O Diabo do Sertão escrita por Júlio Oliveira


Capítulo 10
Poço dos desejos


Notas iniciais do capítulo

É muito bom estar de volta ♥

Boa leitura!



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A calmaria sempre vem após a tempestade. Em Água Funda não seria diferente. Após a confusão de tiros, areia e sangue, um silêncio fúnebre tomou conta da madrugada. Um lamentoso Levy Queimado olhava para Hugo Sangrento morto no chão, ao mesmo tempo em que sabia que o assassino de seu grande amigo estava próximo. Com seu sangue se misturando com a areia, João Cego pressionava o ombro ferido enquanto rezava para que Levy o deixasse viver. O velho olhou uma vez mais para o revólver e se amaldiçoou pelo que viu: não havia mais bala alguma. Só lhe restava aguardar a vida ou a morte.

Fechando os olhos de Hugo, Levy se levantou e começou a caminhar calmamente na direção de João. Estava cheio de fúria, mas também contava com alguma frieza. Ouvira claramente o som do revólver sem balas do Cego. Aquele som seco, duro e desesperador para metade dos envolvidos. O homem de um olho só, por outro lado, estava por trás de uma pequena elevação de terra. Não havia cavalo algum por perto e o ferimento só piorava. Levy tinha todo tempo do mundo.

— Seu fi duma égua! — A voz do homem queimado estava carregada de dor e vingança. — matou meu amigo! Ocê com aquele Diabo! Por quê?!

Ainda sem ver o cangaceiro, João segurou as lágrimas, mas a sua voz revelou todo o seu medo.

— Eu não queria que terminasse assim, eu juro! — Perdendo o controle, as lágrimas começaram a fluir e a se misturar com o sangue. — Num queria que tivesse morte, meu Deus!

— Mas agora vai ter — Levy finalmente podia encarar o desesperado João Cego. Com a arma apontada para a cabeça do velho, pôs o dedo no gatilho. — Últimas palavras?

— Hoje não, Levy — uma voz calma, mas assertiva ergueu-se a alguns metros dali. Era Augusto Nunes com sua coragem e seu revólver.

Queimado olhou para trás com certo desgosto, mas aquele espaço de tempo lhe permitiu que pensasse melhor. Estava agindo por impulso e matar o meio-cego àquela altura poderia ser um erro. Talvez fosse melhor guardar a raiva e seguir as regras do jogo. Ele ainda teria seu momento para se vingar.

— Boa sorte carregando o lixo — o cangaceiro guardou o revólver e se afastou.

Augusto Nunes caminhou até o velho ferido. O policial trajava uma camisa branca amassada e uma calça de dormir. Com os olhos inchados, ele parecia meio indisposto, mas estava lá para cumprir o seu trabalho. Enquanto isso, Levy andou até a outra extremidade de sua área de vigia. Olhou para o horizonte tentando encontrar pistas de seus fugitivos. Talvez existissem pegadas, rastros. Mas ele sabia: Diabo era esperto demais para cometer o mesmo erro duas vezes. Olhou mais uma vez para João Cego, que chorava sem parar. É, talvez o velho tivesse as respostas. Era só questão de tempo para que elas fossem dadas.

A quilômetros dali, um silencioso Diabo e um ferido José faziam tudo que era necessário para despistar qualquer possível perseguidor. Já poderiam estar em Lagoa da Esperança, mas optaram por dar voltas e mais voltas a fim de evitar que seus rastros fossem usados contra eles. Mais do que isso: havia uma tensão entre ambos e o próprio assentamento. Como poderiam falar tudo que aconteceu? Como diriam sobre o ferimento de João Cego e o fato dele ter ficado para trás? O que dizer das balas de festim de Diabo e do próprio descontrole do cangaceiro, quando decidiu começar um confronto ainda que tivesse a opção de agir sorrateiramente? Pior: tudo isso por um poço sabotado? O custo estava sendo altíssimo e o retorno não parecia nada atrativo.

— Esse Breno... — Zé de Lima não conseguiu guardar para si. — Ele só traz confusão! É claro que o Maia num é um santo, mas desde que o padre começou a colocar esse homi no meio do assentamento, as coisas começaram a piorar.

Diabo permaneceu quieto. Apenas olhava para frente enquanto cavalgava. Não se importando com isso, José prosseguiu:

— Eu só queria ficar quieto no meu canto. Cansei desses jogos. Vou me mudar com a Bia, é isso. Vou pra longe desse inferno!

A dupla prosseguiu com a viagem por mais algumas horas. O sol já esquentava o sertão quando começaram a ver as primeiras casinhas da Lagoa da Esperança. As estruturas foram crescendo a medida que eles se aproximavam, até que as pessoas e suas feições também se tornaram claras. Bia e Socorro seguravam as mãos enquanto olhavam assustadas para os dois cavalos. Paulo franzia a testa ao imaginar o destino de João Cego. Padre Miguel roía as unhas enquanto Antônio mantinha uma expressão neutra, como se aguardasse ouvir o que de fato ocorrera antes de optar por uma reação. A única certeza ali era a plena incerteza.

Ao descer do cavalo, Diabo viu Padre Miguel se aproximando de maneira questionadora.

— Como foi o... — o religioso tentou falar, mas foi interrompido por socos e pontapés.

Revoltado, o ex-cangaceiro logo tratou de agredir o padre. Acertou-lhe um forte golpe no rosto do homem, fazendo-o cair sobre a areia quente. Depois abaixou-se e deu uma sequência de socos, tudo isso enquanto gritava para todos ouvirem:

—Traíra!

José assistiu a cena perplexo, enquanto o resto do acampamento sentia vontade de intervir, mas temia as consequências. Antônio, no entanto, escolheu agir.

— Fui eu — disse com grande força na voz. — Fui eu, Diabo.

Com os punhos cheios de sangue, Diabo olhou espantado para o homem mais velho do assentamento. Com os olhos arregalados, sua face transitava entre a raiva intensa e a escuridão da ignorância.

— Eu que dei a ideia das balas de festim. Eu temia pelo seu descontrole. Não queria que vidas fossem tiradas em vão — Antônio explicou.

No chão, Miguel respirava com dificuldade enquanto seus olhos estavam cobertos de sangue. Diabo se afastou dele e, indo de encontro a Antônio, encarou o líder do assentamento de forma ameaçadora. Segurando o revólver que lhe fora dado, jogou-o no chão e falou:

— Pois parabéns. Duas vidas foram tiradas em vão por sua culpa.

Cuspindo no chão, o ex-cangaceiro foi até onde seria seu alojamento. As pessoas abriram espaço quando ele se aproximou, todas temendo pelas possíveis decisões do homem. Ele, por outro lado, estava cheio de dúvidas. Sentia-se verdadeiramente traído, mas não contava com muitas opções. Poderia sair do assentamento e tentar a vida longe dali. Mas não era exatamente impossível ele ser encontrado por um cangaceiro ou por um policial. Seu rosto era famoso e seu nome percorria todo o sertão. Ficar, por outro lado, também era um risco. Caso João estivesse vivo e fosse interrogado, a localização do grupo poderia ser entregue. Não, definitivamente não havia final feliz para ele.

José, por outro lado, contava com motivos para se alegrar. Apesar de todo o medo e o terror que a madrugada passada fora, agora ele estava com quem ele mais amava: Beatriz. Sua namorada rapidamente foi em sua direção e ambos compartilharam um tenro beijo.

— Você horrível — Bia disse de maneira que misturava carinho e preocupação assim que viu o rosto machucado de seu amado.

— Coisas da vida — Zé explicou.

Ela então lhe deu um forte abraço e, durante aquele breve momento, José podia sentir que tudo ficaria bem. Deu-se a permissão de se esquecer do mundo por um instante, e se perdeu naquele ninho de amor.

Longe dali, em um ninho ocupado por outros sentimentos, Marcondes Maia ficava sabendo das novidades. Sentado em seu velho sofá, ouvia enquanto Valter o mantinha atualizado.

— Diabo mostrou as caras — disse de maneira fria. — Falei com Levy há alguns instantes e ele mim explicou tudo.

— Diabo?! — O prefeito engoliu em seco enquanto raciocinava. — Meu Deus do céu. Por que esse cangaceiros adoram brigar entre eles? Ele me seria bem útil.

— Eu não sei dos detalhes. Mas o que aconteceu foi que eles se enfrentaram: Levy e Sangrento contra Diabo e um velho caolho. Tinha também um outro rapaz por lá, mas só fez fugir.

— E? — Marcondes ansiava pelos resultados.

— Hugo Sangrento bateu as botas. Levou um tiro no pescoço. Diabo e o rapaz conseguiram escapar. Ainda assim, Levy pegou um deles: o tal do caolho. Parece que chamam o homi de João Cego. Augusto apareceu logo depois e prendeu o véi — Valter podia sentir a tensão em Marcondes. O político se segurava nos apoios da poltrona com força enquanto apertava os lábios e seus olhos se recusavam a piscar.

— O que eles queriam lá? Era o poço?

— Não — o empregado respondeu soltando uma gargalhada. — Diabo e Levy se odeiam. Acho que foi mais uma vingança. Ou uma tentativa, .

— Melhor — Maia relaxou os ombros e permitiu-se descansar as costas. — Já limparam tudo por lá? Os corpos, o sangue... tudo?

— Já. quer mesmo fazer essa abertura hoje?

— Claro. Não tenho tempo a perder. Garanta que o povo de Água Funda esteja presente. Será maravilhoso!

E, seguindo as ordens do patrão, Valter logo tratou de passar o aviso para frente. Em poucas horas, o funcionamento da pequena cidade de Água Funda se transformou: o comércio parou, os serviços desaceleraram e inúmeras pessoas saíram do conforto de suas casas para prestigiarem o tão esperado evento. A reinauguração do poço já havia sido alardeada um tempo atrás, mas a imprevisibilidade política da região gerava desconfiança nos moradores. No entanto, um aviso vindo da boca do braço direito do prefeito era algo que não se duvidava.

Aos poucos, a cidade foi ficando vazia e as pessoas caminharam por alguns minutos até chegarem no tal poço. Ele já era conhecido: muitos moradores da cidade e região costumavam coletar água dali. No entanto, isso mudou quando Gustavo Água-Santa apareceu e todas aquelas leis estranhas sobre o controle da água surgiram. Ninguém lia ou entendia, mas eram regras que o povo obedecia por medo. Provavelmente igual a todas as outras regras e leis que ninguém lê ou entende. Por sorte, ao menos aos olhos do povo, eles podiam contar com Marcondes Maia. O prefeito até que tinha seus defeitos e alguns escândalos, mas aparecia como um verdadeiro libertador: estava a um passo de conceder água aos pobres miseráveis e sedentos de toda a região, ainda que isso fosse contra a suposta amizade que ele tinha com o Água-Santa. Ah, o povo estava tão feliz.

E, caminhando como gado atrás de seu dono, amontoaram-se em volta do poço. O lugar estava limpo: não havia sangue, corpos ou qualquer pista de que houvera um terrível confronto menos de 24 horas atrás. Que maravilha! Eles eram centenas: homens, mulheres, velhos e crianças. Todos os olhos sobre um mesmo local e com uma mesma esperança. Até que ele chegou.

Montado em um cavalo marrom, Marcondes Maia havia mudado de postura: cavalgava sozinho e independente. Levava consigo um chapéu de vaqueiro e parecia com aqueles heróis de filmes que passavam no cinema da capital. Trazia consigo uma expressão de seriedade, mas também de confiança. Os olhos do povo sedento o acompanharam e, logo após desmontar do cavalo, o prefeito disse suas primeiras palavras:

— É muito bom estar aqui.

Sua voz era carregada de certeza e verdade, ainda que em seu íntimo ele sentisse nojo daquelas pessoas suadas. O sol da tarde também não era de seu agrado, mas Marcondes tinha anos de experiência na política. Ele sabia muito bem como vestir e manter uma máscara, principalmente quando centenas de olhos o seguiam.

Caminhou com confiança enquanto ouvia gritos de agradecimento e via olhares admirados. As pessoas logo abriram espaço e Maia pôde ver Valter ao lado do poço. O homem o esperava com ansiedade e calor, pois já estava há um bom tempo ali.

— Espero não estar atrasado — Marcondes brincou e arrancou gargalhadas do povo sedento.

Finalmente ao lado do poço, colocou a mão sobre a estrutura de pedra que o demarcava e respirou profundamente. Podia sentir o espírito do sertão, ou ao menos era isso que queria que as pessoas acreditassem. Valter segurava o riso, pois já estava acostumado com o jogo de seu patrão. Dessa vez, no entanto, ele tinha que admitir que o prefeito estava indo muito bem.

— Aqui estamos novamente, povo de Água Funda — Marcondes iniciou da mesma forma de sempre. E, como de costume, conquistou a atenção de todos os presentes. — Mais uma vez, as dificuldades aparecem e nós temos que nos adaptar para superá-las. Que bom que eu posso contar com um povo tão forte e resiliente. Vocês são a força. Vocês são o sertão.

E, dizendo aquilo, o prefeito conquistou aplausos e gritos de alegria. Fingiu ter alguma modéstia e timidez antes de prosseguir.

— Eu prometi e eu trouxe! Não sou que nem esses candidatos que só criticam e não fazem nada pela cidade. Eu estou aqui porque amo meu povo e a água é o bem mais valioso de todos — sua voz ia ganhando força e ele podia sentir seu coração palpitar com velocidade. Tinha certeza que o mesmo ocorria com as suas vítimas, ou melhor, eleitores. — Esta é a água da vida! Nunca se esqueçam do dia de hoje!

E, com grande animação, Marcondes Maia começou a girar a manivela que traria um balde cheio d’água. Sentiu a manivela travar e um grande peso tomar conta do instrumento. Soltou um sorriso e explicou:

— Pesado. Muita água!

Ouviu o gargalhar das pessoas e um brilho nos olhos de quem realmente acreditava que poderia saciar sua sede. Valter se aproximou do prefeito e o ajudou a girar a manivela. Segundos depois, o início do balde mostrou-se visível.

— Finalmente — Maia disse com alegria enquanto gesticulou para que Valter pegasse o objeto.

O homem de grande estatura segurou o balde, mas teve uma ingrata surpresa. Antes mesmo que pudesse ver do que se tratava, sentiu um cheiro podre entrar em suas narinas e, quando finalmente pousou os olhos sobre o objeto, viu aquele mar de podridão e morte. Sem segurar seu estômago, Valter se viu largando o balde e liberando um torrente de vômito na frente de todos.

A surpresa foi geral: o povo de Água Funda logo viu o motivo do descontrole daquele homem enorme. O balde estava preenchido pela carcaça de algum bicho morto – não mais reconhecível –, tapurus, excrementos e outras coisas horripilantes. Algo que nunca fora visto em tal poço. O afastamento se deu de maneira generalizada e ninguém queria olhar naquela direção novamente.

Marcondes, entretanto, manteve-se estático. Seus lábios tremiam e suas mãos suavam mais do que qualquer outra parte do corpo. Sentia vontade de sair correndo dali, mas sabia que não deveria. O certo seria se manter frio e pensar no que dizer. Aquilo estava ocorrendo de maneira exatamente oposta ao que pensara dias atrás.

— É... — tentava encontrar as palavras certas, mas elas não pareciam muito dispostas a serem achadas. — Tivemos um problema...

Não adiantou. Ninguém mais o ouvia. As pessoas já estavam perdidas em suas próprias fofocas e teorias. Ignorado pelo seu próprio povo, Maia se sentiu como um pastor que vê suas ovelhas se dispersarem. Vendo Valter se reerguer aos poucos, o prefeito voltou a olhar para o poço. Apenas um nome vinha em sua mente: Breno.

— Nós temos muito trabalho pela frente — disse ao seu empregado.

Quando a lua apareceu no céu, as pessoas já comentavam sobre o ocorrido pelas ruas e calçadas de Água Funda. Marcondes permanecia trancado em sua casa, enquanto jantava e dizia para sua família como Breno Farias provavelmente o havia sabotado. No entanto, havia quem trabalhasse ou simplesmente seguisse ordens. Na delegacia, Augusto Nunes pensava no que comeria quando chegasse em casa, mas ainda tinha um último trabalho pela frente: João Cego. O homem de um olho só fora pego em um ataque contra o “novo” poço de Água Funda. Augusto se lembrava bem: o velho estava a um instante de ser morto por Levy. Sorte dele que o delegado acordara com os tiros e correra até o local habilmente.

ficando tarde, João — Nunes tentava convencê-lo a falar. A dupla estava numa sala de interrogatório apertada da delegacia. Nela, havia apenas uma mesinha  e duas cadeiras. João nem sequer estava algemado: o homem não oferecia resistência alguma. Além disso, o ferimento em seu ombro não fora tão bem tratado assim. Ele deveria estar no hospital, mas Marcondes fez questão que ele fosse levado a interrogatório antes de qualquer coisa. — Quanto mais cedo você falar, mais cedo essa confusão será resolvida.

— Eu já disse! — Sentado do outro lado da mesa, o velho vez ou outra pressionava seu ferimento. Estava com um esparadrapo velho, mas era melhor do que nada. — Eu num sei de nada, doutor.

— Você está me dizendo que foi até o poço e, por coincidência, encontrou-se com o famoso Diabo? Teve também a coincidência de você trocar tiros com os seguranças do local e acabar matando um deles? João, você deve ser o homem mais azarado do mundo.

— Eu tava bêbado! Bêbado! Não me lembro de nada, pelo amor de Deus.

— Então vamos fazer do jeito simples e direto: onde está Diabo? Diga. Não quero saber de seus motivos, mas apenas onde está o homem. Quem sabe não usamos isso pra aliviar a sua pena?

Olhando nos olhos do delegado, João lacrimejava. No entanto, manteve-se firme em seu propósito.

— Eu nunca vi diabo nenhum, seu doutor — disse com uma voz doce. — Eu um homem de Deus.

Irritado, Augusto se levantou. Pegando as algemas, garantiu que João ficasse preso.

— Preciso de um ar — falou enquanto abria a porta. — Não saia daí.

Do lado de fora, Nunes viu quem ele já esperava: nenhum policial, mas três pessoas que ele já conhecera antes. Eram elas: Lúcio Arcanjo, líder do bando de cangaceiros da região; Amanda Macho, uma das cangaceiras mais famosas do perímetro; Lucas Furado, membro do bando conhecido pela quantidade de vezes que já foi perfurado por balas e sobreviveu. Os três estavam com roupas ligeiramente formais, fugindo um pouco do padrão “cangaço”.

— Nada? — Lúcio perguntou. Augusto respondeu com o simples silêncio. — Eu sabia. A polícia daqui num costuma ter força pra conseguir respostas.

— Sorte do prefeito que ele pode contar cum nóis Amanda soltou uma gargalhada enquanto segurava o cabo do revólver que trazia no coldre.

— Posso? — Lucas perguntou ao chefe do bando.

Lúcio Arcanjo gesticulou positivamente com a cabeça. Furado passou por ele e, indo em direção de Augusto, estendeu a mão enquanto esperava que o delegado lhe entregasse as chaves das algemas. Sentindo um gosto amargo na boca, Nunes fez o que lhe era pedido. Com a chave em mãos, o cangaceiro entrou na sala de interrogatório, desalgemou João e o arrastou pela gola da camisa.

— Meu Deus! O que é isso? — O homem de um olho só se sentia mais perdido do que nunca.

— Uma transferência — Amanda ironizou.

João Cego olhou para Augusto, que nada fazia. O delegado devolveu o olhar de maneira triste, como se quisesse pedir perdão por aquilo. Antes que o bando deixasse o local, no entanto, Lúcio se aproximou do policial e disse:

— Eu não queria fazer isso, mas Marcondes pediu pra ser realista.

E, segurando o revólver com força, acertou um golpe na cabeça de Augusto. O delegado caiu no chão enquanto sangue escorria de um corte aberto em sua testa. Ele sentia raiva, mas sabia que não podia reagir. O trio de bandidos então colocou as máscaras e abriu a porta de saída da delegacia.

— Fique com Deus, delegado — Lúcio falou antes de deixar o local de uma vez por todas.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenha se divertido com a leitura. Agora as coisas estão ficando realmente tensas. Qual sua expectativa para os próximos capítulos?

Até mais o/



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