Le son de l'Amour escrita por Lux Noctis


Capítulo 1
O que toca o coração




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Era o som, aquele que se propagava naquele recinto, invadindo seus tímpanos, e ao que tudo indicava, seu coração. Que agora parecia bater de acordo com o ritmo imposto pelas notas daquele piano. A cada tecla que era tocada por aqueles dedos esguios e pálidos, ao menos naquela meia luz, fazia com que Kiba mergulhasse na sensação que a melodia lhe impunha. Era angústia, era dor e tantas outras sensações que sequer conseguia agora descrevê-las.

Apenas observar, era tudo o que lhe cabia. Assim como os demais naquele recinto, embasbacado com a perfeita sintonia, com os movimentos rápidos e suaves, ao mesmo tempo que por vezes parecia que o pianista impelia mais força ao toque, quase violento. Como se colocasse mais que paixão ao que fazia, como se fosse uma relação de amor e ódio. Cabia apreciar aquele show, abraçado à bandeja que usava para servir as mesas, daqueles que obviamente pagaram pelo show. Naquele momento Kiba era apenas um sortudo freelancer, no horário e lugar certos!

A cada batida daqueles dedos longos e brancos, nas teclas em igual tonalidade, vista daquele ângulo… fazia o coração de Kiba mudar o ritmo, conforme o que lhe era ditado. Quando foi que se sentira assim com algo que para ele era tão “banal”, como a música?! Ainda mais aquela música, onde sequer haviam letras para entoar, ou para fazê-lo pensar no que o cantor estava pensando ao escrevê-las. Era a simples melodia, o bater de dedos nas teclas brancas e pretas, o desespero encontrando forma de sair e berrar em meio ao silêncio de vozes. Era o som da agonia de quem buscava desesperadamente ter voz.

Ali, Kiba era um pecador contrito, que buscava em meio às notas, sua redenção à algo que nem fazia ideia.

—  Inuzuka! —  a voz ríspida lhe atingiu nos tímpanos, quase ressoando tanto quando as notas mais altas que agora eram tocadas por aquele homem ao piano. —  A mesa 14 precisa de sua atenção, se você não se importar, é pra isso que é pago!

Doce como um jiló, seu empregador lhe chamou a atenção, e pelo tom, havia perdido alguns bons segundos chamando-o, talvez minutos, vai saber. Abraçou ainda mais a bandeja, permitindo que o corpo bailasse tímido, ainda discreto como se temesse por desaprovação do dono do estabelecimento, dos fregueses… Serviu a mesa 14, como havia sido solicitado, serviu as demais mesas que necessitavam sua atenção, mas sem desligar-se por completo das melodias tocadas com tanto amor… e ódio, pelo pianista. Era divino, no mínimo divino!

Houve uma pausa, pequena, tempo suficiente para que lhe fosse entregue uma garrafa de água fechada, um copo sem gelo. Uma nova bandeja com toalhas de mão. Kiba soube que deveria levá-la ao homem que havia cativado sua atenção, sem nem ao menos ter conseguido ver seu rosto, bem, não vira nada além de suas mãos, e não presenciou “nada”, que não puro talento.

Aproximou-se querendo pigarrear para chamar a atenção para si, mas guardou que ele virasse, ao menos. Notou que ele apenas estendeu a destra, indicando o pequeno e quase imperceptível banco de madeira ao seu lado, redondo e baixo. A bandeja sobraria um pouco na circunferência, mas nada que o impedisse de deixá-la ali. Era só ninguém esbarrar, e isso incluía ele mesmo. Merda! Deveria tomar o dobro de cuidado, mas queria tanto que aquele homem se virasse, que o mirasse nos olhos e que então se quebrasse o fascínio que estava sentindo, pelo talento nato.

Respirou fundo, deixando a bandeja onde fora indicado em completo silêncio.

—  Obrigado.

Ouviu e não conteve o sorriso fácil, educadamente meneando a cabeça, como se pudesse ser visto. Oras, o homem estava de costas, sequer sabia quem havia levado água.

—  Apreciando a música?

Ou… será que havia notado-o? Não! Apenas pergunta de “rotina”, querendo averiguar se estava do agrado de todos os ali presentes, certeza. Era isso, e Kiba convenceu-se, era a coisa mais lógica.

—  Acho que conseguiu agradar todo mundo aqui.

—  Não foi o que perguntei.

Kiba notava o tom de voz, firme como se nada abalasse aquele homem. Gostou do tom, riu ainda fascinado. Era tolo se encantar por quem sequer havia visto o rosto? Não era mais tão moleque assim, claro, 19 anos ainda o fazia parecer um pivete às vezes, mas paixonites por talento e voz alheia? Qual é!

—  Não é meu estilo, mas… —  falaria o quê? Que definitivamente havia cativado ele? Que estava encantado como não se sentia com música? —  É muito bonito o que você toca. Parece que toca exatamente o que meu coração bate. — Honesto, sempre tão verdadeiro com suas palavras, não notou o mover sutil dos ombros do pianista, aquilo era um riso muito muito discreto, jamais teria notado, ainda mais com pouca luz.

Kiba queria ter ficado mais, mas ao olhar de soslaio, notou que o empregador o chamava, indicando outros afazeres. O dever chamava, era longe do glamour que queria, mas ao menos era honesto e conseguia pagar o aluguel sem precisar recorrer à Hana, sua irmã.

Não viu o homem vira-se para vê-lo sair. Não o viu pegar a água e destampa-la, para então deixar uma quantidade pouco acima da metade no copo. Não viu parte do rosto que ficou contra a luz, mas dali ele, o pianista, conseguia continuar apreciando aquele garçom atender à todos com um sorriso tão encantador, os dentes afiados, como presas. Havia notado antes ele abraçado à bandeja, bailando o corpo de modo suave, quase como se flutuasse no ritmo da música. Era gracioso, precioso.

Shino tocava como forma de expressar tudo aquilo que era contido demais para externar. Tocava porque era sua alegria, envolvia-o como nada mais parecia ser capaz de fazer. E ver alguém, tão entregue e na mesma sintonia fez com que o “amargurado” pianista sorrisse em companhia àquele garoto tão feliz.

“Parece que toca exatamente o que meu coração bate.” As palavras propagavam-se em sua mente, enquanto tomava um bom gole de sua água, depositando o copo de volta à bandeja, umedecendo os lábios, não estalando os dedos, mas alongando-os, aferindo sua flexibilidade para as notas que alcançaria na próxima melodia. Queria embalar de novo aquele rapaz, queria vê-lo entregue à música, mesmo não sendo seu ritmo favorito. Shino queria mais uma vez vislumbrar o encanto.

Nota após nota, tocava concentrando-se, como sempre fazia. Entregando-se numa intensidade que sequer diriam ser capaz à um Aburame. Toda a intensidade que jamais mostrava em fala e gestos, expunha-se ali de bandeja, quando a melodia atraia a atenção de todos os presentes, incluindo a do rapaz que cativara Shino.

Não tardou para que, cliente após cliente, todos ficassem satisfeitos com os pratos pedidos, e depois a sobremesa. Alguns, os mais tradicionais, ainda pediam por uma bebida quente após a refeição. E ali encerrava-se a noite. Não cabia mais à Shino entretê-los. O pagamento já estava acertado, nada mais o prendia ali, que não seu ímpeto de apreciar um pouco mais as atitudes graciosas e um tanto desastradas daquele rapaz. Sequer havia perguntado seu nome, e não conseguia ler o nome entalhado na pequena plaquinha de metal sem sua vestimenta. Permaneceu no piano, permaneceu nas sombras, notando o olhar curioso sobre si. Talvez o mesmo que ele dava ao rapaz, mas bem, estava sempre protegido com seus óculos, não teria olhar que o entregasse.

As horas passavam, e Kiba buscava ainda em meio aos clientes que curiosamente permaneceram no estabelecimento, aquele que havia lhe tocado o coração, quase literalmente em sua concepção! No bar, no canto mais reservado, evitando que a luz lhe tocasse a face. Era um mistério, e mais ainda o porquê de Kiba ter ficado tão encantado. Encantou-se antes mesmo de ouvir a voz firme, e céus!, estava encantado antes mesmo de ver o rosto daquele homem. Que feitiçaria era aquela?!

Deu seu jeitinho, claro que daria, de escapar de alguma obrigação, prometendo ao funcionário fixo do restaurante que ficaria devendo à ele uma mão extra quando retornasse na próxima semana para dar apoio. E com esse tempinho livre, conseguiu se aproximar a tempo de ver aquele homem se levantar para ir embora. Apressou os passos, querendo ao menos a chance de se despedir, e quem sabe mais uma vez elogiar pelo belíssimo trabalho. Afoito demais, claro que seria, era Kiba ali! Se ele não se precipitasse e acabasse por quase cair naquele homem, talvez não fosse ele. Sorriu envergonhado, finalmente mirando os olhos para cima, notando os lábios prensados um contra o outro, enquanto notava aquele óculos escuro a lhe bloquear a visão. Ainda assim, notou que era belo, muito. Tão branco quanto a mão dava prévia.

—  Sinto muito, acho que acabei tropeçando. —  Não era nem de longe mentira, havia tropeçado e ainda por cima nos próprios pés! Sorte que aquele homem tinha reflexos, e agora segurava em ambos seus cotovelos, para dar-lhe sustento. —  Obrigado. — Coçou a pontinha do nariz com o nó do indicador, claramente desconfortável com toda a situação vergonhosa.

Kiba já sabia o nome do pianista: Shino. Havia perguntado ao funcionário que lhe dava cobertura.

—  Sabia que ainda viria se despedir. —  Shino soou seguro de si, fazendo Kiba sorrir anasalado.

—  E como sabia, senhor Aburame? —  optou por chamá-lo de forma educada, afinal, ainda estava em seu ambiente de trabalho, e como já mencionado, precisava mesmo de um!

—  Porque eu também queria me despedir, e saber seu nome. Só não fiz como você, e perguntei à outros, esperei para perguntar eu mesmo. —  Não haviam sorrisos, mas Kiba havia identificado um tom de graça naquela voz séria. Provavelmente ele havia visto o momento que Kiba, nada discreto, perguntou sobre o pianista. Sempre em alvoroço, talvez tivesse gesticulado demais, e ficaria fácil fácil saber de quem ele falava quando gesticulava. Afinal, apontava diretamente para o que era o foco de sua atenção. Super discreto, achava, mas sabia não ser.  — Boa noite… ?

—  Kiba, Inuzuka Kiba.

Kiba notou a mão em riste, agora longe de seu corpo, não era mais preciso tamanho sustento, já que seu equilíbrio havia se instaurado. Apertou a mão, e notou-a delicada, como as de um pianista deveria ser. Suave e fria.

—  Boa noite Kiba.

E ele foi. Foi e Kiba sequer tivera a chance de dizer que ele era muito bom naquilo, talvez ele soubesse pelo modo convencido que havia esperado para se despedir. Espera! Ele queria se despedir também, que tolo!! Kiba correu, correu para fora daquele restaurante desviando ainda de uma ou cinco pessoas. Quase esbarrou numa senhorinha, pediu desculpas (berro, na verdade), e seguiu ao estacionamento, ainda vendo de longe aquele homem agora trajado à um sobretudo que cobria-lhe boa parte do corpo.

—  Espera aí! —  falou alto, chamando a atenção para si. —  Caralho, tenho que voltar! — aquela parte sussurrou, como se para avisar à ele mesmo dos seus afazeres. O que merda aquele homem havia feito com ele? —  Eu só queria dizer que nunca antes alguém conseguiu prender tanto a minha atenção quanto você, enquanto tocava.

Shino notava naquelas íris selvagens que ele dizia a verdade. Kiba não parecia em nada com um fã de músicas que ele tocava. Parecia selvagem demais para se conter e apreciar algo por mais de cinco minutos, e notou-o a noite inteira, deveras interessado no que ouvia.

Era agora, Shino notou o rapaz sorrir de modo diferente, levantar a mão pronto para acenar um ‘tchau’ e então virar de costas e talvez, e só talvez, nunca mais o veria na vida. Tomou um rompante de coragem que não ousava há tanto tanto tempo. Tempo demais, sabia. Segurou no punho de Kiba, puxando-o apenas um pouco, como se pedisse para que ficasse, e ele ficou. Olhando do punho e dos dedos esguios ao redor dele, para o rosto de Shino.

—  Nunca antes alguém conseguiu prender tanto a minha atenção quanto você, enquanto escutava.

Kiba corou, violentamente. Então de fato o pianista o havia notado. Riu envergonhado, dando um passo a frente. Não tinha ninguém além deles naquele estacionamento. A luz fraca dos postes dava à noite um clima mais intimista. Kiba quase riu ao pensar no filme que havia visto noite passada com seu melhor amigo. Iam ver um de luta, e a netflix os trolou colocando-os para ver uma comédia romântica onde o casal se beijava de noite, com apenas a luz de testemunha. Ali seria a luz amarelada do poste. Espera, estava cogitando beijá-lo?

Ah sim, estava! Não apenas cogitando, como já sentisen a respiração alheia de encontro à seu rosto, e tão logo deixou que a coragem (ou a falta de noção) tomasse seu corpo, envolvendo os braços no pescoço de Shino, enquanto sentia as mãos dele em sua nuca e cintura.

 

Seria cômico contar à Naruto como havia conhecido Shino. À Hana também! Enquanto o amigo havia conseguido seu namorado num aplicativo de namoro, kiba havia encontrado o homem com quem compartilharia a vida, num dos bicos que fazia para pagar o aluguel.

 

¨

 

Era a história que Kiba contava agora, segurando a pequenina no colo, após a música de ninar tê-la deixado com sono. Era a história que terminava de contar ao colocá-la na cama, tapá-la com a mantinha de bolinhas em tons pastéis, lhe entregar a pelúcia de uma raposinha de nove caudas, e lhe beijar a testa de modo doce e fraternal.

—  Dormiu? —  Shino perguntou baixo, parado no batente da porta, projetando assim sua sombra no quarto.

—  Como uma pedra. Ela adora essa história, me faz contar sempre.

—  Eu gosto dessa história também. —  Shino informou, afinal, era a história deles.

Kiba deu uma outra olhada na pequena que dormia abraçada à pelúcia. Aproximando-se de Shino, envolvendo-o com seus braços e puxando-o para um beijo, tão apaixonado quanto o primeiro. Shino tocava para a pequena Sayuri a mesma música que Kiba havia se encantado à primeira “vista”. Era a música deles, daquela pequena família que começou naquela noite pela força do destino. Só ele para unir duas pessoas tão distintas e fazê-las se encaixar como Yin&Yang.

Shino esboçou um sorriso ao sentir Kiba aprofundar o beijo, puxando-o pela cintura para saírem logo do quarto da criança, não queriam acordá-la, não mesmo! Queriam agora aproveitar a noite como casal… Deixando o som na sala ecoando as melodias que Shino treinava ainda com afinco, para que ao menos aquilo fosse capaz de abafar outros sons melodiosos que viriam do quarto. Porque para eles dois, aquela também era a canção dos seus corações.


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