O Labirinto escrita por Kaline Bogard


Capítulo 5
Um pedido de misericórdia


Notas iniciais do capítulo

Boa quarta-feira ♥

Preparem o coração... Shino não veio pra brincadeira não...



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Os minutos que se passaram foram uns dos piores na vida de Kiba, com toda certeza do mundo. Nem nos mais tenebrosos pesadelos se imaginou completamente envolvido por insetos como daquele jeito, enquanto era transportado para algum lugar.

Mal se deu conta de quanto tempo passou até que os minúsculos bichinhos o libertassem, permitindo que fosse ao chão, mas estranhamente tão fraco que não conseguiu ficar de pé, prostrando-se de joelhos, atordoado e um tanto nauseado. Aqueles kikaichuu sugavam o chacra de suas vítimas.

Mais sentiu do que viu ou ouviu o Alpha se movendo naquele local. Identificou como uma rústica cozinha, com uma pequena mesa, um fogão feito de barro e armários de aspecto igualmente campestre.

Respirou pesado e fundo, tentando recuperar ao menos um pouco da energia, para se defender do que quer que Aburame Shino planejasse.

Os segundos se arrastaram com uma lentidão que enervou Kiba. Nenhum deles falava nada, ele, por motivos óbvios de falta de força. O Alpha, talvez por ser realmente característica da personalidade observadora.

E então, sem qualquer aviso, Shino abaixou-se em frente ao Ômega raptado e lhe estendeu uma caneca de argila.

— Beba— falou em um tom de voz neutro.

Kiba agiu por puro reflexo, acertando um tapa fraco com as costas da mão no objeto, o suficiente para jogá-lo longe e partir a cerâmica, espalhando o líquido pelo chão, assim como um cheiro doce pelo ar.

Tal gesto não foi bem recepcionado pelo Alpha. Kiba sentiu o ambiente se tornar denso de contrariedade, enquanto o outro levantava-se e se afastava. Imediatamente em guarda, na medida do possível, Kiba esperou.

Mas não por muito tempo.

Logo sentiu uma mão segurar na gola do casaco que vestia e erguê-lo com impaciência do chão. A força do Alpha era tão grande, que Kiba sentiu como se pesasse menos do que uma pena, tamanha agilidade se viu obrigado a ficar de pé e foi empurrado para sentar-se em uma das cadeiras.

Gemeu baixinho pela violência, vendo uma nova caneca sendo colocada sobre a mesa a sua frente.

— Beba — dessa vez não foi um pedido. A palavra veio na voz de comando, aquela premissa Alpha que configurava uma das maiores vantagens sobre as demais castas. Quando dava uma ordem usando tal tom nenhum Ômega conseguia ir contra. Até para Betas era árduo rebelar-se.

Foi impossível para Kiba não sentir seu lado animal se recolher de medo e obedecer no mesmo instante: pegou a caneca pela alça e levou aos lábios, dando um grande gole na bebida que tinha gosto similar ao cheio: doce demais. Uma mistura de frutas da qual não conseguiu identificar nenhuma em especial.

— Não saia daqui — Shino recorreu à voz de comando pela segunda vez, garantindo que Kiba ficasse quietinho na cadeira, conforme ordenado.

Ausentou-se da cozinha em seguida.

Kiba respirou fundo entre uma golada e outra da bebida.

Estava enrascado. Pra caralho.

Olhou em volta com mais calma. Era mesmo uma cozinha, uma simples, basicamente feita de madeira e barro, como as que estava acostumado a ver na zona mais rural dos países. Havia uma janela aberta, mostrando a noite que já caíra por completo. Dois lampiões acesos garantiam a claridade do ambiente. Apesar da humildade marcante, tudo era bem asseado, com exceção da caneca que Kiba quebrou, única sujeira evidente naquela cozinha.

Sobre a mesa, uma travessa de argila exibia frutas vistosas. Um jarro do mesmo material permanecia quase cheio com aquilo que Kiba bebia.

— Porra — deixou a frustração sair com aquela palavra.

Que desenlace inesperado! Nunca imaginou que o misterioso Alpha estava atrás de um Ômega! Bem, na negociação inicial ficou muito claro para o grupo que o acordo envolvia ouro!

Esse pensamento fez Kiba olhar ao redor, analisando o local. Talvez aquele Alpha não soubesse o que era ouro. Vivendo ali naquele labirinto não precisava de valores monetários. Ele tinha o costume de negociar com o mundo externo?

Deu um último gole na bebida e notou a impossibilidade do que estava em sua mente. Pouco importava tais detalhes! O mais urgente era conseguir fugir dali!

Medo e preocupação voltaram com força total. Ainda que no meio dos sentimentos ruins, algo de bom o acalentava: ficou feliz de ser ele o escolhido como pagamento. Por mais bizarro que pudesse soar, sentiu alívio. O Alpha agiu tão depressa que não poderiam evitar caso ele quisesse raptar uma das crianças. Qualquer filhote sendo levado ali contra a vontade, sozinho e sem defesa alguma era hediondo.

Kiba já era adulto, tinha vinte e um anos. Podia lidar com os ataques do Alpha. Mesmo com o pior deles.

Já uma criança…

Uma criança…

Nunca.

Sabia porque esteve nas mãos de um Alpha quando ainda era filhote. Num passeio em Konoha, na famosa feira ao ar livre, sempre impulsivo e descuidado acabou se separando da mãe e da irmã. Assustado e perdido, tornou-se presa fácil para um Alpha cujo apetite sexual se despertava apenas por pequenos Ômegas indefesos.

Kiba eventualmente sofria com pesadelos que o levavam de volta para aquele beco sem saída e sujo, onde a blusa foi rasgada e o pior poderia ter acontecido não fosse um garotinho Beta hiperativo e traquinas, que “protegia” as ruas de Konoha junto com o amiguinho. Naruto e Sasuke chegaram no momento exato, trazidos pelo destino para salvar um Ômega quase da idade deles. Assustaram o vilão mais pelo alvoroço do que pela força e, tão rápido vieram, os filhotes se foram, sem que o pequeno Ômega pudesse agradecer. Felizmente o escândalo, além de afastar o Alpha maldoso, atraiu a mãe e a irmã que o procuravam. Kiba nunca esqueceria o alívio de ser colhido pelos braços protetores da mãe, assim como ficaria marcado para sempre pelas expressões de dor que viu em Tsume e Hana quando elas o reencontraram no terrível estado após o ataque.

Depois disso, Kiba mudou sua visão de mundo. Aprendeu na pele as diferenças entre as castas, a agonia e o medo de se sentir indefeso. E decidiu que faria o possível para ajudar outros shifters em situações de risco.

Anos se passaram. Ele ouviu sobre um trio de Betas que desafiava o governo de Konoha, libertando Ômegas destinados a distração de Alphas sem escrúpulos, e não pensou duas vezes em procurar o grupo e mostrar que podia fazer parte dos rebeldes.

Decisão que o levou ao momento de agora. Em que ele não sabia o que esperar do futuro, mas…

Mentira.

Só podia esperar uma única coisa de um Alpha que rapta um Ômega.

Olhou para a caneca vazia. O que seria aquele líquido doce? Relaxante corporal? A maioria dos criminosos sexuais gostava de nocautear a vítima com calmantes, para se divertir sem interrupções e sem precisar gastar chacra com a voz de comando. Drogavam o Ômega e satisfaziam todos os seus desejos mais sórdidos.

Havia aqueles que usavam fortes afrodisíacos, para aflorar o lado sexual do Ômega contra a vontade e fazê-los entrar no Cio mesmo fora de época. As fêmeas eram as maiores vítimas desses Alphas, porque o cheiro do cio feminino era muito mais forte e instigante do que o masculino, fato que tirava um maior desempenho sexual dos Alphas e, por consequência, lhes dava um orgasmo mais potente.

E havia ainda uma pequena parcela de Alphas que usava remédios para estimular a parte muscular, para que suas vítimas lutassem mais bravamente, pois sentiam prazer em domar pequenas feras tentando se proteger.

Cada possibilidade era pior do que a outra. Kiba não fazia ideia do que bebeu e quais as consequências em seu corpo.

Independente disso lutaria com todas as suas forças.

Decisão que desapareceu de sua mente quando o Alpha voltou para a cozinha. Não se deu ao trabalho de usar a voz de comando, achou mais produtivo segurar Kiba pela nuca e arrastá-lo para fora do cômodo sem qualquer cuidado.

Então ele gosta de domar…

O pensamento estranho quase fez Kiba rir, um reflexo automático de histeria. Por um segundo sentiu-se de novo aquele filhotinho frágil cuja inocência foi dilacerada junto com suas roupas e partes da pele infantil. Tão rápido quanto veio, tal memória se foi.

Kiba não era um filhote. Naquele instante não podia contar com o destino interferindo pela segunda vez: Naruto e Sasuke estavam longe e tinham seus próprios problemas para lidar.

Tomou uma firme decisão: não seria estuprado. Lutaria com todas as forças até se libertar ou morreria tentando!

Redobrou esforços tentando se livrar das garras de ferro que o prendiam pela nuca. Arranhou e bateu, se debateu por todo o caminho até uma porta fechada, que foi aberta e cedeu passagem ao quarto.

Assim que viu a grande cama de casal meio bagunçada, Kiba entrou em pânico. A postura racional o abandonou e a garganta se apertou.

— Por favor não faça isso, cara. Tenha piedade!

Pediu num fio de voz, sem se preocupar com dignidade. A resposta do Alpha foi empurrá-lo para dentro do quarto, em direção à cama.


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Notas finais do capítulo

HOHOHO



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