Vila Baunilha escrita por Metal_Will


Capítulo 17
Talheres e Toupeiras


Notas iniciais do capítulo

Estamos de volta. Boa leitura! ;)



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Enquanto Samanta lamentava seu fracasso como patricinha malvada, Ian finalmente levou sua amada Anne para o terraço da mansão do prefeito. Ainda não era o ponto mais alto da residência, mas permitia uma ótima visão da cidade. Talvez fosse mais bonito durante o dia, já que uma cidade pequena não proporcionava muita iluminação.

—Gostou? - perguntou Ian.

—Sim - respondeu Anne sorrindo - Não seria nada mal ter um terraço desses.

Enquanto Anne se aproximava mais do encosto da sacada, Ian pensava em como aproveitar a ocasião para gerar um clima de romance.

“Está tudo perfeito”, pensou ele. “Só preciso escolher as palavras certas!”

Ian se aproximou de Anne e, como quem não quer nada, comentou:

—É mesmo romântico, não acha? Essa sacada com esse lindo luar…

—Luar? - perguntou Anne.

—Sim. Não é maravilhoso? - disse Ian, praticamente falando de olhos fechados como se não precisasse ver para sentir a beleza do luar.

—Do que está falando? Hoje é noite de lua nova. Não dá para ver o luar - explicou Anne. Foi o suficiente para Ian abrir os olhos.

—O quê?! Não pode ser...eu...não contava com isso. Oh, por que não marquei o jantar em uma noite de lua cheia?! - lamentou Ian dramaticamente.

—Calma, não é tão grave assim…

—É...tem razão - disse Ian, voltando a olhar para Anne - Nosso amor é maior do que a lua e todas as estrelas juntas.

—Oi? - foi a reação de Anne.

—É um momento apropriado para selarmos nosso amor, não acha?

Ian fechou os olhos e os lábios dele se aproximavam do rosto de Anne, enquanto ela não sabia muito o que fazer além de expressar uma cara de desgosto. Nisso, Leopoldo, o mordomo, apareceu tocando um tipo de sineta e anunciando o jantar.

—Senhor Ian, senhorita Anne. O jantar está servido.

—Opa! Quem tá fome? Eu tô com fome! Bora comer? - disse Anne, quebrando totalmente o clima.

—O quê? Justamente agora? Lamento por esse momento que tanto ansiava foi interrompido - disse Ian.

“Pode apostar que não estava nada ansiosa”, pensou a garota, apertando o passo antes que Ian tentasse mais uma gracinha.

Enquanto isso, do lado de fora, Luís continuava com suas tentativas de entrar sorrateiramente na casa do prefeito. Em seu próximo plano, ele tinha alguns materiais de mineração. Vestindo um tipo de chapéu protetor com lanterna e com um tipo de aparelho escavador na mão, Luís agora arriscava uma entrada subterrânea.

—Plano C. Se não posso ir por cima, então só preciso ir por baixo - dizia ele, mais uma vez confiante - Sabia que essa máquina de escavação seria útil.

Ele carregava uma tipo de mapa que parecia representar o quintal da casa. De vez em quando, olhava para o mapa para orientar sua escavação.

—Não demorar muito para chegar no jardim. Daí é só tomar cuidado com o cão de guarda e desativar a energia. É. É isso aí! - dizia Luís, com toda a confiança do mundo.

Enquanto Luís cavava, a família do prefeito e suas convidadas jantavam. Briana estava encantada com aquela mesa enorme e com diferentes talheres próximos a cada prato: três garfos e três facas. Infelizmente, nem Anne e nem Briana tinha treinamento com uma etiqueta desse nível.

—Por que tantos garfos? - perguntou Briana.

—É um para cada tipo de comida - respondeu Anne.

—Ah...e qual é qual? - perguntou a irmã.

—Ora, qual é qual...qual é qual? - foi o que Anne disse. Ela também não sabia

“Ela não sabe como comer com diferentes talheres”, percebeu Samanta. “Talvez essa seja a minha chance de ser malvada com ela e constrangê-la de algum jeito”.

—Então você nunca comeu em um jantar refinado, Briana? - perguntou Samanta, tentando ser maldosa na voz.

—Não, nunca - respondeu Briana sorrindo.

“Não. Você tinha que ficar envergonhada e não ser fofa! A realidade está toda errada!”, pensou Samanta.

—Vocês sempre comem com tantos garfos e facas assim? - perguntou Briana.

—Não, apenas em ocasiões especiais como essa, querida - disse Vera, a primeira dama.

—Exato - concordou o prefeito - E, gostaria de aproveitar essa ocasião para mostrar a satisfação que eu, como prefeito, tenho diante das mais novas eleitoras, digo, moradoras da cidade.

O prefeito pigarreou, se levantou, pegou um copo e começou a falar.

—Nossa cidade sempre se orgulhou de ser hospitaleira e receber com todo o carinho aqueles que se aproximam de nós. Sim. Nasci e passei minha infância nessa cidade, então posso dizer o quanto isso é verdade. Por isso, gostaria de deixar essa palavra, nesse humilde jantar entre amigos, o quanto vocês são bem-vindas. Sim, amigas. As amigas de meus filhos também são amigas dos pais. Esse é o lema que defendo e levo…

E o discurso continuou. O prefeito parecia ter muito a falar sobre amizade, família, cultivo dos bons costumes e sobre muito do que isso tinha a ver com manter o bem-estar de uma cidade. Para as meninas que estavam mais interessadas em jantar do que em política, o discurso já estava demorando mais do que elas gostariam.

—Tô com fome - disse Briana disfarçadamente para Anne em tom baixo.

—Eu também, mas vamos ouvir até o fim - respondeu Anne também disfarçadamente.

Nesse meio tempo, Luís continuava a cavar quando, de repente, dá de cara com um outro tipo de animal.

—O que é isso? - perguntou ele, ao dar de cara com uma toupeira que estava debaixo da terra. O bichinho não parece ter gostado de ter seu descanso atrapalhado por um invasor sem boas intenções e, furiosa, morde o nariz dele - Ai! Ai! Solta! Solta! Por favooor!

Bem, pelo menos dessa vez não foi a Fifi. Mais um plano de Luís foi por água abaixo ou, no caso, por terra acima. Vocês entenderam. De volta à mesa de jantar, finalmente o prefeito terminou seu discurso e o jantar finalmente foi servido, começando pela salada. Sem saber muito bem como começar, Anne resolveu simplesmente esperar Ian comer e imitá-lo.

—Pode pegar, Ian - disse Anne.

—De forma alguma - disse ele - Jamais comeria antes de você, amada Anne. Por favor, sirva-se primeiro.

“Mas eu quero que você coma para te imitar”, pensou Anne.

—Não ligamos para isso, né, Briana? - disse a mocinha - Pode se servir.

—Nunca - insistiu Ian - Faço questão de só começar a comer quando você der sua primeira garfada.

“Por que esse idiota só complica a minha vida?”, pensou Anne.

—Bom, eu vou comer, então - disse Briana.

—Espera, Briana! - Anne tentou impedir, mas Briana já havia pegado um dos garfos.

—Que linda. Ela sabe até o garfo certo para a salada - disse Vera.

—Sei? - perguntou Briana.

—Saaabe! - concordou Anne - Claro que sabe. Temos toda a noção de etiqueta, não é?

—Se você tá dizendo - disse Briana, sem ligar muito.

“Tivemos sorte dessa vez”, pensou Anne, enquanto pegou a salada com os talheres que Briana usou. Logo todos estavam comendo. Pelo menos até a hora do prato principal, um belo pernil assado.

“Isso não é meio exagerado para um jantar simples?”, pensou Anne.

—Pode se servir, querida Anne - disse Ian.

“Ótimo. Acho que a Briana não vai ter a mesma sorte de novo”, pensou Anne, com um belo pedaço de carne em seu prato e sem ideia de qual dos garfos usar. Nisso, tudo ficou escuro de repente.

—O que aconteceu? - perguntou Vera.

—Acalmem-se - disse Leopoldo, o mordomo - Irei verificar a chave geral.

Anne aproveitou o momento de escuridão para usar o pouco de bateria de seu celular para pesquisar sobre talheres e etiqueta na internet debaixo da mesa, na esperança de que a queda de energia fosse apenas local e não tivesse afetado a distribuição de dados móveis nas proximidades de Vila Baunilha. Não foi o caso e assim ela descobriu como deveria proceder, meio que por cima, mas suficiente. Não demorou muito para a luz voltar.

—O que aconteceu? - perguntou Samanta.

—Foi apenas uma queda passageira - disse Leopoldo ao retornar - A vizinhança também ficou sem luz.

—Bom saber - disse o prefeito - Já passou do tempo de instalarmos um gerador, mas sempre deixo isso para depois.

“Ainda bem que acabou a luz”, pensou Anne, comendo a carne com o garfo correto. “Esse blecaute rápido me salvou de passar vergonha”.

Conveniente, não? Poderíamos até dizer que foi proposital, mas não foi. Afinal, a pessoa que pretendia causar um blecaute já havia desistido de fazer isso.

—Ai, ai - lamentou Luís, colocando curativos no nariz depois de finalmente ter se livrado da toupeira - Acho que não tem jeito. Não tem como entrar em uma casa tão bem preparada como a sua, Ian. Só me resta rezar para que esse encontro não tenha dado certo…

Mas aí ele se lembrou de outro detalhe.

—Rezar? Mas eu sou ateu! Droga!

Seja como for, o jantar na mansão do prefeito acabou acontecendo. Por volta das 22 horas, Antenor chegou para buscar as meninas.

—E então? Espero que elas tenham se comportado - disse Antenor, simpaticamente.

—Suas filhas são uns amores - disse Vera.

—Meu caro amigo. Faço questão de que suas filhas venham comer conosco outras vezes - disse o prefeito - É raro encontrar garotas que conheçam tão bem as regras da etiqueta.

—Conhecem? - estranhou Antenor.

—Olha a hora - disse Anne - Já está na hora da Briana ir para a cama, né? Vamos indo, pai.

—Bom, podemos ir… - confirmou o pai de Anne.

—Senhor Antenor - disse Ian - Quero que saiba que minhas intenções com sua filha são as melhores possíveis.

—T-Tenho certeza que sim - respondeu Antenor.

—Não dá corda, pai. Sério. Vambora - disse Anne, fazendo o possível para escapar dos olhares apaixonados de Ian o quanto antes.

—Tchau, senhor prefeito e dona Vera. Tchau, Ian. Tchau, Samanta - era Briana se despedindo de todos com um beijinho no rosto, inclusive Samanta.

“Na próxima você não me escapa, Briana”, pensou Samanta, ainda com raiva de si mesma pelo que aconteceu naquela noite. Bem, não dá para deixar todo mundo satisfeito.

—Bem, pelo menos posso chegar na minha casa e tomar um bom banho. Depois de uma noite dessas é o que eu mereço - disse Luís, quando finalmente chegou em sua casa e se preparava para ligar o chuveiro. Nisso, a energia elétrica acabou, para as lágrimas de Luís.

É. Realmente não dá para deixar todos satisfeitos.


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Notas finais do capítulo

E se você não ficou satisfeito com esse final de capítulo, calma que ainda tem muita coisa para rolar nessa cidade (minhas fics costumam ser longas, não se preocupe).

Vejamos o que vem por aí. Até mais! :)



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