Vila Baunilha escrita por Metal_Will


Capítulo 2
Concorrentes?


Notas iniciais do capítulo

Como eu disse, já tenho o segundo capítulo pronto. Boa leitura!



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Recapitulando. A família Montecarlo, formada por Antenor (pai), Carla (mãe), Anne (filha mais velha) e Briana (filha mais nova), acabou de chegar em Vila Baunilha, uma cidadezinha pequena (na verdade, muito pequena) do interior. Seus vizinhos, Abílio (pai) e Luciano (filho), resolveram dar as boas vindas aos novos vizinhos, ainda que a primeira impressão que Luciano e Anne tiveram um do outro não tenha sido das melhores.

—E então? - perguntou Abílio - Já sabem onde vão lanchar?

—Lanchar? - perguntou Antenor - Agora que você falou e com o cansaço da viagem, acho que não estamos no pique de cozinhar nada.

—Ótimo! Então vocês já tem um ponto: o Super Lanches! - Abílio apontou para sua casa, logo à frente. Na verdade, a casa de Abílio e Luciano ficava em cima da lanchonete.

—Ah, então vocês são donos de uma lanchonete? - perguntou Antenor.

—Eu sou o dono. Meu filho só dá uma mão de vez em quando - disse Abílio.

—De vez em quando? Eu sou praticamente um escravo - retrucou Luciano, apenas para levar disfarçadamente um soco no braço.

—Tenho certeza de que vão adorar meu lanche - disse Abílio, confiante.

—Oi, querido. O que está havendo aí? - perguntou Carla, a mãe, que voltava com Briana para buscar mais coisas no carro.

—Ah, amor - disse Antenor - Esse é nosso vizinho, Abílio, e o filho dele, o Luciano. Essa é a minha esposa, Carla.

—Prazer - disse Abílio.

—E aí? - disse Luciano, mas o olhar do pai o fez rapidamente cumprimentar de outro modo - Digo...boa tarde. Como vai?

—Eles estão nos convidando para comer na lanchonete deles - disse Antenor para Carla.

—Isso é ótimo - falou Carla - Estamos cansados para cozinhar. Acho que podemos lanchar hoje.

—Oba.Lanche! - disse Briana, animada.

—E essa é a minha filha mais nova, Briana - apresentou Antenor.

—Muito boa tarde, senhores vizinhos - disse a garotinha, com toda a simpatia.

—Boa tarde - disse Abílio - Muito educada sua filhinha.

—Bem mais do que a irmã… - comentou Luciano baixinho.

—Falou alguma coisa? - perguntou Anne, com uma cara nada amigável.

—Não disse nada. Para de ficar me encarando - reclamou Luciano.

—E você para de ser antipático com os vizinhos - disse Abílio.

Luciano apenas deu de ombros.

—E você, Anne? Dá para melhorar essa cara? - disse Carla para a filha.

—É a única que eu tenho - respondeu ela.

—Não dói ser mais simpática - disse a mãe.

—Sou simpática com quem merece - rebateu a filha.

—O que eu faço com você, heim, menina? - disse Carla - Desculpem. Ela ainda está meio estressada por se mudar tão de repente. Quinze anos, sabe como é...idade difícil.

—Que coincidência. O Luciano também tem quinze anos - disse Abílio - Vai começar o Ensino Médio esse ano.

—Sério? A Anne também - disse Carla - Será que eles estudam na mesma escola?

—Só tem uma escola nessa cidade, dona - disse Luciano.

—Mesmo? Viu só, Anne? Você já tem um amigo - disse Carla, animada.

—Mãe...fala sério - lamentou Anne.

—Não está feliz, Luciano? - perguntou Abílio.

—Ô - foi tudo que ele respondeu.

Anne e Luciano trocaram mais algumas fagulhas de hostilidade em seus olhares. Bem, isso não duraria muito.

—Bem, não vamos mais atrapalhar vocês. Espero todos na lanchonete mais tarde - disse Abílio.

—Até mais - falou Antenor, se despedindo.

Em poucas horas, toda a família estava na lanchonete Super Lanches. Anne, para variar, estava emburrada.

—Nem deu tempo de recarregar meu celular - reclamou ela - Se bem que a conexão dessa lugar deve ser péssima.

—Dá para esquecer um pouco dessa coisa? - rebateu Carla - Vamos aproveitar nossa primeira refeição em família na nossa nova cidade.

—É isso aí! Anime-se, filha. Estamos começando uma nova vida! - disse o pai.

—É! - disse Briana, animada.

Como eram os únicos clientes do local, não demorou muito para Luciano aparecer.

—Ah, então vocês vieram mesmo - disse ele, com uma cara não muito animada.

—Mas é claro, meu rapaz - disse Antenor - Pode nos trazer o cardápio?

—O quê? - perguntou Luciano.

—O catálogo onde vemos o que tem para comer - disse Anne, sem um pingo de paciência.

—Ah, isso? É só olhar ali em cima - disse Luciano, mostrando uma placa na parede com uma lista de opções de lanches escritas à mão.

—”Sanduíche de mortadela”, “sanduíche de presunto”, “sanduíche de queijo”, “sanduíche de salame”, “misto quente” e “hamburguer” - leu Anne - Só isso?

—Anne! - reclamou Carla - Agradeça por ter algo para comer!

—É, verdade. Com tanta gente passando fome por aí… - disse Luciano, com um sorriso sarcástico.

Anne rebateu o olhar de Luciano com uma expressão nada amigável.

—Tá. Que seja. Vou querer hamburguer - disse a garota.

—Eu também! - disse Briana, animada.

—Acho que vou com sanduíche de queijo - optou Carla - Que tipo de queijo vocês tem?

—Queijo caseiro feito com leite das fazendas vizinhas - explicou Luciano.

—Ótimo. Quanto mais natural, melhor - disse a mulher - Quero isso. E você, querido?

—Vou de sanduíche de salame mesmo - falou Antenor - E para beber? O que vocês têm?

—Quero Coca - disse a Briana.

—Para mim, um suco de laranja - pediu Anne.

—Bem, o suco nós temos, mas….refrigerante temos apenas tubaína das fábricas da cidade vizinha - disse Luciano.

Os Montecarlo se entreolharam.

—Pode ser - disse Carla - É bom experimentar coisas novas de vez em quando, não é, Briana?

—Sim! - concordou a garotinha.

—Pode trazer adoçante para o suco? - perguntou Anne.

—Só temos açúcar - Luciano respondeu secamente. Anne suspirou.

—Só açúcar?

—Você também pode tomar o suco sem açúcar, sabe? A laranja já é naturalmente doce. Acho que vai fazer bem para a sua silhueta - disse Luciano.

—Tá me chamando de gorda? - retrucou Anne.

—Não, senhorita. Apenas acho que...engordar é um risco - disse Luciano.

—Escuta aqui, seu...

—Anne! - a mãe interrompeu a filha imediatamente - Não vou admitir que trate mal alguém que está nos servindo com tanto carinho. Tome o suco sem açúcar mesmo. Vai te fazer bem.

—Tá. Que seja - reclamou a garota, não sem antes ver um olhar de satisfação de Luciano. Aquele garoto realmente a irritava.

Logo, a família toda estava lanchando. Os pedidos não demoraram muito para sair e, quando a família deu a primeira mordida, todos se entreolharam. Anne estava quase soltando uma lágrima.

—Isso tá ruim pra caramba! - disse ela, baixinho, para o pai.

—Não reclama, filha - disse Carla - Desperdiçar comida é pecado. Veja o exemplo da sua irmã. Ela está comendo tudo direitinho.

—Estou pensando nas criancinhas que não têm o que comer - disse Briana, embora fosse claro na cara dela o quanto aquele gosto era horrível.

Como se a situação não estivesse complicada o bastante, Abílio, o responsável pelos lanches, resolveu pedir a opinião de seus clientes.

—Ora, se não são nossos mais novos amigos? - disse ele - E então? Como estão os lanches?

—Bem...eu diria que são um pouco diferentes dos lanches que estamos acostumados a comer na cidade grande - explicou Antenor.

—Mesmo? É, imagino que nosso estilo de culinária é diferenciado - disse Abílio.

—Pois é. Mas queremos que vocês experimentem nosso estilo também - disse Antenor.

—Oh, mas é claro. Comeremos na casa de vocês quando quiserem - disse Abílio, praticamente se convidando.

—Na verdade, queremos que conheça o restaurante que pretendemos abrir por aqui em Vila Baunilha. Sou formado em gastronomia, então tenho várias ideias novas - disse Antenor, alegremente.

—R-Restaurante? - gaguejou Abílio.

—Sim, perto do centro da cidade - disse Antenor - Espero vê-los lá. É para isso que nos mudamos.

—É. Vamos começar a arrumar isso amanhã mesmo - disse Carla - E por falar nisso, olha só a hora. Ainda temos muita coisa para ajeitar, não é, amor?

Carla piscou para Antenor, esperando que ele entendesse o recado.

—Ah, sim, sim, é verdade - disse Antenor - Vamos nessa, meninas.

—Vamos! - Anne e Carla se levantaram juntas. Briana ainda estava terminando seu hamburguer. Com muitos goles de tubaína, ela conseguiu terminar.

—Sim, vamos. Agora sim. Anne, você não estava pensando nas criancinhas com fome? - perguntou Briana.

—Briana, nem criancinhas famintas merecem isso aí. Vamos logo! - disse Anne, baixinho para a irmã.

A família pagou a conta e logo Abílio ficou sozinho com seu filho, bastante pensativo, por sinal.

—Aquela menina é uma nojentinha mesmo - Luciano reclamou de Anne, enquanto varria o chão - Deixou quase metade do hambúrguer no prato. Devia ter cuspido no lanche dela. Merecia.

—Deixa de ser delinquente, moleque! - disse Abílio - Você ouviu o que eles disseram?

—O quê?

—Mas é muito devagar mesmo. Eles vieram para cá abrir um restaurante! - falou Abílio.

—E? - Luciano ainda não havia entendido.

—Pensa, pelo menos uma vez na vida! Eles vão ser nossos concorrentes!

—Na verdade, não. Só vendemos lanches. Eles vão ser concorrentes dos outros restaurantes da cidade. Além disso, eles falaram que vão ficar mais no centro, não? Nós ainda vamos manter nossa clientela da vizinhança.

—Você não entende. O cara é formado em gastronomia. A comida dele deve ser muito boa. Sejamos sinceros, nossos sanduíches não são a melhor coisa do mundo.

—Do que está falando, pai? - disse Luciano, enquanto mordia o resto de hambúrguer que Anne havia deixado sem muita cerimônia - Para mim é muito bom.

—Porque você é um porco - respondeu Abílio - Pense, moleque! Só sobrevivemos até agora porque a comida dos outros restaurantes também não era muito melhor que a nossa. Quando as pessoas começarem a provar a comida daquele cara, pode apostar que vamos cair no esquecimento. Vamos falir. Como se a crise desse país já não fosse o bastante.

—E o que podemos fazer? - perguntou Luciano.

—Eu não sei - disse Abílio, preocupado - Temos que dar um jeito de mandar esse pessoal de volta para a cidade grande. É nossa única saída.

Parece que os novos amigos da família Montecarlo não são tão amigos assim...


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Notas finais do capítulo

A partir do próximo capítulo, vamos conhecer mais habitantes da cidade. Até lá!



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