Vila Baunilha escrita por Metal_Will


Capítulo 1
Bem-vindos à Vila Baunilha


Notas iniciais do capítulo

Estou de volta ao Nyah!

Fiquei um bom tempo longe deste site. Estava pensando em alguns roteiros mais complexos, mas a real é que eu não estou com muito tempo de pensar em histórias assim (ser adulto é um saco!)

Embora eu seja adulto, não tenho vida social, então posso usar o tempo que seria destinado a interagir com outras pessoas para escrever alguma fic mais simples. Por isso, resolvi investir em mais uma comédia. Mas dessa vez sem aliens ou lutas. Resolvi voltar ao humor simples no estilo "This Is My Gang!" (minha fic mais longa e, aparentemente, mais querida do site).

Será que tem futuro? Só o tempo dirá.

Antes de começar, a pergunta que não quer calar: por que Vila Baunilha?

Bem, estava pensando em um nome non-sense o bastante para chamar a atenção. Mas a verdade é que "baunilha" em inglês é "vanilla", isso me fez lembrar de "villa" e aí achei que soaria fofinho.

AH, quem se importa? Boa leitura! :)





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—A gente já chegou? - perguntou Briana, uma garotinha claramente simpática, sem esconder seu entusiasmo.

—Estamos quase chegando, filhota - disse o pai dela, Antenor, cujo entusiasmo também não era muito diferente da filha.

—Você já perguntou isso umas dez vezes, Briana - disse Anne, a irmã de Briana, com um entusiasmo que estava bem diferente da irmã e do pai.

—Mas você não tá ansiosa? - perguntou Briana - Puxa! Vamos viver em uma cidade totalmente nova! Eu tô muito curiosa para saber como vai ser! Quer dizer, tô um pouquinho chateada por ter que deixar os amigos que eu tinha, mas estou feliz porque vou ter amigos novos!

—É assim que se fala, filha - disse Carla, a mãe, olhando para as meninas no banco de trás e abaixando os óculos escuros - Você devia aprender mais com sua irmã, Anne.

—Tá bom - resmungou Anne, voltando a olhar para a janela do carro - A real é que estamos mudando para um fim de mundo, isso sim!

—Não é tão fim de mundo assim - disse o pai - Eles já tem até Internet.

—”Já tem”? - repetiu Anne, em tom sarcástico - Puxa, que consolo.

O que temos diante de nós é uma família extremamente comum. Antenor, um tiozão, magro, sem barba e sempre com óculos no rosto, entrando em seus quarenta anos, e Carla, uma mulher loira da mesma idade do marido, ainda que sua aparência pareça mais jovem, são casados há uns dezoito anos e tiveram duas filhas: Anne, a mais velha, com quinze anos e Briana, a caçula, com seus dez anos. As duas não são muito diferentes fisicamente - pele clara, cabelos lisos, olhos castanhos, mas são bem diferentes em personalidade. A mãe de Antenor, dona Gilda, faleceu há poucos meses. Sendo o único herdeiro, Antenor herdou os bens da família e isso incluía um imóvel na terra natal de seus pais, uma cidadezinha (bem cidadezinha) chamada Vila Baunilha, bem no interior do estado de São Paulo. Não, não está no mapa. Também não adianta procurar no Google Maps, espertinho - o Brasil deles não está no mesmo universo do seu Brasil (embora os problemas sejam os mesmos). Antenor aproveitou essa herança para investir em um novo empreendimento. Ele planejava aproveitar seu curso de gastronomia para fundar um restaurante na cidade. Conseguiu adiantar boa parte da papelada via internet com o prefeito e só estava esperando virar o ano para se mudar com sua família para seu novo lar. Sim, a família Montecarlo aumentaria a população de Vila Baunilha em mais quatro pessoas. É, não mudaria muito o quadro de 557 habitantes do município.

—Olha lá, já estamos chegando - comentou Briana.

—Como você sabe? - perguntou Anne.

—Acabei de ver um carro com a placa de Vila Baunilha - disse a menininha, sorrindo.

—Ah, é. Você estava olhando as placas para se distrair, né? - falou a adolescente - Puxa, mas Vila Baunilha? Ô nomezinho!

—Mas esse nome tem uma explicação! - disse Antenor, sem tirar os olhos da estrada, mas empolgado.

—Ah, não. De novo, não - lamentou Anne, que já tinha escutado essa história várias vezes.

—É uma questão de história - disse o pai - Tudo começou décadas atrás quando o fundador da cidade, Inácio Fontes, abriu uma fábrica de sorvete na região. O negócio deu tão certo que o fundador conseguiu fundos o suficiente para entrar com um processo para fundar um município novo. Ele só estava em dúvida sobre o nome da cidade, mas um dia, enquanto estava em seu escritório pensando em um nome, ele recebeu uma ligação perguntando se já tinha recebido o novo carregamento de essência de baunilha. Na mesma hora ele teve um insight e decidiu o nome. Nascia, assim, Vila Baunilha!

O entusiasmo do pai dela só contagiou Briana.

—Que lindo! - comentou a garotinha.

—Tá zuando, né? - reclamou Anne - Essa é uma das histórias mais ridículas que já escutei na vida.

—Mais respeito com as tradições, Anne - reclamou a mãe - A partir desse ano você será uma cidadã baunilhense. É importante conhecer as raízes de onde você irá morar.

—Nem me lembre - disse a garota - Tem ideia de como me zuaram quando falei que iria me mudar para uma lugar chamado “Vila Baunilha”?

—Não precisa ligar para o que os outros pensam - falou Carla - Você precisa construir sua própria identidade e não se deixar levar por esses padrões que a sociedade exige.

Carla era formada em psicologia, então sempre vinha com essas orientações.

—Que seja - suspirou Anne, já percebendo que não teria muita escolha a não ser se acostumar com seu novo lar. Embora fosse bonita, Anne nunca foi do tipo muito popular, já que sua personalidade levemente rabugenta que dificultava a aproximação das pessoas. Mesmo assim, ela tinha um grupo de amigos com quem se dava bem. Tinha, já que sua mudança repentina a forçou mudar de cidade. Precisava se adaptar a uma cidade nova, escola nova e conviver com pessoas novas. Ela sabia como é difícil se acostumar a um ambiente novo e inusitado, ainda mais um local tão diferente de onde vivia. Mudar de uma cidade grande para outra é até fácil, mas mudar de uma cidade grande para uma cidade tão pequena (e com um nome tão estranho) é bem mais difícil.

Seja como for, ela não tinha muita escolha, tinha? Não demorou muito para a família Montecarlo chegar em sua casa nova. Lá estava eles.

—Uau! Que linda! - disse Briana, olhando para uma casa simples, mas com arquitetura antiga e tradicional.

—Não, querida - corrigiu o pai, apontando para uma casa bem menos atraente e com uma garagem nada limpa - Nossa casa é aquela ali.

—Vamos ter que fazer uma faxina, né? - comentou Anne.

—Como estávamos vindo para cá, dispensei o caseiro, então ela ficou uns dias meio abandonada - disse Antenor.

—Mesmo assim, também achei bonita - falou Briana - Vai ficar ainda mais linda depois de arrumarmos tudo.

Briana era uma garota que não reclamava de nada e sempre tentava ver as coisas de um lado positivo. Sua irmã Anne, por outro lado, dificilmente poderia ser chamada de positiva.

—Isso vai dar um trabalhão...e eu achando que poderia descansar um pouco depois da viagem…

A reclamação de Anne não demorou muito, pois logo sua mãe já tratou de entregar duas malas para ela.

—Que tal fechar a matraca e ajudar a descarregar as malas, heim? - disse ela - Tem muita coisa para fazer ainda!

—Posso respirar um pouco, pelo menos? - disse a adolescente.

—Se está viva, então já está respirando. Vamos, Anne! Quanto mais você enrolar, mais vai demorar!

—Mal posso esperar - disse Antenor, animado - Hora de começar uma vida nova!

Enquanto os Montecarlo descarregavam a bagagem, um par de olhos curiosos do outro lado da rua, bem na frente da casa de nossos recém-chegados, observava toda a movimentação. Um homem gordo, de óculos e barba mal feita acompanhava tudo bastante interessado. Um rapaz de cabelos até os ombros, com bermuda e camiseta regata, passou por ali enquanto tomava um copo de água.

—O que foi, pai? O cachorro da vizinha fez cocô na nossa calçada de novo? - perguntou o garoto.

—Não é isso - respondeu o pai - Parece que...alguém se mudou para a casa da frente.

—Não era a casa da dona Gilda? - perguntou o rapaz. Gilda era o nome da mãe de Antenor.

—Sim, isso mesmo - confirmou o homem - Ouvi falar que logo, logo chegaria um pessoa ali.

—Que ótimo. Mais vizinhos para encher o saco - reclamou o garoto.

—Do que está falando? Isso é ótimo. Teremos mais clientes para a nossa lanchonete - disse o pai.

—Ah, é. Pensando por esse lado…

—Esse é o seu problema, moleque. Você não pensa mais à frente. Desse jeito nunca vai ser um empreendedor como o seu pai.

—Empreendedor? Só temos uma lanchonetezinha em uma cidade minúscula. Até Rosas da Aliança aqui perto é mais movimentado que isso aqui - retrucou o garoto, apenas para receber um cascudo do pai sem nenhuma cerimônia.

—Mais respeito com os negócios da família! Se sua mãe, que Deus a tenha, estivesse aqui, não gostaria nada de te ouvir falando assim! - rebateu o pai.

—Foi mal… - respondeu o filho, sem muita sinceridade na voz.

Essas duas figuras trabalhavam em uma lanchonete local. O pai se chamava Abílio e o filho se chamava Luciano. A relação deles era meio perturbada, mas...digamos que, no fundo, bem no fundo, eles gostavam um do outro.

—Já sei - disse Abílio - Vou até lá agora mesmo para me apresentar como vizinho. Assim aproveito e já faço propaganda da nossa lanchonete.

—Boa sorte - falou Luciano, se espreguiçando.

—Você vem também, moleque! - bronqueou Abílio - Ganhamos mais credibilidade se mostrarmos que somos família.

—Família, é? Tá bom - foi tudo que Luciano respondeu, sem muito ânimo.

Enquanto isso, nossos amigos Montecarlo continuavam retirando as malas. Anne tentava tirar uma delas, mas estava sentindo uma certa dificuldade.

—Ai, que droga! - disse ela.

—O que foi, filha? - perguntou Antenor.

—Não consigo tirar essa mala daqui. Tá pesada pra caramba. O que tem aí? - perguntou a garota.

—Ah, são umas peças e ferramentas que trouxe - explicou Antenor - Calma aí. Eu já tiro.

Ele teve que fazer um pouco mais de esforço para tirar. O problema é que o esforço dele meio que o forçou a jogar os braços para trás com mala e tudo. Só que, justamente nessa hora, Abílio estava se aproximando do carro.

—Ai, isso deve ter doído - comentou Luciano, segurando a risada.

—Minha nossa! Desculpe, desculpe mesmo! O senhor está bem? - perguntou Antenor, claramente constrangido.

—N-Não se preocupe - falou Abílio, disfarçando ao máximo a dor que sentiu com a pancada - Você são os novos vizinhos? É um prazer conhecê-los. Meu nome é Abílio, moro na casa da frente.

—Prazer - disse Antenor, oferecendo sua mão - Essa é a minha filha, Anne.

Anne acenou sem muita animação com a mão direita.

—É muito bonita - disse Abílio - Ah, também tenho um filho, o Luciano.

Luciano estava apenas olhando para o nada, enquanto o pai falava. Foi preciso que o pai dele desse disfarçadamente um leve soco em seu braço para que ele interagisse.

—Ah, e aí? - foi tudo o que ele perguntou. Anne apenas acenou com a cabeça.

—Desculpe. Estamos chegando de viagem agora - sorriu Antenor - Estamos meio perdidos ainda.

—Não se preocupe. Podem contar com nossa ajuda no que for - disse Abílio - Conhecemos Vila Baunilha como a palma da nossa mão.

—Mesmo porque em menos de duas horas de caminhada já daria para conhecer a cidade inteira - comentou Luciano.

—Que tal deixar de ser um preguiçoso e se mostrar prestativo para os novos vizinhos? - reclamou Abílio - Vai deixar mesmo a menina carregar esse peso?

—Não, relaxa. Eu consigo sozinha - disse Anne, mas Luciano já estava pegando a mala da mão dela - Dá para soltar? Já falei que consigo sozinha!

—Deixa de ser ingrata. Estou tentando ser gentil - reclamou Luciano.

—Mas eu já falei que não precisa! - Anne puxava, puxava e, por fim, acabou puxando demais, o bastante para bater na cabeça de Antenor.

—Ai! - reclamou ele.

—D-desculpa, pai - disse Anne.

—T-Tudo bem - gaguejou Antenor - Pelo menos essa mala aí é só roupa.

Anne olhou para Luciano com uma cara nada simpática.

—Como estava dizendo...deixa que eu levo - retrucou Anne.

—Já que faz tanta questão, pode levar...mal agradecida - disse Luciano, embora essa última parte ele tenha dito baixinho. Os olhares que os dois cruzavam pareciam soltar alguns raios.

—Olha só. Eles já estão se dando bem, heim? - falou Abílio.

—É mesmo? - comentou Antenor, ajeitando seus óculos.

É, parece que a chegada dos Montecarlo em Vila Baunilha já começou cheia de emoções.


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Notas finais do capítulo

"Até Rosas da Aliança aqui perto é mais movimentado que isso aqui". Essa só quem leu Suave Sedução, outra fic minha, vai entender (mas não recomendo lê-la se ainda for menor de idade).

Não dá para avaliar muito só com um primeiro capítulo desses, não é? Não tem problema. Escrevi os dois primeiros capítulos, então você já pode ler o próximo.

Vamos nessa!