Double Trouble escrita por Carol McGarrett


Capítulo 3
Capítulo 03 - Os Castigos


Notas iniciais do capítulo

Voltei com mais um capítulo! Esse foi rápido.
Well, papais e mamães decepcionados com as filhotas, Equipes tristes pq perderam suas pequenas encrenqueiras e... Tony e Derek revoltados com o tempo do castigo.
Boa leitura, volto nas notas finais!



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— Por onde eu começo? – Papai me observou pelo espelho retrovisor, enquanto eu ficava quieta e olhava para minhas mãos.

— Isso foi uma pergunta, Elena! – Mamãe está irada.

— Eu... eu não sei. Eu pedi desculpas! – Tentei o caminho mais curto. Já tinha pedido desculpas para Elizabeth, na frente dos pais dela. Já tinha meu castigo por ter sido mesquinha... eu não os queria bravos comigo também.

— Isso não é o suficiente! – ele ralhou batendo as mãos no volante.

— Eu fui má. Mas eu só queria ganhar.

— Ganhar não era o foco ali, Elena! Não era! Será que você não entende?

— Mas mamãe, eu achei que você – e ela finalmente se virou na minha direção – que vocês queriam que eu chegasse em casa com o troféu de primeiro lugar... O Jack tem um!

— Ganhar não é só o que importa, mocinha. Será que você não percebe que o importante ali era o conhecimento. E, o fato de que você poderia aprender com outra pessoa?

— Mas o Jack tem um troféu, eu queria um também. E Miss Jones...

— ELENA PRENTISS-HOTCHNER a vida não á sobre ganhar ou perder! É sobre saber aceitar que errou. Um pedido simples de desculpas não vai fazer com que tudo o que aconteceu desapareça! Você foi cruel com a menina!

— Ela também foi! Ela disse... você sabe o que ela disse, pai! – Eu chorava copiosamente.

Por um breve segundo vi o rosto de papai mudar para algo como tristeza também, mas ele voltou ao ponto inicial.

— Mas quem começou com as ofensas? Vai me dizer que foi a garota ruiva? E com que direito você atacou o pai dela, sem ao menos o conhecer?

— Ele não é o pai dela! Ela mesma disse que é adotada. Ela não é filha dele! Ela não tem pai!

Mamãe sibilou.

— Sim. Ele é. E você pare de dizer isso. Machuca as pessoas! E, você não sabe o que aconteceu para que ela fosse adotada. Então pare de dizer isso! 

Olhei para mamãe incrédula. Como ela poderia dizer isso?

— Mas eu tenho vocês! E ela não tinha direito de dizer aquilo! Quando eu disse pra ela que vocês viajavam muito, eu esperava que ela não jogasse isso de volta pra mim!

— Então por que você jogou de volta o que ela te disse sobre ser adotada, se você confiou nela antes?

Ele tinha um ponto. Eu tinha começado a ver que eu realmente tinha feito algo ruim. Mas não ruim só porque havia envergonhado meus pais, mas porque eu tinha machucado alguém que era minha amiga...

— Me desculpem... de verdade. Eu fui egoísta, e ruim, e não vi estava machucando a Elizabeth também... eu... – e eu chorei, de vergonha, de perceber o quão errada eu estava. – eu... espero ainda poder contar com ela como minha amiga... será que ela vai aceitar as minhas desculpas? Era a única amiga que eu tinha...

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Me cortava o coração ver minha filha com aquela carinha chateada, mas ela tinha que aprender a ser menos egoísta e perceber que os outros também têm sentimentos. Ela sempre tratou todos da equipe muito bem, mas ela sempre foi o centro das atenções. É a única menina, com um temperamento e inteligência sem igual, e, talvez por sempre ter sido mimada demais por todos nós, ela tenha pensado que era imbatível. Que se algo acontecesse com ela, todos nós iríamos defende-la. Mas não de algo assim. Ela vai aprender com os seus erros. Doa o quanto doer.

Eu sabia que a história ainda não havia terminado. Aaron ainda queria e deveria colocá-la de castigo. Mas nós tínhamos um problema, onde ela ficaria na próxima semana? Não tinha babá em Washington e região que queria tomar conta dela... e deixá-la perto da equipe não era bem um castigo... Mas, por hora, era o que ia acontecer, tendo em vista que era para a sede do FBI que estávamos indo.

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Olhei ao redor reconhecendo o caminho pelo qual passávamos. Estávamos indo para casa. Eu havia arruinado o dia de trabalho dos meus pais. Virei a cabeça para ver se havia outro carro igual ao que estava nos seguindo, mas só a menção do movimento, fez meu pai sibilar. E, depois do que pareceu horas, eu finalmente devolvi o seu olhar, e desejei não ter feito...

Como sempre, ele não precisava dizer nada para mostrar que estava desapontado e bravo comigo, seu arquear de sobrancelhas e a forma como me fitava, diziam tudo, mas também diziam que ele esperava pela minha explicação.

Ponderei se deveria invocar uma de suas regras e me safar de vez, mas depois percebi que mamãe sempre odiou a regra nº 6 e se eu a invocasse ela era capaz de arrancar a cabeça de papai e a minha com um único movimento...

Ele continuava me olhando e mamãe suspirou pesadamente no banco do carona, ambos esperando por mim para dizerem algo.

— Eu sinto muito. – comecei. Esperei pela tempestade, que estranhamente não veio. – Eu não queria estragar o dia de vocês, eu só queria deixar vocês dois orgulhosos porque eu havia ganhado o concurso e...

— Você o que, Elizabeth?

— Eu disse que sinto muito, papai!

— Não. Você não entendeu nenhuma palavra do que Miss Jones disse? Não escutou o que ela falou?

Olhei para frente sem saber o que falar. Dar de ombros era fora de cogitação nessas horas.

— Eu...

— Você entende o que fez? – O tom de voz de mamãe era frio e distante.

— Eu defendi o papai! Elena não tinha o direito de dizer aquilo!

— E você defendeu o seu pai atacando a outra menina?

— Quando se quer ganhar, acerta no ponto fraco, não é? Não foi assim que me falou?

— Elizabeth!

— Mas pai...

— Nada de “Mas”! – Ele estava tão bravo que suas juntas estavam brancas de tanto que ele apertava o volante. – Você tem que entender que não existe só a vitória. E o que eu te disse, se aplica AO MEU TRABALHO E AO TRABALHO DE SUA MÃE! – Ele gritou e eu me encolhi, era a primeira vez que ele gritava comigo assim. – e não sobre como VOCÊ trata as pessoas.

Eu o encarava com os olhos arregalados. E ele me fitava de volta pelo retrovisor procurando em minha feição se eu tinha entendido o recado. Mas eu estava assustada demais para pensar em algo que não fosse chorar.

— Onde você deixou a educação que nós dois te demos, que Heather e James te deram, Elizabeth? Por que não é assim que você age!

Era a segunda vez naquele dia que me faziam lembrar de meus pais biológicos. E novamente eu chorei... a palavra de Elena ecoando em minha mente: ADOTADA.

Virei o rosto para a janela, evitando as miradas de mamãe e o olhar inquisidor de papai. Onde estava minha educação? Ora... eu defendi o meu pai, e ela me atacou duas vezes.

— Diplomacia. – eu suspirei.

— E?

— Respeito pelo próximo. E tratar com educação a todos, mesmo que eles não te tratem de volta.

— E juntando tudo isso?

— Eu fui mesquinha em dizer o que disse. Eu machuquei Elena porque ela me machucou primeiro. Ao invés de deixá-la falar e me virar fingindo que não era comigo, eu retruquei. E foi da pior forma... não é culpa dela se os pais dela ficam fora por muito tempo...

— Não, não é... – mamãe disse.

— Vocês também ficam, às vezes... e aí eu fico com a Noemi... eu sei o que ela passa, a saudade que ela sente quando eles não estão em casa, e mesmo assim eu disse aquilo... eu sou muito ruim, não sou? Por que eu sou ruim assim?

— Não adianta chorar agora, Elizabeth. O que você tira de lição disso tudo?

— Que eu não posso jogar nas pessoas palavras ruins, porque eu não sei o que elas passam longe dos meus olhos. Que as pessoas podem ter um ponto fraco, mas não posso usar isso contra elas, porque é cruel e mesquinho. E, se eu fizer isso, elas se magoarão e ficarão tristes!

Voltei a olhar para dentro do carro. Já estávamos quase em casa. E, por um breve momento, tive coragem de levantar os olhos para o espelho retrovisor e encarar meu pai.

Jethro Gibbs não é de falar muito, mas percebi que eu tinha me explicado e entendido o porquê não deveria fazer aquilo de novo.

Quando o carro parou, nenhum deles fez menção de sair, o que significa que eles ainda tinham coisas para me dizer.

— E quanto a ser adotada, Liz, não pense nem por um segundo que nosso amor por você é menor do que o amor dos pais de Elena por ela. Você é a nossa filha, não importa se biológica ou não. Somos uma família. E família é muito mais do que DNA.  E nós sempre te amaremos e te apoiaremos. Mas saiba que também estamos aqui para poder te trazer para o mundo real e te ensinar que nada nem ninguém gira em torno de você. Nós te ensinamos a caminhar, mas não podemos andar para você e, você tem que aprender que, às vezes se perde e às vezes se ganha. Mas o mais importante. Quando se perde, se aprende uma lição. Uma lição de que você tem que melhorar em algo. E não é brigando, dizendo palavras ruins e machucando os outros que você vai demonstrar o seu valor. As pessoas só te valorizam quando você demonstra a bondade. Nunca o mau. Então, nós esperamos que nessa semana que você está sem escola, por sua própria culpa, você possa refletir sobre isso. Sobre os seus erros e suas palavras. Sobre como você pode consertar essa situação. Não somente com a Elena, mas com toda a escola e conosco. Estamos magoados que você possa pensar em ser tão má somente para ganhar um troféu. Pense sobre tudo isso, e, quando tiver uma solução ou uma boa explicação sobre como ser diferente a partir de agora, pensaremos em te tirar do castigo.

— Sim, mamãe. Eu entendo. Entendo que somente palavras ditas não vão remediar a situação. Eu tenho que agir para provar que eu sou boa e não aquela menina que toda a escola viu. Eu entendo isso.

— E seu castigo será de dois meses. Sem televisão fora de nossa supervisão. Quero seu telefone celular e tablet dentro da gaveta da minha estação de trabalho no porão. Eu não vou pegá-los de você, você irá colocá-los lá. Nada de videogames ou joguinhos no computador e celular da sua mãe. E, nada de sessão de sexta com a equipe e nem filmes. Você não irá no NCIS pelo tempo que seu castigo durar. E não adianta pedir para o DiNozzo ou a Abby conversar conosco, porque isso não é negociável. E, nessa semana sem escola, você vai estudar em casa, seguirá a rotina da escola, levantando no horário e estudando como se lá estivesse. E, depois, como a Noemi terá que ficar aqui te fazendo companhia, você irá ajudá-la nas tarefas domésticas. E sem reclamar. Uma reclamação. Um muxoxo, e eu dobro o tempo, ouviu mocinha?

— Sim, senhor. Eu ouvi tudo.

— Ótimo. Agora desça. Diga para todos o porquê de você não ir hoje na casa do Ducky. Diga a verdade, não somente que está de castigo, isso eles já sabem, fale o que você fez.

— S-s-s-im. Eu vou dizer, papai.

— Agora vai. Não estique o assunto, você tem cinco minutos, se passar disso eu te busco aqui fora.

Eu desci do carro completamente envergonhada. Cancelar nosso videogame de sexta e nossa sessão pipoca na casa do Tony iria deixar todos muito chateados. Caminhei em direção ao outro Dogde que estava parado logo atrás, e, antes que eu chegasse perto da janela, Tony abriu a porta e veio na minha direção.

— Liz, o que foi? Eles te xingaram muito, não foi? Eu vou falar com o Chefe, ele vai diminuir o castigo. – Ele me abraçou tão apertado que eu quis chorar ainda mais.

— Não Tony...  eu vim te falar que eu não vou poder ir na festa da pipoca amanhã, nem jogar videogame com vocês hoje. – Nessa hora todos cinco já estavam do lado de fora do carro fazendo uma roda ao me redor. Pude notar que papai e mamãe estavam encostados no carro da frente, somente esperando que eu terminasse para me colocarem para dentro e voltarem ao trabalho.

— Não tem problema, Pimentinha. A gente marca para semana que vem, não é pessoal?

— Sim! E é até bom, porque poderemos trocar o videogame por boliche! O que acham?

— Não, Abby. Eu estou de castigo por dois meses. Nada de sair, ou computador, ou celular, ou até mesmo ir ao NCIS para ver vocês. Eu fui suspensa da escola por uma semana – meu rosto queimava, eu deveria estar da cor do meu cabelo – porque eu fui má e desrespeitosa com os sentimentos da Elena. Eu a machuquei com palavras ruins, atacando um fato que eu sabia que a deixaria triste. E disse isso na frente de toda a escola. Fui um mau exemplo, e também agi contra tudo que mamãe, papai e vocês sempre me ensinaram a fazer. E é por isso que eu tô de castigo. Mas eu vou pensar em um jeito de fazer tudo certo, ok? E quando eu conseguir, e papai e mamãe acharem que está tudo bem, que será uma boa forma de pedir perdão para todos, eu vou sair do castigo.

Olhei para os cinco. Tony ainda estava ajoelhado na minha frente. Ziva tinha se encostado no capô do carro, Abby, com Poppy – sua sombrinha – aberta, me olhava com os olhos marejados e Tim junto com Eleanor tinham sentado no meio fio perto de mim prestando atenção no que dizia.

— Então, mais uma vez, me desculpem por arruinar a sexta e o sábado de vocês. Espero compensar um dia.

Escutei papai tossir atrás de mim. Meu tempo tinha acabado. Abracei cada um deles apertado, já que ficaria um bom tempo sem ver uma parte da minha família.

— E, Tony, por favor, peça desculpas ao Ducky e ao Jimbo por mim. Diga que eu vou explicar melhor quando puder vê-los.

— Pode deixar, Liz. Eu falo pra eles. E não vou desistir de fazer o seu pai diminuir o seu castigo. Dois meses é tempo demais.  – ele sussurrou pra mim, antes de levantar e dar um peteleco na ponta do meu nariz. – Agora vá antes que G.I. Jethro e G.I. Jen te coloquem em um convento!

Minha intenção era correr porta adentro, de tão envergonhada que estava. Mas ainda tinha meus objetos de escola para pegar. E papai não me facilitaria. Andei até o carro. Pedi licença para mamãe, já que estava escorada na porta, peguei minha mochila e livros. Olhei para os dois e murmurei minhas desculpas de novo.

— Desculpa, mãe. Desculpa pai. Eu amo vocês.

Papai me guiou até a porta, deu instruções a Noemi para que eu não saísse ou ligasse a tv. E, antes de fechar a porta, me lembrou onde deveria colocar meu celular e tablet.

— Eu vou colocar lá agora, papai. Depois vou subir para meu quarto e estudar a matéria de hoje...

Ele somente assentiu e me lançou um último olhar magoado. E, pela primeira vez desde que eu me mudara para morar com ele, desde que ele tinha virado meu pai, ele saiu sem me dar um beijo ou dizer que me amava. Mamãe também não disse nada lá fora.

Eu realmente tinha estragado tudo com meu egoísmo e maldade.

Vi quando o primeiro carro saiu cantando pneus e correndo rua abaixo. Papai teria que levar mamãe até Langley, ela também tinha que trabalhar. O segundo carro demorou mais. Pude ver a expressão chateada de Tony e notei que Abby ainda chorava. Eu deixei todo mudo triste hoje. Que pessoa boa que sou...

Olhei para Noemi. Ela não entendeu nada.

— Eu vou te explicar, Noemi. Mas o que você tem que saber é: estou suspensa da escola por uma semana. E de castigo por dois meses. E papai me mandou te ajudar todos os dias com as tarefas.

Abri minha mochila, tirei o celular e o tablet. Rumei ao porão e os coloquei sob a bancada. Subi para o meu quarto, tirei meu livro de matemática e comecei a lê-lo. Afinal, era essa a primeira matéria que teria depois do almoço.

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Chegamos no FBI. Papai estava estranhamente quieto para o tanto que ele já tinha falado. Mamãe me deu a mão e me guiou para os elevadores. A equipe, não sei se seguindo alguma ordem muda de meu pai, ou simplesmente lendo que a situação ainda não tinha sido totalmente resolvida, nos deixou sozinhos e pegariam o próximo. Quando as portas de metal se fecharam, papai me lançou o seu olhar de Agente e somente me disse:

— Você vai ficar na minha sala. Não temos nenhum caso que vá nos tirar daqui hoje. E lá vamos te dizer o seu castigo. Não pense que virá para cá todos os dias, porque não irá. Vamos achar uma babá para você e, se de qualquer forma você ousar em fazê-la sair correndo, Elena, seu castigo durará todo o resto do ano. Você me entendeu.

Mordendo o lábio eu apenas assenti.

Chegamos ao sexto andar. E eu segui logo os passos dos dois até o escritório. A porta de vidro foi aberta e papai me colocou para dentro, e logo que entramos na sua sala, me indicou sofá para que sentasse. Obedeci imediatamente, sentando e os encarando, meu coração pulsando e meu rosto vermelho de vergonha.

— Uma semana de suspensão. – mamãe começou – se fosse a minha mãe aqui, Elena, você não estaria somente de castigo, mas eu sou contra violência física e sei que não vai levar a nada. Você está de castigo por um mês. Sem TV, celular, computador, tablet. Sem perturbar o seu irmão. Sem música ou brincadeira dentro de casa. Você não vai aparecer aqui na BAU. Vai ficar longe da equipe. Eles não podem te salvar agora. E, durante a primeira semana. Eu quero ver você estudando durante o dia, como se estivesse na escola. E não pense que poderá levantar tarde e ficar atoa, que não irá. Vai manter a sua rotina e, ainda, vai pensar sobre o que você disse. Eu quero que você redija um pedido de desculpas para a família da Elizabeth e outra para a Diretora Jones. E vai pedir desculpas para a equipe também, porque estamos cancelando a nossa ida ao jantar do Rossi hoje. É será você quem dará a notícia e explicará para todo o motivo.

— Sim, mamãe.

— Você vai ficar aqui por hoje. Nada de sair bisbilhotando a vida de ninguém e nada de ir se esconder na sala da Garcia. Eu quero você aqui, do meu lado, assim que acabar de se explicar com todos. E nada de fazer hora. Eu posso te ver daqui.

 - Pode deixar papai, eu vou voltar rapidinho.

— Agora vai, porque temos trabalho a fazer e você já nos fez perder muito tempo hoje.

— Com licença – pedi – e desci as escadas para encontrar o restante da equipe me olhando com expectativa.

— Hei, little princess, agora você pode me contar o que aconteceu? – Tio D me levantou em seus braços, me colocando sentada na sua mesa.

— Eu quero pedir desculpas. – todos me olharam espantados. – Não vamos poder ir hoje ao jantar na sua casa, Tio Dave. E isso é por minha culpa. Eu estou suspensa da escola por um erro que cometi.

— Erro?

— Sim, tio Spenc. Eu feri com palavras a única amiga que eu tinha, quando estávamos no concurso de soletrar. A Diretora considerou empate, e nós duas não aceitamos. Mas quando me entregam o microfone para agradecer e dizer o que eu havia aprendido com a brincadeira, eu... eu... ataquei o pai da Elizabeth, chamei ele de velho e ainda disse, na frente da escola inteira que ela era adotada. E isso, eu percebi, não se faz. E esse foi o motivo da minha suspensão. Mas eu também magoei a mamãe e o papai, porque não segui o que eles sempre me falaram para fazer. E por isso, eu tô de castigo. E esse meu castigo vai afetar a todos lá em casa porque não tenho babá. Então ninguém vai poder sair por minha causa, pelo menos por hoje. – Terminei olhando para cada uma das carinhas que me fitavam de volta. Tia JJ e Tia Pen estavam com olhos marejados. Tio Spenc e tio Rossi pareceram entender melhor a situação, já Tio D...

— Um mês?!

— Sim. Um mês. E papai não vai abrir mão disso, nem mamãe. Eu li isso neles. Me desculpem e eu amo muito vocês.

Desci da mesa e rapidamente subi para a sala de meu pai, e notei que ele observou toda a minha explicação. Olhei pra ele, e ele nada disse, só indicou a direção da sua sala. Mamãe logo desceu para se juntar a equipe, e foi quando o Chefe apenas disse que eles tirassem um tempo para depois voltarem analisar o caso em aberto.

E assim começava o meu castigo. Seriam os piores dias da minha vida...

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— Eu não consigo decidir se o castigo foi severo demais ou fácil demais. Por Deus, Jethro, onde erramos? Por que ela disso aquilo?

— Nós temos que parar de conversar sobre nosso trabalho na frente dela. Ela começou a confundir o que fazemos com a vida dela.

— Ela deveria saber a diferença. Mas isso não é certo. Eu sei que minha irmã não a mimava. Nós não fazemos isso...

— Talvez façamos, Jen. Levá-la ao NCIS, deixá-la sempre perto da equipe. Quando a colocamos de castigo sério?

— Só uma vez. Mas ela tinha batido em uma árvore com a bicicleta e amassado o guidão, e, para se livrar da nossa ira, disse que o vizinho tinha atropelado a bicicleta.

— Ela tinha mentido. Ponto. Estava errada e mereceu.

— E nunca mais deu trabalho. Fora uma ou duas batidas de pé para passar o final de semana ou com a Abby com Tony e Ziva, nada. Ou seja, não dá pra saber de onde essa explosão de hoje veio!

Jethro passou a mão no cabelo. Quanto mais velha ela ficava, às vezes era mais difícil entender a cabeça e as atitudes de Liz.

— Eu sabia onde estava indo até os oito anos dela, Jen. Não faço a menor ideia do que fazer dali pra frente.

— Nem eu. Você acha que ela vai se rebelar por ser adotada. Não sei, e se começarem com bullying?

— Ela aprendeu a lição, Jen. Dê a ela uma chance também. Nós dois já erramos muito e aprendemos. Ela é esperta e inteligente. Deu pra notar que ela entendeu que o que ela fez foi errado. Colocá-la para explicar à equipe foi uma boa ideia. Deu a ela a perspectiva de que ela não machucou somente a outra garota, mas que todos ficamos decepcionados com ela.

— Ela vai ser um amor nos próximos dias.

— Ela sempre foi, Jen. Só temos que tentar mantê-la ocupada. E fazê-la pedir desculpas.

— Desculpas efetivas para a família e para a Diretora. Do jeito que tudo ficou, não podemos deixar.

— Vamos esperar por hoje à noite. Vamos ver como ela vai reagir.

— Eu sei que vai ser difícil. Mas tente ser frio com ela, pelos próximos dois dias. Vamos fazê-la trabalhar melhor nas desculpas. Ela vai ter que fazer por merecer que voltemos ao normal com ela.

— Você acha que dá certo?

— Meu pai cansou de fazer isso comigo e com a Heather. Sempre funcionava. Até porque ele nos fazia escrever uma lista de o que deveríamos melhorar em nós mesmas.

— Acho que não deu muito certo não, Jen. Olha para você! – ele fez uma piada.

— Temos que tentar. E temos que controlar o temperamento dela. Quando ela era menor e brigava com o DiNozzo era uma coisa. Agora agir assim, já crescidinha, é inaceitável.

— Como você sabe que ela acertou um grampeador na testa do DiNozzo, quando os dois se conheceram?

— Ela fez o que? E você não fez nada?

— Calma, Jen. Ela tinha cinco anos tinha acabado de perder os pais, estava a poucos minutos no NCIS e Tony estava inventando apelidos para ela. Até você teria concordado que ele tinha que ser parado.

— Sei... Tony tem o dom de ser insuportável às vezes, mas é o agente mais leal a você na equipe. E, também, é o verdadeiro segurança da Liz. Vai ser difícil deixá-lo longe dela por dois meses.

— Ela não vai sair de casa. Só para a escola e, então, de volta. Vou me certificar de fazer isso.

— E quando você não puder. E tem mais, Jethro, não podemos prender ou proibir ninguém da equipe de ir lá em casa, sabe disso.

— A gente vai dar um jeito. E eu espero sinceramente não ter que gritar com ela de novo. Quando ela começou a chorar eu quase desisti. Não era manha, era medo, Jen. Ela ficou com medo de mim.

— Não foi medo. Foi surpresa e respeito. Ela tem que aprender, Jethro. Infelizmente foi do jeito mais difícil. Te vejo no jantar?

— Vai ser mais um velório, mas sim. Está tranquilo hoje.

— Até lá e vê se não corre agora. A chuva voltou. Não quero outro telefonema me dando susto nem tão cedo.

— Sim, Ma-da-me.

— Você não tem jeito, Marine! – Dei um beijo no meu marido. – Agora vai.

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— Olhando daqui, nem dá pra acreditar que ela fez aquilo...

— Isso é só o começo, Emily.

— Jack não foi assim.

— Jack tem mais o temperamento calmo da Haley do que o meu. Elena, bem, ela é a mistura de nossos temperamentos, mais um pouco de mimo por parte deles.

— Temos que dar um jeito nisso. Ela tem dez, dez anos. Se não controlarmos agora, na adolescência vai ser pior.

Estávamos vendo Elena se explicar para a equipe. Essa era a primeira parte do seu castigo. A segunda eram as cartas de desculpas. A terceira, era refletir sobre o que tinha feito de errado.

— Ela tem um mês. Um mês para não mandar nenhuma babá embora, para colocar tudo nos eixos e, mudar de comportamento.

— Vai ser suficiente? Você mudou? Porque eu sei que só mudei depois que a vida me estapeou na cara umas duas vezes, Aaron, e eu já estava com quinze anos!

— A diferença, Em, é que vamos guiá-la para o caminho certo. Ela vai ter que ir sozinha, mas vamos ajudá-la. Ela é boa. Tem que aprender a perder. E esse perder, não é uma partida de xadrez para o Reid. É perder algo importante para pessoas da idade dela. Assim ela vai ver que as vitórias são mais importantes quando realmente lutamos justo para conquistá-la.

Vimos ela se despedir da equipe, estava cabisbaixa e triste minha bonequinha. Uma parte de mim queria abraçá-la e tirar toda a dor de dentro dela. Mas a outra parte, a racional, me dizia que isso era a vida, e esse aprendizado ficaria com ela por toda a vida. Mesmo sendo tão amargo.

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Depois do jantar mais quieto que essa casa viu nos últimos cinco anos, nem o Ice e a maluca da Ginger se atreveram a brigar ou implorar por comida, ambos refletiam o humor da dona, cabisbaixo e triste, decidimos que seria bom se Liz também começasse a lavar a louça e deixasse tudo pronto para o outro dia.

Ela quietamente aceitou o que dissemos e foi arrumar a cozinha. Sabendo que estava proibida de ver televisão, quando terminou, disse que ainda tinha alguns problemas de matemática para resolver, já que ela de tarde não tinha conseguido entendê-los, tentaria de novo agora. Antes de subir para o seu quarto, nos deu boa noite, o seu costumeiro abraço e beijo e, quando estava no pé da escada, se virou em nossa direção e disse:

— Sinto muito, de coração. Arruinei o fim de semana de vocês, e da equipe e, muito provavelmente de outras pessoas também. Eu não pensei que meus atos pudessem afetar tanta gente. Vou me comportar melhor e, também, aceitar quando estiver errada ou quando perder algo. Vou passar a ser menos egoísta e pensar que as outras pessoas também têm sentimentos. Boa noite.

Quando ela já estava em seu quarto, sabíamos porque a tábua perto da cama rangeu, Jen olhou pra mim, um misto de tristeza e orgulho em seus olhos.

— Ela aprendeu. Da maneira mais dolorida, mas aprendeu. Mas, por favor, Jethro, não diminua esse castigo. Ela precisa desses dias ainda.

— Por que eu diminuiria, se fui eu quem o impus?

— Por que se eu te pedir você vai fazer isso. E eu sei que você não resiste quando ela faz aquela carinha. É nessa situação que você é capaz de atravessar o oceano a nado, só para fazer algo por ela. Então, antes que eu peça ou que ela faça qualquer coisa que te amoleça, diga que não vai fazer isso! E, não importa o que eu fale, deixe-a de castigo por dois meses!

— Jen, eu não mudo de opinião com facilidade. E se eu quero ter algum controle sobre ela quando ela for adolescente, devo começar agora. E você também.

— Não me lembre da adolescência... a minha foi terrível! E a sua?

— Eu fui expulso da escola por brigar, não tinha limite nenhum... e a Heather e o James, alguma ideia?

— Heather teve uma fase meio rebelde, punk... mas bastou meu pai queimar umas peças de roupa e ameaçar arrancar um eventual piercing com as próprias mãos que ela em um instante voltou a ser a Heather de sempre. Já James, não faço a menor ideia.

— Vamos rezar que ele não tenha entrado na Academia Naval para ser colocado nos eixos. Porque se foi...

— Temos uma bomba relógio lá em cima!

Deixamos Liz sozinha por uma hora, ela já havia deixado todos os eletrônicos no porão então, as únicas coisas que ela poderia estar fazendo nessa hora eram, ou estudar ou ler algum dos seus muitos livros. Quando subimos, vimos que a luz ainda estava acessa. Bati na porta e sem resposta.

— Não vai começar a ficar rabugenta, agora. Eu aumento seu castigo!

Mas ao olhar dentro do quarto, vi que ela dormia sentada, com a cabeça em cima dos livros. Era hora de colocá-la na cama.

Dizer que consegui dormir era mentira. Eu não gostava de levantar a voz para minha filha. Ela não era os assassinos, traficantes ou a escória com quem eu lidava todo dia. Era uma criança. Mas, às vezes, era só assim que elas aprendiam.

Jenny também não dormia, e eu poderia apostar que seus pensamentos eram os mesmos que os meus.

 - Uma moeda por seus pensamentos. – sussurrei no ouvido dela.

Ouvi mais do que vi a risada fraca dela.

— Os mesmos que os seus. Liz.

— Como você sabe que estava pensando nela.

— Você murmurou umas dez palavras em um tom mais alto. Das dez, seis eram Liz.

Nos encaramos no escuro. Ninguém disse que paternidade e maternidade seriam fáceis.

— Vamos dar conta, não é? – Ela colocou uma mão no meu rosto.

Quando fui respondê-la, meu celular tocou. Olhei frustrado para o aparelho, com uma vontade de mandá-lo na parede.

— Atende, a essa hora, é importante, Jethro.

— Gibbs. – e parei para escutar o que a central tinha para me falar. E era uma péssima forma de começar um final de semana de plantão.

— E então? O que é? – Ela poderia ter trocado de agência, ter chegado ao posto de Diretora – de novo – mas uma coisa era certa, Jenny Shepard nunca deixou de ser agente de campo. Ela sempre me perguntava o que era quando eu recebia telefonemas como este e, não raro, dava opiniões (todas certas, mas eu nunca disse a ela) sobre como resolver ou alguma pista para seguir.

— Um corpo na base dos Fuzileiros em Quântico.

— Homem ou mulher?

— Uma garotinha.

Ela suspirou. E eu sabia que ela não voltaria a dormir até que eu tivesse pegado o bastardo. Ela, assim como eu, e, depois de Liz, toda a equipe, ficavam pessoalmente ofendidos e envolvidos em casos que envolviam crianças. E não foi uma ou duas vezes que eu tive que segurar um dos meus três agentes para evitar que eles fizessem justiça com as próprias mãos.

— Vá. Se arrume. Vou preparar um café para você. Vai ter um longo dia pela frente. – com um beijo na testa ela me abandonou com meus pensamentos enquanto fazia seu caminho para a cozinha.

— Como se não bastasse eu ter sido obrigado a gritar com a minha filha e tê-la visto chorar praticamente o dia todo. Agora eu tinha que ir ver o corpo de uma menina. Alguém tinha tirado a vida de uma inocente garota. Tinha uma mãe e um pai que nunca mais acordariam com a risada da filha, ou a beijaria de novo. E eu sabia muito bem que sensação era essa. Não percebi onde meus passos me levavam até que me vi parado ao lado da cama de Liz. Ela tinha um sono agitado, murmurava algo inteligível. Era cruel, mas eu precisava de um abraço dela agora, no início da manhã, para que meu dia fosse menos pior, se isso fosse possível.

— Liz... filha... acorda. Papai precisa de um favor seu. – Ela nunca foi uma criança matutina. Sempre demorou para acordar. Mas para meu espanto, não precisei chamá-la de novo.

— Aconteceu alguma coisa, papai? Já está na hora de acordar?

— Não, Liz, ainda é cedo. Eu só preciso de uma coisa.

— E o que é? – Seus grandes olhos verdes, apesar de sonolentos, me fitavam com apreensão.

— Eu só preciso de um abraço. Você pode me dar um?

Ela, na mesma hora me abraçou apertado. Tão forte que tenho certeza que ela aprendeu a abraçar assim com Abby.

— Você tem um caso, papai?

— Sim.

— E é dos difíceis, não é?

Ela é esperta, a minha garota.

— Sim filha. É.

— Vai dar tudo certo! O senhor sempre pega o cara mau.

Eu a abracei ainda mais apertado. Incerto do motivo de querer mantê-la ali.

— Eu te amo papai.

— Também te amo, Liz. Agora volta a dormir.

— Tudo bem. Tenha um bom dia!

— Você também.

Deixei o quarto, mas só para trombar com Jenny no corredor. Mal havia fechado a porta, e ela me soltou:

— Você a acordou às quatro da manhã de um sábado?!

— Eu precisava.

— Você sempre precisa de um beijo das suas garotas antes de sair de casa, Jethro. Admita isso! – ela tinha um sorriso sonolento no rosto.

— Se você diz.

Ela me fez companhia enquanto tomava o meu café. E quando saí me pediu, de novo que pegasse o cara.

— Eu vou pegá-lo, Jen. E só mais uma coisa.

— O que?

— Não vale colocar a Liz pra te fazer companhia na cama agora não. Ela está de castigo.

— Você acorda a menina às quatro da manhã por um beijo e um abraço e eu não posso colocá-la do meu lado para me acalmar enquanto você está aí fora caçando mais um bastardo?!

— Pensando por esse lado. Pode sim.

— Eu. Te. Amo. – ela bateu o dedo indicador no meu peito enquanto falava. – Volta inteiro, por favor.

— Eu vou voltar, Sra. Gibbs. – e dei um beijo nela, sabendo que ela detestava ser chamada pelo meu sobrenome.

— Chauvinista! – ela assobiou na minha direção.

— Feminista esquizofrênica. – respondi de volta. E, entrando no carro, ainda pude vê-la revirando os olhos.

— Tenha cuidado. – foi o que pude ler em seus lábios quando deixei a entrada.


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Notas finais do capítulo

Regras do Gibbs sendo citadas? Confere, pq eu não as deixo de fora!
Tony e suas citações à filmes. G.I. Jethro e G.I. Jen, muito medo do que eles podem aprontar juntos.
Hotch inflexível no castigo... Emily fazendo de tudo para colocar a pequena mistura dos dois nos eixos...
E, bem... a coisa não vao prestar nos próximos capítulos.
Muito obrigada por lerem! e Até o próximo!



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