Sirenverse's Powerful escrita por Thomaz Moreira


Capítulo 5
17 Outra vez


Notas iniciais do capítulo

Voltei galerinha
Capítulo com muitas reviravoltas e tretas, espero que gostem!
Semana que vem tem mais!



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            Eu acordei com o som daquele despertador. Despenquei na cama novamente, mas para a minha sorte, dessa vez eu não a quebrei. E já me coloquei de pé. Me olhei bem no espelho. Aquele foi o dia que eu decidi fazer as mudanças. Aqueles cachos estavam me incomodando um pouco. Não que eu não gostasse deles, mas eu já estava ficando enjoado. Então eu resolvi dar um jeito... e eu o coloquei em prática logo depois de tomar o meu banho. O banho foi rápido, mas o processo de alisamento durou bem pouco. Eu me encarei no espelho novamente e parecia outra pessoa. A minha autoestima até mudou um pouco. É claro, eu não conseguiria me conformar com o meu corpo por completo, mas os meus cabelos já me deixaram mais feliz.

            Coloquei uma blusa simples e uma jaqueta por cima, uma calça preta e um tênis qualquer. Sorri para o espelho feito um idiota e finalmente saí do meu quarto. Desci todas as escadas e me encontrei com os meus pais e a senhora Johnson na mesa da cozinha. Estavam todos tomando café da manhã. E os três tiveram a mesma reação de espanto ao me ver.

— Tu fez chapinha? — Perguntou o meu pai com um certo estranhamento.

— Ficou legal, né? — Joguei a minha franja para traz.

— Bom... se você tá feliz... — A minha mãe murmurou.

— Pelo menos ele tem saúde. — Comentou o meu pai.

— Não tem não, vejam só os ossos dele. Parece um usuário de crack! — Falou a senhora Johnson.

— Ela tá certa. — O meu pai sussurrou.

— Eu amo como vocês, que são os meus pais, me apoiam em tudo o que eu faço. Sempre colocando lá em cima a minha autoestima.

            Não demorou muito para a bomba explodir. A bomba que eu já havia esquecido. Ouvimos passos. Ela estava descendo a escada. Os meus pais trocaram olhares estranhando tudo. E o meu coração disparou. Era a hora da minha morte. E lá estava Mabel. Usando a mesma roupa de ontem. Com os cabelos bagunçados e cara de morta.

— O que eu tô fazendo aqui? — Perguntou com uma voz de sono.

            Os meus pais se olharam novamente sem saber o que falar. Foi uma surpresa e tanto para eles. E se eles não sabiam o que falar, imagina eu...

— Eu falei que ele não é gay. — O meu pai sussurrou. — Me deve dez dólares.

— Moramos na mesma casa! — A minha mãe protestou.

— Não bebemos a mesma cerveja! — Rebateu.

— Eu tô na sua casa? — Mabel perguntou.

— Podemos conversar lá em cima?

            Eu me coloquei de pé rapidamente, evitando mais constrangimentos. A guiei para um quarto qualquer. Fechei a porta e expliquei toda a situação. Segundos depois, um grito foi ecoado em toda a casa, principalmente nos meus ouvidos. Eu só conseguia imaginar nas piadas que os meus pais poderiam estar fazendo. Um tanto quanto rude da minha parte, já que haviam questões bem mais importantes a serem tratadas. E Mabel não estava nada feliz com elas.

            Descemos as escadas depois que eu pedi para que ela não contasse aos meus pais sobre as partes das drogas e do álcool. Voltamos para a cozinha e eles ainda estavam lá.

— Olha, muito obrigado por tudo, mas eu tenho que ir para a minha casa. — Falou. — Preciso tomar um banho e me arrumar para ir para a escola. Já vou chegar bem atrasada.

— Pode fazer isso aqui. — Sugeriu a minha mãe. Depois mastigou aquela torrada.

— Eu não tenho outras roupas comigo no momento. — Falou.

— Mas eu tenho. E tenho certeza de que servem em você. — Ela se levantou da cadeira. — Vem comigo. — Falou a puxando pela mão. — Johnson, pode preparar mais um assento para a amiga do Toby? E Roy, quero que tenha “aquela” conversa com o seu filho.

            O meu estomago revirou. As duas subiram as escadas. Deu para ver que a Mabel estava incomodada, mas nem tanto quanto eu. Eu estava prestes a entrar numa conversa que nenhum dos lados gostaria de ter. O meu pai já mostrava isso pela cara.

— As vezes eu paro e penso se valeu a pena esquecer a camisinha...

— Pai!

— O que foi? Você já deve saber o que é isso? Já sabe, não sabe? Porque se você não usou, pode ter certeza que você tá ferrado.

— Nós não transamos! — Cochichei.

— E por que tá falando isso tão baixo?

            Eu olhei para todos os cantos para ver se mais alguém estava ouvindo a conversa. A senhora Johnson havia saído para buscar mais pão na dispensa, então estávamos realmente sozinhos.

— Eu e a Lena estávamos nessa festa ontem. Arranjei briga com um cara e depois a Lena arranjou briga com outros seis. Esses seis drogaram a Mabel e queriam estupra-la.

            É bem raro eu ver o meu pai sério, e quando isso acontece pode ter certeza de que as coisas vão ficar bem ruins. E eu vi aquele sorriso se desmanchar.

— Você e a Lena bateram em pessoas normais?

— Estupradores e um babaca.

— Não importa! — Falou aumentando a sua voz. — Sabe o que acontece se você se irritar e bater em alguém? Tem noção do que pode acontecer? Acha que eu não fico puto por causa de gente assim? Acha que eu não penso todos os dias em sair batendo em gente escrota? Mas eu não bato! Eu chamo a polícia!

— Eu sei, é que eu perdi o controle.

— Isso não é justificativa Toby o’Bryan! — Ele estava realmente irritado. — Você poderia ter matado alguém. Quando ver uma situação dessas, chame a polícia! Não banque o super-herói. Eles não existem, não mais!

— Me desculpa, pai.

— Eu não quero ter que falar para você sobre o acordo entre nós e o governo novamente. Já estou de saco cheio disso. E você sabe da consequência que isso pode gerar. Quebrar a lei é perigoso, e nós estamos vivendo nos trilhos.

— Eu entendo, mas...

— Se você entende, sabe que os seus poderes não são armas. Sabe que não pode aponta-las para os outros quando estiver estressado. E se você perdeu o controle, então de um jeito de recuperá-lo.

— Pai!

— O que é?! — Gritou.

            Apontei para a xicara que ele estava segurando. Ela se quebrou depois de tanta pressão por conta da mão, e o meu pai nem havia percebido. Ele se pôs de pé e saiu da mesa.

            Eu fiquei ali, comendo a minha torrada. O meu pai estava certo, eu fui completamente irresponsável e não tinha o que argumentar. Tomei um gole do café e fiquei mais um tempo na mesa. Depois de uns trinta minutos as duas desceram as escadas. Lá estava Mabel, bem diferente do habitual. Estava usando uma saia preta um pouco curta. Um salto alto e uma blusa que parecia ser simples, mas que com certeza era bem cara. Mabel estava toda maquiada, e pareceu bem desconfortável com isso. Mas a minha mãe olhou para ela como o doutor Frankenstein olhou para a sua criatura. Admirando profundamente, mais do que ela provavelmente me admirou quando eu nasci.

— Você está muito bonita! — Elogiei.

— Tá dizendo que eu não era?

— É pegou mal... — Falou a minha mãe. — Bom, eu vou deixar o casal a sós e depois eu levo vocês para a escola.

            Ela subiu as escadas novamente. Mabel se sentou ao meu lado e finalmente desfez aquele sorriso.

— Eu quero as minhas roupas de volta! — Protestou.

— Relaxa, você tá bonita!

— Isso não tem nada a ver comigo, é bem exagerado! — Reclamou. — Por favor, não conta para a sua mãe.

— Relaxa.

— Eu só queria as minhas roupas largas de volta... — Resmungou. — Aliás, eu sabia que você era rico, mas isso tudo me assustou.

            Depois de todo aquele café da manhã, e de nós nos conhecermos melhor, a minha mãe nos levou para a escola. A viagem foi bem curta, e o caminho bastante silencioso. Quando chegamos na escola nos despedimos da minha mãe. Eu me senti bem mais aliviado por não estar na presença dos meus pais. Ainda estava pensando no esporro que eu tomei mais cedo.

— Bom, eu tenho que encontrar a minha prima e tirar satisfações com ela. — Falou. — Mas muito obrigado mesmo por tudo o que você fez!

— De nada, e se precisar de ajuda é só chamar.

            Ela sorriu e saiu andando em direção ao pátio. Eu continuei o meu caminho e cruzei as portas da entrada da escola. Segui os corredores até finalmente chegar no meu, e quando eu cheguei tomei um susto.

— O que foi que aconteceu com o seu cabelo?! — Era Travis.

— Gostou?

— Você beijou um cara?

— Não, e como você sabe?

— Isso não fez sentido algum! Eu não sabia que você...

— Escute, Henschell é gay e eu não sou gay. — Abri a porta do meu armário para pegar alguns livros.

— Falando nele...

            Lá estava ele, tímido e vindo na minha direção. Tudo o que eu menos queria era que ele parasse para falar comigo. E é claro que ele parou.

— Vou deixar vocês a sós, mas que fique claro que eu vi o Toby primeiro!

            Travis saiu carregando a mochila nas costas. Se encontrou com outras pessoas que eu não fazia a mínima ideia de quem eram, e eu sinceramente nem me importava. A minha concentração estava em outro lugar.

— Olha, eu preciso falar com você. — Ele passou a mão nas sardas, coçando as bochechas. — Quero me desculpar pela noite passada.

— Henschell, não tem problema. Eu só fui pego de surpresa mesmo. — Falei tentando acalmá-lo.

            A verdade é que Henschell nem conseguia olhar nos meus olhos. Estava com tanta vergonha que tropeçava nas palavras.

— Foi o seu primeiro beijo, como não tem problema?

— Não foi ruim, foi inesperado. — Falei. — Só não faça novamente, por favor. — Brinquei.

— Obrigado. E eu gostei do cabelo novo.

            Estendi a mão para cumprimenta-lo como um gesto de paz. Ele retribuiu e depois nos despedimos. O sinal tocou e eu fui para a aula de biologia. Na sala eu encontrei Deborah que estava de ressaca da noite anterior. Usando óculos de sol, e de cabeça baixa. Me sentei ao lado dela e ela logo me perguntou se eu tinha algum remédio. Pesquei na minha bolsa e a dei. Ela saiu da sala como se fosse vomitar e então a aula finalmente começou.

            O professor fechou a porta e começou a chamada, mas logo foi interrompido quando a porta se abriu. Era Troy, só então eu reparei como o meu cabelo havia ficado parecido com o dele. Falando nisso, ele se sentou bem ao meu lado. Roubando o lugar da Deborah, coisa que eu não vi como um problema, já que ela provavelmente não voltaria.

— Devo lembrar ao senhor sobre o horário das aulas? — Perguntou o professor.

— Perdão.

— Ao menos é educado.

            Ele voltou a fazer a chamada. E Troy colocou seus livros na mesa. Colocou também uma agenda e seu estojo. Tudo bem gótico.

— Então, que horas vai ser o churrasco hoje?

— É hoje?

— O seu pai tá organizando e você não sabe da informação?

            Eu peguei o meu celular para mandar uma mensagem para ele. Logo notei que já haviam algumas várias. Todas bem antigas. E uma delas dizia “Churrasco 19 horas amanhã.”. Mostrei para o Troy e ele agradeceu.

— O seu cabelo tá uma droga. — Comentou.

— Ele tá igual ao seu! — Respondi.

— Não tem nada a ver. — Protestou. — Fiquei sabendo dos ocorridos de ontem.

— Você sempre fala desse jeito? — Aquele jeito sério e formal realmente me incomodava. — E vai fazer o quê? Ameaçar a Lena e a mim?

— Eu tô tentando ser legal! — Resmungou aumentando um pouco a voz. — Seguindo os conselhos do meu pai.

— Desculpa...

— Que bom que não perdeu o controle ontem, poderia ter sido bem feio.

— É, mas foi por pouco... — Falei. — Como você faz para não perder o controle e usar os poderes? — Sussurrei.

            Ele sorriu pela primeira vez, mesmo que fosse com um certo sarcasmo. E então falou:

— É simples, eu não tenho poderes.

— Espera, o quê?

— Não sou como o meu pai.

            O professor iniciou um vídeo no telão que cortou toda a conversa. Voltamos a atenção para a aula, pelo menos eu tentei. Não deu para não pensar em outra coisa. Então Troy não era um omida, ele era alguém comum. Eu sempre achei que os poderes de omida fossem herdados aos filhos. Já que ser um omida é coisa de sangue, como uma doença hereditária. Eu pensei em como aquele churrasco seria difícil para ele. Estar rodeado de pessoas dotadas de poderes. Vai ver é por isso que ele é sempre tão sério.

— Nenhum de nós é como os pais. — Ele falou. — Você está sempre preocupado com algo. Lena é completamente vaidosa e só pensa em si. Kimberly tem um pavio curto. Travis é desesperado por amigos novos. E eu, eu vivo cada dia como se fosse o último.

— Talvez nós somos como os nossos pais, só que a vários anos atrás.

— Talvez...

            Eu não sei o porquê, mas eu perdi um pouco daquela visão trevosa que eu tinha sobre o Troy. Mesmo que ele tivesse dito com todas as palavras que o pai dele pediu para ele falar comigo.

            O tempo foi passando. A nossa conversa havia acabado. E quando o sinal finalmente tocou, Travis já estava me esperando ao lado de fora. Era como se ele tivesse super velocidade. Chegava a dar um certo medo. Eu e o Troy saímos da sala, seguidos por alguns olhares de pessoas que secavam o garoto. Era cômico como ele não precisava falar para atrair atenção alheia.

            Estávamos nós três do lado de fora. E ainda tinha a Lena que vinha de um lado, assim como a Kimberly vinha do outro. Pronto, todos nós reunidos. E todos eles olhando para mim. Esperando que eu fosse falar algo.

— O que foi?!

— Primeiramente, por que o seu cabelo tá igual ao do Troy? E que horas começa o churrasco? — Kimberly me interrogou.

— Não tem nada a ver com o meu cabelo. — Ele resmungou.

            Lena revirou os olhos depois de cruzar os braços. Estavam todos me olhando como se eu devesse saber a resposta. Eu sabia, mas eles poderiam ter simplesmente perguntado para o meu pai. Mesmo irritado com a atenção, eu falei. Troy foi o primeiro a sair, justamente porque já sabia da informação. Kimberly foi a segunda, estava faminta. E Travis só foi embora depois que a Lena jogou um olhar que dizia “Vaza, não tá vendo que eu quero falar com ele?!”.

 — E aí como você tá?

— Agora tá preocupada comigo? — Enfrentei com sarcasmo.

            Ela revirou os olhos, quase desistindo e dando meia volta.

— Tô bem, apesar da noite ter sido bem ruim...

— Ótimo, eu já conversei com a Mabel também. — Falou, me surpreendeu saber que ela sabia o nome da garota. — E quanto ao beijo de ontem, sei que foi o seu primeiro, mas você não é gay, então isso meio que não conta.

            Aquilo me fez pensar. Não fazia sentido, e eu não sabia o porquê de eu estar tão preocupado. Era só um beijo.

— Tá tentando ser boazinha comigo?

            Ela ficou alguns segundos sem falar, por fim saiu, me deixando plantado naquele corredor.

            As próximas aulas seguiram. Todas tediosas. O curioso foi encontrar algumas das pessoas que eu vi na festa. Estavam sentados e de cabeça baixa, pareciam que iriam vomitar. Eu até evitei sentar ao lado deles.

            No final da última aula, o professor de inglês passou um trabalho. Eu tomei nota de tudo, o sinal tocou e eu finalmente estava livre para ir. Passei pela porta e como esperado, encontrei Travis. Estava segurando firmemente as alças de sua mochila. Um sorriso estampado de orelha-a-orelha. Parecia que queria algo.

— O que foi?

— Nada, é só...

— “Só” o quê?

— Bom, o churrasco é hoje. Isso significa que eu finalmente vou conhecer os seus pais. Os de todo mundo na realidade. E aquilo de eu ter visto eles no corredor não conta.

— Você é bem estranho as vezes, sabia?

— As vezes? — Kimberly questionou. Surgindo do nada. Carregando alguns livros nos braços.

            Nós três estávamos saindo em direção as portas da escola. Esperamos todo aquele alvoroço passar. Era bem terrível atravessar aqueles corredores com tanta gente. E ver eles sendo esvaziados era tão satisfatório. Depois de esvaziados, nós cruzamos os corredores, e por fim as portas. Os alunos ainda estavam lá na sua maioria. Todos agindo como formigas loucas. Indo de um canto ao outro.

            Descemos alguns degraus. Esbarrando em algumas pessoas. E quando eu finalmente pude ter um campo de visão melhor, me assustei. Era o garoto da festa da noite passada. Evan. Ele estava com a mão enfaixada. Coisa que me lembrou na hora da noite anterior. E agora eu conseguia ver melhor o garoto. O clássico padrão de beleza americano. Cabelos loiros e desajeitados, num corte degrade. Maxilar quadrado, ombros largos, alto e branco. E eu nem falei dos músculos.

            Deu para ver que o garoto estava bem irritado, além de triste. E ao lado dele estava o treinador do time de futebol. Deu para notar pelo uniforme. Um homem baixo e gordo. Seu boné escondia um pouco seu rosto, mas dava para ver que ele estava irritado. O homem quando me viu veio na minha direção, arrastando Evan pelos braços. Eu ouvi algumas pessoas zoarem e vi outras tirarem fotos. Me senti com um certo medo quando os dois pararam na minha frente.

— Foi esse aqui?! — Perguntou o treinador com sua voz grossa.

            Ele estava apontando seu dedo para mim. Evan que estava de cabeça baixa evitava olhar diretamente para mim. Estava agindo como uma criança de quatro anos. Mesmo assim, ele acenou com a cabeça fazendo que sim para o treinador.

— Foi você que quebrou a mão do meu filho?

— Pai, deixa isso pra lá. Vamos pra casa.

            Pronto. Era tudo o que eu precisava. Arranjar encrenca com um treinador claramente esquentadinho e seu filho “perfeitinho”.

— Cara você bateu no filho do treinador Anderson? — Kimberly sussurrou nos meus ouvidos num tom cômico.

            Eu já estava prevendo. Detenção, suspenção ou até mesmo expulsão. Mas o que veio a seguir foi bem inesperado.

— Por que não bate nele agora? — Me perguntou.

— Como é?

            Naquele momento o caos já estava estabelecido. A rodinha de alunos já estava nos cercando. Estavam esperando um bom momento para filmarem. A minha fama estava crescendo bem rápido no Saint Harper.

— Pai? — Falou Evan.

— Eu disse. — Pausou, aproximando bem o rosto dele do meu de uma maneira ameaçadora. — Por que não bate nele agora?

— Senhor Anderson eu...

— Cala a boca! Eu não falei com você! — Gritou ao interromper Travis que se assustou de imediato. Não só ele.

— Ele é fraco, apanhou pra você. Então ele merece, não merece? — Direcionou o olhar ao filho. — Vamos bate nele logo!

— Eu não vou bater nele, você tá louco!

— Foi uma ordem!

— E se eu não fizer? — O enfrentei.

            Sinceramente, eu já estava ficando com dó do Evan, e com raiva desse tal treinador Anderson. O cara era claramente um lunático. E eu já estava perdendo o controle. Kimberly e Travis notaram isso.

— Se você não bater nele eu vou...

— Vai fazer o quê?! — Falou uma voz máscula surgindo da multidão.

            Eu conhecia aquela voz, e ela significava problemas. E então ele apareceu, confirmando o que eu já esperava. O meu pai. Estava uma fera, diferente do seu jeito habitual. Diferente também das vezes em que ele brigou comigo. O olhar dele chegava a ser assustador de tão sério. Veio a passos grosseiros vestindo aquele terno escuro.

— Vai bater no meu filho? — Perguntou bem mais irritado do que o treinador.

— Caralho... — Kimberly sussurrou. — Isso vai dar um problemão.

— Ele é bem mais musculoso de perto... — Travis sussurrou. — E os cabelos escuros arrepiados não tem nada a ver com os do Toby.

            Parecia que só eu e a Kimberly tínhamos ideia do problema que isso poderia gerar. E eu nem sabia o que dizer. Era muito bom ver o meu pai se colocando na frente para me defender, mas ao mesmo tempo, eu sabia muito bem como isso poderia acabar.

— Você que é o pai dele? — Perguntou o treinador.

— Sou sim! — Afirmou ainda bem irritado. — E o problema que você tem com o meu filho, você pode vir resolver comigo. Então se você quer bater no meu filho vai ter que bater em mim!

— Pai. — O chamei.

            Fui ignorado obviamente. Aquele estado de estresse era muito novo para mim.

— O seu filho quebrou a mão do meu! — Gritou irritado.

— E é assim que você quer resolver a situação, batendo numa criança? Você sabe quantos anos ele tem?

— Isso não me importa!

— Não importa?! — O meu pai repetiu. Ele avançou parecendo que iria atacar, mas não atacou. Por um instante eu achei que estava tudo perdido.

            Eu ouvi o Evan tentar acalmar o seu pai. Falou um pouco baixo, e aquilo foi o suficiente para, num ato de fúria, o senhor Anderson dar um tapa no rosto do próprio filho. Todos nós reagimos aquela cena, inclusive a plateia. Foi bem forte o tapa e estralou bem alto. E depois disso, o silêncio tomou conta do ambiente escolar. Eu mal conseguia acreditar naquela cena.

— Qual é a necessidade disso? — O meu pai perguntou.

— Você cuida do seu filho, e eu cuido do meu! — Gritou dando outro tapa. Esse que virou o rosto do garoto que nem reagia a dor.

— Já chega!

            Aquele foi o momento. O momento em que eu achei que tudo iria para o famoso caralho. Eu vi em câmera lenta. O meu pai fechar seus punhos. Cerrar seus dentes e partir para o ataque. O treinador Anderson, de olhos esbugalhados não esperava para sentir a dor que estava prestes a conhecer. Do meu lado, Travis e Kimberly observaram a cena de boca aberta. Estava tudo indo pelo ralo, e eu não tinha o que fazer. Foi quando uma voz, a voz da salvação, essa ecoou por nossas cabeças. Soando como uma libertação.

— Roy?

            Naquele instante, naquele fatídico segundo, o meu pai travou. A sua mão congelou no ar. E ele agiu como se tivesse se recuperado. Olhou apavorado e percebeu o que estava prestes a fazer. E quando nós nos viramos para ver quem havia o chamado Travis falou:

— Pai?

            Um perfeito reencontro. Que belo momento.

            Erick Langdon, ou secretamente, Lightning bolt. Um homem alto e magro. Mais ou menos na idade do meu pai, na casa dos trinta ou quarenta. Pele clara, cabelos sociais com um topete jogado para o alto. Usava uma blusa xadrez azul e uma calça preta. Tênis velhos e que precisavam de uma lavação. Ele se vestia como um adolescente como a gente.

            Erick vidrou seus olhos castanhos no meu pai. E de nariz pontudo e em pé ele manteve sua postura. Suas mãos nos bolsos e olhando para o horizonte. Eu não entendi o motivo daquilo, mas ele fez.

— Erick?

— Voltou a dar porrada nos outros? — Perguntou num tom cômico, desfazendo a postura.

— Esse babaca queria me agredir! — Gritou o senhor Anderson.

— E para a segurança da sua árvore genealógica inteira, é melhor você ir embora. — Falou, sorrindo sarcasticamente para o homem.

            Eu nunca imaginei conhecer Erick Langdon dessa maneira, mas aconteceu. Ele estava bem ali. Confesso que era bem do jeito que eu imaginava. Brincalhão e bem nerd.

            O senhor Anderson viu a desvantagem que se encontrava. Além da notável força que o meu pai tinha. Resmungou algumas coisas e puxou Evan pelo braço. O carregou para o carro e deu partida. Saiu dali cantando pneu. Eu sinceramente tive medo de imaginar o que aconteceria com o Evan.

            Com a saída do senhor Anderson, a panelinha atrás de confusão se desfez em pouco segundos. Ficamos apenas nós ali.

— Não era assim que eu esperava te reencontrar. — Falaram os dois ao mesmo tempo.

— Eu achei que você estivesse em Light City. — Falou o meu pai.

— Bom, você quis fazer esse churrasco. Então eu quis passar na escola do meu filho para buscar ele mais cedo. Você sabe, economizar três ônibus pra atravessar uma cidade. Isso é melhor que duas horas de trânsito.

— E aí você chega e me encontra quase descendo a porrada num esquentadinho.

— Eu vou confessar que eu tava torcendo para que você desse pelo menos um soco... — Kimberly comentou.

            Eu a cutuquei com o cotovelo no mesmo instante. Ele me olhou fechando a cara e parou de falar.

— Me parece que você não mudou nenhum pouco... — Erick comentou. — E o seu filho parece ser bem diferente de você.

— Ele é! — Travis confirmou se intrometendo.

— A filha do Wes também não tem nada a ver com ele... — Falou rindo,

— Quem? — Perguntei ao Erick.

— Francamente... — Kimberly me olhou negativamente como se eu devesse saber quem era essa pessoa. — Certo, eu não vou pegar ônibus sozinha. Então eu vou com vocês.

— Me parece justo. — Respondeu Travis.

— E você vem comigo... — Falou o meu pai.

            Nós não conversamos muito. Eu senti que muita coisa foi guardada para o tão esperado churrasco. Nós nos despedimos no pátio daquela escola, e fomos para os nossos caminhos. Segui o meu pai até o carro. Fui no banco de trás o vendo dirigir. Mas não deu para parar de pensar na maneira com a qual ele me defendeu. Foi estranho já que ele sempre se mostrou alguém que não se importa muito, mesmo eu sabendo que ele se importa, ou achando pelo menos. Foi a primeira vez que eu o vi pirar de vez. E no caminho para a casa ninguém quis comentar sobre isso.


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Notas finais do capítulo

E então, o que acharam?
Espero que tenham gostado e que comentem!
Obrigado pelo apoio!



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