O Lobo-homem e o Feiticeiro Mestiço escrita por Melvin


Capítulo 18
18: Meio humano.


Notas iniciais do capítulo

Olá!
Eu sei, novamente fui levado pela correnteza e me distrai na vida. Mas nem por isso eu deixei de me cutucar e dizer "Hey, lembra que voce fez apostarem no ultimo capitulo? Tá na hora de dar o premio, honrar seu compromisso, Melvin"... e aqui estou.
Mais um capitulo!

Antes de ler, alguns pontos:

— Quando ponho numero antes do capitulo é o Luahn, quando não tiver é o Fiel, e é isso que estou fazendo.

— Estamos em um momento crucial, meio lento - eu sei - e o ambiente fechado nos personagens e no mesmo lugar, a casa da Carlyne, mas é onde a ideia do inicio dessa historia está sendo exposta e pontos estão se fechando. E isso quer dizer o que? (Voce se pergunta) Resposta: Significa que o meio chegou (AH! Foram tantos capítulos, nem acredito! E é um boa historia, não concorda? Espero que não seja meu supra sumo de vida[e sim de momento quem sabe], porque... aff, como vou viver depois de acabar a HLFM?)
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Boa leitura!!



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Assim como eu, Carlyne encarava Fiel, mas seu movimento de rosto, com expressão preocupada chamou minha atenção e logo ouvi os rosados próximos. Névoa e Carvão haviam negado entrar na casa conosco, porém, de repente, estavam ao lado da mesa, encarando Mejen ao mostrar os dentes e lançando breves olhares para a mulher e até para mim com leve desconfiança.  

Era uma situação carregada e confusa. Eu havia acabado de descobrir que não veria minha mãe mesmo após a morte, porque ela era eterna com a lua, e o homem que me criou podia ser atacado. Mas eu não podia fazer os irmãos deixarem de defender Fiel, era a função deles no bando, os compreendia.

— Pare com isso Mejen, por favor — pedi ao meu mestre, que ainda estava concentrado. — Ele já está sofrendo demais. Deixe-o, pois não vou conter os lobos — indiquei a dupla com um movimento de cabeça e o feiticeiro os notou.

— Está bem — soltou-o, movendo a mão que sustentava seu feitiço.

No mesmo segundo, Fiel se levantou da mesa com uma expressão séria e incomodada e saiu da casa sem olhar para ninguém, assumindo a forma lupina logo depois da porta e sendo seguido pelos seus dois companheiros menores.

Por um tempo, observei aquela saída pensando em ir atrás dele e dar uma razão para que ele não tivesse rancor do homem que me criou. Contudo, meus pensamentos se desviaram, ecoando suas palavras, todas elas, numa tentativa de guardar os detalhes daquele pedaço da minha história e família que Fiel contou.

— Mejen... — sussurrei ainda mergulhado nas informações. — Ele disse... — olhei-o, confuso e incerto se havia ouvido aquilo ou não — para que eu nascesse humano? O que significa?

 Logo após perguntar, eu tive minha suspeita de resposta e ela parecia uma peça disforme e inacreditável que ligava os acontecimentos da lua cheia e o meu nascimento. 

— Luahn... — ele apoiou a mão sobre a minha paternalmente, notando que eu ainda estava atordoado na estranha situação de não conhecer minha própria origem e não ser mais apenas um humano com dom de magia. — Eu não sei sobre seu pai. Alana era jovem e nunca me disse algo confiável de quem ele realmente era. Ela sempre mudava a história a cada vez quando eu buscava saber. Na verdade, — sorriu de leve — vocês dois fazem isso, às vezes mudam o foco da conversa ou brincam com a verdade quando lhes convém.

Não acompanhei a nostalgia dele, que sorria de leve e queria que me confortar. Eu ainda estava suspenso e sem reação, pois aquela vida de jovem feiticeiro, de repente, não era mais a mesma.

— Bom, pelo que eu entendi de tudo... — Carlyne disse receosa e interrompendo o silêncio que ocupou a casa. — Você tem uma metade não humana. E a julgar pela criatura que se transforma em algumas noites... — encarei-a, entendendo sua linha de pensamento — você tem uma grande ligação com os lobos.

Arregalei os olhos e me levantei bruscamente, indo atrás de Fiel o mais rápido que podia. Já que Mejen não sabia, o lobo teria que me dar mais algumas explicações.

Naquele inicio de tarde, enxerguei Fiel deitado perto do canteiro de chás e temperos, um lugar que eu também gostava pelo aroma calmante das plantas, mas foquei-me. O lobo cinzento me notou  ainda longe e levantou-se, caminhando para mais distante com a cauda baixa e nenhuma expressão além das orelhas baixas de incomodo. Corri para alcançá-lo, chamando a atenção de Carvão, que cavava a terra distraído, e da irmã, deitada na sombra da moita de um chá.

— Eu quero mais respostas! — disse-lhe quando estávamos mais próximos e quase perto de uma das cercas da fazenda, distante da casa. Fiel parou e virou-se, silencioso. — Desculpe o Mejen, ele apenas não te conhece ainda...

 “Também é um feiticeiro que não conheço e confiei nele por você” ouvi sua fala em minha mente e fui atingido por saber que o aborrecimento dele também me envolvia.

— Eu não sabia que ele agiria assim. Ele só estava atrás de informações e certeza de quem você é. Não o culpe, ele é praticamente meu pai de criação, quer me proteger.

“E você o defende com filho. Quem sou eu perto desse laço?”

— Isso soa como ciúmes — apontei com suspeita e leve tendência de sorrir.

Não” ele recuou um passo, desviando o olhar e parecendo um lobo confuso.

— Mas também não gostei dele ter lhe forçado a dizer tudo aquilo. Sinto muito. Podia ser de outra forma... — me aproximei o restante dos passos — Quando você confiasse e com mais cuidado, como você merece — acariciei o alto da cabeça de Fiel, não evitando um leve sorriso torto. — E sendo sutil e devagar. Isso que diria o manual de como te alcançar, peludinho — ele encarou-me. — Acho que ninguém espera que um lobo solitário, selvagem e sobrevivente, no fim das contas, reaja melhor com carinho e calma do que com rispidez.

Os olhos claros do lobo me observaram e a leve hostilidade que sentia vindo dele desapareceu. Então ele assumiu forma de homem:

— Que respostas você quer? — cruzou os braços, sério e esperando.

— Você disse que não sou completamente humano. Sabe algo sobre meu pai?

Fiel hesitou, franzindo o cenho de leve e observou a paisagem, passando o olhar rapidamente sobre os dois irmãos, que ainda exploravam o canteiro de chás atrás de algo enterrado, longe de nós.

— Sei, sim. — Encarei-o com mais atenção. — No momento que aceitei o acordo da feiticeira, vi sua memória e a razão da missão que me deu, assim como os medos que ela tem sobre seu destino. — Fiel olhou-me por um momento preocupado, depois verificou se Carvão e Nevoa permaneciam onde estavam e aproximou-se mais. — Luahn, sua habilidade de nos ouvir, de nos compreender, mesmo quando lobos, e a sua transformação selvagem são porque seu pai era um lobo.

Refleti e sorri forçado, minha imaginação deu uma reviravolta até eu conter sua indecência e senti-me corar, confuso.

— Minha mãe com lobo? Isso parece estranho até de imaginar — senti um incomodo em dizer aquilo.  — Como seria possível?

— Ela é uma feiticeira da luz e...

 — Ah, sim! — o interrompi, empolgado ao lembrar. — Uma das habilidades naturais é manipulação de áureas, a influência da mente e...

— E a transformação física, se tiver magia suficiente — ele completou controlado.

— Então ela pode ter se transformado e encontrado um lobo.

— Sim — confirmou, desviando o olhar, com alguma leve vergonha, e logo mudando do meu ponto de curiosidade, ao seguir adiante: — Seu pai não era apenas um lobo, ele é o alfa da alcateia que domina as montanhas geladas ao sudoeste há gerações, uma das mais sólidas até... — ele hesitou rapidamente — até esse encontro e você nascer. Alana desvirtuou um herdeiro da família, corrompeu-o com feitiçaria e quase o desviou de sua posição de líder, ele podia ter sido banido pela relação que tiveram. Hoje, o alfa vive mais do que um lobo deveria, possivelmente pelo amor que a feiticeira sua mãe teve por ele, mas o principal problema é que você é o primogênito e ele não tem outro filho apto a assumir a liderança da alcateia que segue a mesma cultura há tanto tempo e com honra.

Mais uma vez, meu chão sumiu. O mundo pareceu estranho e eu não era mais eu. Parecia que quem eu tinha certeza que era, estava se desfazendo mais fácil que um castelo de areia seca sob a chuva.

— Eu sou um... feiticeiro mestiço de lobo?

— Sim. — Atordoado, encarei o chão refletindo aquilo e senti o toque dele no meu ombro, afagando enquanto sentia que estava atento às minhas reações. — Como seu pai, sua mãe também era de uma linhagem pura. Então, apesar de mestiço, chega a ser equivalente, se não melhor, que os comuns de seus dois lados.

Levei um tempo absorvendo a história.

— Não sei Fiel... — forcei um sorriso fraco. — Não sou tão especial assim... E isso é assustador. Não sei o que vai acontecer ou o que fazer com a peculiaridade que isso me trás... as coisas que não sei...

Ele riu rápido com deboche, o que me fez encará-lo surpreso.

— Você, aquele que decidiu aventurar-se no mundo abandonando tudo que conhecia na vila onde cresceu, sente medo do que não conhece agora?... É a mesma coisa neste momento, Luahn, vai ter que dar seus passos para saber aonde chegará e enfrentar cada situação do seu destino. Muito parecido com a vida de um lobo solitário, só existe o caminho à frente e o que encontrar terá que enfrentar apostando sua vida. — Sua mão deslizou do meu ombro para a minha, segurando-a enquanto me encarava de volta. — E eu estou aqui para te ajudar a compreender o que puder da metade que desconhece e protegê-lo.

Admirei-o enquanto meu coração parecia absorver o sentido de tudo com cuidado, acelerando seu compasso ao entender como ter Fiel era importante. E, de repente, queria em agradecê-lo com mais que um obrigado. Contudo, eu ainda tinha perguntas para fazer, estavam ansioso e curioso para descobrir o que ele podia me dizer.

— Fiel, então, os lobos que nos perseguiam nunca foi por eu tê-los enfrentado, não é? Sempre tiveram outro motivo.

Fiel concordou:

— As últimas notícias que tive do alfa, era de que já beirava a morte. Por isso, logo a liderança da alcateia pode ser exigida por você. E como todos eles sabem, um lobo comum deles não poderia enfrentar um feiticeiro pelo posto. Com esse motivo, eles agiram antes que você estivesse com todo seu poder materno liberado e uniram forças quando perderam o prazo.

— Mas eu não quero ser líder deles — disse-lhe, imaginando o trabalho de alimentar e manter toda uma alcateia segura. Eu não suportaria fácil perder indivíduos sob minha tutela e que confiaram em mim.

 — Lobos não costumam saber de opiniões, agem por instinto e um objetivo. Além disso, sua existência é uma mancha não desejada e apagá-la seria trazer honra ao seu pai. Deixando seu meio irmão como único herdeiro.

— Meio irmão? — faltou-me ar e encarei-o surpreso.

Minha família de sangue sempre foi minha mãe e eu, além de alguns nomes mencionados por Mejen durante meu crescimento de parentes distantes e espalhados pelo continente. Agora, depois de saber que tinha um pai e o que eu era, tinha também um irmão?

— Sim. É um filhote de um lobo velho, talvez não esteja em boas condições, Luahn. Porém, se estiver vivo, deve estar se aproximando dos cinco meses de vida.

— É menino ou menina?  — fiquei curioso.

— Eu não sei — respondeu indiferente e ficou sério. — Mas isso não faz diferença. Os lobos fiéis ao seu pai vão fazer o possível para você não existir e deixar seu meio irmão, lobo puro, com o alfa só para sustentarem sua história e cultura. Não desistirão fácil.

Encaramo-nos. Fiel estava controlado, mas eu podia enxergar algo aliviado nele, como se um peso tivesse saído de seus ombros e sua alma estivesse renovada e focada numa missão.

— Acho que já aprendi bastante por hoje — sorri, um pouco cansado. — Mas, talvez com sua ajuda, encontre uma saída para poder conviver em paz com tudo isso.

 Um leve sorriso puxou o canto da boca dele e seu polegar roçou minha mão brevemente, o que me fez sorrir mais. Então ouvimos um uivo distante, que chamava seus integrantes para reagrupar.

— Quem é? — perguntei a Fiel, sem saber se existia uma forma de diferenciar os lobos de alcateias.

— São de seu pai. — Fiel chamou Nevoa e Carvão com um gesto, os dois já estavam atentos em nós e chegaram logo: — Investiguem o que está acontecendo e quantos são. Não digam sobre nós para eles de maneira nenhuma ou sustento que os perseguirei até morte; dos dois — ameaçou com um sutil rosnado na voz e olhando um de cada vez. — E quando voltarem para nós garantam que não sejam seguidos.

Depois de ouvi-lo, os dois lobos correram num misto de empolgação e seriedade. Pude notar quem apreciaram se sentirem úteis e importantes para Fiel.  Entretanto, com a novidade próxima, nossa conversa se encerrou ali. Minha cabeça já estava no limite de coisas novas e aos poucos fui polindo e encaixando as novas peças de minha própria origem.

Não relutei nenhum pouco em contar aquela pequena historia sobre meu pai lobo alfa e alcateia para meu mestre de feitiçaria. Eu confiava em Mejen e sabia que ele poderia me ajudar a organizar tudo e achar as saídas e caminhos. Aquele homem era a minha fonte de conhecimento do lado mágico e Fiel a fonte do lado lobo. Contudo, Fiel ficou carrancudo quando me viu repassando os detalhes, me deixando certo de que ia levar um tempo até ele aceitar que Mejen era útil.

Não demorou muito e o mestre buscou me convencer de que devíamos partir da casa de Carlyne naquela tarde, para nos afastamos dos lobos, e por Fiel ter amenizado a expressão assim que ouviu a sugestão, concordou que era uma boa ideia, então acatei.

No meio da tarde, esmaguei aquela mulher no último abraço. Mesmo Carlyne sendo meio distante e na dela, com receios de que olhassem demais para suas manchas claras ou rosto, eu tinha criado um vínculo com ela, afinal, sem a fazendeira, Fiel e eu teríamos morrido e sentia muito abandoná-la sozinha naquelas terras isoladas e num mundo cruel.

— Largue-a logo Luahn, antes que acabe a sufocando — disse-me Mejen, observando-nos de longe.

— Não posso! — falei, ainda abraçado àquela mulher, apesar dela já estar tentando me empurrar. — É um adeus e adeus são difíceis. Vou sentir sua falta.

— Santo Pan! — reclamou ela, rogando e golpeando meu estomago forte suficiente para eu soltá-la, e eu ri. — Eu vou estar no mesmo lugar, rapaz. Não é um adeus se um dia voltar.

— Irei me lembrar — sorri, olhando-a, e ela cruzou os braços com uma expressão cansada que me pareceu falsa. No fundo, eu via que já se sentia solitária sem ter nossa companhia.

— Só não volte com mais problemas, por favor — ela pediu com um suspiro.

— Farei o possível. E muito obrigado, Carlyne.

Em seguida, me uni a Fiel, que estava na forma de lobo, e a Mejen com seu cavalo carregado com nossos poucos pertences e suplementos. Comigo estavam a mochila e as armas Atroes que eram do lobo-homem, do jeito que tinha começado a nossa saída da cidade de Prata Leal. E juntos, nós caminhando em direção a estrada mal usada que se embrenhava na floresta. O plano era seguir para o lado oposto de onde veio o uivo, se distanciando mais de tudo aquilo, e eu e Mejen estudaríamos lendas e boatos de mestiços que puderam existir durante o caminho para buscar entender um pouco de até onde ser diferente seria bom ou ruim.


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Notas finais do capítulo

Obrigado por ler mais um capitulo e acompanhar!

Prometo que o próximo já traz coisas novas e será legal. De um jeito bom? De um jeito ruim?(você pode me perguntar). Heheh Não sei~, eu respondo.>—< verás.

Então no próximo e inédito episodio de O Lobo-homem e o Feiticeiro Mestiço: Será que Melvin é um autor bom e legal, ou suas novidades poder chacoalhar o mundinho e dar um chute nas expectativas de futuro? Ainda não sabemos, mas é certo que a historia esta limpando arestas para algo depois desses capítulos de paz. Dá para até ver um pano branco de possibilidades depois dessa lavação de historia não dita do passado de Luahn...

Huahuahua! Esperem o proximo!
Meu obrigado novamente por acompanhar.
E tentarei ser mais breve no próximo (ou próximos, vou tentar fazer estoque)

Observações:
¹Achei o lobo preto lindo, nossa, não consegui deixar de encarar...
²Não se esqueçam da peculiar espada e o povo lendário que a fez (eu tava esquecendo dela, hehe).
³ segredinho: se eu soubesse que o mestre de Luahn ia ser importante e aparecer de novo, eu teria escolhido um nome melhor, não consigo me acostumar :/...



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