu em minhas entranhas e eu comecei a usar o pouco de energia que me restava para calcular o que ele de fato havia dito, tentando assimilar a informação e encontrar em meu ser qualquer coisa que pudesse me fazer concordar ou discordar de sua fala.
― É, bem... ― acabei soltando uma risada, em nervoso ― Se eles correm atrás, no meio da floresta, com certeza é um narniano, certo? ― E, com isso, achei que seria o suficiente para despistar o assunto.
Caspian olhou-me por longos segundos, desviando apenas para checar se não bateria em uma árvore.
― Você é uma narniana, certo?
Senti minhas pernas fraquejarem e tremerem, mas não por conta do cansaço. Tive que pausar minha caminhada e puxar o ar aos meus pulmões, afim de acalentar a ardência em meu peito.
Ele parou também e olhou-me por longos instantes. Eu sabia disso, pois sentia um calor em meu rosto causado por sua insistência em me encarar e não por uma retribuir seu gesto e o olhar também, já que me faltava coragem para tanto.
― Hm... Caspian... eu... ― O que eu ia falar? O que eu ia falar?
Foi então que ouvi um movimento atrás de algumas moitas altas e interrompi minha concentração para aproximar-me de Caspian, buscando algum tipo de socorro. Ele apoiou seu braço na frente de meu corpo, puxando-me para trás de si e usando o próprio corpo como um escudo.
― Fique em silêncio. ― Ele sussurrou, olhando-me pelo ombro.
Eu não estava preparada para lutar, sequer tinha forças para ficar de pé e caminhar tudo o que Caspian planejava, no fim das contas. Esperava, de coração, que Caspian fosse um valente guerreiro e que pudesse lutar tanto por sua liberdade quanto pela minha, caso fossem os soldados telmarinos.
De todas as coisas que eu esperava encontrar naquela floresta, não seria capaz de esboçar feições o suficiente para o que nos deparamos naquele momento. Definitivamente, não havia como imaginar tal surpresa quando eles apareceram na nossa frente.
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Quem será que vocês acham que eles encontrarão?
Estão gostando até aqui? Sendo sincera, não tive muito tempo para revisão ou qualquer coisa do tipo. Eu apenas escrevi, li rapidamente, e estou postando.
Aguardo vocês e seus reviews que me ajudarão a me sentir mais sã e a não achar que estou falando sozinha aqui kkk
Beijos!