E de Emily

Era seu primeiro mês de trabalho.  Eu havia te detestado no primeiro instante que pisou os pés em meu escritório. Baixinha, sem os corpos esculturais com o qual eu estava acostumado, usava um óculos ridículos que tampava quase todo o seu rosto e também havia aquela cara de boa moça, algo totalmente fora do que eu esperava, mas eu não podia te demitir, afinal, era a pessoa com o melhor currículo. Você era uma mistura de todas as coisas que eu mais detestava em uma mulher, não que isso importasse, já que sua função era trabalhar, não ser modelo para mim, mas confesso que teria sido ótimo poder trabalhar com uma visão mais agradável. Eu sei, totalmente hipócrita. E você era apenas Emily, a agradável.

Era seu segundo mês de trabalho. Eu fui o pior chefe que qualquer ser humano conseguiria suportar, eu pedia coisas que obviamente não queria, te forçava a fazer coisas que seriam humanamente impossíveis ser realizadas, como entregar extensos relatórios em pouco tempo, te incomodava durante o final de semana, te chateava e você jamais reclamou de qualquer coisa, nunca discutiu ou protestou, nunca disse nada além de um sim senhor. Eu queria profundamente que você tivesse desistido e ido embora, porém, fiquei feliz em saber que alguém tão pequena como você possuía uma garra tão grande pra vencer. Eu sei, totalmente hipócrita. E você era a pequena guerreira Emily, a agradável.

Era seu terceiro mês de trabalho. De alguma forma em tão pouco tempo que estava trabalhando para mim, acabou se tornando parte vital do meu dia, sabia todos meus compromissos, entendia o que iria pedir antes mesmo que eu falasse, conhecia meus gostos até mesmo aqueles pequenos e de alguma forma, você se fez presente e eu não sabia mais o que fazer sem ter você por perto. Mas nada disso mudava a realidade, você continuava sendo estranha. Eu sei, totalmente hipócrita. E você começou a se tornar mais do que apenas a Emily, a agradável.

Era seu quarto mês de trabalho. Você já trabalhava para mim por um longo período de tempo, principalmente considerando minhas outras secretárias. Seu trabalho a cada dia se tornava mais eficiente, eu sentia que você seria até mesmo capaz de gerenciar minha empresa sozinha. Meus pais em uma das visitas a empresa, acabaram finalmente te conhecendo e dizer que eles te amaram, seria simplesmente pouco demais. Minha mãe basicamente te adorou e meu pai sorria de uma forma estranha, como se soubesse de algum fato que ninguém mais soubesse. Eu estava começando a gostar da sua companhia confesso, mas jamais admitira para ninguém. Eu sei, totalmente hipócrita. E você se tornou mais do que apenas a Emily, a agradável.

Era seu quinto mês de trabalho. Eu tinha uma viagem importante para fazer e você como minha secretária, teria que ir. Foi a melhor viagem da minha vida. Nessa viagem, tivemos que cancelar a reunião e remarca-la, o que nos deu dois dias incríveis para fazer nada, você acabou decidindo ir conhecer a cidade, já que nunca havia estado em Nova York e eu acabei indo junto, porque não havia nada melhor a fazer. Era lindo ver sua reação, você olhava fixamente, seus olhos brilhavam, você primeiro dava um mini sorriso e quando pensava que ninguém estava olhando, sorria abertamente, como se tivesse ganhado o seu dia. Nos dois dias que passei com você, andando pela cidade, conheci mais de você do que todos esses meses que trabalhamos juntos e eu gostei disso, da sua companhia e de seus sorrisos secretos, mas jamais revelaria isso. Eu sei, totalmente hipócrita. E você era alguém que eu ainda não havia enxergado Emily, bem mais que somente agradável.

Era seu oitavo mês de trabalho. O tempo voou, e nesse tempo você se tornou a pessoa por quem eu me apaixonei. Sim, esse era o sentimento que irradiava por meu peito, cada vez que eu lhe via, que você falava e que a gente se amava. Ainda lembro, do nosso primeiro beijo, da forma como senti que aquele era meu lugar, do seu jeito tímida ao dizer que sentia muito, completamente constrangida. Eu estava bobo e apaixonado. Eu sei, totalmente hipócrita. E você era a mulher que eu amava Emily, muito mais que só agradável.

Era seu último mês de trabalho. Tudo estava maravilhoso, até que uma bomba caiu sobre nós. Minha empresa era uma herança de família, e meu avô, verdadeiro dono, queria que tivesse um fusão entre sua empresa e de um amigo e eu era a forma de concretizar esse trato, através do meu casamento. Era clichê, mas era minha realidade. E eu queria que você continuasse, ficasse comigo. Eu sei, totalmente hipócrita. E você era a mulher que perdi Emily, nada mais minha.

Sempre foi você. Haviam se passado cinco anos, desde a última vez que eu te vi. Sentia sua falta cada segundo que durou o meu casamento de fachada. Falta do seu sorriso, seus beijos, abraços e carinho. Eu não era metade do homem que fui ao seu lado. Eu fui estúpido. Quando você partiu, tudo que queria era ir atrás de você, até cheguei a ir, mas era tarde demais, você havia sumido e mesmo usando os melhores recursos, era como se você nunca tivesse existido. Então, depois de quase seis anos, eu finalmente te encontrei novamente. Você estava diferente, seus cabelos haviam crescidos, não usava mais aquele óculos ridículo e parecia bem mais madura. Eu lembro de caminhar em sua direção, sem querer perder você novamente, mas foi então, que ele apareceu e eu parei. Ele era a criança mais fofa que havia visto e te chamava de mamãe. Naquele momento, desejei com todas as forças que não houvesse um pai para aquela criança. Eu sei, totalmente hipócrita. E você Emily, era minha agradável e linda secretária, o amor da minha vida.

E de Emily, que amou o chefe
          Estúpido.