O Diabo do Sertão escrita por Júlio Oliveira


Capítulo 21
O olho do príncipe


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura! :D



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A adrenalina que alimentava seus músculos fazia-os ferver como se estivessem em plena combustão. Sem olhar para trás, José de Lima corria em alta velocidade enquanto ignorava os olhares de estranhamento que vinham em sua direção. O rapaz só conseguia pensar em como queria escapar daquela terrível confusão na qual se metera. “Guilherme é uma desgraça!”, as palavras iam e viam a cada curva que ele fazia. “Eu não queria brigar! Só queria encontrar a coitada da minha sogra. Meu Deus, Bia vai enlouquecer quando souber disso tudo. Que o Senhor me ajude, porque a coisa feia demais!”.

Passou por áreas escuras, pela igreja, pela praça e, finalmente, aproximou-se da estalagem onde estava hospedado com sua mulher e Socorro. Olhou para trás e viu que não havia mais nenhum perseguidor. Na verdade, as únicas pessoas que o encaravam eram transeuntes que não entendiam o porquê de toda aquela correria e desespero. Uma camada fria de suor cobria o corpo de José e encharcava as suas roupas, ao mesmo tempo em que sua ofegante respiração ia desacelerando aos poucos. O seu coração? Ainda palpitava de maneira quase visível em seu peito. Na calmaria que ia se instalando, Zé finalmente começou a sentir variadas dores musculares.

Caminhou vagarosamente até a entrada da estalagem. Empurrou levemente a porta de madeira e, finalmente, viu-se em um lugar em que se sentia quase seguro. Quase. Isso, pois a mente do rapaz ainda estava habitada pelo medo. Ele podia imaginar que alguém havia visto o seu destino após toda aquela correria. “Vão dedurar pro filhotinho Maia e ele vai vir me pegar”, Zé pensava com preocupação.

— Zé — a dona do lugar chamou a atenção. — bem? Parece que viu uma assombração.

— Ah — José olhou para si mesmo e pôde perceber como estava mal apresentado. Além disso, seu rosto cheio de suor lhe dava um brilho nada agradável. — Eu... eu... Quer dizer, a Bia bem?

Atrás do balcão, a senhora que se alimentava de sopa olhou de maneira desconfiada. No entanto, ela sabia que Zé de Lima tinha um traquejo social um tanto quanto incomum.

— Ela no quarto junto cum dona Socorro — ela percebeu a ansiedade do homem em ver as duas mulheres. — não vai comer nada?

— Depois — José respondeu de forma quase ríspida, enquanto se apressava para chegar ao quarto.

Estava coberto de ansiedade e preocupação: queria ver como as duas mulheres estavam, mas também temia a provável reação delas ao saberem o que ele fizera e no que resultara. Quer dizer, ambas sabiam muito bem que ele iria procurar a mãe de Maria Beatriz. Ainda assim, o desencontro com Guilherme Maia transformou tudo no mais completo caos. Para piorar, Zé tremia só de imaginar que transformou o filho do prefeito em um caolho. “Um João Cego rico”, deixou escapar uma breve risada enquanto pensava nisso.

Entretanto, o breve momento de alegria foi cortado quando o rapaz se deparou com a porta do quarto. Do outro lado, Bia e Socorro também contavam com uma dose alta de ansiedade. A garota estava diante de uma possibilidade um tanto quanto inesperada: rever a sua mãe depois de anos. Antes, ela nem mesmo considerava essa possibilidade, mas agora? Agora tudo parecia tão próximo. Ao mesmo tempo, temia pela segurança de Zé. Beatriz odiava aquele tipo de espaço em que seu amor foi se meter, mas ela sabia que era um risco justificável.

Socorro, por outro lado, ficava feliz com a possibilidade de encontrarem a mãe de Bia, mas também sentia um pouco de desconfiança com tudo aquilo. As coisas estavam correndo tão bem para os três. Por que arriscar tudo de novo? E por uma pequena e suposta possibilidade? De toda forma, a senhora sabia que existia uma parcela de ciúmes em seu pensamento e, tendo ciência disso, rapidamente suprimia tal ideia e torcia de forma intensa para que tudo transcorresse da melhor forma possível.

Até que as respostas surgiram. Com o abrir da porta, os olhos femininos foram de encontro ao rapaz sujo, suado e visivelmente tenso. Do outro lado, os olhos de Zé descobriram Socorro com as feições de sempre. Bia, diferentemente, já trazia algumas mudanças discretas, mas visíveis. Com os olhos cheios de carinho e preocupação, a garota deixara uma de suas mãos sobre a barriga, que já havia crescido de forma mínima, mas perceptível aos mais próximos.

— Zé! — A garota foi a primeira a se aproximar do rapaz. Abraçou-lhe com todo o amor do mundo, ignorando o suor e o cheiro de bebida que se apoderara do corpo do marido. Depois, afastou-se lentamente e, deixando que a emoção desse espaço à razão, prosseguiu. — O que é que aconteceu?

— É... Veja bem... — José se perdia nas palavras como de costume. Olhou por um instante para Socorro, tendo a esperança que a mulher mais experiente lhe desse uma luz. No entanto, ela apenas o encarou de forma quase julgadora em decorrência do estado deplorável do rapaz. Olhando para si mesmo e relembrando os eventos de minutos atrás, Zé sabia que tinha que falar a verdade. — A gente vai ter que sair daqui.

Pera ! — Socorro de Deus rapidamente interveio. — Conte essa história direito!

O tom dela era duro e José sentiu o baque. Sentia-se como uma criança sendo repreendida pelos pais, algo que era extremamente humilhante de se acontecer, ainda mais estando de frente para sua esposa. Beatriz não reagiu de forma muito diversa: sentiu raiva de seu homem, ainda que não soubesse a história completa. Estava tão feliz nos últimos dias: tinha um trabalho, um lugar para ficar e sua criança crescia bem dentro de si. Entretanto, não verbalizou uma palavra sequer. A garota deixou que seu olhar falasse mais alto. Zé rapidamente captou a mensagem.

— Eu achei sua mãe, Bia. Eu achei Marcela — o rapaz tentava manter a seriedade na voz, mas era possível perceber que ela tremulava a cada palavra que surgia. Beatriz segurava as lágrimas, mas mantinha-se firme para compreender tudo que aconteceu. Socorro não mexia um só músculo de seu rosto, mantendo sempre uma expressão de raiva. — Ela trabalhando no “Cabaré do Francês”. É um lugar cheio de gente rica e, sabe, mulher que faz os negócio por dinheiro. Eu tava indo falar com ela, mas aí o safado do Guilherme Maia apareceu e as coisa desandou.

— “As coisa desandou”? Como assim? — Maria Beatriz deixou que a incredulidade falasse. — O que tem esse Guilherme Maia? Ele conhece ocê?

— Ai meu Deus — Zé colocou as mãos na cabeça. Mesmo com os dias de felicidade e sucesso, ele não havia falado de suas apostas. Sim, havia dito que tinha arranjado trabalho no bar, mas nunca fora muito específico. Bia também não perguntava: talvez já desconfiasse, mas não quisesse ter certeza. De todas as formas, José de Lima sentia-se mais e mais errado. Tinha certeza que, dessa vez, o impacto de suas meias-verdades seria muito mais forte. — Por onde começar?

Respirando fundo, o rapaz viu o silêncio tomar conta do quarto enquanto todos os olhos presentes o encaravam. Caminhou até a cama e sentou-se, podendo finalmente relaxar seu corpo, ao mesmo tempo em que sua alma gritava e se contorcia. Bia permanecia de pé, assim como Socorro. Olhando para duas, José de Lima parou de evitar a verdade.

— Tudo começou no dia que nós chegamo aqui. Eu fui procurar trabalho e num achei muita coisa não, sabe? — Olhava para as mulheres com um olhar de autoindulgência, mas recebia de volta mais julgamento. “É, elas estão certas”, ele sabia. — Até que fui num bar e descobri um jeito de fazer um dinheirin: apostando. E aí eu comecei a jogar. Eu fui bem, sabe? Ganhei muito, só que aí eu incomodei o filhotinho do rei. E aí aconteceu de Guilherme Maia vir mim acusar de roubando no jogo, só que é tudo mentira!

— José de Lima — Socorro interrompeu todo aquele discurso mal articulado. — Seja direto.

— Certo — Zé abaixou a cabeça, pois sentia que usava malabarismos para salvar a própria pele. — Eu parei de jogar e então veio todo esse negócio da mãe de Bia. O problema é que o homi ainda tem raiva de mim. Quando me viu, ficou gritando que eu tinha roubado dele no jogo. E aí me atacou. Eu tava apanhando até que acertei uma garrafada na cara dele. Ele então colocou a mão no olho e começou a gritar. E aí eu corri. É isso. Eu lasquei com o olho do filho prefeito.

— Minha Nossa Senhora — Beatriz caiu sobre a cama enquanto pensava sobre toda aquela confusão. Não conseguia olhar diretamente para José, mas conseguia enxergar bem tudo que estava em risco. — O prefeito cuida dos cangaceiros, né? O que é que ele num faria com alguém que furou o olho do príncipe?

Nóis tamo lascado — José segurava o choro, mas a voz entregava seu estado emocional. — E a culpa é toda minha.

— É sim! — Aproximando-se a passos firmes, dona Socorro acertou um impiedoso tapa no rosto do rapaz. — Isso é procê aprender a não mentir, esconder e inventar histórias. Trabalhe que nem um homi, menino! já deixou de ser criança faz tempo!

Sem dar respostas, Zé ficou apenas sentado enquanto sentia o ardor em seu rosto se dissipar aos poucos. Não tinha o que retrucar: a mulher estava certa. Sentindo um misto de pena e raiva do homem, Bia falou com uma voz fraca:

— O que a gente vai fazer agora?

Nóis vamo embora daqui. Não posso arriscar você e a criança — Zé apontava para Maria Beatriz enquanto comunicava seu plano. — Deve ter alguma cidade por perto, ou algum lugar que sirva pa nós.

— “Nós” não — Socorro rapidamente rebateu a ideia. — “Ocês” sim! Eu nunca pedi pra vim pra esse resto de fim de mundo. Só vim porque Bia pediu, e não se recusa o pedido de uma grávida. Mas eu num tenho mais idade de ficar indo pra lá e pra cá. Se ocê, Zé, não consegue ficar num canto por mais que algumas semanas, eu num posso fazer nada. Aqui eu tenho emprego, ganho meu dinheiro e sei que posso ajudar o povo. Sempre vou ajudar ocê e Bia, mas também num posso ficar sendo arrastada pra tudo que é lado. entende isso, ?

Maria Beatriz tremeu. Fora ela que tivera a ideia de levar Socorro consigo para a cidade, pois havia a preocupação com a gravidez. No entanto, como refutar os argumentos da senhora? Ela, de fato, já estava fazendo favores de mais. Zé, como ela havia bem dito, parecia ter um ponto fraco gravíssimo: trazia confusão consigo para onde fosse. Bia entendia bem porque a mulher não queria deixar a agradável posição que alcançara. Com isso em mente, optou pelo silêncio.

— Mas Socorro — José de Lima se levantou para argumentar. Estava visivelmente desesperado e sabia que nada do que dissesse adiantaria. No entanto, tinha um grande ímpeto dentro de si: mesmo com as baixíssimas chances de algo dar certo, não desistiria antes de tentar. — Bia grávida! Essa criança vai nascer daqui a uns dia. O que a gente vai fazer?!

— Não seja exagerado, José de Lima! — Socorro estava furiosa. — Esse bucho ainda vai crescer muito antes da criança querer sair dele. E ocês vão pode me encontrar aqui em Água Funda. Num arredar meu pé, ouviu?

— Ouvi — Zé respondeu de forma quase inaudível.

Deitando-se na cama, Maria Beatriz queria fechar os olhos e imaginar que tudo aquilo não passava de um sonho. Em pé, José andava de um lado para o outro, ao mesmo tempo em que Socorro se mantinha praticamente imóvel.

— Acho... Acho que o padre pode nos ajudar — Bia lembrou-se de algo que poderia vir a ser muito útil.

— O padre? Cê tá falando do Padre Miguel? — José, um pouco mais calmo, tentava ouvir com atenção.

— Esse mesmo. Ele me mandou uma carta: disse que tinha conseguido um terrenin novo. Nem é longe, mas também não é tão perto. Deve ser bom pra ficar enquanto esse Guilherme não desiste de te procurar.

— Santo Padre — Zé falou em voz alta enquanto olhava para os céus com gratidão. — É isso. Nós vai pra lá.

Socorro, que naquela altura só observava a conversa, já havia se sentado enquanto respirava fundo. Não estava feliz por ter dado tantos “nãos” ao casal, mas ela sabia que os excessivos “sins” poderiam fazer muito mal. No fim das contas, ela também tinha uma vida pra cuidar: a dela mesma. Além disso, ainda poderia ajudar ao jovem casal estando na cidade. “Um bom ponto de apoio”, pensou consigo mesma.

— Então é isso — Maria Beatriz disse após alguns minutos de conversa, como se recapitulasse o combinado. — Amanhã irei trabalhar uma última vez na casa do delegado. Vou pegar aquele diário e então a gente se encontra na saída da cidade. Carlinhos bem alimentado?

— Vou arrumar isso nesta madrugada — Zé respondeu com algo que parecia ser um pouco de convicção. Já era bem melhor que seu estado de minutos atrás. — Num vou conseguir dormir mesmo.

A noite prosseguiu como previsto: insone, Zé ficou na área comum da estalagem, apenas vigiando caso algum comparsa de Guilherme Maia aparecesse. Deitada na cama, Bia também sentia-se privada do sono. Até tentava fechar os olhos, mas não conseguia descansar. Socorro, por outro lado, sentia-se desgostosa com a situação toda. Ficou pensativa até as pálpebras começarem a pesar e ela adormecer.

Os primeiros raios de sol fizeram Maria Beatriz levantar-se. Sentia o corpo pesado, lento. A falta de sono cobraria seu preço, mas ela adiaria o pagamento o máximo possível. Com uma missão a cumprir, rapidamente deixou o quarto enquanto Socorro ainda se encontrava inerte no mundo dos sonhos. Indo até a área comum, deparou-se com um cansado José encarando fixamente a entrada da estalagem.

não dormiu? — Bia questionou e sua voz fraca entregou o seu cansaço.

— Eu tinha que vigiar — José de Lima respondeu de forma lenta. — Tinha que vigiar.

Dando um beijo no rosto de seu homem, Beatriz respirou fundo e saiu daquele lugar seguro. Na rua, os raios de sol esquentavam seu corpo, ainda que sua alma permanecesse num canto frio e escuro. Caminhou alguns metros e, passando por crianças, homens e mulheres – cada um com seu destino e tarefas para o dia –, pôde finalmente se ver diante da casa de Priscila Nunes e do delegado Augusto Nunes.

— E lá vamos nós — disse consigo mesma enquanto sentia um misto de insegurança e curiosidade. Existia um gosto de aventura em tudo aquilo que estava passando, mas ao mesmo tempo ela sabia que os riscos eram reais. Não poderia arriscar a própria vida e, menos ainda, a da criança que carregava no ventre. — Priscila!

Chamou pela proprietária da casa. Poucos segundos depois, a senhora Nunes abriu a porta e a jovem pôde adentrar a residência.

— Seja bem-vinda, Bia — havia uma parcela de tensão na voz de Priscila. Além disso, seus olhos estavam visivelmente inchados e era possível perceber que ela havia chorado muito recentemente. — Como você está?

— Estou bem — a garota mentiu. — Como vai Augusto?

A explosão da delegacia não era segredo. Espalhou-se como fogo sobre a mata seca. Antes que Priscila pronunciasse uma só palavra, no entanto, Bia foi capaz de perceber toda a gama de emoções que atravessava a mente da mulher. A coitada estava arrasada. Além de todas as discussões constantes com o marido, o ocorrido atingira proporções nunca antes imaginadas. A sobrevivência do homem fora um verdadeiro milagre e, mesmo assim, ele optara por ir ao trabalho no dia seguinte ao ocorrido.

— Infelizmente ele bem demais — a mulher desabafou com a sua voz chorosa. Havia também um pouco de raiva ali, mas a tristeza superava qualquer outra emoção. — Até foi trabalhar hoje. Eu só... Ave Maria, Bia. Não nem um pouco bem. Vou levar as crianças pra escola agora. pode cuidar da casa como sempre, ? Não devo demorar pra chegar.

Beatriz gesticulou positivamente com a cabeça. Apressada, Priscila conduziu André e Clara até a saída da casa. Parando ao se depararem com Bia, as crianças deram um tenro abraço na garota. Durante o pouco tempo que ficou na casa, ela sempre fora muito gentil com os infantes, conquistando grande afeto e admiração.

— Dedé e Clarinha — Maria Beatriz respondeu ternamente. — Estudem bem muito, viu?

A duplinha prometeu estudar até não aguentar mais. Priscila soltou um sorriso para a garota e, finalmente fechando a porta, deixou Beatriz sozinha naquela humilde, mas confortável casa. Sentindo um terrível frio atravessar sua espinha, a jovem sabia que tinha que aproveitar aquela oportunidade: ninguém iria atrapalhá-la na busca pelo diário.

Caminhando diretamente para o quarto do casal, uma estranha culpa a acompanhava. “Ela fez tanto por você e agora você a engana, Beatriz?”, Bia ouvia sua consciência falar. “Vai roubar algo que pertence ao homem que te recebeu tranquilamente em seu próprio lar? Alguém que lhe confiou o cuidado das crianças e de tantas outras responsabilidades? Como você tem coragem?”. Beatriz então parou por um instante. Ela sentia um enorme peso em suas costas e, diante de tanto medo e aflição, pôs-se a chorar. Mas que desgraça! As coisas iam tão bem. Por que tudo de ruim tinha que vir como uma avalanche?! Por que foi ler aquele desgraçado diário?! Não precisaria enganar ninguém caso sua curiosidade não gritasse tanto em sua mente.

Lavando o rosto no banheiro, respirou fundo. Lembrou-se da voz de Padre Miguel e, mais do que isso, lembrou-se de todos os sacrifícios que o religioso fez e fazia. Ele sempre pensava no bem comum e, como Bia bem sabia, tal pensamento tinha seu preço. Ela deveria estar disposta a pagá-lo. Estava? “Estou!”, gritou dentro de si mesma. Abrindo a porta do quarto do casal, deu rápidos passos até o armário. Abriu-o e foi até a gaveta que tinha um fundo falso: lá estava o diário de Augusto Nunes.

Com ele em mãos, a garota parou para respirar mais uma vez. “Eles vão desconfiar de mim”, ela pensou. Mas que mal teria naquilo? Quer dizer, a jovem já estaria muito longe quando dessem conta do ocorrido. Ainda assim, havia algo de imoral naquela operação. Priscila e as crianças foram tão boas para com ela. “Não, isso não pode ficar assim”.

Indo para a mesinha ao lado, Bia pegou um pedaço de papel e uma caneta. Emocionada, ensaiava algumas palavras, mas nada de útil saía. Queria dizer algo, dar um último adeus e um grande “obrigado” por tudo que recebera enquanto trabalhara ali. No entanto, não era uma escritora ou poeta. Ainda assim, resolveu desligar o cérebro: que o coração pudesse falar!

“Priscila, muito obrigada por tudo”, começou a escrever dessa forma. “Dê um beijo nas crianças por mim. Terei que deixar Água Funda por um tempo, mas espero que nos vejamos novamente. Fiquem com Deus!”. Singelo, mas sincero. Com aquilo escrito, a garota guardou a caneta de onde tirara e, segurando aquele pedaço de papel, foi até a sala. Deixou o recado na mesinha presente no centro do lugar, de forma que Priscila veria assim que chegasse lá.

Com o diário em mãos, sentiu seu coração apertar. “Agora já está feito”, refletiu com certa tristeza. “O mundo me espera”, pensou uma última vez antes de deixar a casinha que ela tanto gostava.


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Notas finais do capítulo

Obrigado pela leitura!

Foi um capítulo mais lento, mas que eu gostei bastante de escrever. Espero que tenham gostado também.

É bom estar de volta :D



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