Vila Baunilha escrita por Metal_Will


Capítulo 9
Rotina de restaurante


Notas iniciais do capítulo

Estamos de volta e...boa leitura! :)



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/775280/chapter/9

—Cheguei – disse Luciano, sem muita motivação na voz, entrando na lanchonete de seu pai para mais um dia de trabalho.

—Finalmente – reclamou Abílio – Estava te esperando!

—Bom, ainda preciso ir à escola...pelo menos faltam só mais três anos para acabar tudo – Luciano respondeu seu pai, coçando sua cabeça sem muito ânimo, afinal, ele sabia que precisava trabalhar o resto do dia.

—Que seja, tenho uma missão para você – disse Abílio.

—Missão? Oh, droga. O banheiro tá entupido de novo? Por que isso sempre sobra para mim? - reclamou Luciano.

—Que banheiro entupido? - disse Abílio – É algo bem maior que isso!

—Bom, qualquer coisa é melhor que desentupir aquilo. A última experiência não foi das melhores…

Para alguém como Luciano, que não liga muito para coisas nojentas, falar aquilo era sinal de que realmente era uma situação triste, ainda mais para um banheiro tão pequeno em uma lanchonete também pequena e...bem, melhor continuar com a história, né?

—Vem comigo – Abílio falou em voz baixa, olhando para os lados desconfiado. Ele fez um sinal para Luciano se aproximar e entregou uma caixa de sapatos fechada para ele. A caixa parecia se mexer sozinha.

—O que tem aqui dentro? - perguntou Luciano.

—Não abre! - disse Abílio – Pelo menos não agora.

—Tá. Mas o que é isso? - Luciano continuava confuso.

—É um rato – disse Abílio em voz baixa.

—Um rato? - repetiu Luciano, apenas para receber um cascudo do pai.

—Fala baixo, moleque! - reclamou Abílio – E se um cliente ouvir?

—Não tem nenhum cliente aqui – disse Luciano.

—Esse é o problema – disse Abílio – Geralmente, temos alguns clientes na hora do almoço. Sinal de que eles devem estar no restaurante novo.

—Ah, isso – falou Luciano – Não acha que está grilando demais, pai? Eles trabalham com comida caseira e nós com lanches. Não acho que um negócio afete outro.

—Você experimentou a comida deles, não experimentou? - lembrou Abílio – Aquele cara cozinha bem demais. Você não acha que a comparação com a nossa comida é inevitável?

—Pensando bem...pode até ser – disse Luciano – Mas acho que ainda é cedo para falar alguma coisa.

—O seguro morreu de velho – falou Abílio – Escuta o que você vai fazer agora. Você vai soltar esse rato no restaurante dos Montecarlo. De preferência agora, na hora do almoço. Isso vai afastar os clientes e vai forçar aquela família a fechar o restaurante de vez!

Luciano entendeu, mas não parecia muito motivado.

—Precisamos mesmo fazer isso? - perguntou ele.

—É isso ou corremos o risco de irmos à falência – disse Abílio – Ou será que você tem outra ideia de como conseguimos dinheiro sem o lucro da nossa lanchonete?

—Agora que o senhor perguntou, eu estava pensando em…

—Não quero saber, Luciano – retrucou Abílio – Apenas vai logo colocar o rato no restaurante deles. Você já sabe onde é.

—Tá bom – falou Luciano, com toda a má vontade do mundo.

Enquanto isso, Anne também tinha trabalho para fazer. Assim que chegou do colégio, colocou seu uniforme e iniciou mais um dia de garçonete no restaurante de seu pai. Surpreendentemente, o restaurante estava com um movimento considerável.

—Ufa – suspirou a garota, após entregar um refrigerante na mesa 5 – Não pensei que tivéssemos tanto movimento assim logo no segundo dia.

—As notícias correm rápido em uma cidade pequena – disse Carla, a mãe, enquanto organizava o caixa – Além disso, muitas pessoas das cidades vizinhas também trabalham aqui.

—Ah, é verdade. A maioria dos meus professores são de outras cidades.

—Pois é. Seu pai não é bobo. Vila Baunilha pode ser pequena, mas se de um lado temos fazendas e chácaras, de outro é a cidade mais próxima de municípios grandes. Não estamos tão isolados assim – explicou a mãe.

—Ah, então é por isso que alguns motoristas de aplicativo chegam até aqui – disse Anne – E eu achando que nem Internet tinha aqui direito.

—Bem, é verdade que o sinal de celular vem da cidade vizinha, mas já é um começo, não é? - explicou Carla – Agora chega de conversa e vai logo ver os próximos clientes.

—Tá bom – disse Anne, indo atender seu próximo cliente, ninguém menos do que seu professor de ciências humanas.

—Boa tarde – disse ele.

—Professor Otávio? O senhor por aqui? - estranhou ela.

—Sim. Também preciso almoçar – explicou Otávio, com uma expressão não muito bem-humorada (o que já não era muita novidade) – E eu achando que teria sossego sem meus alunos por perto.

Anne tentou manter a simpatia. Afinal, pelo que seu pai dizia, o cliente tem sempre a razão, mesmo que ele não tenha...ou algo assim.

—No que posso ajudar? - perguntou Anne.

—Tem um cardápio? - perguntou o professor.

—Está na sua mesa, professor – disse Anne, apontando para a mesa.

—Mas isso aí é só uma cartelinha com uma lista de bebidas e sobremesas – estranhou Otávio.

—Somos um restaurante self-service, professor – explicou Anne – O próprio cliente pode fazer seu prato.

—Como assim? Na minha época você pedia o prato do dia e era servido na mesa, às vezes pelo próprio cozinheiro. Quando foi que as coisas mudaram tanto?

—Em muitos lugares ainda é assim, professor – disse a garota – Mas aqui nós trabalhamos com self-service.

—Não confio nessas novidades – reclamou ele – Mas, tudo bem. Vamos ver se a comida é boa mesmo.

—O senhor pode comer à vontade ou pedir por quilo – disse Anne.

—Claro que vou comer à vontade – disse Otávio – Você acha que eu confio nessa balança? Vou pagar para comer o quanto quiser.

—Claro – concordou Anne.

Realmente, ela não esperava ter que aturar seu professor rabugento até fora do horário de aula, mas fazer o quê? Esse era o trabalho dela. Enquanto isso, Luciano se aproximava do restaurante com sua caixa com um rato dentro. O plano era simples: soltar o rato no meio do restaurante e espalhar o caos. Luciano podia fazer isso, mas não estava muito à vontade com a ideia.

“Meu pai inventa cada coisa”, pensou ele, tentando se aproximar do local o mais disfarçadamente possível. A caixa se mexia cada vez mais.

—Ô, calma aí – reclamou Luciano – Não vai sair antes da hora.

No fundo, ele não tinha nada contra o restaurante dos Montecarlo, embora achasse a filha mais velha uma insuportável. E, justamente essa filha mais velha, é a garota que o viu chegando de mansinho perto da entrada.

—Posso ajudar? - disse Anne, dando um belo susto em Luciano.

—Não me assusta, sua… - reclamou ele.

—Veio almoçar, Luciano? - perguntou Anne debochadamente – Achei que você comesse na lanchonete do seu pai.

—Eu já almocei. Estava apenas de passagem. Tenho que...fazer uma entrega – disse ele.

—Entrega? E por que você tem que passar aqui? Não é um caminho mais longo? - perguntou ela.

—Não é nada que precise ter pressa – explicou Luciano – E vem cá? Desde quando o que eu faço é da sua conta, heim?

—Você é um grosso mesmo – retrucou Anne – É que, por algum motivo, não consigo levar fé no que você fala.

—Anne! - chamou Carla – Vai mesmo ficar de conversinha aí, enquanto o restaurante precisa de uma garçonete?

—Desculpa, mãe – respondeu Anne.

—Oi, Luciano – Carla o cumprimentou – Desculpa. É que a Anne está trabalhando agora.

—Eu sei. Também estou numa entrega. Só passei para dizer um oi mesmo – explicou ele.

—Que gentil – disse Carla, com um sorriso no rosto – Tá vendo, Anne? Isso que é um menino educado. Devia aprender com ele. Volta logo para o serviço!

Anne mordeu o lábio de raiva, enquanto Luciano apenas deu um sorriso cínico. Depois que ela saiu, Luciano finalmente se viu pronto para continuar com seu plano.

“Legal. Ela foi embora. Só preciso tomar cuidado com aquela chata da Anne”, pensou Luciano, enquanto via a garota retornando ao serviço. Será que ele vai ter sucesso nesse plano? Isso mesmo, provavelmente não, mas vamos esperar o próximo capítulo para confirmar.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo


"—Pois é. Seu pai não é bobo. Vila Baunilha pode ser pequena, mas se de um lado temos fazendas e chácaras, de outro é a cidade mais próxima de municípios grandes. Não estamos tão isolados assim – explicou a mãe.

—Ah, então é por isso que alguns motoristas de aplicativo chegam até aqui – disse Anne – E eu achando que nem Internet tinha aqui direito."

Vamos fingir que isso não é só uma desculpa esfarrapada para tapar os buracos de roteiro.

Então, vejo vocês no próximo capítulo. Até lá! :)



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Vila Baunilha" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.