P.O.V Aloy

Sabia que ia levar um bronca em 3...

2...

Era Katherina se aproximando e ela não me parecia calma.

1...

— Você se expôs! — Ela rosna, sabia que se não estivéssemos em um espaço público ela teria puxado a minha orelha — Nós duas estamos ferradas. Você sabe disso, certo?

— Ah não! Jura?! — Encaro-a de braços cruzados — O que vc queria que eu fizesse?!

Reviro os olhos. “Essa noite vai ser longa e...”, penso olhando para o
cara de azul. Ele precisava, desesperadamente, de ajuda.

— Bem, já que a merda já caiu no ventilador não...—  “blá blá blá”,
penso, a ignorando solenemente.

Corro para longe de Katherina, em direção ao homem de azul. Vejo que o meu aliado estava sendo espancado pelo cetro do vilão, acelero em direção a Rena, parando a poucos centímetros dele e agarrando o seu cetro. Meus músculos tensionados pareciam vibrar de alegria, era bom lutar de novo.

O homem de verde me olha e sorri. Soco-o no rosto e me afasto, me aproximando, sem querer, do homem de azul.

— Sabe esse soco? — Digo, fechando as minhas mãos em punhos bem fechados — É só o início...

Porém, antes que pudesse terminar de falar, somos atingidos pelo raio que emanava do cetro do vilão. Caio longe da luta, rolando até parar perto de um bando. A dor percorre meu corpo como uma corrente elétrica, indo da cabeça até os pés, me fazendo ferver de raiva. Fazia anos que eu não me sentia assim, viva.

— Ouch — Reclamo, me levantando apressadamente.

— Soco antes de diálogo — O meu aliado resmunga, levantando-se — Combinado?

Apenas assinto e me levanto sem muita dificuldade. Apesar de estar machucada, a dor passou rápido. Fazia tempo que não lutava, mas era bom estar de volta. Ter pura adrenalina percorrendo o meu corpo me deixava em êxtase, todo machucado não doía, era como se o gelo dentro de mim me desse essa força para aguentar sempre mais uma queda até a luta ter terminado.

Era como se minha vida tivesse um propósito novamente, eu servia de alguma coisa e não estava apenas me escondendo.

Observo a luta, analisando cada peão e principalmente a Rena, ele não lutava corpo a corpo, ou pelo menos escondia isso. Sua força era o cetro e agora o objeto era o meu foco.

Katherina agora lutava conta a Rena, que tentava a acertar a todo custo, mas ela é esquiva e ágil, tornava o trabalho do homem um inferno, o que me faz sorri. Acelero em sua direção e tento dar uma rasteira no vilão, mas ele desvia e segura o meus braços, me imobilizando e me tirando do chão.

— Olha, veja só! — Ele fala me segurando, mostrando-me para Katherina e o homem de azul.

Bufo e me debato, tentando me soltar, mas falho miseravelmente.

— O soldado, a assassina... — Ele continua e me sacode novamente — E a morta! Todos reunidos.

Reviro os olhos.

“O que ele tem na cabeça? Merda?”, esbravejo mentalmente.

— Barton me disse tudo sobre vocês, principalmente as damas. Katherina Patrova e Aloy Valois...

A Rena ataca Kath e o homem de azul com o cetro, jogando-os longe. Agora ele tinha sua atenção toda voltada a mim.

— Barton falou muito sobre você e vejo que grande parte era verdade. Pena que não me disse que você era bela. Foi uma surpresa inesperada... — Ele fala e segura a minha mão

Vejo-o colocando um anel prata com pequenas esmeraldas em meu
dedos.

— Mas que porra! — Grito, furiosa.

A Rena ri, mas sua felicidade dura pouco. Ouço “Shoot to Thrill" preencher o ar e um feixe de luz atingir o inimigo. Caio no chão, observando a Rena voar para longe; apesar das minhas nádegas reclamarem, um sorriso tomava conta do meu rosto. Um homem um uma armadura de metal vermelha se aproxima de mim e me ajuda a levantar.

Em seguida nós quatro ficam em torno do vilão, cercando-o.

— Stark — Cumprimenta o homem de azul.

— Capitão — Responde a armadura de metal que aparentemente se chama Stark.

Seguro a minha mão discretamente e tento tirar o anel. A maldita
aliança não sai! “Que porcaria é essa?!”, penso, nervosa. Um dos bergs da S.H.I.E.L.D pousa perto de onde estávamos. Agentes da S.H.I.E.L.D saem e carregam a Rena para dentro da nave.

— Eu preciso realmente ir? — Pergunto encarando Katherina sabendo
qual seria a resposta — Assim, ainda dá tempo de eu sumir... 

— E como pretende escapar, senhorita esperta? — Kath reclama, repousando as mãos na cintura.

— Sair de fininho pelo quarteirão e pegar o primeiro trem que eu conseguir — Tentei, mordendo o lábio.

— Com essa cara? — Ela aponta para os meus olhos — Sem chance!

Reparo meus cabelos soltos, caindo como uma caichoeira de águas brancas pelos meus ombros.

— Está tão ruim assim? — Indago, acanhada.

— Está pessimo, Aloy — Vejo suas feições se acalmarem, tranquilizando até atingir o nível de solidariedade e empatia de sempre. Kath toca o meu ombro — Venha. Resolveremos sua aparência no Berg.

Apenas respiro fundo e sigo Katherina para dentro da nave, eu não tinha nenhuma saída ou plano B. Tudo tinha ido por água abaixo e a culpa era da maldita Rena. Sigo a única pessoa que conhecia à espera de respostas, mas a mesma não me dizia nada.

— Quem são essa gente toda?

O berg alça voo.

— Vamos começar pelo centro de toda a confusão. Loki, o deus
nórdico da trapaça — Ela aponta para a Rena, ele sorri maliciosamente e sinto meu coração apertar.

— Ah, ele é um deus e não um homem fantasiado e... — Tento falar mas algo aterrorizante ocupa a minha mente.

“A diversão está apenas começando, Aloy”, soa a voz de Loki na minha cabeça. Encaro ele, com a boca semiaberta, em choque por ele conseguir falar mentalmente comigo.

— Por-Porque ele está aqui? — Indago tentando me recompor, era meu problema e eu iria resolver.

— Ele alega que quer governar a Terra e para isso ele roubou o Tesseract de uma base secreta da S.H.I.E.L.D e um dos nossos melhores agentes. Fora isso, ainda roubou um grande cientista.

Tinha que ser!

O Tesseract sempre trouxe e sempre trará desgraça.

Fuzilo Loki com o olhar. Queria saber o porquê dele ter me dado esse estúpido anel. Tem que ter um motivo!

Katherina me guia até o homem de azul.

— Esse é o Capitão América — Ela fala e se afasta, me dando privacidade o suficiente para falar com ele.

—Aloy. Aloy Valois — Digo esticando a mão.

— Steve Rogers — Ele fala segurando a minha mão com cuidado — Antes que eu me esqueça... Obrigada, agente.

— Não há de quê — Afirmo com a cabeça.

Katherina agora me guia para o homem de armadura. Ele tinha somente seu rosto aparecendo, ele era mais velho do que eu, disso eu tinha certeza.

— Esse é o Homem de Ferro — Ela fala e se afasta.

— Prazer, Aloy Valois — Estico a mão em sua direção.

— Tony Stark — Ele responde a apertando.

Sinto uma pequena corrente elétrica percorrer o meu corpo. Largo sua mão quase que instantaneamente. Suspiro e observo Stark. Apesar de Tony ser, provavelmente, quase 20 anos mais velho que eu, ele é muito bonito. Com a barba bem feita e seu cabelo que lhe dava um ar jovial. Seu cheiro era algo meio madeirado e alcoólico que me deixava em um transe gostoso...

— Hum, gostei muito do seu discurso sobre a cervejaria — Ele comenta
quebrando o silêncio constrangedor entre nós dois — Foi... Inspirador

— Obrigada — Digo sorrindo — E sobre a sua música de entrada... Acho
que combinou perfeitamente com a situação.

— Espero um dia provar que está errada.

— O que? — Indago, confusa.

— Sobre a cervejaria — Ele explica me olhando nos olhos. Por um momento esqueço como se respira — Conheço um ótimo lugar. 

— Ah! — Rio de nervoso — Claro. Um dia, quem sabe.

Ele me olha e sorri.

— A propósito — Apontou para mim com sua mão de metal — Adorei o estilo.

Seguro um mecha do meu cabelo, ainda estava branco. Precisava me controlar.

Tento agradecer, mas estava desconfortável com aminha aparência. Antes que esse momento ficasse ainda mais constrangedor Katherina agarra o meu punhos e me puxa para uma direção completamente diferente de onde estava Stark. Me aproximo de uma ruiva, que pilotava o berg em silêncio.

— Poupe-me das introduções — Fala a ruiva.

— Essa é Natasha Romanoff — Diz Kath, a ignorando.

Não tem como esse momento ficar mais constrangedor!

O berg balança.

— Natasha, o que está acontecendo? — Pergunta Katherina

— São apenas raios — Ela responde, indiferente.

E era apenas raios que se chocavam contra a carcaça metálica do
berg. Olho para Loki, ele parecia assustado, aterrorizado na verdade.

— Com medo de raios? — Indago, arqueando a sobrancelha.

— Qual o problema? — Fala Steve se aproximando de mim, ele toca suavemente as minhas costas.

— Não gosto muito do que vem depois... — Ele responde tentando encontrar uma posição confortável na cadeira.

“Do que ele está falando?”, penso. Olho para Kath à procura de alguma resposta. Pelo rosto da mulher, sabia que ela tinha noção do que estava acontecendo. Respiro fundo. 

Quando se trata da S.H.I.E.L.D, tudo era possível.

A nave balança e Stark abre a porta do fundo afim de descobrir o que estava acontecendo.

— O que está fazendo? — Pergunta Rogers.

Um homem alto, loiro e estupidamente musculoso entra. Ele usava uma armadura e uma espécie de capa vermelha, novamente mais um homem de fantasia infantil. Fecho os meus lábios em uma fina linha para não rir. Ele segurava com força um martelo largo com escrituras estranhas. Parecia uma criatura mística num corpo de um lutador de boxe.

O homem misterioso arremessa Stark para longe, que cai em cima de mim.

— Ai! — Digo sem fôlego

O homem loiro pega Loki e pula da nave.

— Mas que porra! — Falo ao ver a situação, me apoiando em meus braços, para me afastar de Stark.

— Olha a boca! — Steve me reprime.

Cerro os olhos incerta se deveria apenas socá-lo ou matá-lo.

— Desculpa — Stark diz e me ajudando a ficar de pé.

— Outro asgardiano? — Pergunta Natasha

— Sim — Diz Katherina — Provavelmente estamos lidando com Thor, o meio irmão de Loki!

— Ele é um aliado? — Indaga Steve, se aproximando de mim e me analisando de cima a baixo — Machucada? — Ele sussurra e eu balanço negativamente a minha cabeça.

— E isso importa? — Falo olhando para Kath

— Não, não importa — Stark pronuncia — Se ele libertar Loki ou matá-lo o Tesseract estará perdido.

— Stark, nós precisamos de um plano de ataque — Comenta Rogers

— Eu tenho um plano — Tony fala olhando-nos de soslaio, já de posicionando na porta —  Ataque

Tony pula. Olho para Rogers, ele estava colocando o paraquedas.

— Esses são Thor e Loki. Tome cuidado, Steve — Diz Katherina

— Rogers, lembre-se que estamos lidando com deuses! — Natasha alerta.

— Com todo o respeito, eu só acredito em um Deus e tenho certeza que ele não se veste assim — Ele fala e pula.

Reviro os olhos. Não sabia ao certo o que estava acontecendo, mas tudo aquilo já estava me irritando. Já não basta a destruição da minha cervejaria preferida e o suposto “anel da conversa mental” e agora isso! Bufo e me encosto numa parede qualquer.

Depois de uns bons 30 minutos chegamos à nave voadora da SHIELD. Tínhamos conosco o deus do Trovão: Thor. Ele concordara em nos ajudar a achar o Tesseract e impedir que Loki, seu irmão, destrua a Terra. Entro na sala de comando e vejo todos os agentes ocupados, sentados à frente de um computador. Nick Fury os vigiava e no momento que entramos na sala ele se vira. Seu olho me encara e vejo um semblante de pavor tomar conta de seu corpo.

— Aloy... — Fury fala baixo, ninguém mais escuta além de mim.

Sorrio de forma cínica e debruço sobre uma mesa que ficava entre eu e ele.

— Fury! Quanto tempo! — Digo sorrindo — O que anda fazendo?! Mais experimentos?

— Aloy... — Sussurra Katherina tocando-me o ombro

— Agente Valois, sei que a S.H.I.E.L.D lhe privou de muitas coisa, mas o nosso foco agora é outro — Nick fala desviando do assunto

— Eu preciso de uma cerveja! — Digo me jogando em uma cadeira qualquer.

— Somos dois — Stark fala já vestido com suas roupas que eu creio que sejam suas roupas casuais.

Apesar de ser a segunda pessoa mais velha do grupo, Stark era bonito. Se vestia com uma calça jeans e uma camisa de banda azul escura e um casaco. Percebo que ele mantinha os olhos em mim, me sinto corar. Balanço a cabeça e me sento corretamente na cadeira e encaro Fury.

Nick Fury arruma a postura e nos encara.

— Estamos em uma crise — Ele fala

Nick se aproxima de mim e me entrega uma pequena chave.

— Estava esperando esse momento, Valois...

— Como? Eu estava morta para vocês.

— Você, agente Valois, não é tipo de pessoa que morre — Ele sorri, encarando Katherine, que mais parece tentar se camuflar na cadeira — É teimosa demais para isso.

Balanço a chave entre os dedos e o observo se afastar de mim.

Katherina aciona um botão que faz com que uma pequena tela aparecesse na mesa. Vejo Loki em uma cela. Meu coração aperta no momento em que o deus olha para a câmera, seus olhos pareciam me fitar...

Outro homem entra na sala.

— Esse é Bruce Banner. Está nos ajudando a achar o Tesseract — Katherina fala baixinho, se inclinando na minha direção.

Volto a encarar a tela. Nick Fury estava dando uma “dura” em Loki e o deus praticamente cospe ameaças, entretanto o chefe da SHIELD não parece se importar.

— Ele é louco — Diz Katherina

— Ele pode estar além da razão, mas é meu irmão — Thor sopra, encarando minha amiga.

— Ele matou 80 pessoas em dois dias — A ruiva fala praticamente sem expressão

— Ele é adotado — Retruca o deus do trovão

Reviro os olhos. A conversa estava me deixando entediada. Me levanto e me afasto do grupo. Pego a chave que Nick me dera.

002.

Meu coração aperta. Esse era o meu número quando eu servia à S.H.I.E.L.D. Caminho pela nave à procura de algo com aquela inscrição. Depois de alguns minutos encontro uma porta. Sinto minha respiração falhar. Abro a porta devagar. O que encontro dentro me fez sentir como se tivesse levado um soco no estômago.

Me deparo com o meu uniforme. Ele passara por algumas alterações, mas parecia o mesmo. Era um uniforme de corpo inteiro, azul escuro com detalhes em alto-relevo de flocos de neve nas extremidades. O uniforme agora possuía 4 coldres, antigamente era apenas um. Dois na cintura para recarregar as pistolas e dois na perna que seguravam as minhas adagas. Meu coração aperta...

Tudo aquilo me trazia memórias. Lembro-me de um dia em que estava preocupada com meu irmão. Por conta da radiação, a personalidade de meu irmão mudara, Sam agora estava raivoso, tudo e todos eram motivos dele perder o controlo e entrar em chamas. Ele estava cada vez mais isolado e irritadiço, mal passava tempo comigo e ignorava quase que completamente a sua noiva, Katherina.

Coloco a roupa e ativo o comunicador.

— Agente Valois, vejo que encontrou a sala!

— Fury? — Indago.

— Esse comunicador lhe dá uma linha direta até mim — Ele fala — Lembra-se que no início você era o meu braço direto?

— Fury...

— Confio em você, Aloy — Ele diz e desliga

Sei que Nick não era o culpado por eu estar desse jeito, descontara nele algo que era para outra pessoa. Respiro fundo e me olho no espelho. Meu cabelo estava normal, preto como a noite, assim como os meus olhos. O uniforme cobria o meu corpo inteiro e acentuava as minhas curvas. Sorrio, apesar de não gostar nem um pouco de estar aqui, eu amava poder estar de volta, afinal das contas esse é o meu trabalho dos sonhos.

“Aloy, resolveremos as dívidas depois, agora vamos tratar de salvar o planeta”, penso.

Respiro fundo novamente e saio da sala, confiante.