Sirenverse's Powerful escrita por Thomaz Moreira


Capítulo 8
Superbad


Notas iniciais do capítulo

Voltei!
Eu sei que demorei para publicar esse capítulo, e a verdade é que eu acabei me esquecendo. Peço desculpas pelo atraso!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/775489/chapter/8

            Certo, eu tinha tarefas para cumprir. Tarefas das quais eu nem tinha topado direito, mas ainda tinha que cumprir. Além disso, havia toda a preocupação com a escola. Eu me arrumei pensando nisso. Encarando o espelho enquanto ajeitava aquela blusa. Pus o moletom por cima, mesmo que lá fora fizesse um estrondoso calor. Ajeitei os meus cabelos depois de passar o secador. Passei um perfume e peguei as minhas coisas. Escorreguei de propósito no apoio das escadas para descer mais rápido. Encontrei a senhora Johnson no caminho que me olhou com o mesmo desprezo de sempre. — No fundo ela me ama. — Passei pela cozinha e peguei um daqueles biscoitos franceses gigantes, os favoritos da minha mãe. Falando nela, ela estava lendo o jornal enquanto o meu pai tomava suco. Deixei os dois, passando pela porta com o biscoito na boca.

— Não quer carona? — Ouvi a minha mãe chamar.

— Eu já tenho, valeu! — Afirmei.

            Deu para ver a troca de olhares entre os dois curiosos, antes de fechar a porta. E assim que eu fechei eu vi aquele carro chegando. Um carro grande e preto que buzinou para mim. A porta se abriu e eu vi a Yara acenar para mim. Corri para o carro e entrei, cumprimentando a todos.

— Obrigado pela carona, senhor Rodrigues.

— Pode me chamar de Thomaz, garoto. — Disse com sua voz grossa e rouca. — Não estamos fazendo negócios. — Eu entendi que era o jeito dele de tentar ser engraçado, mesmo que não parecesse.

            Troy estava no banco da frente em silêncio olhando para a estrada e Yara ouvia suas músicas nos fones de ouvido. Usava a mesma fita azul para prender os seus cabelos loiros, e uma saia branca que combinava um pouco com sua blusa roxa clara.

— E então, Toby, está gostando da escola?

— Mais do que eu esperava. Não é a mesma coisa que estudar em casa, mas até que é legal. — Menti.

— Estudar numa escola tem suas vantagens. Você faz novas amizades. — Acrescentou. — Nossa como eu tenho saudade dos meus amigos da escola... — Thomaz desabafou.

— E por que você não marca uma reunião de classe? — Sugeri.

— Porque todos eles estão mortos. — Aquilo quebrou todo o clima que já estava estranho.

            O vento passando pelas janelas do carro foi o único som, além do motor, que quebrava aquele silêncio constrangedor.

— Ah... Entendi. — Falei, sem reação e constrangido. E mastiguei aquele biscoito fazendo um barulhão.

            Seguimos o caminho até o Saint Harper em silêncio total. E eu não parava de pensar que talvez eu tivesse dito algo bem errado. Quando finalmente chegamos eu vi o de sempre, alunos em diversos lugares. Eu agradeci pela carona e saí com o Troy e a Yara.

— Eu vou encontrar o Travis. — Troy falou.

— Cacete! Eu esqueci que você fala!

            Ele nem me respondeu, deixou nós dois plantados naquele pátio. Agora eu tinha certeza de que eu disse algo ruim.

— Você não falou nada de ruim. — Yara leu a minha mente. Sim, ela realmente leu a minha mente, e aquilo me incomodou um pouco. — Ele é desse jeito mesmo. — Sorriu.

            Ela puxou de sua pequena mochila uma vasilha com alguns biscoitos e me deu um.

— Toma. — Estendeu a mão. — Tenha uma boa aula, Toby.

            Ela saiu em direção a uma árvore com uma bela sombra e sem ninguém por perto. E eu entrei logo na escola. Passando por várias pessoas, algumas que já me conheciam de vista, mas nunca nem falaram comigo, e outras que eu já tinha conversado na festa da Deborah. Eu segui para o meu armário e peguei algumas coisas lá dentro. Foi quando eu vi o Henschell passando por mim. Aquela franja ruiva saltando, por conta da velocidade do garoto. Ele abraçava alguns livros. Passou por mim e me deu um “oi”, então eu decidi o parar.

— Ei! — Chamei.

            Ele se virou franzindo a sobrancelhas. Caminhou até mim, meio receoso e então eu disse, por impulso.

— Vai ter uma festa, tá afim de ir?

— Achei que você não gostasse de mim. — Falou timidamente.

— Por que você achou isso?

— Bem, por conta do outro dia na festa. E depois que eu pedi desculpas, não senti uma certa firmeza.

— Bom, você tá errado. Quer ir na festa?

            Ele sorriu e olhou para os lados, pensando se valeria a pena mesmo. E então finalmente acenou a cabeça.

— Então, aonde vai ser? — Perguntou.

— Bom, eu ainda não sei... — Ri.

— Certo. — Estranhou. — E quando vai ser?

— Eu também não sei.

— Vai ter mesmo uma festa? — Ele brincou.

— Vai sim. Bom, fale com a Kimberly sobre isso, ela vai te ajudar. E peça para a Lena colocar o seu nome na lista.

— Está bem. — Concordou. — Bom, eu tenho que ir, estou com uma certa pressa.

            Se despediu de mim e virou-se com pressa para ir em direção a saída da escola. Foi nesse instante que ele esbarrou no Troy. Os livros voaram por todos os cantos. Henschell não parou de pedir desculpas, e nem olhou para saber em quem ele bateu.

— Que clichê... — Kimberly cochichou no meu ouvido. Me deu o maior susto.

— Você está bem? — Troy falou com sua voz séria e autoritária.

            Henschell balançou a cabeça enquanto Troy o ajudava com os livros. Ele agradeceu e foi embora. Kimberly estava certa. Era o típico momento clichê de filmes de comédia romântica.

— Eu não consigo achar o Travis.

— Ele disse que vai chegar atrasado.

            Troy olhou com aquela cara estática para Kimberly e sem falar mais nada nos deixou sozinhos. Eu estava começando a ficar acostumado.

— Menino rico, eu achei uma boa localização para a festa. — Falou. — É a algumas quadras daqui. Preciso que você vá lá depois da aula. É um PUB.

            Ela me entregou a localização num papel amaçado e me deu uns tapinhas no ombro. Saiu depois de dizer que passaria mais tarde para me buscar para ajudar com as bebidas. Pouco-a-pouco eu aprendia e lidar com a Kimberly, e lá no fundo eu gostava da personalidade dela, por mais que desse medo. Eu segui para as minhas aulas. Todas muito cansativas.

            Eu fiz todos os trabalhos sem dificuldade alguma, consegui entender todos os assuntos, mas ainda não conseguia parar de pensar em como eu iria organizar uma festa. Eu não estava sozinho, mas a responsabilidade era imensa. Eu me peguei pensando tanto nisso que acabei esquecendo de alguns assuntos, mas eles voltaram para me lembrar. Foi durante a aula de educação física. Logo que o sinal tocou, nós deveríamos ir para a quadra. Nos encontraríamos com o treinador Anderson, esse era o problema. E quando o sinal tocou, recolhemos as nossas coisas, mas antes de sairmos, o professor de espanhol nos chamou atenção.

— Quase me esqueci. Devido aos últimos ocorridos, o treinador Anderson foi afastado do seu cargo. Um novo treinador encontrará os alunos que farão sua aula na quadra.

            O frio na minha barriga veio de imediato, e eu consegui ver os olhares irritados do grupinho dos jogares de futebol. Todos me olhando com desprezo, nem mesmo o Evan estava lá. Eu realmente estava marcado com eles.

— É isso que dá se meter com gente rica... — Abraham falou com sarcasmo. — Os socos deles são com notas de cem.

— Tá com algum problema? — Troy se colocou na minha frente.

            Está aí uma coisa que eu não imaginei que iria ver, Troy tentando me defender, e disposto a usar violência para isso. Mesmo que ele fosse tomar uma surra, já que não possui poderes, e seriam cinco contra um.

— Eles são cheios de seguranças, também. — Abraham murmurou.

— Não quero brigas na sala de aula. Essa escola já teve problemas demais.

            Troy foi o primeiro a sair da sala, mais irritado do que eu. E eu fui logo em seguida, tentei falar com ele, mas quando eu cruzei a porta vi que ele já estava virando o corredor. Com certeza não queria conversar. E eu não só queria, como precisava. A ideia de que eu fui responsável pela demissão de uma pessoa e a humilhação de outra, era imensa. Por isso eu não consegui seguir com a aula. Eu não iria aguentar ficar naquele ambiente, e precisava fugir. Só que era óbvio que eu não iria conseguir fazer isso sozinho, eu precisava de ajuda. Alguém que tivesse essa coragem... Kimberly. Eu a enviei uma mensagem para que me encontrasse em um dos corredores da escola. Passaram-se alguns minutos e ela me apareceu carregando sua bolsa e uma garrafa térmica.

— Quer? — Ofereceu a garrafa.

— O que é isso? — Perguntei receoso.

— Refrigerante, o que mais poderia ser?

— Vindo de você...

            Ela fechou a cara e socou um dos nervos do meu braço. Realmente doeu e eu o senti ficando dormente. Jogou uma mecha roxa daquele cabelo para trás e então falou:

— Desembucha.

— Resumidamente, eu preciso sair da escola, mas não sei como.

— Fugir?

— Sim.

            Ela me olhou da cabeça aos pés, analisando se realmente valeria a pena. Finalmente, depois de segundos de silêncio ela topou. Eu então a avisei que não fazia a mínima ideia de como escapar de uma escola e ela ignorou completamente. Fiquei dizendo como eu estava com receio, mas que ao mesmo tempo eu queria. Enquanto eu não parava de falar, ela olhava para todos os cantos do corredor. Viu que não haviam pessoas por perto, nem que as câmeras estavam mirando em nós. E então, enquanto eu falava ela gesticulou a sua mão, como se tivesse jogado uma pedra bem forte. O som foi bem grave e ecoou nos meus ouvidos. Era o som da explosão de um daqueles fogos de artifício que ecoa por todo o céu. Eu me desorientei com o som e acabei não notando a esfera de energia cinza indo em direção aos armários do corredor. Foi ela que, quando entrou em contato, causou todo aquele barulho. Uma bela explosão. Logo em seguida veio a reação, seis armários estavam completamente destruídos e amaçados. Os outros mais próximos sofreram danos também, mas nem tão graves. Instantes depois, uma multidão saindo das salas queria descobrir o que gerou o barulho. Um montueiro de pessoas. Os seguranças vieram logo em seguida, todos os seguranças que protegiam a entrada da escola. Nesse momento, Kimberly abaixou sua cabeça passando pela multidão. Segurou a minha mão e me arrastou para fora da escola. Quando finalmente saímos eu parei para pensar no que tinha acontecido.

— Mas que porra!

— O que foi? Você precisava sair, agora tá fora.

            Ela estava certa, mas eu esperava um pouco mais de delicadeza. De qualquer maneira, precisávamos sair dali de perto, antes que os seguranças voltassem. Kimberly sugeriu ir atrás do aluguel do salão de festas e depois das bebidas. Nós não tínhamos nada para fazer, então fomos.

            O caminho era longo, mas fazia um tempo em que eu não dava uma boa caminhada. Kimberly não parecia uma boa companhia, mas se provou uma boa ouvinte. Paramos em um posto de gasolina, um bem específico na Alley Avenue. O lugar parecia um fim do mundo, mas funcionava. Esperei do lado de fora enquanto Kimberly conversava com o atendente. Voltou dali com uma carteira de cigarros. Por incrível que pareça, eu não fiquei surpreso. E com certeza não iria fazer o papel do paizão com “Não fume! Isso faz mal!”, ou “Ascende esse tabaco do capeta com o fogo do teu rabo, e traga até o cu fazer bico pra morrer logo”. De qualquer maneira, aqueles cigarros fediam muito. E toda vez que ela jogava fumaça, dava um jeito de vir parar na minha cara. A minha preocupação com o que os meus pais achariam se cheirassem o meu moletom estava bem grande. E eu reclamei com ela, foi quando eu ouvi:

— Por que você tá usando um moletom mesmo? Tira isso, tá fazendo um calor do caralho.

— Eu não tô com calor! — Protestei.

— Você tá soando!

— Eu não tô!

— Tira isso, Toby!

— Não!

— Tira logo essa merda! — Gritou.

            É óbvio que eu fiquei desconfortável, não foi só por ter chamado a atenção de todo mundo na rua, mas pelo moletom. Eu realmente não queria tirar, mas a Kimberly estava certa. Eu bufei, e fazendo um pouco de pressão, retirei aquela peça do meu corpo. Senti o vento passar pela minha barriga e braços, coisa que eu não sentia a algum tempo. A sensação era boa, mas eu ainda me sentia um pouco desconfortável.

— Olha ao redor agora. — Falou.

            Eu cruzei os braços escondendo o meu corpo e fiz o que ela pediu. Tudo o que eu vi foram pessoas seguindo suas rotinas, não entendi o que ela quis dizer.

— Você tá com medo de que os outros vão julgar a sua aparência, mas a única pessoa que tá julgando é você mesmo.

            Eu olhei novamente depois que ela falou. Não haviam pessoas me olhando mesmo. Ainda assim, eu me sentia o mesmo Toby.

— E para de achar que você é gordo! — Protestou. — Se tem uma coisa que você não é, é gordo!

— Valeu... — Agradeci com uma certa vergonha.

— E também não é feio... — Cochichou. — Agora vamos.

            Eu sorri para ela, ela jogou a fumaça para o alto. Continuamos o caminho. Alguns longos minutos andando e conversando. Eu aprendi mais sobre a família dela, e a tal Patrulha Selvagem. Um grupo de heróis, parecido com o grupo de heróis que o meu pai atuava. A diferença é que a Patrulha selvagem atuava em todo o universo, mas tinha uma sede no Canadá. O pai dela, Scott Fitzgerald, de acordo com ela própria, é um tremendo nerd, e esse é o motivo da grande amizade entre Scott e o pai do Travis. Ela me contou uma história de como no passado os dois abriram sem querer um portal para outra dimensão, causando uma bela confusão. É claro que eu perguntei “Como se abre um portal para outra dimensão sem querer?”, a resposta foi uma jogada de ombros. E sobre a própria família dela, todos vivem no Canadá, todos menos ela. Ela me contou que sua mãe, Eleonor Von Chane, estava prestes a ter outra filha, e que depois disso todos se mudariam para Black Lake. Enquanto isso, apenas ela viveria nos Estados Unidos, com os tios.

            Depois de muita troca de conversa, finalmente chegamos. O lugar era um grande PUB. Um lugar alto, quadrado e branco. Duas grandes portas de vidro escuras e um interfone ao lado. Tocamos o interfone e esperamos até alguém finalmente sair. Uma senhora de idade que se apoiava numa bengala. Não me parecia nada simpática, principalmente pela maneira que julgava a gente.

— Pois não?

— Gostaríamos de saber quanto fica o aluguel do PUB. — Kimberly se colocou na frente.

— Depende do dia. — Explicou. — Nos finais de semana fica cento e setenta dólares. Nos outros dias o preço cai para centro e trinta.

            Eu e Kimberly conversamos e decidimos fazer nesse sábado. Era uma boa escolha. Teríamos dois dias para organizar tudo, apesar disso, seria o tempo suficiente.

— Ótimo, só vou precisar da assinatura de um responsável. — Aquela frase me deu um frio na barriga.

— Como é? —Kimberly se colocou na frente novamente.

— Não posso liberar uma casa noturna para adolescentes menores de idade. — Justificou.

— Nós vamos pagar do mesmo jeito! — Protestou.

— Esse não é o problema, a polícia é o problema.

— A pelo amor de deus! — Bufou.

— E se eu pagar cem dólares a mais? — Interrompi a discussão.

— Aí podemos conversar. — Ela colocou um sorriso sínico no rosto.

            Kimberly me olhou negativamente, mas não tinha muito o que fazer. E a verdade é que aquela grana nem iria doer no meu bolso. Dei o dinheiro a ela e ela me passou a chave, agradeceu e me passou algumas regras. Coisas básicas como “Nada de drogas! Respeitar o horário! Sem vômito!”. Conversei sobre deixar as nossas “coisas” no PUB ainda hoje, ela negou, lhe paguei mais vinte dólares e fechamos um acordo.

            Saímos e fomos em direção a uma conveniência bem específica que Kimberly queria. Ouvi no caminho como eu fui burro fazendo aquilo. Cem reais a mais, quando se poderia ter pago o preço normal em outro lugar. Mas como eu mesmo disse, aquele dinheiro não fazia muito diferença. Tomei um puxão de orelha por dizer aquilo.

            Para a minha sorte, a conveniência estava bem próxima. Perguntei para Kimberly o motivo dela escolher aquele lugar, ela me disse algo sobre o dono a conhecer e vender bebidas para ela. Fazia sentido, assim como o posto de gasolina vendia cigarros. Entramos no estabelecimento, passando pela porta e tocando um sininho. Cruzamos os corredores procurando por bebidas. Foi aí que eu percebi como o meu eu de poucas semanas atrás estaria desapontado. Continuei andando, fingindo entender de bebidas, e foi aí que eu o avistei. Alguém que eu com certeza não queria ter avistado. Aqueles cabelos loiros que antes eram arrepiados, agora penteados socialmente. Aqueles ombros largos, o maxilar quadrado e olhos azuis. E sim, os músculos. O tal deus grego para os americanos fascinados em padrões sociais. Evan Anderson. Ele estava no caixa, trabalhando, ainda com sua mão enfaixada. Assim como eu o vi e Kimberly também, ele me viu. Abaixou sua cabeça e bufou, irritado.

— É, não tem muito o que fazer. É melhor falar com ele... — Ela deu tapinhas nos meus ombros.

— Por que você não me disse que ele trabalha aqui?!

— Por que ele não trabalhava na última vez que eu vim!

— E quando foi a última vez que você veio?!

— Ontem!

            Eu respirei fundo, olhei para ela e depois olhei para ele. Evan estava irritado, mas tentava esconder. Me evitava da mesma maneira que eu o evitava, mas aquela conversa era necessária. Dei os passos até ele e então falei:

— E aí. — Sorri.

— É sério? — Resmungou irritado.

            Respirei fundo pensando no que dizer.

— Olha, eu quero pedir desculpas por ter perdido o controle na festa. — Consegui desentalar as palavras da minha boca. — Quero pedir desculpas pelo meu pai ter perdido o controle também.

            Ele me olhou no fundo da minha alma. Por um instante achei que iria iniciar outra briga.

— Você quebrou a minha mão. — Resmungou.

— Eu sei, eu perdi o controle. Acho que todos nós perdemos o controle. Álcool, sabe? — Tentei justificar nervoso.

— O meu pai foi demitido por causa do seu. E eu tive que sair da escola. Estou trabalhando para sustentar nós dois enquanto tomo surras do meu pai. Acha que um simples pedido de desculpas vai mudar tudo?

            Eu fiquei sem saber o que dizer, e o que mais me pegou é que tudo isso aconteceu por conta de uma briga idiota.

— Fala alguma coisa que eu possa fazer para ajudar, qualquer coisa.

— Eu não quero o seu dinheiro.

            Naquele instante o sininho da porta tocou novamente. Eu pensei que fosse a Kimberly, mas ela estava com algumas bebidas no caixa, passando com o tal vendedor que a conhecia. Então pensei que fosse algum outro cliente, mas o olhar do Evan entregou tudo. O cheio de vodka me fez pensar que Kimberly havia quebrado alguma garrafa, mas não. Era o pai do Evan, esse que estava podre de bêbado. Esbarrando em todas as prateleiras.

— Merda, merda, merda! — Evan sussurrou. — Sai daqui, Toby!

            Eu não entendi bem, mas eu me afastei do caixa eu me encontrei do outro lado com a Kimberly. O senhor Anderson foi até o seu filho no caixa. Eu não ouvi bem, mas sabia que eles estavam discutindo, e bem feio. Evitei olhar para a discussão, mas ela estava bem grande. E num outro instante eu vi uma cena que eu demoraria para tirar da minha cabeça. O senhor Anderson havia quebrado uma garrafa de vodka. Pegou os restos e quis usar como uma arma contra o próprio filho. Ele exigia dinheiro enquanto segurava Evan pela gola. O que restou da garrafa estava no rosto do Evan, o sangue começou a escorrer com a pressão que o pai fazia no filho. Não satisfeito, em um momento de fúria ele golpeou a barriga do garoto. Evan evitou gritar, mas queria. Ele não sabia o que doía mais, a vergonha ou o sangue escorrido. Eu não aguentei ver aquilo, muito menos o dono do estabelecimento que gritava com o pai do Evan. Naquele momento eu perdi um pouco do controle. Quando recuperei novamente eu já tinha feito. Dei um belo empurrão que jogou o senhor Anderson para longe, o suficiente para desacorda-lo.

— Vão! Todos vocês! — Gritou o dono. — Eu vou chamar a polícia, mas se eles verem vocês aqui, estão todos ferrados.

            Saímos de lá de dentro, Kimberly murmurou alguma coisa sobre esse ter sido “um rolê e tanto”. Evan tapou o sangue de suas bochechas com as mãos. Eu não iria deixar ele voltar para a casa dele depois daquilo. Pedi para que Kimberly entregasse as bebidas no PUB, disse que iria com ela comprar mais, outro dia. Falei para ela como a situação iria ficar pior se alguém visse as bebidas, ela discordou no começo, mas depois aceitou. Chamei um uber e esperamos na calçada. Naquele momento os ferimentos não pareciam ter sido tão graves. Evan ficou em silêncio durante toda a espera e viagem, mesmo sem saber para aonde estávamos indo. E quando nós finalmente chegamos em casa ele se tocou. Resmungou alguma coisa e disse que iria voltar para a casa.

— Não existe a mínima possibilidade de você voltar para aquele ambiente tóxico!

— E eu vou morar aonde?! Eu tenho que cuidar do meu pai!

— O seu pai tentou matar você por dinheiro!

            A discussão em frente a minha casa ficou tão alta que os meus pais ouviram tudo. Eu fiquei surpreso por eles estarem lá. E eles ficaram assustados ao verem aquela cena. Os cortes no rosto do Evan estavam feios, até as minhas roupas estavam manchadas de sangue. Foi só aí que eu percebi que as coisas estavam piores do que eu imaginei.

— O que foi que aconteceu?! — A minha mãe gritou desesperada.

            Evan mal estava conseguindo ficar de pé, e eu só percebi isso quando ele já estava se apoiando em mim. Os cortes estavam bem feios, e a camisa dele virou vermelha.

— Toby, fala pra mim que você não fez isso! — O meu pai veio correndo na minha direção com o mesmo desespero.

— Não... não fui eu... pai, não fui eu. — Eu não conseguia falar direito.

            Estávamos todos nervoso, e a situação só piorou quando Evan apagou de vez.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

E então pessoas, o que acharam?
E esse final? Ficaram empolgados para o próximo capítulo?
Deixem nos comentários!
Obrigado pela atenção!



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Sirenverse's Powerful" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.