Filofobia escrita por UfuRagu


Capítulo 2
Capítulo 2




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Estes dias estiveram tão lindos passados em companhia de Audrey.

Eu tive como o pressentimento que a pouco a pouco teria desistido às suas lisonjas, mas tenho que ter confirmações, porque os discursos que minhas amigas fizeram comigo, talvez me influenciaram.

 

"Você está tão segura do que te chateia o facto que ela está apaixonada por ti?" Assim Cláudia e Laura me repitam, e graças a esta inócua pergunta, eu comecei a refletir nisso.

 

Ontem tive uma parte da resposta.

 

Nós fizemos um piquenique, todas as quatro juntas. Quando chegámos ao destino, Cláudia e Laura, deitaram-se no Jardim desfrutando o panorama, sob o doce e relaxante calor do sol.

 

Audrey estava atrás de mim, de repente agarrou-me pelos ombros, com uma segurança desarmante e empurrou suavemente as minhas costas cada vez mais abaixo, até que eu fiquei deitada sobre o seu peito. 

 

Eu estava muito envergonhada, mas não conseguia mexer-me. Naquele momento percebi que o simple e único motivo do por que eu não reagi, era que eu gostei de ficar assim com ela. 

 

Eu queria suas atenções, e sobretudo o seu afeto.

 

Ela estava acariciando suavemente a minha cara, falávamos, falávamos e ainda falávamos, esquecendo que, para além de nós, havia um mundo inteiro.

 

Naquele momento, eu tive aquela que Pirandello* chamaria - epifania - uma nova consciência da realidade, não tão alterada como nos seus contos, mas para mim contudo, era muito radical comparado com o que eu era habituada a fazer nestas situações.

 

Talvez não é meio covarde não afrontar os meus próprios sentimentos? Fugir, fazer como se não houvessem? 

 

Porque tenho que ter esta atitude comigo mesma? Não há nada errado no mostrar interesse para alguém que parece mostrar o mesmo.

 

"E se eu tentasse?" Achei.

 

No fundo a coisa parece recíproca, falta só uma confissão.

 

Sim, hoje Andrea ultrapassa os seus limites.

 

Já basta com este medo de viver! Eu toco a passividade, sou parecida a um ignavo** que não faz escolhas, e corre pelo inferno sem sentido, sem ter uma motivação.

 

Até a hoje gastei só oxigênio? Estou vivendo de verdade? 

 

Eu me queixo se não consigo no amor, entretanto fujo disto, não faço nada pra mudar minha situação, então o que espero? Que a providência resolva isto? 

 

A partir de hoje, vou escolher, eu escolho de lutar por esto -amor- o que pensei até agora? Como pude acreditar na vida independente relativamente aos outros?

 

Me sinto bem com o seu carinhos, com o seu jeito doce de fazer, eu não sou assim, tenho dificuldade em expressar minhas emoções, mas ela o faz com muita natureza. 

 

"Andrea...tudo bem? Você tem uma cara um pouco perdida!" Eis, outra vez que o De Sanctis interrompe meus pensamentos. Não acompanhei nem por um segundo a lição, o que eu deveria responder?

 

"Tudo bem...acho"

 

"Você fizeste os exercícios que eu tinha atribuído?"

 

"S...sim!" Havia exercícios?

 

"Mh...está. Quando vocês não percebem algo, têm que perguntar, não mordo ninguém. Não sejam tímidos!" 

 

Eu não sou tímida, se é isto que você está pensando! Mas sabe, hoje decidi de mudar, pouco me importo de pistões e gás 

 

—------------

 

*Pirandello é um escritor italiano, ativo entre a fim do 1800 e o 1936

 

**não encontrei uma tradução exata desta palavra, o ignavo/ os ignavi (falado -inhàvô- e - inhàvi- no plural) é o nome com o qual Dante Alighieri chama algum tipo específico de condenados. Os ignavi são gente que em vida nunca escolheram nada. Gente sem vontade e sem força espiritual. Preguiçoso, vil, covarde.

 

 


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Notas finais do capítulo

Andrea tenta mudar de atitude. Ela tem uma epifania. Será que está escolhendo bem? Ou simplesmente está fazendo uma escolha errada, que vai levá-la a fechar sobre si mesma?



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