AH Academy escrita por Marceline Octos


Capítulo 4
03- Como É O Primeiro Dia de Aula dos Anormais


Notas iniciais do capítulo

Oie brigadeiroooooos!
Semana de provas é foda. Mas compensei com um capítulo pra lá de grande! (Me digam se vocês não gostarem de um capítulo grande demais).
Bom capítulo.



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—Isso é que é surpresa —falei quando o diretor nos chamou pra conversar.
—Bom essa prova sim era para ver do que precisam e do que não precisam mais… e Natasha não precisa do que o primeiro ano ensinaria para ela, então as duas ficarão na mesma sala —o Diretor explicou com calma.
—Mas Doutor, isso não é… sei lá, estranho? —Nash perguntou estranhando o fato.
Ela seria avançada um ano. Era bem estranho sim.
—Nós temos alunos que vieram de escolas que não pensam em desenvolver individualmente o aluno, então temos alunos de diferentes idades nas salas. Nós chamamos de alunos prodígio.
—Tá bom então… —minha irmã respondeu desconfortável.
Provavelmente ela não quer ficar na mesma sala que eu. Óbvio que quer arrumar confusão em paz (o que soa meio sem sentido, mas okay).
—Espero que estejam bem com isso. Vocês começam amanhã —falou todo pleno. Não é com ele mesmo.
—Obrigada pelas orientações Doutor.
Saímos indo diretamente para a ala D, onde ficava o quarto de Henrique. Nash estava insistindo para irmos, já que não vimos o menino ontem.

(Narrador Observador)

O Doutor Clarkson arrumava a papelada em quanto lançava um olhar preocupado para a porta de sua sala de onde as duas novas alunas acabaram de sair.
Abriu sua carteira.
—Vamos ter trabalho Alice —sussurrou acariciando a fotografia de sua falecida esposa.
—Mandou me chamar senhor?
O diretor tomou um susto com a figura feminina incandescente voando para dentro de sua sala pela janela.
—Ah professora Summer, me assustou. Não se esqueça que eu não consigo sentir sua mente quando está nessa forma…
—Essa é a intenção chefe —as chamas brilhantes que a cobriram se apagaram dando lugar à uma mulher negra e alta como uma modelo usando roupas de ginástica.
—Sério que a senhorita entrou pela janela apenas para não ter que dar a volta? —perguntou ajeitando os óculos.
Ela colocou seus cabelos lisos para trás dos ombros.
—O senhor esqueceu que eu não gosto de subir escadas? —perguntou seriamente.
O homem engoliu em seco. A professora mais assustadora da AH mudava de humor rápido demais até para um telepata.
—Bom, não. É... um assunto sério que tenho tratar com você.
—Deixa eu adivinhar... a pirralha nova? —Perguntou fazendo pouco caso.
—A irmã dela, na verdade o diretor colocou as mãos na mesa fechando a cara aos poucos.
—Mais uma para aquele bando de estúpidos? —Summer não era nenhum pouco carinhosa.
—Senhorita Morrys, devemos tomar o máximo de cuidado com as duas, mas a mais nova delas é… bom, terrivelmente instável.
A morena franziu as sobrancelhas.
—Por isso vou mandá-la para a sala da qual a senhorita é a orientadora responsável —o diretor disse de forma ensaiada.
—Qual é a da garota? —A mulher perguntou se sentando de forma ereta na cadeira macia.
"Mais uma problemática" o Doutor C a ouviu pensar.
—A princípio eu achei que ela tivesse apenas uma Condição Física Melhorada e Empatia —doutor mostrou mentalmente à Summer imagens da garota lutando e levantando coisas pesadas.
—Legal —a mulher gostou do que viu.
—Então seus olhos mudaram de cor e ela manifestou o Mimetismo Empático —a imagem na mente da professora passou para a garota dando um tapa em um garoto alto que desmaiou pouco depois —e não teve dificuldades para dominá-lo. Pode tocar nos outros sem que absorva nada deles.
—Como o esperado de um anormal prodígio —a mulher fez pouco caso apesar de saber que aquela habilidade era extremamente rara.
—Ela ainda não conhece as próprias capacidades. Por causa dela eu tive, pela primeira vez que me esforçar e tirar proveito do momento de desequilíbrio para entrar na mente de alguém. E quando estabeleci o elo mental, ele só foi cortado quando ela quis —revelou deixando a mulher chocada.
—Como isso é possível? —Questionou com seriedade sabendo do nível da habilidade mental de seu patrão.
O homem suspirou de preocupação.
—Eu acredito que sua anormalidade também inclua uma Invulnerabilidade Psíquica em desenvolvimento —soltou.
A mulher sabia o que aquilo significava.
Trabalhando na AH há mais de seis anos, Summer já vira vários adolescentes e jovens perderem o controle, ou mesmo, se voltarem contra a escola. E se aquela garota os traísse, não teria como saberem ou impedirem.
Estavam diante de uma pessoa que poderia roubar o poder de qualquer pessoa no mundo, obter qualquer informação com um simples toque e enfrentar um telepata.
—O senhor sabe que eu adoro desafios.

(Narração Mariana Gomes)

—Mariana Hortênsia Gomes! Me devolve agora! —Minha irmã me dizia com raiva em quanto eu maquiava seus olhos com muito lápis e sombra preta.
Ela quis ser gótica hoje.
—Não! Qualquer coisa, menos àquele batom roxo —falei com vontade de jogar aquilo na privada.
Ela fez cara feia, mas não retrucou.
—É nosso primeiro dia maninha! Me deixa te arrumar, garanto que você vai ficar linda —falei pegando uma paleta de blush, mas ela fechou a tampa do produto antes que passasse nela.
—Isso não é milagroso Mari —falou com cara de tédio.
Lá vem! Baixa auto estima é uma merda mesmo.
Minha irmã é bonita, mas não sabe. Ou não quer acreditar.
Terminamos de nos arrumar bem em cima da hora, já que eu lembrava de algo que tinha que fazer toda a hora.
Dei uma última olhada no espelho e sorri feliz comigo mesma.
—Espelho, espelho meu… existe alguém mais patricinha do que eu? —Natasha falou revirando os olhos e me puxando pelo cabelo.
—Aí tá me machucando, sua bruta! —falei segurando a mão dela para tentar soltar das minhas longas mechas.
—Faltam vinte minutos e nós nem achamos a sala ainda! Isso aqui não é teste pra modelo. É uma escola.
Ela já havia me arrastado para fora do quarto e estava trancando.
Não gosta de se arrumar direito e depois fica se achando feia.
Quando a chata desgrudou do meu cabelo eu reparei na porcaria que ela colocou sem eu ver.
Uma blusa do setor MASCULINO INFANTIL que ela adora. Ela sempre roubou várias roupas do Manoel, até minha mãe se estressar e deixar ela comprar pra ela.
A camiseta era preta com o símbolo do Batman.
—Quer apanhar antes ou depois da aula? —Falei pra ela deu de ombros.
—Eu não critico o seu estilo Bratz e você não critica o meu.
Ela acha que eu me pareço uma daquelas bonecas com a boca da Kylie Jenner?
Olhei para baixo focando em minha calça flare e saltinho cor de rosa baixo. Em cima eu usava uma blusa, roxinha, curta e de mangas compridas e a minha echarpe cinza. Porque Bratz?
Olhei para a Nash que pegou na minha mão me arrastando pelos corredores do prédio moderno.
—Por que você não usa os poderes? Chegaremos mais rápido —Perguntou me olhando como se tivesse se esquecido disso antes.
—Vamos chegar desarrumadas, vai estragar meu penteado. Finalmente consegui deixar igual ao da Ariana Gran… —Me interrompi vendo que as madeixas da minha irmã, por outro lado —Você penteou o cabelo? —falei passando a mão cabelos pretos curtinhos dela.
Nash tentou fugir apertando o passo e desviando de qualquer aluno que se pusesse em sua frente.
Nós somos tão diferentes.
Ela nunca gostou dos cabelos ondulados, ano passado ela os cortou e doou para uma intuição que faz perucas para pessoas com câncer. Desde então, ela os tem usado em um corte reto acima dos ombros.
Eu sempre fui apegada com meu cabelo, castanho escuro, levemente ondulado, que mantenho na altura dos quadris.
A doida parou ao chegar no corredor dos segundos anos.
—Qual era a sala mesmo? —Perguntou boiando.
—2B espertinha —falei diminuindo o ritmo da caminhada.
—É lá no começo… —retornamos alguns passos.
Antes de entrarmos tive o desprazer de ver o garoto que deu em cima de mim passar pela porta 2B. Droga.
—O que foi? —Minha irmã questionou com um olhar preocupado.
—Eu acho que nossa sala não é tão legal assim —falei com receio de que ela arrumasse mais confusão.
Natasha não podia ser expulsa. Ela é a que mais precisa de ajuda.
—Promete que não vai tentar matar e nem espancar ninguém na sala? —Pedi.
—Eu posso tentar… mas não prometo nada —falou com as sobrancelhas franzidas.
—Ridícula —retruquei revirando os olhos.
Ela riu alto chamando atenção dos que estavam perto.
Tapei a boca dela e a olhei feio.
Tudo o que não precisamos são de pessoas nos achando loucas.
O sinal soou forte preenchendo o local nos forçando a entrar na sala.
Droga dupla. Todos já haviam entrado e estavam nos encarando. Não que eu ligasse, mas minha irmã odiava que ficassem encarando ela. Ao passar por situações cotidianas ela fica assim, mas na hora de fazer barraco a disgrama não tem vergonha né?
Quis gritar ao reparar ao meu redor. Quando, no Brasil, iria estudar em uma sala com lousa digital touch scream? Gente, eu vi esse modelo em um site, mas na minha mente estava em uma realidade muito distante da minha.
Minha irmã me cutucou com a unha horrorosa de grande do dedo indicador. Seu rosto dizia que eu estava viajando. Que vergonha.
Tinham dois lugares vagos, um na frente de um japa bonitinho atrás de uma garota quase albina, de cabelos loiros cacheados e mechas azuis. Os olhos verdes dela eram lindos, se vestia de um jeito colorido e infantil. Parecia legal. Contudo o outro lugar era atrás do meu herói do basquete que me encarava com um sorriso de tirar o fôlego.
—Pode ir. Não precisamos ficar juntas o tempo todo, não somos gêmeas, muito menos siamesas —Nash disse em português me empurrando com uma mão para o meio e caminhando até o outro lugar perto da parede.
A olhei com raiva após me recuperar do quase tombo.
Cogitei xingá-la, mas consegui me controlar graças à meditação de hoje de manhã.
Olhei para o 10/10 que me encarava com um ar de riso. A raiva sumiu na mesma hora.
—Olá! —Falei animada me sentando no lugar vago.
—Bom dia —Disse virado para trás.
—Porque esse pessoal não parou de encarar minha irmã e eu?Deveria ser comum alunos novos no meio do ano, já que depende da anormalidade e tudo mais —perguntei baixinho me aproximando intencionalmente dele.
—Alunos novos são comuns. Só não são comuns pararem nessa sala —falou com um ar de "sinto muito".
Não entendi.
—Cadê a professora, aliás? —Perguntei confusa que ela ainda não chegou.
—É aula da Summer, inglês. Ela não liga de ser pontual —falou dando um suspiro cansativo.
Tirei minha pasta da mochila devagar com medo de acabar usando os poderes. Ninguém estava fazendo, então eu é que não iria começar.
Olhei na minha folha de horários que peguei no site.
—Professora Summer Morrys… inglês… treinadora… —Parecia familiar —Ela é legal?
—Acho que minha opinião não conta muito —falou coçando a nuca meio sem graça.
Se não fosse essa jaqueta grossa, eu teria uma visão e tanto.
—Por quê? Você não estuda aqui faz tempo? —Perguntei apoiando a cabeça na mão.
—Sim, mas… lembra da minha irmã chata? —Perguntou.
Abri a boca para dizer algo, mas meus pensamentos retornaram para dois dias atrás muito mais rápido do que o normal. Raciocinei: Kennedy Morrys…
—É ela?! —Quase gritei chocada.
Ouvi risinhos de deboche e olhei para atrás. Três garotas com uniforme de líder de torcida me olharam arqueando as sobrancelhas. Droga.
Sem causar escândalo.
—Você é irmão da professora? —Perguntei mais baixo.
Ele riu mordendo o canto esquerdo da boca. E que boca! Não sei lidar.
—Infelizmente —disse rindo.
Ele cumprimentou Stephen que, para minha surpresa também é aluno daqui. O ruivo se sentou ao lado de Kennedy.

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(Narração Natasha)

Me sentei com raiva na cadeira. Odeio que me encarem.
Hey! Tem uma garota de pele cinza lá no fundo!
—Olá —a garota na minha frente olhou para mim com simpatia.
Não deixei de notar que voz dela soava meio estranha. Parecia que tinha um eco de uma voz grossa.
—Oi —tentei sorrir um pouco.
Senti que tem algo errado com ela. Não sei quais podem ser os poderes dela, mas já tenho medo.
—Somos Madeline Jeckyll e Blue —disse com naturalidade.
Não sou de julgar ninguém, mas… Somos? Que papo é esse Willis?
—Prazer. Natasha Gomes —Falei sem demonstrar meu espanto.
—O prazer é nosso —deu um sorriso meio psicopata —Você gosta de sangue Natasha?
A voz grossa se sobrepôs à fina e suas pupilas se dilataram.
—Só de vacas. E vocês?
Ela riu e sua voz voltou a ficar fina.
—Gostamos de você —disse.
Agora eu reparei melhor, seu sotaque é britânico.
—E eu gostei do seu cabelo —elogiei.
Era verdade, seu cabelo quase albino ficava bonito com aquelas mechas azuis distribuídas uniformemente.
Ela levantou e puxou um garoto loiro pelo cabelo até minha mesa.
Caramba, ela é baixinha.
—Poderia repetir por favor? —Pediu tão doce que nem parecia que estava quase arrancando o couro cabeludo do garoto que grunia.
—Eu gostei do seu cabelo —falei rindo do garoto que estava se debatendo para se soltar.
—OUVIU SÓ TROUXA! A GRINGA GOSTOU DO NOSSO CABELO —Gritou com a voz duplicada no ouvido dele antes de soltá-lo com violência.
—Ela não é obrigada a ter bom gosto… —o loiro disse esfregando a cabeça —Hey! Blue você tá aí?
—Inteligente de sua parte me notar —a voz mais grossa respondeu em tom de deboche.
—Madie, você não toma seus remédios há quanto tempo? —O garoto sentado atrás de mim falou.
—Não é da sua conta Haru —a loira cruzou os braços e olhou pra ele com ódio.
—Gatinha, você sabe que tem que tomar isso, ou o Doutor C não vai ficar nada feliz —Puts. O idiota de ontem
Legal. Por isso a Mari queria que eu prometesse não cometer um crime.
—Deixa a gente cuidar de você linda —falou de um jeito galante, mas eu percebi que ele estava preocupado de verdade.
Tá bom. Meu ranço por ele diminuiu um pouco, tipo um… milésimo.
—Você não cuida nem da sua vida J.J., dá licença —Agora ela ficou pistola.
Segurei o rosto dela, que surpresa tirou minhas mãos dela na base do tapa. Mas foi o suficiente para ver o que eu queria. Imagens borradas preenchiam minha mente mostrando exatamente onde ela guardou uma cartelinha de pílulas verdes.
—Os remédios estão no bolso pequeno da mochila —falei para o tal de Haru, puxando a mochila dela do chão e passando para o oriental.
—Traidora! —Rugiu com a voz duplicada me olhando com indignação.
Levantei as mãos e fiz cara de paisagem.
Eu sabia que tinha alguma coisa errada com as emoções dela. Eu reparei isso no começo, mas achei que ela fosse muito calma, não que sentisse dois extremos ao mesmo tempo.
—Cuidado meninas, a psicopata tá dando chilique de novo —que voz nojenta.
Olhei para atrás e quem disse isso foi uma loira oxigenada magrela que usava um gloss laranja que mais parecia gordura de porco, em um uniforme de líder de torcida verde esmeralda com azul marinho, cores padrão da escola.
Mano, parece que temos uma Regina George na sala. Bem que essa poderia ser uma fanfic menos clichê.
—Aí Amiga, espero que dessa vez ela não vomite em ninguém —a outra disse rindo de um jeito estranho. Parecia um… nem sei o que se parecia, nunca ouvi essa risada na minha vida, mas sei que se estivesse em outra ocasião eu chamaria um pastor na mesma hora.
Olhei para a Mari que me disse silenciosamente para não fazer nada. Vai ser difícil não cometer um homicídio aqui.
O japonês estava tentando dar o remédio pra Madeline com os outros dois a segurando. A loira começou a rir de forma descontrolada.
Os outros alunos apenas se afastaram um pouco, mas não ligaram muito. Deve ser recorrente.
—Não sei porque não colocaram essa coisa em uma jaula até hoje… —a Regina cuspiu mais um pouco de veneno. Mean Girls são um pé no meu inexistente saco.
Eu joguei minha mochila no chão com força e todos os rostos se voltaram para mim.
Stephen me lançou um olhar de advertência.
Ah! Eu vou… não. Não vou.
Apenas olhei para as três e os outros que riram da crise da garota com raiva e fiz meus olhos brilharem em um tom quase branco sorrindo tão psicopata quanto Madeline. Fiz uma expressão que dizia "Vai continua!".
Elas se arregalaram os olhos, mas disfarçaram o cagaço, que eu sei que ficaram, antes de sentar e olhar em seus celulares.
Mariana suspirou aliviada.
Não tenho paciência com certos tipos.
Uma mulher entrou praticamente correndo na sala, fazendo todos (exceto a turma da Madeline) ficarem quietos e sentados. Reparei que ela usava cotournos lindos, calça militar e uma regata amarela realçando sua pele chocolate. Ela é alta e muito (muito mesmo) bonita.
Mas deixei de reparar na mulher porque porque ela passou a protagonizar uma cena muito tensa na minha frente.
—Aí panacas! Segura firme essa loirinha —falou de forma autoritária e sua voz mais parecia um trovão, mesmo que não fosse grossa. Se dirigiu para a roda de garotos se esforçando para conter uma baixinha. A mulher andava de uma forma independente, como se o mundo estivesse aos pés dela. E acho que estava mesmo.
Ela estendeu a mão para os garotos e o japonês, que estava com o braço em volta do pescoço da loira, usou a mão livre para dar a pílula para a mulher.
—Blue ou Jeckyll, tanto faz, vai parar com a porra da irresponsabilidade e colaborar antes que eu enfie esse comprimido em um lugar nada legal —sua voz era tão firme que tive certeza que não era só ameaça.
O rosto da loirinha que se contorcia, hora em uma feição mais triste, hora em um sorriso bizarro e era adornado por arterias azuis escuras bem visíveis, se tornou calma ante a voz da mulher. Ela parou de se debater.
A morena enfiou o a mão com o comprimido na boca garota que engoliu prontamente. A pequena menina lançou um olhar agradecido para a mais velha.
—Agora senta a bunda na cadeira pra começarmos a aula. E ninguém reclama nada do que houve aqui com o Doutor ou vão acordar do avesso —falou batendo a mão com força na cadeira.
A maioria estava com uma cara assustada ou engolindo em seco.
A professora se dirigiu para a sua cadeira e deu giro de trezentos e sessenta graus antes de começar a mexer no computador. Ficou assim alguns minutos antes de lançar olhares discretos para Mari e eu.
—Vamos fingir que somos normais —falou se levantando em um pulo —Novatas, queiram se levantar.
Seu dedo foi direto para mim e depois para Mari. Obedecemos prontamente.
Em outro caso eu teria reclamado dizendo que não queria me levantar, mas eu tenho… não é medo. Claro que não! Eu apenas não sinto nenhuma, não sei explicar. Meus instintos (poderes) me dizem pra não contrariar essa professora.
—Todo mundo sabe que são novatas, então pra completar o clichê, ordem do diretor, falem seus nomes, de onde vieram e qual sua anormalidade.
Olhei para a cara da minha irmã e trocamos um sorriso sem graça sem saber direito o que dizer.
Eu odeio ser o centro das atenções.
—Falem logo garotas! Ou vocês no hablan nuestra lengua? —Falou com um olhar lascivo que quase me cortou, mas logo me recompus.
Nem todos os países da América Latina falam espanhol! Será esses americanos só enxergam o próprio mundinho fast food?
—Você primeiro —fiz questão de falar alto em português para a Mari.
Sabendo que eu sou a mais tímida ela aceitou começar.
—Meu nome é Mariana Gomes. Tenho dezesseis anos. Nasci e cresci no Brasil —parou de falar ao ouvir algumas risadinhas —Minha anormalidade é velocidade…
—Velocidade todos temos, explique-se melhor —a professora exigiu.
Ela estava meio sem saber explicar. Vai ficar me devendo.
—Ela é uma velocista, consegue fazer tudo mais rápido do que qualquer pessoa. Até agora atingiu velocidades bem maiores que a do som, consequentemente tem seus pensamentos acelerados também. Ela consegue compartilhar velocidade se estiver em contato físico com o indivíduo —falei rapidamente, mas alto e claro.
Minha irmã agradeceu na nossa língua.
—Aparentemente você conhece a outra novata… qual a relação de vocês? —A professora perguntou séria. Mas ela não me engana.
—Aparentemente a senhorita está se fazendo de desentendida —falei e todos soltaram exclamações baixas pela afronta.
O mané do tapão, soltou um "falei que é bravinha" para o japa atrás de mim.
A professora riu de lado.
—É exatamente isso. Temos um detector de mentiras aqui? —Perguntou com ar de desafio.
—Mais ou menos, a senhorita não está nenhum pouco surpresa, deduzi que já sabe de tudo o que estamos dizendo —respondi com uma voz neutra e o máximo de cautela. Se eu fizer algo grosseiro, essa aí não vai deixar barato.
Ela sorriu triunfante.
—Mas você não conhece minhas expressões, posso muito bem estar escondendo minhas reações.
—Não está. Pode até esconder as reações físicas, mas não as emocionais, não de mim —respondi me esforçando para não dar um sorrisinho igual ao dela.
—Poderes? —Perguntou arqueando as sobrancelhas.
—Poderes.
—Eu já li suas fichas, mas vai ter que se apresentar assim mesmo pequena prodígio —falou a última palavra com deboche.
Acenei com a cabeça e pensei rapidamente no que dizer.
—Meu nome é Natasha Gomes, tenho quinze anos… e ainda não sei definir minha anormalidade. Eu sou empata, tenho os cinco sentidos aprimorados (mesmo usando óculos) e sou mais resistente, de forma física e mental, que outras pessoas.
Falei o que achei necessário.
—Faltou uma coisinha não? —A professora encapetada perguntou.
Arregalei um pouco os olhos em desespero. Neguei com a cabeça.
—Por que não quis compartilhar com a sala que pode roubar poderes, memórias e energia através de contato físico? —Maldita mulher. Ela não tinha esse direito!
Todos me miraram assustados. Um burburinho se formou na sala, era gente cochichando apontando para mim na maior cara dura.
Se acalma. Deveria ter meditado com a Mari essa manhã!
—Não quis causar uma má impressão e… ainda não sei bem como funciona.
—O resto pode levantar as mãos e perguntar —disse ignorando minha agonia. Que mulherzinha…
Mal ela falou e metade da sala estava com as mãos lá em cima. Ela apontou para um garoto moreno de olhos verdes.
—Ahm… se você tocar em mim e usar sua anormalidade, eu perco meus poderes? —Perguntou fazendo vários abaixarem as mãos. Acho que essa era a maior dúvida da sala.
—Por pouco tempo. Pelo que eu observei, ao pegar memórias, não acontece nada. Ao pegar poderes, o usuário original fica impossibilitado de usar por alguns, minutos ou segundos. E ao pegar energia, a pessoa desmaia —Esclareci de uma vez para evitar que perguntem muita coisa.
O garoto fez que entendeu e senti que ele ficou decepcionado, assim como as miss mini-saia. Talvez estivessem pensando que eu poderia "curar" sua anormalidade. Pessoas que não se orgulham de quem são... é ridículo de tantas maneiras.
A professora apontou para o japonês que era um dos poucos que ainda mantinha a mão levantada. Me virei para ele.
—Natasha, você absorve algo das pessoas, sempre que as toca? —perguntou olhando diretamente.
—Não, só funciona quando eu quero —soou meio arrogante, mas não quero que me tratem como se tivesse uma doença contagiosa.
Ele sorriu para mim. Ele estava feliz com alguma coisa.
A professora apontou para o idiota que deu em cima da minha irmã.
—Mary Anne, você consegue, tipo, correr em cima da água?! —Perguntou animado.
Mary Anne? Não me contive e soltei uma risada jogando a cabeça para atrás. Madeline me acompanhou olhando para o garoto com deboche.
—Uhm, é Mariana. E eu… nunca tentei fazer isso.
Ela falou meio amedrontada. Mesmo que em teoria seja possível se ela atingir uma determinada velocidade, minha irmã morre de medo de tentar coisas novas.
O garoto assentiu, mas voltou a levantar a mão.
A professora apontou para o loiro sentado ao meu lado.
—Vai ser a última —ela disse fazendo o tal J.J. (que acabou de perguntar) soltar um som de decepção e tacar a testa na mesa.
—Alguma de vocês teria interesse em se juntar a uma equipe de super heróis? —É o que?
O tumulto se fez presente. Os outros na sala soltaram "Ah!", algumas piadinhas ao fundo (bem sem graça, tipo "Os incríveis manés" ou "Os super nerds") e muitas risadas.
Troquei um olhar com minha irmã e eu já sabia a resposta dela. O problema é saber a minha.
Quer dizer, heróis são a prova viva de que a humanidade ainda tem salvação. De que não somos tão egoístas, pois alguns arriscam suas vidas para ajudar o próximo. Não sei se estou disposta a fazer isso.
Heróis são um símbolo do bem e da justiça. Eu não sou uma boa pessoa e sempre busco meu próprio conceito de justiça, independentemente das leis.
—Não, obrigada —Mari recusou em voz alta para ser ouvida e um sorriso amarelo.
Os quatro sentados perto de mim me olharam na expectativa.
Eu realmente quero, mas não sou digna. Eu quero salvar as pessoas, mas não tenho nem mesmo um motivo para isso. Sem princípios certinhos, sem um senso de justiça inabalável, sem a racionalidade para lidar com situações de risco… que droga de heroína eu seria?
Não tenho o que é preciso, a Mariana seria uma boa heroína. Já eu… eu não vou conseguir, mas mais egoísta do que ser um herói apenas por querer, é nem tentar.
Olhei para Madeline, o mané, o japa e o loiro.
Dei um sorriso de lado.
—Quem sabe…

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(Mariana)

Tudo ficou quase normal depois desse comecinho de aula. Só uma das garotas da torcida, que começou a brilhar (não como a Beyoncé, brilhar literalmente) e quase cegou todo mundo. Pelo menos foi o que mais me chamou a atenção.
A senhorita Morrys passou a matéria naquela lousa digital incrível, e como não sei nem sobre literatura brasileira, fiquei boiando quando ela passou o link dos exercícios para entrarmos. Alguns estavam com seus tablets ou aquele notebook perfeito da Apple, mas a maioria, inclusive Nash eu, entrou pelos celulares.
Era múltipla escolha, mas não entendi bulhufas.
Kennedy viu minha confusão e me explicou um pouco sobre a introdução a matéria e depois me emprestou as suas anotações. Disse que Stephen entendia mais sobre isso do que ele, então logo chamou o meu futuro cunhadinho que me ajudou de bom grado.
A explicação deles ajudou bastante. O ruivo era muito quieto e tinha um jeito meio emo, mas teve muita paciência na hora de tirar minhas duvidas.
Depois de uns quinze minutos eu consegui responder tudo com o auxílio deles. Cara isso não é normal!
Eu sou de exatas, mas os nós que aquela matéria fazia na minha cabeça se desfaziam e questão de segundos. Eu notei que ás vezes, em quanto eu lia as anotações no caderno bem organizado de Kenny, tudo ficava mais lento ao meu redor.
Resolvi testar isso e empurrei minha borracha de cima da minha mesa. Ela foi caindo lentamente. Contei 1, 2, 3… 50? A borracha ainda estava há milímetros do chão. Uau! Isso é novo.
—Kenny toma aqui. Obrigada —disse devolvendo seu caderno.
Ele ergueu as sobrancelhas. Opa. Eu nem pedi permissão para chamá-lo pelo apelido.
—Desculpe, Kennedy —Falei envergonhada.
Droga, pareci uma atirada.
Ele riu negando com a cabeça.
—É que todos me chamam de Ken, mas… gostei de Kenny —esclareceu. Ufa.
Automaticamente me lembrei de Thiago. Ele me dizia que pegava mal eu ficar chamando ele de Thi perto dos amigos dele, que era "muito gay" esses apelidos de casal, mas as piranhas da sala dele o cretino deixava o chamarem assim. Aff Mariana esquece esse babaca!
Chacoalhei a cabeça e sorri para o garoto na minha frente. Ele olhou nos meus olhos e sorriu levemente. Eu não tinha reparado, mas seus olhos não são pretos como os meus, mas cinzentos tom clarinho. Caramba esses olhos claros combinam muito com sua pele negra.
Ele também não tirava os olhos dos meus.
Aquele sinal estranho tocou quebrando nossa conexão. Olhei para baixo mais envergonhada ainda.
—Ah Ken, eu realmente não tive chance de te parabenizar pelo jogo de ontem. Você tava lindo —É o quê?
Ergui meus olhos para a garota que havia dito isso. Foi uma das quase vítimas de assassinato da minha irmã.
Ela usava um lindo uniforme de líder de torcida, estava enrolando uma mecha do cabelo tingido de vermelho entre os dedos e mascava um chiclete em quanto mordia os lábios (eu sei, parece fisicamente impossível, mas ela conseguiu).
Ele sorriu sem graça.
—Valeu Piper.
Ela me encarou semisserrando os olhos e mordeu o a unha do mindinho.
—É amigo da novata? —Perguntou debochada.
Mas, mesmo eu não sendo uma empata, notei que ela não me olhou julgando. Parecia que ela… aí credo! Meu Deus perdoa ela, isso é nojento, não quero concluir o pensamento.
Quando o sinal tocou a ruiva fake foi obrigada a voltar para o lugar dela. Mas antes disso ela se abaixou fazendo com que seu decote ficasse na cara de Kenny e soltou um "Nos vemos na festa de sexta".
Não gostei e Nash viu, porque me mandou uma mensagem dizendo "Segura a onda, ele não é nada seu". Ela tinha razão e mesmo que fosse meu marido, não tenho mais cabeça para relacionamentos possessivos. Mas poxa… o ciúmes é inevitável.
Um homem bonito que se apresentou como Sr McGray de Matemática , entrou depois de trocar umas idéias com a Srta Morrys. Ao contrário dela, ele só perguntou quem eram as alunas novas antes de dar sua aula.
Se em humanas eu já estava me achando por entender alguma coisa, em exatas (que era a minha área) eu estava um espetáculo. Resolvi exercício em questão de segundos, tanto que Stephen me olhou estranhando o jeito quase imperceptível ao olhos que minha lapiseira se movia.
Na aula dele um garoto derrubou a carteira que fez uma barulhão e todos pararam o que estavam fazendo. Eu só não entendi o porque a carteira dele era de, não sei, acho que era ferro. A ruiva da torcida disse "De novo Terry?" e ela e as amigas começaram a rir do garoto que nem se importou.
Tivemos aula com uma professora fofa, Anne Thomson de Biologia que era um doce, mas um garoto sentado perto da minha irmã não calava a boca e ela se irritou.
—SILÊNCIO POR FAVOR! —Gritou e seu corpo ficou rodeado de por chamas azuis e seus olhos totalmente esbranquiçados.
Todo o ambiente ficou fervendo, estava mais quente do que o dia em fui a um evento em Copacabana.
Após isso, aconteceu uma coisa estranha. As carteiras, mochilas e objetos começaram a se mexer sozinhos!
—Aí meu Deus! —Exclamei em português e coloquei as mãos nos ombros de Kenny.
Ele tocou a mão na minha e disse para eu me acalmar.
—Não é nada —Stephen me disse.
Olhei para a Natasha e ela simplesmente deu de ombros e sussurrou "Relaxa" e voltou a seus execícios.
—Qual é Riri! Ninguém tá afim de brincar de filme de terror não —Terry, o garoto da carteira de ferro. Seus amigos e o trio de líderes de torcida começaram a rir. Não entendi do que, mas quando eu olhei para atrás vi duas garotas (sendo que uma tinha pele cinza, bizarro!) e um garoto de echarpe e cabelo hidratado fecharam a cara.
Depois tivemos aula com o marido bonitão da professora fofa, Jason Thomson de Geografia. As garotas sentadas lá atrás suspiraram e foram tirar dúvidas estúpidas várias vezes, mas ele ignorou. Também, com uma mulher como a dele, acho que nem o maior dos canalhas olharia para adolescentes.
Teve aula de um professor de Química que os garotos disseram que todos chamam de Terror, porque ele é igualzinho à aquele terrorista lá o Bin Laden, se não me engano. Imagino como minha irmã deve ter rido disso.
Foi na aula desse professor que o garoto que deu em cima de mim começou a soltar uma fumaça vermelha estranha.
Novamente o tal de Terry, fez piadinhas sem graça "Que pum foi esse J?". O pior é que tem gente que ri disso. Até as piadas pesadas da Nash são mais engraçadas.
A garota loira das mechas da frente da minha irmã, se levantou ficando em pé na frente da própria carteira e perguntou "Quem vai soltar um pum daqueles vai ser você quando eu socar sua barriga!". Felizmente o Terror a convenceu a deixar quieto.
Minha irmã foi quem ficou decepcionada, ela e aquele loiro sentado perto do J.J. estavam com uma cara super animada por causa do circo estar pegando fogo.
Estou começando a entender o porque não é comum terem tantos alunos nessa sala. Quase tivemos três tretas em apenas um dia.
Mas, eu soube que a pior parte iria começar quando a Srta Morrys veio nos chamar para o treino na quadra 3.
Que Deus tenha piedade de mim e que minha irmãzinha não faça bobagem, amém.

 

 

 

 


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Notas finais do capítulo

Natasha Gomes: Marceline que caralhos você fez?!
Escrevi um capítulo ué. Demorei, mas postei.
Natasha: Ah, e o desespero deve ter sido grande mesmo, pra você escrever igual ao seu nariz.
Olha lá garota! Eu sou praticamente sua mãe! Eu te criei e você ousa falar que eu escrevi de qualquer jeito, sendo que coloquei o todo o meu amor nesse capítulo?
Natasha: Mãe é o seu c*. A única que manda em mim é a dona Eliana. E você vai ter que me ajudar com o Edu por ter colocado essas Mean Girls do caralho na estória. Tava com a cabeça aonde?
Ah! Folgada, não vou te ajudar com o seu contatinho merda nenhuma, sua ingrata. Vai ver só. Agora para de reclamar e some.
Bom gente, espero que tenham gostado.
Comentem sobre o que pode ser melhorado, please. Preciso saber o que estão achando.
Até a próxima! Beijinhus da Marce.



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