O Labirinto escrita por Kaline Bogard


Capítulo 6
Os amaldiçoados


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura ♥



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Assim que viu a grande cama de casal meio bagunçada, Kiba entrou em pânico. A postura racional o abandonou e a garganta se apertou.

— Por favor não faça isso, cara. Tenha piedade!

Pediu num fio de voz, sem se preocupar com dignidade. A resposta do Alpha foi empurrá-lo para dentro do quarto e em direção à cama.

—--

— Não! — Kiba ainda exclamou, um segundo antes de se perceber sentado no colchão.

Então era isso. Não havia como fugir ou evitar… seria mesmo destino de todo Ômega acabar sobrepujado pela vontade absoluta de um Alpha?

— Ajude-o.

Seria inevitável ter sua mente e seu corpo abusados, feridos por uma pessoa muito mais forte, no infinito ciclo de humilhação e… de… de...

O quê?

Só então Kiba reabriu os olhos que fechara no momento em que foi empurrado contra a cama. Tentou compreender aquela ordem. Ajudar? Ajudar a alguém?

Observou a cama. Entre os lençóis que notou bagunçados repousava uma pessoa. Um Alpha na verdade, mais velho e muito parecido com Aburame Shino. Tão semelhantes que deviam ser ligados por sangue. Talvez um irmão ou mesmo o pai.

— Oh — foi tudo o que conseguiu dizer.

A mão que o prendia afastou-se de sua nuca.

— Rápido, ajude meu pai — a ordem se repetiu, sem a voz de comando. E respondeu a dúvida mais recente de Kiba.

— Ajudá-lo como? — soou confuso.

— Você é um Ômega, não é? Então use o seu poder e cure meu pai.

Kiba ofegou de pura surpresa.

— Caralho, cara. Eu sou um Ômega, não sou um remédio! Nem sei do que ele está doente… desculpa…

O discurso exaltado se interrompeu. Pôde sentir a presença do Alpha se expandir com irritação e algo mais. Talvez um traço de decepção. Foi tão forte que fez Kiba se encolher um pouco, assustado. O quarto deu a impressão de ficar minúsculo, sufocante. O garoto se sentiu pequenino e frágil. Correria se pudesse, mas as pernas pareciam feitas de mingau, incapazes de erguer-lhe o corpo. Mal sentiu as pequenas lágrimas juntando nos cantinhos de seus olhos.

— Desculpa, Shino! — na hora do medo recorreu ao primeiro nome do outro — É sério! Eu não posso curar ninguém! Não é assim que a coisa dos Ômegas funciona.

A tensão no ar durou mais alguns segundos, até Aburame Shino se acalmar e recolher sua parte Alpha. A atmosfera mudou, foi mais fácil respirar.

Kiba nunca presenciou uma demonstração de poder de tal magnitude. Perdeu a voz por alguns segundos, incapaz de fazer qualquer coisa a não ser olhar para aquele Alpha que parecia ter a sua idade em aparência, mas um chacra que transcendia o imaginável.

— E como funciona?

— O… o quê?

— Como funciona a “coisa” dos Ômegas?

Kiba engoliu em seco e olhou rapidamente para o homem sem sentidos sobre a cama. Ele parecia sofrer, pois respirava com certa dificuldade. Havia um pano úmido sobre a testa dele, aliviando o calor da febre.

A imagem, de alguma forma, comoveu Kiba. Toda a situação o comoveu, na verdade. Calculou logo que aconteceria algo terrível naquele quarto! E suas previsões não poderiam ter sido mais falhas. Aquele Alpha não tentou estuprá-lo como temeu (e a esse ponto as bochechas coraram). Apenas o levou ali para pedir ajuda, com brusquidão sim, até mesmo ameaçador. Mas nem toda a falta de gentileza do Alpha podia ser comparada com o que Kiba estava esperando!

Suspirou de leve.

— Isso o que você fez quando ficou nervoso… posso fazer parecido, mas o seu pai vai se sentir um pouco melhor, sabe? Ainda vai ficar doente, mas… não sei explicar.

— Faça — a ordem veio sem hesitar.

Kiba engoliu saliva. Como faria uma coisa dessas se aqueles malditos insetos sugaram todo o seu…

Nem completou o pensamento. Deu-se conta de que seu chacra estava recuperado, detalhe que passou despercebido graças ao desespero dos últimos acontecimentos.

— Aquela bebida…? — lançou no ar olhando para as próprias mãos, enquanto movia os dedos de leve.

— Chá para reestabelecer a energia — Shino respondeu simplista.

Kiba sentiu-se ainda mais envergonhado. Desde o primeiro instante julgou as ações do Alpha da pior maneira possível. Mas não tinha culpa! Ele foi raptado e separado dos amigos contra a sua vontade! Não podia confiar no Alpha tão fácil assim!

Talvez se usasse sua essência Ômega e provasse para Shino que ele não tinha poder de cura, conseguisse negociar termos para sua libertação!

Respirou fundo duas vezes, antes de concentrar-se e clamar aquela parte mais íntima da sua existência, uma faceta de Inuzuka Kiba que por vezes amaldiçoou e recusou-se a reconhecê-la como integrante de si mesmo, aquela parte Ômega que remetia à fragilidade da espécie, embora estivesse ligada também ao equilíbrio e à harmonia.

A atmosfera se tornou mais leve a medida que o chacra se desprendia do corpo do Ômega. Tão concentrado Kiba estava que não notou as narinas do Alpha se dilatarem de leve ao captar o ínfimo aroma de morangos silvestres que se insinuou pelo ar.

Pouco a pouco a respiração do homem sobre a cama se acalmou. Os ofegos sofridos foram diminuindo até que o sono se tornou tranquilo, envolvido pelo cerne que caracterizava a existência de Inuzuka Kiba: acolhimento e aconchego.

— Isso é o melhor que eu posso fazer — o garoto falou baixinho, depois de alguns minutos — Sinto muito por esse mal entendido. Você me trouxe aqui para ajudar seu pai, compreendo a intenção. Mas não faço milagres, Shino. Não consigo curar nenhuma doença.

As palavras vieram honestas, carregadas de verdadeira sinceridade. A contra gosto Shino pareceu aceitar a realidade. Acabou por sentar-se em uma cadeira no outro lado da cabeceira da cama, que Kiba não tinha notado.

Por algum tempo tudo se resumiu a isso, Kiba usando sua essência para amenizar o ambiente, enquanto os dois Alphas usufruíam das boas sensações. Todavia, Kiba não era alguém que conseguisse ficar quieto por muito tempo.

— O que seu pai tem? — perguntou evitando soar muito curioso. Falhou com maestria, claro.

— Meu pai é um dos amaldiçoados.

— Amaldiçoados? Então é um tipo de magia? Talvez jutsu?

— Jutsu?

— Tipo aquela coisa que você fez com os insetos. Lá fora a gente chama de “jutsu”.

O Alpha ajeitou os óculos no rosto, ponderando as implicações do que ouviu. Acabou por menear a cabeça.

— Não creio que seja.

Kiba mordeu o lábio inferior, sem querer desistir de entender o que estava acontecendo.

— Ele se machucou? Foi mordido por algum animal? Como isso aconteceu?

O interrogatório surpreendeu Shino, coisa que ficou nítida na face sempre pálida. A atitude de Kiba mudou por completo! De assustado e acuado ele meio que tomou a frente da situação. Foi inusitado.

Não viu motivos para não responder. Em poucas palavras explicou que seu pai partiu para caçar com um grupo de Alphas, depois de três dias eles voltaram e alguns já mostravam sinais da doença: cansaço, desanimo e falta de forças. Foram caindo de cama e não se levantaram mais. Nem todos os Alphas regressaram adoecidos, alguns continuavam tão saudáveis como sempre. E a doença não afetou Betas. Houve vítimas anos antes, quando a maldição se ativou a primeira vez. O resultado foi a morte de todos os Alphas que contraíram a doença. Nessa segunda epidemia sabiam pela experiência anterior que a morte era apenas questão de tempo.

Incrivelmente, naquele lugar, não existiam Ômegas. De acordo com o relato de Shino, o último da casta havia falecido antes mesmo que nascesse; apesar de a parte Alpha reconhecer um tão logo pôs os olhos em Kiba e no pequeno grupo de filhotes. Sabia o que eram, mesmo sem nunca ter tido contato com algum Ômega.

Durante todos aqueles anos tem sido apenas Alphas e Betas a viver no labirinto, impossibilitados de atravessar o portal que levava ao mundo externo. O chacra deles estava intrinsecamente ligado a magia do labirinto, isso os tornava mais fortes que os shifters de fora. Assim como os mantinha prisioneiros da floresta misteriosa.

Enquanto ouvia tudo Kiba alternava olhares entre pai e filho, penalizado com a situação.

— Então Ômegas não podem curar? — Aburame Shino soou pensativo, distante. Decepcionado.

— Não —  a sinceridade crua e direta era inquestionável. Fez Shino acreditar que Kiba não tentava enrolá-lo.

Foi a vez de o Alpha suspirar, derrotado.

— Então vou te levar de volta ao portal externo. Obrigado por ao menos tentar.


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Notas finais do capítulo

o tema é "Shino Sombrio", não "Shino mau" aushuashaushau.

Abril é mês dos flashbacks! Alguma sugestão de música que combine com esses dois?!!

Até quarta-feira que vem ♥



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