Vila Baunilha escrita por Metal_Will


Capítulo 3
Uma Inauguração Apimentada


Notas iniciais do capítulo

Olá a todos! Aproveitando o feriado para postar mais um capítulo. Boa leitura! :)



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Era a primeira manhã da família Montecarlo em seu novo lar, Vila Baunilha. Antenor, o cabeça da casa, preparou rapidamente um café da manhã com ingredientes que trouxeram na viagem. Lembramos que cozinhar era uma das especialidades dele.

—Aqui está, meninas - disse Antenor, entregando um belo sanduíche com pão na chapa. Mesmo algo simples saía muito bom nas mãos dele - Não é muito, mas acho que dá para aguentar até nos ajeitarmos por aqui.

—Está delicioso, pai - disse Briana, com um sorriso no rosto.

—Depois do desastre de ontem, qualquer coisa é deliciosa - comentou Anne, também comendo seu pão na chapa com lágrimas de felicidade.

—Deixa de ser má educada, Anne! - reclamou Carla, a mãe da família - Nosso vizinhos nos serviram com a maior boa vontade. Viram que não tinha ninguém além de nós? Eles foram gentis o bastante para abrir a lanchonete apenas para comermos lá.

—Qual é, mãe? O lugar deve ficar às moscas quase todo dia - reclamou a garota - Eles só devem vender alguma coisa por não ter muitos lugares bons para comer por aqui. Não é possível.

—Mas agora essa cidade terá um bom lugar para comer - disse Antenor - Hoje mesmo vou começar a arrumar o nosso restaurante. Já falei com o Laércio e se trabalharmos duro hoje já podemos abrir depois de amanhã.

—Domingo já estará funcionando? Que ótimo, querido - comentou Carla.

—Quem é Laércio mesmo? - perguntou Anne.

—Você já esqueceu? - disse Antenor - É o rapaz de quem comprei o restaurante. Na verdade era um salão de festas antes, mas como todo mundo preferia o salão principal da prefeitura, ele acabou vendendo baratinho para mim.

—Ah, é. Lembrei - disse Anne, enquanto Briana pegava o último biscoito de polvilho que a família trouxe - Ei! Eu ia pegar esse!

—Desculpa - disse Briana - Achei que você não ia pegar mais.

—Anne! - reclamou Carla - Deixa de ser egoísta e compartilhe um pouco com a sua irmã?

—Mas, mãe…

—Não vou repetir, Anne!

Já deve ter dado para perceber que Carla pegava bem mais no pé da filha mais velha. Ainda assim, a família era unida o bastante e todos ajudaram na limpeza do estabelecimento que seria o novo restaurante da cidade. Alguns moradores da cidade observaram a movimentação e logo perceberam a novidade. No domingo, o local já tinha uma fachada decente o bastante para receber os primeiros clientes. Quando Antenor passou no mercado para comprar ingredientes, ele aproveitou para espalhar a notícia e estava ansioso para começar logo seu primeiro dia como chef do restaurante local.

—E aí? Animadas? - disse Antenor, colocando os primeiros pratos na bancada de self-service.

—Mais cansada do que animada - comentou Anne - Não paramos desde que chegamos aqui.

—Não reclama - falou Carla - Amanhã já começam suas aulas e você só vai precisar trabalhar metade do tempo aqui.

 

Sim, Anne já sabia que precisaria ajudar no restaurante depois das aulas para garantir seu dinheiro naquela nova vida, mas até que ela não se incomodou com isso. Sua maior preocupação era com a escola mesmo.

—Ah, é. É verdade. Como será minha escola nova? - perguntou ela.

—Passamos por ela no caminho, você não viu? - comentou Briana.

—Vi o prédio, mas queria saber como serão as pessoas. Estou nervosa - admitiu a garota.

—Eu estou animada! Vai ser legal ter amigos novos - disse Briana, animadamente.

—É. Espero que sejam mais legais do que aquele Luciano - balbuciou Anne.

E por falar em Luciano, ele estava ali por perto, junto com seu pai Abílio, observando a movimentação da família nos último dias.

—Então eles abriram o restaurante, heim? - comentou Abílio, escondido atrás de um muro em uma esquina próxima, olhando disfarçadamente para o restaurante - Pegaram um ponto bom, no antigo salão de festas do seu Laércio.

—É, é o que parece - disse Luciano, nem um pouco preocupado.

—Você entendeu bem nosso plano, não entendeu? - disse Abílio.

—Sim, você já falou umas mil vezes - reclamou Luciano - Vamos entrar lá, avacalhar com a comida e espantar todos que forem comer lá.

—Isso. Eles vão à falência antes mesmo de completarem um mês aqui - falou Abílio, com um olhar maquiavélico - Não tem como deixarmos esses metidos da cidade roubarem nossa clientela.

Luciano apenas coçou a cabeça.

—O que está esquisito é essa história de sabotar a comida. Acha mesmo que vai dar certo? - perguntou o garoto.

—Eu já observei tudo - disse Abílio - É um restaurante self-service, então a comida fica exposta. É só você jogar disfarçadamente essa pimenta super forte na comida que ninguém vai querer mais comer lá.

Abílio mostrava um frasco de pimenta super forte. Comida apimentada é um horror mesmo, não é? Luciano suspirou e escondeu o frasco no bolso da calça.

—Tá, que seja. Vamos logo com isso - disse Luciano. Os dois seguiram para o restaurante como se fossem os primeiros clientes.

—Ora, vejam só! - disse Carla, feliz ao ver os dois entrando ali - Se não são nossos vizinhos.

—Como vai, vizinha? - disse Abílio - Então é aqui o restaurante de vocês?

—Isso mesmo. Vieram almoçar? - perguntou a mãe da família, esbanjando simpatia.

—Mas é claro - disse Abílio, sorrindo - Como não vir aqui prestigiar a culinária de nossos novos amigos, não é verdade? É ou não é, filho?

Luciano estava olhando para o nada novamente até receber (disfarçadamente) um soco na barriga.

—Oh, sim. Claro, claro. Isso mesmo. Viemos almoçar - falou Luciano.

—Por favor, sirvam-se à vontade - disse Carla. Abílio agradeceu e os dois pegaram uma mesa. Houve um breve silêncio.

—Ué? Eles não vão comer nada? - perguntou Briana, enquanto ajudava sua mãe a arrumar algumas coisas no caixa.

—Talvez estejam meio envergonhados por serem os únicos clientes - comentou Carla - O pessoal do interior é mais reservado mesmo. Anne...Anne!

Anne estava em um canto mexendo em seu celular, mas sua mãe fez questão de se aproximar da garota e interromper suas passivas visualizações nas redes sociais.

—Anne! Pode ir ver se nossos clientes precisam de alguma coisa? - falou a mãe.

—É um restaurante self-service, é só levantar, pegar o prato, se servir e comer - retrucou a garota.

—Mas vai que eles queiram alguma coisa para beber e estão envergonhados de pedir?

—Até parece… - resmungou a garota.

—Anne! Agora! - disse a mãe, com um olhar que dizia mais “agora” do que as palavras. Enfim, a garota foi.

—Posso ajudá-los em alguma coisa? - perguntou ela.

Luciano deu um sorriso maldoso.

—Vejamos...tem suco de abacate? - perguntou o garoto.

—Não temos abacate - respondeu Anne.

—E suco de jaca? Tem? - continuou ele.

—Onde vende suco de jaca? - estranhou Anne - Dá para pedir alguma coisa que tenha no cardápio?

Anne apontou para a placa próxima ao balcão com os sabores de suco.

—Viu como é difícil lidar com fregueses? - disse Luciano - Parece que o jogo virou, não é mesmo?

Anne mordeu os lábios e engoliu sua raiva. Mas Abílio amenizou a situação, não sem antes chutar Luciano por baixo da mesa.

—Desculpe a falta de educação do meu filho - disse o pai - Só traga dois sucos de laranja, tudo bem?

—Fiquem à vontade - disse Anne, finalmente se retirando. Depois que ela saiu, Abílio se dirigiu novamente ao filho.

—E então? Quando você vai agir, heim? - perguntou Abílio - Vai ficar estranho ficarmos aqui sem pedir nada.

—Só estou me preparando psicologicamente - respondeu Luciano.

—Quer um preparo psicológico de verdade, moleque? - disse Abílio mostrando seus punhos fechados para o garoto.

—Já estou indo - disse Luciano. Sua ideia era simplesmente ir até a comida sendo servida e aproveitar uma brecha para colocar a pimenta. Infelizmente, seu plano teve um pequeno obstáculo.

—Ah, você gosta de pimenta? - perguntou Briana que, por acaso, estava por perto quando ele estava se preparando para apimentar a comida.

—Hã? O quê? - estranhou Luciano.

—Eu também gosto. Não daquelas muito fortes, sabe? Mas uma pimentinha de leve deixa gostoso. Meu pai sabe fazer um prato com arroz apimentado ótimo. Pena que hoje não deu tempo de preparar muita coisa porque acabamos de chegar, mas quando ele for se acostumando, nossa, vamos ter muita coisa gostosa aqui. Você precisa vir aqui mais vezes! - falava Briana, animadamente. Diante da tagarelice da garota, Luciano acabou até esquecendo do que estava fazendo.

—Já experimentou esse de molho de alho? É ótimo - disse Briana.

—Ah, t-tá bom - gaguejou ele.

Sem muita reação, Luciano acabou deixando a garotinha pegar seu frasco de pimenta e, no fim, estava apenas temperando sua salada com molho de alho. Logo, Luciano retornou com o prato.

—E aí? Deu certo? - perguntou Abílio.

—Não...a menininha me atrapalhou - disse Luciano, enquanto começava a comer.

—Você é um inútil mesmo! - reclamou Abílio - Será que vou precisar fazer tudo sozinho? Cadê a pimenta?

—Ah, a pimenta...ops.

—O que foi? - perguntou Abílio, já tendo uma ideia da resposta.

—Acho que deixei na bandeja de temperos sem querer - falou Luciano.

—Você só deixa tudo mais difícil - reclamou o pai - Deixa, vai. Deixa que eu faço isso.

Mas, quando foi a vez de Abílio se servir, Antenor saiu da cozinha, devidamente usando avental e touca, com mais um pouco de salada. Ao ver o vizinho, ficou claramente feliz.

—Opa. Vizinho! Então você é nosso primeiro cliente? - disse ele.

—Ah, sim, pois é, resolvi dar uma conferida no restaurante - falou Abílio.

—Fique à vontade - disse Antenor - É uma satisfação recebê-lo.

—Obrigado - disse Abílio. Assim que Antenor deu às costas, Abílio correu para a bandeja de temperos desejando pegar o frasco de pimenta. Porém, não o encontrou ali. Ao ver Anne, ele a chamou.

—Sim? - disse a garota.

—Escuta...vocês não tem...pimenta? - perguntou ele.

—Ah, sim. Como vocês são os únicos clientes e seu filho parece gostar de pimenta, a Briana levou o frasco para a mesa de vocês. Olha lá - disse ela, apontando para a mesa.

—Ah...que ótimo - falou Abílio, frustrado. Retornando à mesa, o pai não estava com uma cara nada boa.

—Não olha para mim, não - disse Luciano - A menina que se ofereceu em trazer a pimenta.

—Perdemos a oportunidade - reclamou Abílio - E agora? O que fazemos?

—O senhor eu não sei, mas eu vou comer - disse Luciano, dando a primeira garfada - Uau! Isso aqui tá ótimo!

Abílio não estava acreditando muito, mas, ao dar sua primeira garfada, também elogiou.

—Verdade. Está mesmo muito bom - disse ele, sem perceber que Carla estava gravando essa cena com seu celular.

—Nossos primeiros clientes amaram nossa comida! Se você mora em Vila Baunilha, venha também nos visitar. O restaurante Montecarlo estará de portas abertas! - disse a mãe, gravando um story de publicidade do restaurante para as redes sociais.

—O que foi isso? - perguntou Luciano.

—Gravei um story. Um vídeo curto mostrando como vocês gostaram da nossa comida. Achei que sairia mais espontâneo se gravasse sem vocês notarem - explicou Carla - Muito obrigada. Graças ao elogio sincero de vocês dois, isso vai alavancar e muito a publicidade do nosso restaurante!

Luciano e Abílio se entreolharam. Parece que o plano deles foi por água abaixo.

—Acho que...vamos ter que encontrar outro jeito de mandar esses caras embora - disse Abílio.

Luciano apenas mastigava. Nisso, Briana se aproximou dos dois clientes com uma bandeja com dois bolinhos de carne.

—Oi. Falei para o papai que vocês gostam de pimenta e, como brinde por serem nossos primeiros clientes, ele fez dois bolinhos de carne apimentados especialmente para vocês! Peguem!

—Obrigado - disseram os dois ao mesmo tempo. Ao morderem o bolinho e sentirem o excesso de pimenta, a cara vermelha do pai e do filho era evidente.

—Tá apimentado demais - reclamou Abílio.

—Acho que devíamos falar para ela que não gostamos tanto assim de pimenta - disse Luciano - Água, por favor, água. Tem água aí!

—Vai mudar o pedido? - perguntou Anne, que passava por ali trazendo os sucos - Os sucos já estão prontos. Água será cobrado à parte.

—Dá logo esse suco aqui - disse Luciano, tomando tudo em uma golada só.

—Nossa, você gosta mesmo de suco de laranja, heim? - disse Anne, sorrindo sarcasticamente e recebendo um olhar nada amigável de Luciano.

É, a inauguração de nossos amigos da família Montecarlo foi um sucesso, embora o plano de nossos amigos Abílio e Luciano não tenha tido o melhor resultado. Bem, nem sempre as coisas saem como queremos, não é verdade?


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Notas finais do capítulo

E a fofura da Briana salvou o dia. Huahuaha.

No próximo capítulo, as aulas das meninas começam e apresentaremos novos personagens.

Até lá! :)



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