Vila Baunilha escrita por Metal_Will


Capítulo 6
Primeira Aula


Notas iniciais do capítulo

Mais um capítulo. Hoje conheceremos um pouco mais da turma do primeiro ano. Boa leitura! :)



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Anne já estava em sua sala aguardando o início da aula. Sua nova colega, Kelly, sentada ao seu lado, parecia estar se dando bem com ela.

—Tenho muita coisa pra te contar - disse Kelly para Anne - Mas é melhor a gente se falar depois. O professor já está vindo e...ele é meio implicante.

—Implicante? - Anne se voltou para a frente quando viu um senhor certamente com mais de 70 anos, cabelos brancos e óculos grossos, se aproximando da sala. Ele se sentou na cadeira da mesa de professor e, após tossir, começou a falar.

—Bom dia - disse ele - Vocês já devem em conhecer, não é? Não preciso me apresentar.

—Err...professor Otávio? - Kelly levantou a mão - Temos uma aluna nova.

—Aluna nova? Mas vocês são a mesma sala que se formou no fundamental ano passado, não?

—Sou nova na cidade - disse Anne - Meu nome é Anne.

O professor ajeitou os óculos e conferiu sua lista de chamada.

—Ah, é verdade. É logo a primeira da lista - disse ele - Mas como eu ia adivinhar? São tantos alunos para lembrar o nome.

“Mesmo? Mas essa sala não tem só sete matriculados?”, pensou Anne..

—Bom, seja como for, sou seu professor de ciências humanas, Otávio Carvalho - disse o senhor - Temos muita coisa para ver esse ano, então espero que estude bastante.

—Ciências humanas? Qual delas? - indagou Anne.

—Como assim? - estranhou o professor.

—Ah, é que não temos muitos professores, sabe? - disse Kelly - Então a diretora acabou juntando várias matérias em uma só. O professor Otávio ensina história, geografia, sociologia e filosofia sempre que vem aqui.

—Tudo isso junto? - estranhou Anne.

—Acostume-se. Você vai me ver muito por aqui - disse ele - Também, sou o único professor que mora na cidade.

—A maioria dos professores são das cidades vizinhas - explicou Kelly - Na verdade, acho que o professor Otávio é mesmo o único professor que mora por aqui.

—Entendi - disse Anne.

—Bom, chega de conversa. Vamos começar a aula - disse o professor, acendendo um cigarro.

—Err...professor? O senhor pode fumar dentro da sala de aula? - perguntou Anne.

—Qual é o problema, aluna nova? - perguntou Otávio.

—É que...fumar em lugares fechados não é proibido por lei? - disse ela.

—As janelas estão fechadas? - perguntou o professor.

—Err...não - respondeu a garota.

—Então não estamos em um lugar fechado. Fim de conversa - disse ele.

—Não adianta contrariar - falou Kelly, baixinho - Pelo menos ele não joga a fumaça na nossa cara.

“Ser uma fumante passiva não estava nos meus planos”, pensou Anne.

—Ela já começou com frescura - comentou Luciano para Luís.

—Ela é tão linda - respondeu Luís sem parar de olhar para Anne.

—Você não tá ouvindo uma palavra do que eu digo, né? - perguntou Luciano.

—Se falando mal da Anne, não mesmo - respondeu Luís.

O professor retomou a palavra.

—Bom, estão todos aqui, não estão? Já podemos começar a aula - disse o professor.

—Espera - Luciano levantou a mão - Ainda falta o Carioca.

—Mas a sala está com seis alunos - estranhou Otávio - Ah, é. Com a aluna nova vocês são em sete. Droga. Por isso que não estudei exatas. Números vivem me confundindo.

—Carioca? - perguntou Anne para Kelly.

—É...é o último da turma. Ele é uma figura - disse Kelly, sorridente.

E, de fato, um garoto com boné virado para trás chegou na sala naquele exato momento.

—Bom dia, professor - disse ele, carregando em algumas letras em um sotaque carioca realmente forte (como não dá para destacar isso na escrita, espero que sua imaginação te ajude) - Desculpa o atraso, aí.

—Senhor Rodrigo. Qual é a sua desculpa dessa vez? - perguntou ele.

—Esqueci que as aulas começavam hoje - disse ele.

—A direção mandou várias mensagens avisando, não mandou? - disse o professor.

Rodrigo, o Carioca, olhou no celular e viu que tinha algumas mensagens.

—Poxa, é verdade mesmo, aí - disse ele, com toda a calma do mundo - Acho que silenciei o grupo da escola sem querer.

Luciano mal segurava as risadas lá no fundo.

—Seu pai também recebe as mensagens - disse o professor.

—Pô, podicrê, aí - disse Carioca - Bem que o meu pai falou alguma coisa de escola ontem quando eu tava quase fechando meu game. E ainda fiquei bravo por ele só ter falado isso hoje de manhã.

—Vá logo para o seu lugar - disse o professor - Vamos começar a aula agora.

—Valeu, professor - disse o rapaz, indo para o fundo da sala e cumprimentando Luciano e Luís.

—Agora o bonde tá completo - falou Luciano - Saudades suas, Carioca.

—E aí? Quais são as novas? - perguntou o garoto.

—Saca só, o Luís aí tá apaixonadinho pela aluna nova - disse Luciano, sem falar muito alto.

—Quem? Tem uma aluna nova? - perguntou Carioca.

—É aquela garota linda ali na frente - disse Luís, baixinho, apontando para Anne.

—Poxa, podicrê, é uma menina nova. E aí? - gritou Carioca, sem nenhum constrangimento.

—O-oi - disse Anne, acenando.

—Será que podemos começar logo a aula? - disse professor Otávio, embora não expressasse muita impaciência.

—Opa. Foi mal, aí - disse Carioca, com toda a tranquilidade do mundo.

—Não falei? Esse cara é demais - disse Kelly, tentando segurar o riso.

—O jeito dele falar é bem carioca mesmo. Então não sou a única que não nasceu aqui - comentou Anne, enquanto Otávio começava a escrever algumas coisas na lousa.

—É, ele nasceu e cresceu no Rio de Janeiro. Veio pra cá faz uns três anos - disse Kelly, pegando o caderno para anotar o que o professor escrevia - É gente boa.

—Bem, o Luciano eu já conheço. Infelizmente - disse Anne, também anotando - Ele é meu vizinho. Achei ele mal educado.

—Ah, ele é do tipo que não liga muito para os outros - disse Kelly - Ele vive trabalhando com o pai, então não costuma sair muito com a gente. Mas se dá bem com os meninos.

—Especialmente com aquele Luís, não é? - perguntou ela.

—É. O Luís é o melhor aluno da sala. Acho que ele deve ser algum tipo de gênio - disse Kelly.

Anne olhava para Luís e ele, por sua vez, não tirava os olhos dela com um ar apaixonado.

—Acho que ele gostou de você - comentou Kelly.

—É que...ele não faz bem o meu tipo - disse Anne.

—E quem faz o seu tipo? O Ian? - perguntou Kelly.

Anne olhou para Ian que também não tirava os olhos dela.

—Pelo pouco que conversei com ele, também não.

—Ei, não vai fazer desfeita com o filho do prefeito - brincou Kelly.

—Filho do prefeito? - estranhou Anne - Sério mesmo?

—Sim. E a nossa outra amiga, a Ema Fontes, é bisneta do fundador da cidade.

Anne olhou para Ema admirada que também estava concentrada anotando o que estava na lousa.

“Ela é bisneta do cara do extrato de baunilha”, pensou Anne.

—Hoje a empresa da família dela é uma das mais bem-sucedidas da região. Preferimos os sorvetes deles do que muitas marcas famosas - explicou Kelly.

—Ela deve ser montada na grana, então - comentou Anne, baixinho.

—Você nem imagina - disse Kelly, sorrindo - Mas ela é gente boa, apesar de parecer meio patricinha. A mãe dela morreu cedo e ela vive só com o pai.

—Ah, coitada - lamentou Anne.

—Mas voltando para o Ian...você não quer mesmo dar uma chance para ele? - perguntou Kelly.

—Ah, sei lá, não estou preocupada com isso agora - disse Anne.

—Sei bem como é - falou Kelly - Bem, tem os meninos de outros anos também. Talvez você encontre alguém legal.

—Não ligo tanto para isso agora - disse ela - No momento, quero só estudar e focar para me tornar uma boa médica.

—Sério? Você quer ser médica? - perguntou Kelly.

—Bem, gosto de biologia e gosto de estudar anatomia. Por enquanto, é a profissão que mais me interessa - disse Anne - Já estou estudando desde já, mas...sei que é difícil pra caramba. Duvido muito que eu passe no vestibular direto do ensino médio.

—Ah, não precisa ser tão negativa. Meu pai é o médico do posto de saúde da cidade - falou Kelly - Talvez ele possa te dar umas dicas.

—Sério? Obrigada - agradeceu Anne, sorrindo.

Enquanto isso, Ian continuava admirando Anne à distância. Em certo momento, ele comentou com sua colega Ema, sentada próxima dele.

—Ei, Ema - ela a chamou baixinho.

—Sim? - respondeu a garota, sorridente.

—Acho que decidi.

—Decidiu o quê?

—Estou apaixonado pela Anne, a aluna nova.

—Querido, ninguém decide se apaixonar. Você não escolhe o amor, ele que te escolhe.

—Então, acho que ele me escolheu e eu decidi aceitar esse destino. Sim, sim, é verdade. Ela é mesmo uma garota de muita sorte por ter chamado a atenção de alguém tão maravilhoso quanto eu.

Ema fez uma evidente cara de “sério mesmo?”, mas, por ser uma defensora do amor, teve o mínimo de simpatia pelo sentimento de Ian.

—Isso realmente confirma o triângulo. Mas agora você me deixa numa situação difícil. O Luís também gostou dela - disse Ema.

—Você diz, o Luís, nosso colega de sala? - perguntou Ian.

—Ele mesmo.

Ian não conseguiu segurar a risada.

—Entendo o sentimento dele - disse Ian - Mas infelizmente ele já perdeu essa. Sou mais bonito, mais rico e mais modesto. Não tem como a Anne não me escolher.

—É mais inteligente também? - perguntou Ema.

Isso nem mesmo alguém com ego estratosférico como Ian poderia dizer.

—É. Esse é o único ponto que eu perco - admitiu Ian.

—Bem, teremos que dar tempo ao tempo - disse Ema.

—Só sei que não vou perder essa - disse Ian - Sempre consigo tudo que eu quero.

—Tudo?

—Tá, menos o dinossauro que o Papai Noel não me trouxe quando eu tinha doze anos. Parei de acreditar nele depois disso - desabafou Ian.

Kelly continuava a conversar com Anne, enquanto o professor não terminava o texto.

—Então sua família abriu o restaurante no centro, né? Preciso comer lá um dia desses - falou Kelly.

—Sim, será muito bem-vinda - disse Anne - Meu pai cozinha muito bem e…

Anne foi atingida por um giz lançado pelo professor.

—Garota nova, você fala demais. Chega.

—Calma, isso acontece o tempo todo - explicou Kelly.

“Tive azar de falar bem na hora que ele terminou de escrever”, pensou Anne.

—Vamos começar nossa aula. Hoje vamos começar com história do Brasil - o professor acendeu outro cigarro, não sem antes pigarrear mais um pouco - Alguém pode me resumir a história do Brasil?

Apenas Luís levantou a mão empolgadamente (e meio que pulando, por conta de sua altura baixa).

—Mais alguém?

Luís continuou com a mão levantada.

—Tá bom, Luís. Pode falar.

—Obrigado, professor - disse ele - Para falarmos da história do Brasil, precisamos entender o contexto da Europa no final do século 15 e o fenômenos das grandes navegações…

Apesar dos pesares, Anne estava sobrevivendo em seu primeiro dia.

“Como a Briana estará se saindo na turma dela?”, pensou ela. Bem, isso é o que veremos no próximo capítulo.


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Notas finais do capítulo

Professor fumando no meio da sala? É, a fic não é muito politicamente correta (mas a classificação continuará sendo livre. Essa geração atual tem frescura demais). Kkk

No próximo capítulo, mudaremos um pouco o foco para a irmã de Anne. Até lá! :)



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