Amor Imortal escrita por Mary Kate


Capítulo 3
Mente Conturbada.


Notas iniciais do capítulo

Olá pessoal!
Boa leitura para vcs ;*



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— Christian eu estou com tanta saudade da Phoebe! É claro que foi maravilhoso passarmos esses dias sozinhos, pela primeira vez em quase dois anos! Mas eu estou morrendo de saudade de abraçar ela, beijar, ouvir a risadinha dela! A nossa filha é tão linda não é amor?! – Anastácia diz fazendo as mais diversas e lindas expressões, enquanto segura minha mão. Sorrio para ela e a dou um selinho.

— Ela é perfeita meu amor! Também estou morrendo de saudades, mas também amei demais cada segundo que passamos esses quatro dias, foi incrível! – Nos beijamos com carinho e delicadeza, porém somos interrompidos pelo copiloto do jatinho que sai da cabine.

— Senhor e senhora Grey. – Diz alto, nós olhamos para ele e eu logo sinto que há algo errado, também sinto minha esposa ficar tensa pela forma como aperta mais firme a minha mão.

— O que faz fora da cabine, o que está havendo? – Pergunto sério, Ana intercala seu olhar entre ele e eu de forma confusa.

— Bem tenho que dizer que o voo acaba aqui! – Fala e saca uma arma, me levanto rapidamente e Ana grita.

— Christian não! – Sinto que ela também se levanta, mas eu já estou alguns passos a frente e perto do homem, de cabelo curto louro, bem alto e com cara de maluco.

— Ana por favor fique atrás de mim! E você quem quer que seja, não seja louco de atirar dentro de um avião, vai pressurizar, explodir e todos nós incluindo você morreremos! – Digo o encarando nos olhos com raiva, mas medo, lá no fundo estou com muito medo do que pode acontecer. Não quero morrer e principalmente não quero perder a minha esposa. Acabamos de falar da nossa filha, temos que poder estar com a Phoebe de novo. Porra!!! Tenho que dar um jeito de imobiliza-lo.

— Eu não estou nem aí! Estou de paraquedas e estou recebendo muito bem pelo serviço. – Diz com os olhos vidrados e arma apontada para mim. Pelo visto deve ter matado de alguma forma a tripulação, já que ninguém aparece para prestar algum socorro e a aeronave deve estar no piloto automático, já que não estamos caindo.

— Eu te pago o dobro, o triplo, para que pare com essa loucura! – Digo para tentar convence-lo, mas é claro que pago qualquer coisa para que possamos sair vivos dessa situação. Ele solta um risinho e balança a cabeça em negação.

— Seria uma boa Grey, mas me matariam se eu não finalizasse o serviço. – Dito isso percebo que ele vai atirar e me jogo em cima dele, não poderia dar algum golpe e correr o risco da arma disparar. Estamos em um jato menor do que o de costume, pois o meu próprio está em conserto, esse não possui quarto, somente as poltronas e o espaço para refeições. Por isso a tripulação também é pequena. E agora pensando melhor me atento ao fato de que nunca vi esse homem antes, os comissários e comissárias de bordo, os pilotos, assim como toda a equipe que trabalha para mim é de meu total conhecimento e todos trabalham para mim há muitos anos, sempre que vai haver uma substituição sou avisado com antecedência o que não houve dessa vez.

— Christian!!! Não!!! Por favor, por favor!!! Taylor, o avião foi sequestrado, tem um louco com uma arma querendo nos matar, veja o que pode ser feito por favor!!! – Ouço Anastácia gritar, depois fala com desespero ao telefone e então ouço seus passos correndo, eu e o homem lutamos no chão, consigo jogar a arma para longe e nós brigamos, entre murros, chutes e tentativas de imobilização. Ele com certeza é alguém muito bem treinado em lutas, porque do contrário já o teria imobilizado facilmente. Vejo de relance Ana sair da cabine do piloto gritando.

— O piloto está morto, a aeromoça também! Estão todos mortos! Christian cuidado! – Ela corre indo em direção de pegar a arma, mas o homem consegue se soltar de mim e dá um chute na perna dela que cai batendo a cabeça em uma quina da mesinha de refeições do avião.

— Ana!!! – Grito desesperado, dou um golpe na cabeça do homem que cai desacordado, mas meu desespero é tamanho em acudi-la que não reparo em mais nada. Me sento a pegando do chão, coloco sua cabeça em meu colo, ela abre os olhos fazendo careta, fico aliviado por ver que não foi grave, um fio de sangue escorre por sua testa. – Ana meu amor, você consegue se mover? – Pergunto aflito, alisando seu rosto.

— Sim... – Ela diz de forma um pouco fraca e levando a mão a testa machucada, faz uma expressão de dor. – Ai... – Fala ao sentir a testa com os dedos, depois olha para eles que estão com um pouco de sangue.  

— Venha querida, você precisa se levantar, temos que sair daqui. – Ela olha para mim confusa, a coloco de pé, olho em seus olhos, ela pergunta.

— Como sair daqui? – Fala perdida.

— Calma, vai ficar tudo bem, confie em mim tá bom?! – Ana balança a cabeça afirmativamente.

— Eu confio, sempre! – Diz com convicção e a dou um selinho rápido. A puxo pela mão para irmos para o fundo do avião, em um bagageiro tem paraquedas. Quando estou pegando um para vestir nela o homem já está em pé novamente e não sei como com a arma na mão.

— Deem logo adeus, porque o tempo acabou. – Ele diz e ao mesmo tempo tudo acontece muito rápido, ele aponta a arma para mim a disparando e Ana se joga na frente, ele dispara de novo.

— Nãããããão!!!! – Grito com toda minha força segurando a minha esposa que começa a cair lentamente a minha frente, tudo parece em câmera lenta. Olho para Anastácia em meus braços, em suas roupas no peito e na barriga manchas de sangue começam a se formar cada vez maiores, toco e minha mão fica completamente molhada e vermelha. Estou sentado no chão, ela está empalidecendo muito. Seus olhos vidram em mim e ela começa a tremer. – Ana, por que você fez isso?! Eu não posso ficar sem você... – Digo e começo a chorar, pela primeira vez desde que me lembro choro. As lágrimas caem sem parar, me falta o ar.

— Eu... não poderia viver... sem você... – Ela diz trêmula e quase sem folego, seus olhos se enchem de lágrimas, ela faz uma careta de dor, fecha os olhos e puxa o ar. – Me prometa que vai conseguir! Você tem que voltar para a Phoebe! – Ela diz com força me encarando, posso ver o seu esforço. Então fecha os olhos mais uma vez fazendo careta, coloca a mão em cada um dos ferimentos por vez. E observa a mão suja de sangue. Estou em choque, não consigo raciocinar, não consigo me mexer, queria que fosse um pesadelo para poder acordar nesse momento. – Me prometa!!! – Ela grita comigo, seguro seu rosto completamente pálido, sua linda boca agora roxa. Sinto meu peito sendo rasgado.

— Eu prometo, eu prometo! Mas você vai voltar para casa comigo, vai ficar tudo bem! – Digo retomando o comando da situação, tenho que nos salvar. Vou me levantar para pegar algo para estancar os sangramentos, mas ela segura minha camisa. Me olha nos olhos como uma despedida sem volta, é o que sinto, meu sangue gela nas veias, é como se o sangue sumisse do meu corpo.

— Christian... eu te amo! Diz para Phoebe que eu... a amo... para sempre! – Ela fala pausando com a voz trêmula. Enquanto ela fala eu já imendo falando ao mesmo tempo também.

— Eu te amo Anastácia, eu te amo meu amor, minha vida! – Choro capciosamente e vejo seus olhos se fechando, sua mão gelada solta a minha camisa. – Não!!! Anaaaaaa!!! – Grito com raiva, angústia, desespero, uma dor que não saberia descrever se tivesse que fazê-lo. Abaixo meu rosto de encontro ao seu e posso sentir que ela ainda respira, um fiapo de ar, muito fraco, mas ainda está viva. Então vejo o homem sair da cabine de comando da aeronave, agora sem a roupa de copiloto, está com uma roupa especial de malha preta e posso ver que está de paraquedas. Abaixo meu rosto dando um selinho no amor da minha vida, seus lábios gelados como nunca os havia sentido. Agora tenho que ir, vou para a briga que definirá o rumo da minha vida. Tenho que detê-lo e dar um jeito de guiar o avião, tenho que conseguir manter a minha mulher viva, eu não vou desistir, nós vamos voltar para nossa casa, para a nossa filha, para as nossas vidas! E eu vou fazer esses desgraçados, sejam quem forem pagar pelo que nos causaram!!! Me levanto rápido e com firmeza, meus olhos ardem de ódio, meu coração bate tão rápido que posso ouvi-lo, vou andando rápido na direção do patife que ri, ele aponta a arma para mim, mas não tenho medo, não tenho mais nada a perder. Continuo seguindo em sua direção, por saber que ele vai atirar vou em movimento de ziguezague, assim me torno uma mira difícil. Ele atira, me abaixo e a bala não pega em mim. Pelo barulho ela atingiu o estofado de alguma poltrona.  Então ao me levantar ele dispara mais uma vez e eu sinto que sou atingido, meu pescoço arde, sinto o sangue quente escorrer por ele mas não me importo e prossigo, ele me olha com ódio e dispara mais uma vez. Então sinto meu braço como numa reação automática dar um solavanco para trás e também arde, mais que o meu pescoço. Dou mais alguns passos em sua direção e ele dispara mais uma vez, nesse momento percebo que ele está enfurecido e a bala pega em minha barriga. Dói muito, nessa hora sinto um pouco de fraqueza, mas respiro fundo ainda dando mais alguns passos chegando bem em frente a ele.

— Você não desiste mesmo não é?! – Ele fala estamos a dois passos de distância, mas ele é rápido e atira algumas vezes para o fundo da aeronave. Nesse momento tudo acontece em segundos. Olho para trás e os pequenos buracos de bala rapidamente se transformam em buracos grandes, tudo começa a voar dentro do avião, ficamos suspensos no ar, a aeronave apita sem parar e começa a cair, tento ir em direção ao corpo da Ana que está suspenso no teto do avião bem ao fundo, os buracos vão aumentando e eu tento me segurar nas poltronas, nos bagageiros para poder ir até ela. O vento tão forte que é quase ensurdecedor, sinto o sangue quente escorrer pelo meu pescoço onde fui atingido e ao mesmo tempo as gotas voam pelo ar, minha camisa parece estar toda molhada. Uso todas as minhas forças enquanto vejo os buracos sugarem os objetos que voam para todo lado, quando estou finalmente chegando perto da Ana ouço mais tiros, o jato se rompe em grandes crateras, se desprendendo de uma só vez. O fundo cai se despedaçando e levando a minha esposa junto.

— Anaaaaaaaaa!!! – Grito a todos pulmões, sinto minha garganta arder tamanho esforço, mas ao mesmo tempo também sou levado para fora do avião, com seus pedaços que vão soltando e voando pela extremamente forte corrente de ar. Nesse momento um pedaço da aeronave se choca inteira contra o meu corpo, sinto uma pancada tão forte, como se fosse atropelado por um caminhão, pelo menos é o que imagino que pareça. Então tudo é escuridão – Não!!! – Grito me sentando abruptamente na cama, olho desesperado para o lado. – Ana?! – Obviamente ela não está aqui. Mais uma vez tive o pesadelo de quase todas as noites, o pior dia da minha vida me atormenta desde o ocorrido. Logo depois não havia uma noite em que eu não acordasse gritando e suando. Mas depois desses três anos ele acontece somente algumas vezes por semana, o que não deixa de ser um tormento psicológico, que drena as minhas energias e acaba com minha noite de sono e tentativa de descanso. Meu peito sobe e desce rapidamente, o ar praticamente queima os meus pulmões enquanto o puxo com força, vejo que seguro com as duas mãos o lençol, o apertando e puxando com força. Olho para o lado mais uma vez, seu lugar vazio acaba comigo. As lágrimas já não caem, pois nem as tenho mais, só sinto os olhos arderem. Me jogo para trás caindo nos travesseiros e sinto seu perfume invadir minhas narinas, respiro fundo, tentando me perder nele para tentar voltar a dormir. Minhas noites são sempre assim tumultuadas, quando não tenho esse pesadelo tenho outros sonhos terríveis em que a minha mulher também se vai. Algumas poucas vezes tenho sonhos felizes, o que acaba sendo mais arrasador, pois acordo para ver que foi mentira, uma simples peça do meu cérebro saudoso pela Anastácia. Fecho os olhos. – Ana eu te amo! – Digo com muita dor, muita saudade, a desolação é tanta que o cansaço me abate e acabo pegando no sono.

...***...

— Mas você volta logo mesmo né papai?! – Phoebe me pergunta enquanto come suas panquecas, estamos tomando café da manhã na cozinha.

— Sim meu anjo, é para durar quatro dias a viagem, mas farei o possível para estar aqui antes disso! – Digo tomando mais um gole do meu café. Ela abaixa os olhinhos triste, sinto meu peito se apertar. – A Gail vai ficar aqui o tempo todo com você e a vovó e o vovô também vêm! – Tento anima-la, ela me olha um pouco em dúvida.

— A vovó Grace ou a vovó Karla? – Ela pergunta e leva um pedaço de morango a boca, que é grande demais e ela mastiga com a boquinha aberta. Sorrio, mas disfarço e a repreendo.

— Phoebe, não encha a boca tanto assim, é feio mastigar de boca aberta! – Ela faz uma careta e fala de boca cheia.

— Desculpe papai. – Quase não dá para entender, quero rir, mas tenho que reclamar de novo, o que os pais não têm que fazer?!

— Não fale de boca cheia filha! – Ela balança a cabeça e revira os olhinhos, essa menina é como a mãe!

— Phoebe!! – Sou mais duro dessa vez, ela sabe que não pode revirar os olhos para as pessoas, é muito feio. Ela abaixa a cabecinha e volta a comer.

— Qual vovó? – Pergunta fazendo biquinho, para que eu esqueça da bronca. Minha filha tão linda! Sinto um amor infinito ao olhar para ela, que está com o uniforme da escola e uma tiara rosa com os cabelos soltos, o arquinho tem um laço enorme, ela quem escolheu colocá-lo na cabeça hoje. Ele foi um presente da Mia, é a cara dela dar essas coisas embonecadas para minha filha. Eu costumo acordar a Phoebe, ajuda-la a se arrumar e tudo mais, eu gosto de participar de todos os momentos que posso estar presente, por mais corriqueiros que sejam. Não sou bom com penteados, por isso nesses dias Gail a ajuda, assim como quando eu por algum motivo não posso ou a Phoebe pede que quer a ajuda dela.

— A vovó Grace e o vovô Carrick, creio que a vovó Karla e o vovô Ray passem por aqui também. – Explico com tranquilidade e mordo minha torrada com geleia. Sempre que tenho que viajar os quatro intercalam para ficar com a Phoebe pela maior parte do tempo, mas a depender ela fica com Mia e Ethan ou com Kate e Elliot também. O fundamental e imprescindível é que sempre tenha familiares junto com ela, porque afinal de contas Gail tem a sua família e eu não quero que a minha filha cresça achando que a sua própria família não queria cuidar dela. Eu viajei pouquíssimas vezes nesses últimos anos, eu evito ao máximo ter que ficar fora de casa muito tempo, mas quando é o caso Phoebe é cercada de amor de qualquer forma. Dessa vez mamãe está disponível e Karla está muito ocupada com o restaurante, pois irá ter um evento no mesmo, por isso acabou sendo essa a divisão de cuidados. Karla e Ray quiseram ficar cuidando pessoalmente do AFive desde que a Anastácia se foi, obviamente que os rendimentos depois de todo o balanço financeiro vão para a poupança de Phoebe porque é sua herança, mas fiquei feliz de não precisar contratar estranhos para administrar o legado do amor da minha vida. Um restaurante precisa de atenção vinte e quatro horas por dia, sete dias na semana, fiscalização na cozinha sem trégua, eu não teria como fazer isso, além do que não entendo nada de cozinhar, Anastácia que era a mestre nisso. – Ah vovó Grace irá te buscar na escola! – A aviso e Phoebe balança a cabeça em concordância. Então somos surpreendidos por uma voz feminina muito conhecida entrando na cozinha.

— Bom dia meus amores! – Helena diz vindo em direção da mesa da cozinha. Está vestida em um de seus conjuntos de terninho branco e justo, é o que ela mais veste, principalmente roupas brancas. Ela é uma excelente amiga, ficamos próximos de novo depois da morte de Anastácia, mas as vezes ela exagera na intimidade, como agora, detesto que apareçam em minha casa sem avisar.

— Bom dia Helena, o que faz aqui tão cedo?! – Pergunto um pouco irritado, acho que deixei transparecer. Ela fica parada atrás de uma cadeira, em frente a mim, a mesa é redonda e não muito grande.

— Oh querido, me desculpe não ter avisado! Mas queria trazer um presentinho para a Phoebe. – Ela diz amigável. Minha filha logo arregala os olhinhos e se empertiga na cadeira ansiosa pelo que vai ganhar.

— Ebaaaa! – Ela diz animada, Helena sorri e coloca a sacola da Burberry em cima da mesa.

— Helena, por favor! Ainda está muito cedo e nem é ocasião para presente. – Digo tentando agir como adulto responsável. Não tive tudo de mão beijada na vida, muito pelo contrário, então para mim é muito importante que a Phoebe saiba o valor das coisas, que ela tenha responsabilidade e dê valor até as menores coisas na vida. – Sente-se, quer tomar café? – Depois tento ser um pouco mais educado.

— Oh querido! Me desculpe, mas eu vi isso e não resisti... tinha que comprar para a nossa princesinha! Tome Phoebe, mas lembre-se de dar valor certo?! – Fala tentando consertar um pouco a situação, afinal ela sabe o que eu penso sobre gastos e a criação da minha filha. Phoebe pega a sacola e Helena se senta a mesa conosco. – E não se preocupe querido, já tomei café da manhã, obrigada! – Diz sorrindo e dando de ombros.

— Obrigada Helena! – Phoebe diz enquanto começa a desembrulhar o pacote. Faço uma careta espontânea de desagrado e volto a tomar mais do meu café e comer o último pedaço da minha torrada.

— Por nada anjinho! Você sabe o quanto é especial para mim! – A jovem senhora diz de forma dengosa. – Na verdade eu passei aqui para convidar vocês pessoalmente para uma viagem nesse final de semana. Quero ir a NY e quero vocês comigo! – Helena diz animada e eu fico atônito. Tem horas que eu acho que ela não bate muito bem das ideias, afinal a Phoebe está ainda em período escolar de modo que uma viagem assim no final de semana não seria bom, fora que eu já irei viajar esses dias, não vou voltar para emendar em outra viagem.

— Ah bonito, obrigada... – Minha pequena fala olhando o vestido de estampa clássica da marca que ganhou, claramente perdeu a empolgação ao ver o que é o presente. Minha amiga geralmente erra nos presentes para minha filha, ela esquece que ela é apenas uma criança, então prefere brinquedos à roupas. Helena sorri vitoriosa, sem perceber, e manda um beijo no ar para ela, que coloca a sacola com o vestido no chão ao seu lado e volta a comer sem nem dar mais atenção para a situação, Phoebe gosta da Helena, mas elas não conseguem ser próximas, pois a minha amiga não sabe como agir com crianças. Vejo minha pequena chamar Gail que está ocupada em alguma tarefa em frente a pia, pede mais calda para as panquecas, mas como já sei que Gail não dará volto minha atenção para a jovem senhora a minha frente.

— Esse final de semana não poderemos Helena, obrigado pelo convite. – Ela fica séria e me olha com as sobrancelhas juntas.

— Por que meu menino?! – Parece incrédula, eu respiro fundo e explico rapidamente.

— Phoebe ainda está em aula e eu vou em uma viagem e volto na sexta-feira, provavelmente, de modo que não vou emendar em uma viagem atrás da outra. – Bebo meu último gole de café, olho para minha filha que já termina seu chocolate quente e temos que ir. – Helena sinto muito se estou sendo indelicado, mas as manhãs aqui em casa são sempre muito corridas! Tenho que levar a Phoebe para a escola e correr para o aeroporto... outro dia nos vemos com mais calma ok?! – Explano me levantando e assinalando para que minha pequena se levante também, ela pula rapidinho da cadeira e vai até Gail pegando sua mochila e a dando um beijo no rosto. Helena me olha contrariada, sei que ela não gosta nada de que não façam o que ela quer, ela sempre acha que sabe o que é melhor para mim.

— Meu menino já tem que ir viajar assim tão cedo? – Me pergunta já em pé também e com cara de desgosto. Seus cabelos louros extremamente claros estão agora mais curtos, acho que é um corte quase igual o da minha Ana, será que estou vendo coisas?! Dou a volta na mesa e começo a andar para fora da cozinha.

— Tchau Gail, tenha um bom dia! – Olho em direção a jovem senhora que sorri para mim e responde o mesmo, depois prossigo a caminhada para fora da cozinha e olho para minha amiga. – Sim, são negócios importantes e inadiáveis... sinto muito não podermos conversar direito, estamos em cima da hora! – Ando a passos largos enquanto falo então já estamos na sala de estar e Phoebe corre na frente já abrindo a porta principal. Helena anda rápido tentando me acompanhar, claramente aborrecida, mas tentando disfarçar.

— Ok... ok... mas quem vai cuidar da nossa menininha durante sua estadia fora? – Ela me pergunta ao chegarmos ao lado de fora da casa, vejo Taylor já ao lado do carro abrir a porta e colocar Phoebe em sua cadeirinha infantil de segurança para acento de veículo.

— Gail, Taylor, todos os avós e a equipe de segurança reforçada como sempre! – Digo sem pestanejar, não permito que Phoebe nem mesmo saia da rotina normal enquanto estou fora, nada de passeios ou saídas, a menos que seja imprescindível, a locais já conhecidos e totalmente cem por cento seguro. Desde o acontecimento no avião temos toda uma rede de segurança, não só eu e ela, como todos os familiares. As coisas ficaram mais tranquilas com o passar do tempo, afinal já fazem três anos e nenhum novo atentado aconteceu, mas os cuidados ainda são extremamente concentrados e calculados. O mandante do crime nunca foi descoberto, já que o corpo do assassino nunca foi encontrado para que se buscasse pistas sobre seu chefe, a esperança era que o encontrassem vivo, assim eu mesmo faria questão de tortura-lo até que falasse tudo! Infelizmente assim como o corpo dele o da minha Ana também não foi encontrado, mas devido as circunstâncias, com o final das buscas ela foi dada como morta, já que se considerou impossível ela ter sobrevivido a queda e aos ferimentos. Caímos no oceano e não havia nada por perto, nem ilhas, nem cidades ou algum país, por isso as buscas foram muito difíceis. Os destroços se espelharam por quilômetros e as buscas se estenderam por meses, comigo pagando esse trabalho extra, além do que é feito comumente. Porque eu não podia simplesmente desistir de procurar a minha mulher, mas até os especialistas mais competentes e renomados, os detetives mais caros e por fim a nossa família insistiram em me dizer que não tinha mais jeito, que não havia mais aonde procurar, assim foi o ponto final. Acho que por isso não consigo ter paz, me sinto impotente, fraco, anulado, atado... não consigo aceitar que ela se foi, se ao menos houvesse um corpo para que eu tivesse enterrado, eu poderia por fim aceitar, mas não me conformar! Ainda há investigação para descobrirmos o mandante e quando eu descobrir acabarei com a sua vida miserável da pior forma possível!!! Respiro fundo, tenho que parar de pensar nisso vinte e quatro horas por dia ou vou acabar enlouquecendo.

— Ah claro, imaginava! Bem, sendo assim nos vemos quando você voltar! Não aceitarei uma negativa ao meu próximo convite meu querido! Boa viagem. – Helena diz e me dá dois beijinhos no rosto como de praxe e eu apenas sorrio e aceno com a cabeça, não estou com muita vontade de pensar em convite nenhum neste momento, a única coisa que eu quero é voltar logo para casa e para minha filha. Vejo ela caminhar até seu Porsche branco conversível e sair a toda velocidade da minha propriedade. Me aproximo do meu Audi Q7 preto blindado.

— Bom dia amigo! Como está? – Cumprimento Taylor que abre a porta para mim e me responde o bom dia de sempre.

— Tudo bem e mais um novo belo dia! – Acho que ele fala isso tentando me animar ou sei lá. Entro no carro me sentando na outra janela ao lado da minha filha, que está entretida com um joguinho no tablet educativo. Eu não permito ainda que ela tenha acesso a internet, de modo que esse tablet é somente de jogos educativos e o celular que ela possui só faz ligações, ela o tem para casos de emergência, é um modelo mais antigo para ela não ter como conectar a internet nele mesmo. Tenho medo de que ela ache coisas sobre o crime no avião e fique com medo.

— Você sabe que mesmo eu não estando aqui tem que cumprir as regras de tempo do uso do tablet, seu horário de dormir e fazer toda a lição de casa certo?! – Pergunto a pequena totalmente entretida com o jogo, ela não responde. – Phoebe?! – Sou mais duro em meu tom de voz, ela então responde como que impaciente.

— Sim papai! – Mas nem tira os olhos da tela.

— Princesa... podíamos conversar um pouquinho?! Vou ficar longe alguns dias, vou sentir saudades! – Digo um pouco dengoso, já cheio de saudades, ela mantém a postura.

— Então não me deixasse aqui! – Fico abismado, que menina terrível!

— Minha filha não haja assim comigo, você sabe que se pudesse não iria! Será que pode me tratar com carinho?! – Ela desliga o jogo e vira o rostinho para a janela, sinto meu coração apertado, então procuro sua mãozinha e a seguro. – Eu te levo na minha próxima viagem! O que acha?! – Ao ouvir minhas palavras ela se vira lentamente, o rostinho triste e o biquinho de emburrada permanece.

— É mentira! – Diz irritada.

— Não é não, eu prometo que a levo comigo! Sabe o que é melhor?! Creio que minha próxima viagem será para um lugar de praias lindas, diferente de tudo o que você já viu... tenho certeza de que vai amar! Você vai querer ir comigo? – Explico com carinho e depois pergunto empolgado para que ela se empolgue também.

— Praia?! – Ela pergunta com os olhinhos arregalados, agora empolgada em vez de triste. Faço que sim com a cabeça. – Sim eu quero ir papai! – Ela fala animada e contente. Sorrio imenso por vê-la sorrir antes de viajar, me partiria o coração deixa-la triste comigo, nem conseguiria me concentrar direito nas coisas.

— Então estamos combinados meu amor! Agora prometa que vai ser a boa menina que é enquanto eu estiver fora de casa! – Ela balança a cabeça que sim, mas fico olhando para ela aguardando sua resposta dita e ela diz que sim. – Ótimo! Vou estar morrendo de saudades, meu coração vai ficar aqui com você pequena, mas o papai vai voltar antes que possa sentir a minha falta! – Digo alisando seu rostinho perfeito e ela fica com os olhinhos brilhando, me abaixo beijando sua bochecha e ela respira fundo e agarra meu pescoço, me abraçando com seus bracinhos. Taylor estaciona de modo que sei que já chegamos em frente a sua escola. É a melhor escola de Seattle, é uma enorme construção, antiga, tradicional e que mantém toda a estrutura que a Phoebe precisa. Nosso abraço demora, então Taylor fala.

— Vai ser divertido Phoe, a Lisa disse que irá fazer um chá para as bonecas de vocês hoje a tarde! – Ele diz sendo gentil e tentando a fazer ficar animada. Afinal ela e a filha dele se dão extremamente bem, sempre brincam juntas, a minha pequena gosta demais de Taylor e de sua família.

— Legal! – Ela diz me soltando, mas não tão animada.

— Eu te amo! – Digo a olhando nos olhos, ela sorri um pouquinho e me responde.

— Eu também papai! – Saio do carro e vou até seu lado, a retiro da cadeirinha, coloco em suas costas a sua mochila e caminhamos até os enormes portões da escola de mãos dadas. As mães e babás que trazem as outras crianças me olham da cabeça aos pés, chega a ser vergonhoso, essas mulheres nunca viram um homem na vida?! Toda vez é a mesma cena ridícula, isso quando alguma não inventa de falar comigo, claro puxam assunto sobre as crianças, mas eu não quero falar sobre a minha filha com ninguém que não seja da minha família. Uma das mulheres me encara tanto que se esbarra em uma criança, meu Deus! É só um rosto mulheres, um rosto e um corpo, nada de mais... ainda mais hoje em dia, nem coração aqui dentro bate mais, ao não ser por minha filha. Chegamos e paramos em frente aos portões, me abaixo e a abraço novamente. – Volta logo papai! – Ela diz dengosa abraçada a mim. Minha garganta dá um nó. A solto e ainda abaixado a olho nos olhos para falarmos.

— Logo logo estarei de volta! Agora um sorriso, eu quero ver um sorriso! – Digo por ela estar me olhando seriamente. Aos pouquinhos ela abre um sorrisinho fraco, então faço cosquinhas em sua barriguinha e ela gargalha, fico satisfeito e me levanto. O sinal que indica a entrada dos alunos toca. – Boa aula princesa! – Desejo e ela começa a andar entrando pelos portões, então se vira para trás me olha profundamente e abana a mãozinha dando tchau, mais uma vez sinto um nó na garganta e aceno de volta, logo ela se volta para frente e volta a andar, várias menininhas a cercam, elas conversam, dão risada e saem andando rápido. Mais lá na frente vejo Ava chegar correndo e abraçar minha filha, depois elas seguem de mãos dadas sumindo da minha visão. Devem ter deixado minha sobrinha alguns minutos antes de chegarmos, já que não vejo nem meu irmão, nem Kate. Respiro fundo, acho que nunca sentirei tranquilidade com essas despedidas. Me viro para caminhar, mas quase esbarro com uma mãe atrás de mim. Ela me olha sorrindo, toda embonecada, com enormes óculos escuros, parece que ia a algum desfile de moda invés de levar o filho para escola.

 - Bom dia senhor Grey! – Fala sorrindo demasiadamente.

— Bom dia senhora Willians. – Digo seco e me movo em outra direção para andar para longe.

— Ah poderíamos parar com tantas formalidades não é Chri...?! – Ela começa a falar, mas quando vai tentar falar meu primeiro nome a atropelo com minhas palavras não deixando.

— Senhora Willians, é uma mulher casada e eu também, então não temos o que conversar. – Digo rapidamente sem nem olhar para ela e vou atravessar a rua, mas ela segura o meu braço.

— Poderia me chamar só de Leila, como antigamente afinal você é viuv... – Dessa vez eu paro duro, a olhando com os olhos queimando de raiva, minha respiração sai acelerada, puxo meu braço com força, não permito que ninguém diga que não sou casado, sou sim e serei para sempre.

— Olha aqui não permito que ninguém se meta na minha vida! Você não me conhece mais, se pensa que já conheceu algum dia está muito enganada! Sou casado senhora Willians, casado! E é para sempre! Agora me deixe em paz! Cuide e dê valor a sua família. – Ela me olha boquiaberta, desconcertada, atravesso a rua irado e entro no carro rapidamente. – Vamos embora logo daqui Taylor. – Que situação mais desprezível penso comigo.

— Sim senhor. A senhora Willians incomodando de novo?! – Pergunta um pouco bem-humorado, pelo visto ele acha engraçado essa stalker inconveniente.

— Sim, Leila não cansa de passar vergonha. Sabe que nós tivemos um caso extremamente raso e de poucas semanas anos atrás, antes mesmo que eu conhecesse Anastácia... mas mesmo assim, estando casada e com três filhos permanece com essas investidas estranhas na porta do colégio da minha filha e dos filhos dela! Ela deveria dar mais valor ao velho rico que ela conseguiu dar o golpe e casar. – Coloco minha chateação para fora, Taylor ri e acabo rindo também, inacreditável esse tipo de coisa a essa hora! Seguimos pelo caminho conversando sobre outras coisas e logo chegamos ao aeroporto, onde Ross já está também, saindo do seu carro.


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