Vila Baunilha escrita por Metal_Will


Capítulo 10
Ser melhor


Notas iniciais do capítulo

Boa tarde. Eu juro que tentei escrever durante a semana, mas não deu. Vida de adulto é horrível, mas...fazer o quê? Mas consegui manter a frequência semanal de capítulos.

Boa leitura! :)



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Luciano só tinha um trabalho: soltar um rato que seu pai havia especialmente preparado para espantar os clientes do restaurante da família Montecarlo. No entanto, apesar dessa missão simples, ele ainda não havia feito isso.

“Tá legal”, pensou o garoto. “É só soltar o rato e deixar o resto com o destino. É, é isso. Só preciso abrir essa caixa. Ninguém vai me impedir!”

Mas, no exato momento em que ele pretendia abrir a caixa com o roedor ali dentro, ouve uma voz conhecida.

—Luciano! - disse Briana logo atrás dele, com sua voz animada de sempre – Veio almoçar?

—Ah, é você? - falou Luciano, tentando disfarçar suas intenções o melhor que podia – O que está fazendo aqui?

—Como minha família inteira trabalha aqui, é onde passo as tardes para não ficar sozinha em casa – disse Briana, com toda a simpatia e fofura que uma garota de 12 anos conseguia transmitir.

“Sério? Eu adoraria ficar sozinho em casa sem meu pai me enchendo”, pensou Luciano.

—E você? O que está fazendo por aqui? - perguntou Briana.

—Só estava de passagem – disse ele.

—E que caixa é essa? - perguntou a garota.

—É só uma encomenda que preciso entregar para um cliente – explicou Luciano.

—É um lanche? - perguntou ela – Não sabia que vocês faziam delivery.

—É. Isso mesmo – disse Luciano – Vamos começar a investir em serviços de delivery.

Infelizmente, a caixa se mexeu assim que ele disse isso.

—O que foi isso? - perguntou Briana.

—Isso o quê? - perguntou Luciano, se fazendo de desentendido.

—A caixa se mexeu – reparou a menina – Olha, de novo!

—Ah, isso? Impressão sua. Fui eu quem sacudiu a caixa, olha – disse ele, sacudindo a caixa novamente.

—Mas está sacudindo muito forte. Desse jeito a comida vai se espalhar – disse Briana preocupada.

—Nããão. Imagina – falou Luciano, com um sorriso amarelo no rosto – Está bem embalada. Posso sacudir o quanto quiser que não espalha. Por isso nosso serviço é diferenciado.

—Puxa. Vocês são mesmo incríveis – falou Briana – Bom, não vou te atrapalhar mais. Boa entrega.

—Obrigado – disse Luciano, ainda disfarçando.

Depois que Briana entrou, Luciano finalmente correu para um canto do lado de fora do restaurante, onde finalmente poderia ficar de fora dos olhares curiosos.

“Será que agora eu consigo soltar esse bicho?”, pensou ele, olhando para os lados. Vendo que não havia ninguém por perto, ele enfim abre a caixa e deixa o rato sair. Era um rato bem pequeno, mas suficiente para causar um belo escândalo.

—Bem, era isso – disse Luciano – Agora é deixar por conta do destino.

E Luciano estava prestes a sair de cena, quando percebeu que o rato não estava indo na direção do restaurante, mas sim o seguindo.

—Mais essa agora – reclamou ele – Ei, é pra lá que você tem que ir. Pra lá!

Mesmo apontando na direção do restaurante, o ratinho não estava muito a fim de obedecer. Luciano tentou espantá-lo com o pé, mas ele não queria mesmo ir para o outro lado.

—Bom, meu trabalho era só te soltar aqui. Se você vai ou não entrar no restaurante não é problema meu – pensou Luciano – Mas...se você me seguir até em casa, o meu pai vai me encher o saco. O que eu faço?

Felizmente, para Luciano, não demorou muito para o rato sentir o cheiro da comida e se interessar em ir na direção do restaurante. Parece que o plano havia dado certo, afinal. Naquela mesma hora, o professor Otávio, que estava almoçando no restaurante, estava no meio de seu almoço.

—Vai beber alguma coisa, professor? - perguntou Anne.

—Água – disse ele.

—Copo ou garrafa? - perguntou Anne.

—Copo, claro – disse ele – Você acha que vou tomar uma garrafa de água inteira no almoço? É só para ajudar a comida a descer.

Anne apenas suspirou.

—Certo. Água. Com gás ou sem gás? - perguntou ela.

—Claro que é sem gás, menina – disse Otávio – Se quisesse tomar alguma coisa com gás eu pediria refrigerante.

—É que alguns clientes preferem água com gás para evitar o açúcar – explicou a garota.

—Detesto água com gás. Ou tomo água sem gás, ou tomo refrigerante. Esse meio termo aí que vocês chamam de água com gás é uma porcaria – reclamou o professor.

—Nem todos possuem o mesmo gosto, professor – disse Anne pacientemente.

—A culpa não é minha se as pessoas possuem mal gosto – insistia Otávio.

—Eu já volto com a sua água – disse Anne, saindo simpaticamente, mas fazendo uma cara de “o que fiz para merecer isso?” assim que deu as costas.

Enquanto Otávio continuava seu almoço, nosso amigo roedor já havia entrado no restaurante, mas, por incrível que pareça, ninguém reparou. Em poucos instantes, o ratinho já estava embaixo da mesa do professor e começou a subir pelas pernas dele.

—Ei, o que é isso? - o professor começou a agir estranhamente e se levantou. Nessa hora, Anne estava chegando com o copo de água.

—Algum problema, professor? - perguntou ela.

—Tem alguma coisa na minha calça – disse ele – Alguma coisa...viva.

—Viva? - repetiu Anne, com uma cara de nojo. Temendo por algum escândalo, Anne puxou rapidamente o professor pelo braço.

—Isso não sai – reclamava Otávio.

—Vem comigo, professor – disse a garota, insistindo para o professor sair do local. Quando já estavam ali fora, o professor sacudiu as pernas e, enfim, saiu o ratinho atordoado.

—Um rato?! - gritou o professor, pasmo -Tem ratos no seu restaurante? Vou chamar a vigilância sanitária agora mesmo!

—Não! Por favor, professor. Não faz isso, não – disse ela – Tenho certeza de que deve ter uma explicação para isso.

—Você tem ideia do problema que isso é para um restaurante? - perguntou Otávio.

—Mas o meu pai tinha garantido todos os detalhes de vigilância e saúde antes de abrir o restaurante com o rapaz que tomava conta daqui – disse ela – E pelo que ouvi falar, aqui sempre foi uma região bem limpinha. Por favor, professor. Deve ter algum engano nisso.

—Que engano? Vai dizer que alguém soltou um rato aqui para sabotar seu restaurante? - perguntou ele.

—Talvez … - disse Anne, lembrando que viu Luciano agindo suspeitamente pouco tempo atrás – Talvez?

—O que foi? - perguntou o professor.

—Olha, professor. Vamos fazer o seguinte. Hoje o seu almoço fica por minha conta, tá bom? Só não conta para ninguém. A vigilância sanitária está em dia, pode confiar no meu pai – disse Anne, implorando com os olhos.

Professor Otávio, apesar de rabugento, conseguia ver sinceridade nos olhos dos outros. Apesar de sua clara insatisfação, ele resolveu dar um voto de confiança para a menina.

—Tudo bem, garota – disse o professor – Vou tentar acreditar em você.

—Obrigada – agradeceu Anne, quase chorando. Ela deu o dinheiro do almoço para o professor e pediu que ele não comentasse nada com os pais dela. A mãe de Anne até achou estranho a hora em que ele saiu.

—O seu professor está bem? Ele saiu no meio do almoço – estranhou Carla.

—Ah, sabe como é, né? Ele já tá meio velhinho, então tem umas indisposições de vez em quando – disse a garota, disfarçando o quanto podia. Ela tinha uma suspeita, mas não tinha provas de quem tinha soltado aquele rato ali.

No final do expediente, Anne pediu aos pais para voltar mais cedo para casa, dando a desculpa de que tinha um dever para terminar. Na verdade, seu plano era encontrar Luciano. Naquela hora, a lanchonete já devia estar aberta.

—Então você está aí, não é? - perguntou Anne, chegando na porta da lanchonete vazia de Abílio.

—Oi, vizinha – disse Abílio – Vai querer um lanche ou algo assim?

—Não. Só como algo daqui de novo quando estiver morrendo de fome – falou Anne – Escuta, Luciano! Você tem alguma coisa a ver com aquilo que aconteceu no restaurante hoje?

—E – eu? - gaguejou ele – Do que você tá falando?

—Eu te vi andando com uma caixa lá por perto hoje. Por acaso, não teria um rato naquela caixa, teria? - perguntou a garota.

—Espere – disse Abílio – Apareceram ratos no restaurante de vocês? Isso é grave. E péssimo. Vocês vão ter que fechar o estabelecimento? Mas vocês mal acabaram de chegar e…

—Não vamos fechar nada – interrompeu Anne – Graças a Deus, consegui perceber o problema antes que alguém visse. Só sei de uma coisa. Meu pai é a pessoa mais honesta e íntegra que conheço. Se ele disse que a higiene do restaurante estava em dia é porque estava mesmo. A única explicação é alguém ter soltado aquele rato ali de propósito!

Anne falou tudo isso olhando fixamente para Luciano que, por sua vez, finalmente resolveu retrucar.

—E você tá achando que fui eu? - perguntou ele.

—Você precisa concordar que é muito suspeito, não? - rebateu a garota.

—E você tem provas? - disse Luciano – Tem alguma prova concreta de que fui eu?

Anne suspirou fundo e tentou engolir sua raiva.

—Não. Não tenho.

—Então, pronto – disse Luciano – Acusar uma pessoa sem provas é muito feio. Eu apenas fui entregar uma encomenda em nome da lanchonete. Só isso. Sua antipatia por mim está começando a ficar doentia.

—A minha antipatia? Olha aqui, não vou muito com a sua cara e eu sei que você não vai com a minha, mas se você realmente chegou ao ponto de sabotar o trabalho da minha família. Desculpa, você é um lixo de pessoa. Lixo, lixo, lixo!

—Cala a boca! Eu não fiz nada! - respondeu Luciano.

—Escuta aqui, menina – disse Abílio – Vai mesmo ficar aqui ofendendo o meu filho?

—Não, não quero ofender ninguém – respondeu Anne – Mas vou ficar de olho em você, Luciano. Se você queria uma inimiga, acabou de achar uma.

Ela deu as costas e saiu. Logo depois disso, Abílio se virou furioso para Luciano.

—Você ouviu o que ela falou, não ouviu? - disse ele.

—Ouvi. Ela se declarou minha inimiga. Grande coisa. Não gosto dela mesmo.

— Não estou falando disso. Que se dane a sua amizade com a menina. Estou falando do rato! Por que você não garantiu que vissem o bicho?! - reclamou Abílio, dando mais um belo cascudo em Luciano – Você não consegue fazer nada direito, Luciano?

—Eu só soltei o rato lá como você mandou. Não posso controlar tudo que acontece – disse o rapaz.

—Que seja. Vamos ter que pensar em alguma outra coisa – reclamava Abílio.

—Por que...por que não tentamos melhorar o nosso negócio em vez de atrapalhar o negócio deles? - indagou Luciano – É mais seguro, não acha?

—Melhorar nosso negócio, Luciano? - perguntou Abílio – Nós dois sabemos que nossos lanches são horríveis. Se ao menos você aprendesse a cozinhar melhor.

—Bem, os Montecarlo só servem almoço, mas nós trabalhamos à noite. Podemos nos aproveitar disso – falou Luciano.

—Do que você tá falando? - perguntou Abílio.

—Essa era a ideia que eu estava querendo te contar, pai – explicou Luciano, pegando um violão velho que estava atrás do balcão – Vamos investir em uma lanchonete com entretenimento. Você sabe que sempre curti tirar um som de violão, não sabe?

—Sua música é horrível – disse Abílio, não sem antes dar outro cascudo em Luciano.

—Mas...posso ensaiar – falou o filho, massageando a cabeça após o peteleco que levou.

—Ensaiar...duvido que você consiga alguma coisa. Você tem esse violão desde os 12 anos e nunca melhorou – reclamou Abílio.

—O senhor vai ver. Vou ensaiar bem e atrair bem mais clientes para nossa lanchonete. Não é toda lanchonete que tem shows ao vivo! Ainda mais aqui nessa cidadezinha – disse Luciano, confiante.

—Que seja. Agora volte ao trabalho. Ainda tem muito sanduíche para fazer – falou Abílio, sem a menor esperança no filho.

“É. Vou mostrar que podemos melhorar”, pensou Luciano. “Além disso, detesto admitir, mas me senti meio mal pela família da Anne. Vou mostrar para aquela garota que não sou o lixo que ela pensa!”

Será que ele vai conseguir?


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Notas finais do capítulo

Só para constar, também odeio água com gás. A menos que tenha sabor (o que considero mais refrigerante do que água com gás), dispenso totalmente. Por mim, podem banir essa coisa. XD

Minha intenção era ser mais cômico, mas o final do capítulo acabou ficando meio sério, né? Bem, vejamos como a relação entre Anne e Luciano vai continuar no decorrer dos capítulos. E, sim, Abílio é um lixo de pai.

Espero que continue acompanhando. Até mais! :)



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