T de Thaís.

26 de junho de 1975. O meu amor por você foi como um sonho, algo que tanto desejei, mas que por diversas vezes nem acreditei que iria conseguir ter. Te amar foi a única coisa certa que fiz em toda a minha vida e ainda assim era uma das coisas mais errada. Foi num verão a primeira vez que nós vimos, e quando te olhei parecia até mesmo que estava olhando uma miragem, porque não havia nada mais gracioso que ver você correndo atrás de suas sobrinhas. Foi ali, olhando jogar sua cabeça para trás e gargalhar que finalmente entendi todas aquelas coisas melodramáticas que tanto é retratada nos filmes. Ali, naquele momento, eu entendi o que era se apaixonar.

26 de junho de 1976. Você estava noiva do meu primo. Te olhar o beijando, dando todos seus sorrisos unicamente para ele, o amando me tirava a paz todos os dias, porém, ele havia te visto primeiro e por essa razão apenas se você o negasse é que eu poderia tentar algo, isso fazia parte do nosso código de primos, e para meu azar você jamais o negou.

26 de junho de 1977. Que azar o meu você se casar justamente no dia em que nos conhecemos, era como se o destino, a vida, as constelações e todo o universo estivesse zombando de mim, dizendo que até mesmo quem eu amava não conseguia me amar, nada mais do que apenas amigos.

26 de junho de 1980. Eu continuava te amando, cada dia mais. Eu tinha inveja da vida que meu primo possuía e cada momento quando vinha reclamar para mim, da forma que você o tratava ou como seus dois filhos eram bagunceiros e sem disciplinas, eu desejava pedir para ele não reclamar, porque eu daria qualquer coisa para viver aquela vida.

26 de junho de 2000. A vida não passou, ela correu como se tivesse com pressa para chegar em algum lugar. Eu me casei com uma linda mulher que me ama, tive três crianças e mantive em um emprego dos sonhos, porém, durante esse tempo eu sempre guardei o meu amor por você em um lugarzinho especial. Naquele verão recebi a notícia por meio de seus filhos que eram meus afilhados que meu primo estava saindo de casa para ir viver com uma mulher mais jovem, ele estava fugindo de seus votos de casamento, afinal, era para ser na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, na riqueza e na pobreza, até que a morte separasse.

26 de junho de 2005. Tinha exatamente cinco anos que você havia sido diagnosticada com Alzheimer e nada foi maior do que aquele choque. Seus filhos tentaram ao máximo cuidar em casa, porém, com o tempo tudo se tornou tão difícil, principalmente pelo fato de que você não conseguia se lembrar de mais ninguém, todos foram esquecidos. Cada lembrança, memória, sorriso, tristezas, história de vida foram apagadas. Então, você passou a morar em uma clínica, era solitário, mas ao mesmo tinha outras pessoas na mesma situação sua e isso trazia um pouco de conforto.

26 de junho de 2010. Todos os anos desde que você passou a morar na clínica eu saia do país que morava e ia até você. Sempre no mesmo dia e mês. Você nunca conseguiu me reconhecer e sinceramente não me importava com isso, bastava apenas sentar lá, escutar você falar algumas poucas palavras, olhar para mim com essa expressão que guardava todos os segredos perdidos de uma vida, então no final eu depositava um beijo em sua bochecha e prometia te visitar novamente, no mesmo dia e mês no próximo ano.

13 abril de 2030. Ao todo foram vinte e cinco anos te visitando, ano após ano, sempre esperando aquela data especial chegar, porém, naquele ano a visita teve que ser adiantada, porque você já não tinha mais muito tempo na terra. Seus filhos, netos e todas as pessoas queridas já tinham lhe visitado e dado o adeus, faltava apenas eu. Novamente como em todas as outras vezes, sentei ao seu lado, te olhei esboçar um pequeno sorriso e olhei naqueles olhos que guardava segredos perdidos de uma vida inteira. Você tocou meu rosto com suas mãos tão frágeis, e então sussurrou dia vinte e seis de junho, e naquele momento, percebi que uma pequena parte de você sabia quem eu era, ou pelo menos é isso que prefiro crer. Depois do meu adeus, não demorou muito para você partir e aquele lugarzinho que guardava nosso amor ficou vazio e oco.

T de Thaís que por
                Toda vida foi amada.