O sucessor escrita por HinataSol


Capítulo 13
Um pano e uma vassoura. Um breve diálogo sobre laços.


Notas iniciais do capítulo

Oi, tudo bom?
Sinto pela demora, pessoal!
Esse é o maior capítulo até agora... o "Nyah!" recomenda capítulos entrem mil e 4 mil palavras, para que não sejam nem tão rasos nem tão cansativos (o que eu concordo), mas esse ultrapassou um pouco.
Só por curiosidade, o título desse capítulo seria "o dojô da família Namikaze", porém...
Eu revisei o capítulo, mas se algo passou batido, podem avisar.
Boa leitura!
:D



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Hinata ergueu os olhos ao perceber que alguém se aproximava.

Pela entrada da biblioteca, passaram Konohamaru e seus dois amigos; Moegi e Udon. Eles a cumprimentaram com brevidade e se puseram a sentar à mesa, puxando logo os livros e cadernos de dentro de suas mochilas. Assim como alguns outros alunos que já estavam ali.

Seus olhos seguiam os movimentos deles e, ao vê-los tão tensos assim, as finas sobrancelhas da jovem Hyūga se ergueram involuntariamente.

— Sabe como é... exame de admissão. — Ao seu lado, Shikamaru a lembrou.

Ele deu de ombros como se não fosse nada.

Bom, talvez não fosse nada para ele. Pois, apesar do jeito preguiçoso, Nara Shikamaru era inteligente em demasiado quando comparado a quase todos os outros que viviam ao seu redor. Não obstante, ele não era esnobe. Talvez lhe fosse cansativo ser tão inteligente ou ficar se exibindo.

— Sei... realmente, é algo assustador — murmurejou ela, comprimindo os lábios.

Hinata sabia que o teste de admissão causava calafrios em quase todo mundo, inda mais quando tão próximo. Qualquer lugar era lugar para estudar, qualquer tempo, por menor que fosse, era destinado ao estudo.

Shikamaru bocejou enquanto observava o trio, e riu em seguida.

— Isso me lembra quando foi a minha vez. Você devia ter visto como o Naruto ficou na época que a gente ia fazer a prova.

— Ué, por quê?

— Digamos que ele não tinha as melhores notas no chūgakkō. — Disse com simplicidade.

Ela balançou a cabeça em entendimento.

De repente, a silhueta de Konohamaru se projetou ali à frente deles e o semblante do rapaz se mostrava artificialmente suplicante.

Shikamaru bufou, jogando o corpo contra o apoio da cadeira e repousando os braços recém-cruzados atrás da cabeça.

Hinata olhou de um para o outro, já imaginando o que se desenrolaria dali.

— Shikamaru-nii-san, onegai shimasu! — Suplicou ele, as pálpebras espremidas umas contra as outras e as mãos juntas a frente do corpo que quase se curvava em uma prece.

Da mesa, Udon e Moegi os fitavam com olhos atentos, havia expectação nos dois.

Shikamaru estalou a língua.

— Peça ajuda ao seu irmão dessa vez.

— Shikamaru-nii-san, você é mais inteligente!

Arf!

— Asuma-sensei também trabalha aqui, caso não se lembre. — Shikamaru fez questão de dizer.

— Eu já pedi ao oji-san. Ele disse que não vai poder me ajudar. — Lamentou Konohamaru.

— Sinto muito. Eu também não vou poder ajudar dessa vez. — Rebateu Shikamaru, a voz soando indiferente.

— Você não parece estar se sentindo mal com isso. — Acusou-o.

— É. Não estou. — Admitiu Shikamaru.

— Nem sei por que tentei — O menino revirou os olhos, inconformado.

Hinata batucou os dedos contra o balcão da biblioteca, enquanto observava os dois e ponderava. Então sorriu pequeno ao decidir.

— Hm, acho que posso ajudar vocês. — Disse ela, referindo-se ao trio de estudantes.

— Mesmo? — Os olhos de Konohamaru voltaram-se para ela e brilharam. Mas logo questionou — Como?

— Uma pessoa que conheço em Tóquio irá prestar o exame para o kōtogakkū... o material dela é autoexplicativo. Posso pedir que me envie uma cópia.

— Ah... — O semblante dele murchou.

Hinata estranhou e juntou as sobrancelhas.

— O que foi? Você não quer?

— Não é isso... É que... não sei se vou conseguir me adaptar ao material de outra pessoa... não sei se é bom fazer isso também.

Ela compreendeu e sorriu outra vez.

— Não se preocupe. Não foi ela quem fez. E... tenho certeza que você não terá problemas. Eu estudei da mesma forma quando ainda estava no chūgakkō.

Ele parecia ainda meio indeciso, quando Shikamaru falou.

— Olha, se a Hinata usou um material desses, deve ser um conteúdo de alta qualidade. Você não vai conseguir um em qualquer lugar. Deveria aproveitar.

Conquanto concordasse, Hinata remexeu-se incomodada com a certeza na fala do amigo Nara.

O menino olhou para os amigos ainda sentados à mesa, antes de dizer:

— Hm, acho que vou aceitar então. Obrigado, Hinata-san.

Ela apenas balançou a cabeça, concluindo que teria que criar uma conta de e-mail provisória para entrar em contato com Hanabi e lhe pedir uma cópia do arquivo.

Logo em seguida, antes que alguém dissesse qualquer outra coisa, Konohamaru lhe disse que havia falado com o irmão mais velho e que Hinata poderia, a qualquer momento, ir ao dojô assistir às aulas de Naruto.

Ela o agradeceu, dizendo que poderia ir naquele sábado, quando não haveria aula, internamente constrangida, pois nem se lembrava mais desse assunto, que era apenas um pretexto para sua missão.

Missão.

Hinata suspiraria toda vez que pensasse nisso.

Havia um propósito para estar ali.

Ainda naquela tarde, após sair da biblioteca, ela foi até um net café, de onde criou uma conta de e-mail temporária e contatou a irmã mais nova, Hyūga Hanabi.

Sem entrar em muitos detalhes, ela pediu que a menina a enviasse uma cópia do arquivo com seu material de estudos e, após responder aos questionamentos comuns de Hanabi, ela brevemente conversou com a irmã. Enviou as centenas de páginas para a impressão e mandou encadernar as cópias de Konohamaru, Moegi e Udon.

O tempo andava em um compasso acelerado, Hinata considerou.

Mal havia passado a virada do ano e já estavam além da metade do mês de janeiro.

 

Chegado o sábado, ainda pela manhã, ela pegou um ônibus para ir até à casa de Minato-san.

No coletivo, a diferença de temperatura fazia o vidro da janela embaçar e Hinata passou a mão ali para enxugar um pouco a superfície e observar a paisagem pelo caminho, sobretudo a bela névoa pairando pelo cume das montanhas.

Quando chegou lá, Konohamaru já estava a esperando em frente de casa. Ele sorriu assim que a viu e Hinata correspondeu o gesto dele.

Assim que ela passou pela entrada do terreno, ele, que caminhava ao lado dela, começou a falar:

— Hm, agora que parei para pensar. Acho que você ainda não conhece o Shino-san... Ele está aqui hoje.

Ela voltou suas vistas para ele e tentou buscar algo em sua mente.

Da primeira vez que esteve na casa de Konohamaru, ela conheceu Minato e Naruto, além de Inuzuka Kiba, Akimichi Chōji e Rock Lee durante o almoço; realmente, não conheceu Shino, só o ouviu ser mencionado.

— Naquele dia o Naruto-san disse que ele não poderia ficar, se não me engano. — Concordou com ele.

— Ele é meio estranho... — Cochichou Konohamaru — resolveu que quer dar aulas também, mas ele é meio obscuro. Passa completamente despercebido, não sei se vai conseguir ser um professor decente desse jeito. Provavelmente seria um bom ninja durante o período feudal.

— Talvez ele seja apenas tímido ou quieto mesmo. — Opinou ela.

Konohamaru resmungou e fez bico, chutou uma pedrinha no chão e disse:

— É. Talvez. — Ele parou em frente à escada do dojô e se voltou para Hinata — Como você viu, os amigos do nii-san costumam ser bem barulhentos. Mas, como é horário de aula, eles devem estar comportados, eu acho... — Resmungou e falou — Er... já deve estar começando.

Hinata subiu os poucos degraus com ele. O rapaz abriu a porta e deixou que ela passasse primeiro. Hinata ficou em silêncio ali, parada até Konohamaru a levar até um outro canto e sentarem-se no chão em seiza.

Atentou-se ao ambiente. A decoração já não lhe era mais novidade, então ela focou à aula que se iniciava.

Ela avistou Kiba e Lee ali ao meio junto a mais uma meia dúzia de pessoas que ela não conhecia. Sentiu a falta do Akimichi.

— Onde está Chōji-san? Ele não deveria estar aqui? — Hinata murmurou.

Konohamaru inclinou um pouco a cabeça em direção a ela, para responder, também baixinho:

— Chōji é um comilão! Ele começou a treinar porque disse que queria perder peso, mas falta mais do que vem. Deve estar pela casa do Shikamaru comendo um saquinho de batatinhas chip.

Ela balançou a cabeça em anuência e voltou suas vistas para a frente, vendo Shino. Ele era de estatura similar a Naruto. E, vestido com o quimono, estava em pé sobre a beirada do tatame quando começou a fazer a instrução, enquanto Naruto o supervisionava a uns três ou quatro passos de distância.

Tsuki! Gyaku-zuki! Oi-zuki! Dan-zuki! — E conforme ele ditava, os artistas marciais produziam os movimentos, executando os socos e, depois, os chutes. — Mae-geri! Yoko-geri! Mawashi-geri!

Hinata reconhecia os comandos ao ouvi-los, antes de serem executados.

Neji, seu primo, era judoca, mas conhecia estilos diferentes de artes marciais. Consequentemente, os movimentos de karatê também eram facilmente identificáveis aos seus olhos, embora nem ela ou Neji fosse praticante.

— Hm, então, Naruto-san é carateca? – Hinata cochichou outra vez, ainda observando a aula.

— De certo modo. O nii-san é usuário de Taijutsu... Ele conhece estilos diferentes de lutas. Ele é muito bom, mas eu nunca disse isso, hein! Sobre o estilo de luta da aula, o Shino-san prefere karatê, então... — Deu de ombros.

Ela admirou-se disso.

Em determinado momento, Naruto disse algo para Shino, o qual acenou afirmativamente. Os dois foram para o meio da sala e iniciaram a demonstração de um movimento. No instante em que fizeram o cumprimento, Hinata se lembrou de quando Neji tentou lhe ensinar judô. Na época, ela não achou que possuía algum talento para artes marciais, mas ele disse que não era esse o problema. A dificuldade estava em sua hesitação. Hinata não gostava de conflitos, isso a impedia de avançar, sempre travando mesmo quando encontrava alguma abertura em seu oponente. Ele então lhe sugeriu o aikido, visto que seria útil para ela. E, dali, realmente fluiu algo.

Quando retomou sua atenção, a demonstração já havia se encerrado com Naruto demonstrando o bloqueio de um golpe e Shino dizendo para que fosse feita a reprodução do movimento.

Ao acabar a aula, Naruto indicou-a a Shino e fez a apresentação entre eles. Hinata considerou que Aburame Shino seria uma pessoa com a qual ela teria, facilmente, uma boa convivência. Ele aparentava ser quieto e metódico, analítico. Mas uma pessoa que lhe deixaria à vontade; pouco ou nada intruso.

Já Shino tinha consigo a impressão de conhecê-la, todavia não externou esse fato. Guardou para si mesmo.

Logo, Rock Lee a saudou com sua absurda animosidade. Seu olhar empolgado a fitava enquanto discursava palavras de incentivo aleatoriamente, dizendo coisas sobre primavera e juventude. Kiba também a cumprimentou bem-disposto, mas logo se despediram.

— Pensei que eles ficariam mais tempo por aqui. — Falou Hinata, olhando para a porta, de onde Kiba, o último a ir embora, havia acabado de sair.

Naruto recém-acabara de colocar o que estava fora em seu devido lugar outra vez e desenrolava uma bandagem do pulso quando a escutou.

— Eles não ficam aqui sempre. Só de vez em quando. — Deu de ombros.

Konohamaru estava ao centro do tatame, aproveitando-se daquele momento para lançar chutes ao ar, quando se pronunciou sobre aquilo também.

— Kiba-san trabalha numa dessas lojas de ração. A família dele é toda de amantes de animais. Provavelmente foi dar uma corrida com o cachorro dele antes de ir trabalhar. — Ele fez uma careta ao dizer. Lançou um soco. — Lee-san é um viciado em atividades físicas. Treina aqui por diversão. Ele trabalha na academia do Gai-sensei, outro viciado em exercícios físicos.

— O Shino estuda. — Naruto interrompeu e se concentrou — Ciências Biológicas, ou algo assim, se não me engano... De qualquer forma, ele parece querer dar aulas.

— Biologia é bem mais a cara dele... — Konohamaru comentou.

— Por que ao invés de implicar com o Shino, você não faz como ele e vai estudar para o seu teste? Ele pelo menos passou sem problemas. — Cutucou Naruto, repreendendo o irmão mais novo.

— É! Acho que vou fazer isso mesmo! — Respondeu, malcriado. O menino mostrou a língua, enfezado. Ele deixou o centro do tatame e saiu dali pisando duro, chateado.

Hinata estendeu a mão e ameaçou ir até ele, porém, logo parou quando ele saiu de suas vistas. Deixou o braço cair ao lado do corpo e olhou para Naruto um tanto constrangida e o visualizou com o cenho franzido.

— Não liga para ele. Konohamaru já está aborrecido há alguns dias. — Naruto avisou.

— Deve estar estressado com a chegada das provas... — Considerou Hinata, desviando os olhos para a saída.

— É... Deve ser isso. — Murmurou Naruto, fitando-a por um momento, antes de desviar os olhos também — Eu já vou fechar o dojô...

As claras bochechas se enrubesceram.

— Ah, sim, desculpe... eu... já vou sair — Gaguejou ela, embolando-se entre as palavras.

Os olhos dele se arregalaram.

— Não, eu não estou te expulsando nem nada disso... é que eu vou limpar aqui dentro ainda e depois vou fechar... Só disse isso para que você se sentisse à vontade.

— Ah, entendi... então... hm, quer ajuda? Pra, sabe, limpar...

Ele arqueou as sobrancelhas.

— Claro. Toda ajuda é bem-vinda! — brincou — Mas não há muito o que fazer. Só vou limpar o chão e tirar a poeira...

Naruto foi até um canto e voltou, entregou um pano à Hinata e pegou uma vassoura para varrer o chão.

Quando começou a limpar, Hinata pensava em o quanto lhe parecia estranho estar ali fazendo uma faxina com ele, o futuro imperador. Isso a fez ponderar sobre alguns aspectos, enquanto, pelo canto dos olhos, o assistia a varrer o chão.

Naruto era um jovem homem adulto, bonito, simpático e de alegres amizades. Ele era sensei em um dojô que tinha na casa de seu pai e uma pessoa realmente sociável, ela já sabia. Ele visivelmente se dava bem com as pessoas com bastante facilidade. Ela era prova disso.

O filho de Kushina ainda parecia ser atento quando o assunto eram as pessoas que estavam a sua volta, mas meio disperso quando se tratava de outros aspectos. E, em meio a devaneios sobre as características dele, Hinata Hyūga finalmente parou e pensou se Naruto teria alguma habilidade para com a política ou para o lidar com conselhos e a pressão de pessoas lhe exigindo algo. Se seria alguém que se enquadrava no perfil para se estar à frente de um país próspero e tão bem estruturado como o Japão.

Isso a fez considerar. E se ele não se achasse capaz de assumir o trono? E se ele não quisesse assumir o trono?

Enquanto Shikamaru, Shino, Lee e Kiba, de seu ponto de vista, pareciam ter seus planos, ao menos, definidos; Naruto não fazia visível anseio futuro algum.

Teria ele o desejo de ser apenas sensei em um dojô de uma cidade como Nara? Seria ele, assim, tão amante das artes marciais? Uma pessoa de simples aspirações?

Não havia nada que o impedisse de seguir um caminho diferente, percebeu. As pessoas não viam a coroa sobre a cabeça de Naruto. Ele passaria facilmente despercebido em qualquer lugar. Se ele se negasse a aceitar o trono, ninguém iria julgá-lo; ninguém ao menos saberia.

Lembrou-se de que Minato havia falado que não seria fácil convencê-lo a ir até Tóquio. Poderia o pai pensar assim por Naruto não ter interesse em sair de Nara?

E se não houvesse nele o interesse de saber sobre a mãe? E se, descobrindo sobre a mãe, ele não tivesse coragem de ir vê-la? E se ele não a quisesse ver?

Enquanto passava o pano em um dos quadros, Hinata resolveu questionar. Torcia, porém, que não soasse rudemente nem muito intrometida.

Ela parou o movimento dos braços e tentou escolher as palavras. Apertou os olhos um instante e, ainda de costas para ele e tentando parecer casual, voltou a passar o pano no quadro, quando suspirou e falou:

— Naruto-san – capturou a atenção dele e questionou –, já sentiu vontade de sair de Nara? Conhecer outros lugares ou fazer coisas diferentes?

Naruto parou um tempo e considerou sua resposta. Ele diria um simples não, porém, achou melhor analisar suas palavras. Era uma pergunta simples, mas o fez pensar bastante para assim responder:

— Acho que sim. Gosto de Nara, mas deve ser legal conhecer outros lugares. Se não for muito estranho e tiver ramém para eu comer acho que dá para aguentar. — Disse e ele mesmo riu. Devolveu-a a pergunta — E você?

Hinata deu de ombros.

— Eu saí de Tóquio e estou aqui — Ela brincou.

— É tão longe assim?

— Um pouco. Mas acho que depende da comparação.

Ele riu com o comentário dela.

— Já que você começou, diga-me, então, o que tem vontade de fazer? O Shino quer ser professor, o Shikamaru já tem seus alvos traçados. Acho que até o Konohamaru já deve saber o que quer. — Indagou Naruto.

Hinata surpreendeu-se. Ela tencionava perguntar aquilo para ele, mas atordoou-se ao notar que não saberia responder aquela pergunta.

— Eu... não sei ao certo. — Confessou em um murmúrio, um vinco se formou entre as sobrancelhas, sobre o nariz. — Houve um tempo em que quis ser professora. Pensei em estudar literatura e dar aulas, mas...

— Mas?

Ela encolheu os ombros, sem completar.

— Mas e você? O que tem vontade de fazer? — Inquiriu ela, num murmurejar fino entre os lábios.

Naruto passou a varrer o outro lado do dojô. Ele demorou um tempo, buscando algo para dizer.

— Gosto de dar aulas aqui... — Disse ele e fez silêncio antes de completar — Mas acho que também não sei. Gostaria de poder fazer algo que fosse importante, sabe? Mas quem já não pensou nisso em algum momento? Em fazer algo que mude a vida de alguém. Nem que seja algo aparentemente banal e que passa completamente despercebido, mas que facilita o dia a dia das pessoas. — Ele exprimiu retoricamente.

— Acho que entendo o que quer dizer. Mas parece que existe uma linha tênue entre o querer e o fazer de fato.

— É! — Ele suspirou e fingiu frustração — Infelizmente, o cup noodle não é uma invenção minha.

Hinata riu e resolveu aproveitar a coragem, que lhe veio com o bom humor de Naruto, para o inquirir novamente.

— Hm, eu estava pensando... Naruto-san se parece muito com o Minato-san, mas o Konohamaru-kun é tão diferente dos dois... desde o primeiro dia que vim aqui, fico pensando sobre isso... — Comentou ela, mordendo a boca.

Hinata tremeu em seu interior e prendeu o ar quando o som das cerdas da vassoura raspando no chão brevemente cessou; seu coração se espremeu com o medo de tê-lo irritado, porém, tentou não demonstrar.

Em meio a sua respiração, ouvir o leve ruído do objeto limpador contra o chão outra vez a aliviou.

— Ele não te falou sobre isso. — Indagou Naruto, mas não parecia surpreso. Na verdade, soou mais como uma afirmação do que uma expressão interrogativa. — Eu posso dizer que temos mães diferentes, mas isso seria algo vago. — Ele suspirou e deu de ombros, virando-se de costas, sem olhar para ela — Konohamaru e eu não somos irmãos. Bom, não de sangue. Porque eu o considero meu irmão e meu pai o considera como filho.

— Eu... — Começou ela, mas a fala logo morreu, não sabendo o que expressar.

Tomada pela surpresa de uma confirmação tão repentina, ela emudeceu. O que poderia dizer, afinal? Hinata não poderia dizer que possuía certeza, mas já esperava descobrir algo como aquilo.

No entanto, ela queria perguntar mais. Queria entender. Entretanto, tentou se conter, quando abriu a boca e fechou em seguida.

Naruto tornou seu olhar para ela. Ele percebeu o quanto Hinata aparentemente queria saber. Ver a forma como ela hesitava era engraçado até. Hinata era curiosa e tímida ao mesmo tempo, ele constatou.

— Você parece realmente curiosa sobre isso — Externou ele, analisando a feição que ela lhe mostrava.

Um sorriso pequeno se desenhou em seus lábios. A moça que ele conheceu durante um almoço, em uma tarde pós-aula, era alguém de emoções muito transparentes. Naquele dia, foram poucas palavras. Hinata parecia ser alguém cuidadosa com as palavras e a forma como se expressava. No entanto, era facilmente lida por ele, embora Naruto a considerasse extremamente reservada.

Hinata sustentou o olhar dele por cima do ombro, logo desviou a vista e passou a limpar o segundo quadro. De costas para ele, acenou com a cabeça.

— Um pouco — admitiu. Ela olhou para ele outra vez antes de dizer — Desde que vim aqui a primeira vez, não vi a mãe do Konohamaru-kun. E ele nunca falou sobre ela, só do pai. Era estranho, mas... não havia coragem para perguntar... e havia o irmão mais velho... vocês são bem diferentes na aparência, embora se comportem de modo similar — ela ponderou, escolhendo as palavras com cuidado.

Naruto anuiu.

— Não vejo problemas em dizer isso para você... — Ele deu de ombros e outra vez varreu o chão que já estava limpo. Então falou — O sobrenome original do Konohamaru é Sarutobi. Até aonde sei, o otou-san dele morreu bem cedo. Ele era fumante, um hábito que herdou do ojii-san do Konohamaru. — Naruto explicou e completou — O pulmão dele estava mais sujo do que uma chaminé entupida de fuligem. Na época, a mãe dele era muito jovem e ainda estava grávida. Disseram que ela teve depressão pós-parto... quando ele nasceu, ela não queria cuidar dele sozinha...

Hinata prestou atenção naquelas palavras, juntando as frases curtas que Naruto soltava e chocou-se.

— Ela...?

— Abandonou ele... — Confirmou — O avô dele morreu de um enfisema pulmonar quando ele era bem novo também e, mesmo sendo irmão do pai dele, o Asuma-sensei ainda era jovem demais para ter a guarda, então, o otou-san o adotou. — Contou e e comentou — Kurenai-san acha que a mãe dele também morreu já que ninguém nunca mais viu ela.

— E o Konohamaru-kun?

— Ele sabe da história toda, mas escolheu continuar com a gente... Na maior parte do tempo, eu nem lembro que não temos o mesmo sangue. Nós somos uma família. O Konohamaru é meu irmão. Às vezes, acho que a gente não se daria tão bem se tivéssemos o mesmo sangue.

Um pequeno sorriso se desenhou nos lábios de Naruto.

— Eu... não esperava algo assim. — Confessou em um murmurejar — Imaginei que vocês não fossem irmãos de pai e mãe, mas não imaginava algo assim.

— É algo inusitado, não? — Perguntou ele — Mas, mesmo que não seja algo bom, acho que não ter conhecido os pais dele fez ele ter mais facilidade de nos enxergar como família. Eu penso que, se tivesse vivido alguns anos com o tou-san e a kaa-san dele, Konohamaru poderia ter tido dificuldade em viver com a gente. Ou então a guarda dele poderia ter sido passada ao Asuma-sensei.

Ela fez uma careta.

— ... Acho que sim. É uma história conturbada. Teria sido ruim ele viver isso tudo de modo direto. — Considerou Hinata. Vieram-lhe à mente os momentos em que vislumbrou o menino, junto aos amigos, na biblioteca da Nara Gakuen; quando estava com ela e Shikamaru; no templo; e na casa de Minato. Ele parecia ter uma vivência agradável ali. — Mas acho que vocês fazem muito bem para ele. Tenho certeza que Konohamaru-kun vê vocês como a família dele de verdade. Ele demonstra prezar muito por Minato-san e você.

Naruto sorriu.

Hinata então reparou.

— Mas e sobre você? — Perguntou ela, um tanto hesitante — Você falou sobre o Konohamaru-kun, mas e você?

Ele a olhou.

— Você diz a minha okaa-san? — Questionou ele, vendo Hinata concordar com um balançar de cabeça. Ele juntou as sobrancelhas, olhando para baixo e fitando o chão sem foco determinado — Eu não sei... o otou-san não gosta de falar sobre ela... — Resmungou ele, um bico se formou em sua boca.

— Naruto-san...

— Às vezes, tenho vontade de perguntar ele, mas fico pensando... e se o otou-san não quis admitir que ela também abandonou a gente? Se ela tivesse morrido, eu acho que ele teria me dito, certo? Eu não sou mais uma criancinha. Acho que conseguiria lidar com isso. — Afirmou ele — Mas..., eu conheço o meu otou-san, então comecei a pensar que se ela tivesse mesmo abandonado a gente, ele não iria querer falar mal dela para mim, afinal, seria a minha okaa-san. Comecei a achar que talvez fosse melhor eu não saber. — Ele deu de ombros.

Ela mordeu os lábios.

Ouvir aquilo vindo de Naruto corroborava as palavras de Kushina e a impressão que a própria Hinata tinha de Minato. De maneira alguma ele poria o filho contra a mãe.

Minato não entendia os motivos de Kushina ter agido da forma como agiu, ele mesmo a havia dito. Porém, mesmo assim, ele não guardava rancor dela. Ele era incapaz de tal. Outra vez Hinata questionou-se sobre a possibilidade de Minato ainda amar Kushina. Havia muito tempo que não se viam, mas a imperatriz dava fortes indícios de ainda tê-lo em seu coração, poderia ele sentir o mesmo?

Ela não sabia.

— Minato-san me parece ser uma pessoa maravilhosa. — Ela disse apenas.

— Sim, ele é. — Falou Naruto, em tom de elogio.

Houve um breve silêncio.

Hinata observou o quadro que havia acabado de limpar, enquanto Naruto guardava a vassoura e o pano.

— É um belo quadro para se ter aqui. — Elogiou.

Naruto se aproximou, observando o leque em alusão à bandeira nacional.

— É um belo símbolo. — Concordou.

O leque tinha a base em madeira clara e polida e trazia em si a bandeira do Japão: o branco, representando a honestidade e a pureza, com um belo círculo carmesim que não só representava o sol, mas também sinceridade e paixão ao país.

Hinata esticou a mão, fazendo menção de contornar a bandeira. Seus pensamentos voaram até Kushina que, assim como a bandeira, representava a Terra do Sol Nascente. Pensou em Naruto ao seu lado e em como seria o encontro entre eles.

— Naruto-san?

— Hm?

— Se pudesse conhecer sua mãe agora, você iria?

 

 

Gentei Tsukuyomi


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Notas finais do capítulo

São aproximadamente 470km de Nara até Tóquio.
Não quis pôr o nome do Lee de forma oriental, fica meio estranho "Lee Rock"
Seiza - a forma de sentar-se dos japoneses.
Os nomes são de "socos" e "chutes" do Karatê.
Judô - caminho suave
Aikido é uma técnica de defesa pessoal.
Taijutsu é a nomenclatura para "artes corporais" no Japão.


E aí?
Comentem, hein! Às vezes, sinto-me solitária nesses sites, o povo quase não comenta nas minhas fics... :'(
Mas enfim! Eu deixei um breve aviso no perfil sobre a demora.
E leiam minha outra fic NaruHina, ela está no início ainda (é no universo original). Garanto que vou fazer o possível para deixar ela bem legal! :D
Aqui o link: https://fanfiction.com.br/historia/779864/Gentei_Tsukuyomi_depois_da_lua/

E não se preocupem, ainda tenho a história sob controle. kkkk
Até o próximo! o/
Sempre falo demais e esqueço algo... ¬¬



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