Dean Winchester era um homem. Daqueles que a mente fantasia pelo resto da vida, mesmo depois de se casar com alguém que jamais será metade do que ele é e que você só se contentou com tão pouco porque jamais imaginou que poderia existir um homem como Dean. Mas ele existia e era o pacote completo do clichê das fantasias adolescentes.

Alto, forte, maduro e estúpido do jeito equilibrado que apenas um homem mais velho poderia ser. Vestia jaqueta de couro e ouvia os clássicos do rock em seu carro antigo e cheio de estilo, daqueles que você apenas se imagina no banco de trás fazendo coisas que até Deus dúvida, em um espaço tão pequeno. Ele era o rebelde de coração puro que dormia com pessoas sem nome apenas pelo medo de se apaixonar de verdade, pois sua vida era cheia de riscos e ele não poderia arriscar se apegar tanto à alguém e depois perdê-lo.

Era o tipo de homem que deixava as garotas molhadas e os garotos, como ele, dolorosamente duros apenas com um olhar. Era aquele que invadia sonhos e tornava tudo completamente erótico, com sua barba de dois dias arranhando a parte interna das coxas de quem o acompanhava na aventura. Era um caso freudiano da melhor espécie, um clássico do Complexo de Edípo. O homem mais velho e protetor que os abandonados como ele sempre buscavam em seus parceiros, mas jamais emocionalmente disponível para “crianças” como ele, pois isso era o que o pai original havia feito e era o que ele merecia, afinal de contas.

Dean Winchester era o homem que Castiel nunca teria, o motivo de suas dores emocionais e a razão pelo qual ele mordia os lábios ou a língua durante a noite, apenas para não gemer alto enquanto seus dedos cuidavam de si mesmo. Dean Winchester era o homem que o havia estragado para outros homens, pois nenhum jamais o faria se sentir daquela maneira.

E tudo isso era culpa de sua estupidez adolescente e a incomparável habilidade que seu irmão, Gabriel, tinha de tornar sua vida miserável. Não intencionalmente, na maior parte do tempo, mas era essa a função de um irmão mais velho na pirâmide social, então estava tudo bem.

Porém, ao mesmo tempo, não estava. Pois uma coisa era lidar com uma perna quebrada ou ardência na pele por uma semana por conta das apostas. Outra era estar apaixonado e sentir que sua vida dependia do homem que desejava, mesmo sabendo que essa era uma paixão impossível.

Castiel era patético, ele tinha consciência disso desde seus quatorze anos de idade, quando começou a se masturbar pensando no Nicolas Cage em Motoqueiro Fantasma. Ou quando se apaixonou pelo tio de um amigo, quando tinha quinze, e sabia que o homem não valia nada. Mas aquele estado era algo além do normal, até mesmo para um adolescente de dezessete anos com uma clássica atração por homens mais velhos.

Tudo havia começado com mais uma aposta de Gabriel, algo simples que tinha o intuito de tirar Cassy do casulo antissocial em que vivia. Saia dos clássicos e entre no moderno, esse era o objetivo. Mas Castiel era tão ligado aos clássicos que jamais imaginou que ao entrar naquela livraria, teria sua vida alterada para sempre.

Foi lá que ele conheceu Dean, na sessão de Ficção Sobrenatural. O impacto foi imediato, Castiel sentiu as pernas tremerem no instante em que o viu e foi ele que o convenceu a levar o primeiro volume de uma coleção sobre caçadores sobrenaturais, com seus lindos olhos verdes que fizeram o adolescente se trancar no quarto assim que voltou para casa.

Desse dia em diante ele passou a ver o homem em todos os lugares que ia. No ônibus a caminho da escola, no café em que trabalhava algumas vezes na semana e até mesmo em casa, durante todos as noites ou sempre que pegava aquele livro maldito. Pequenas alucinações comuns ou manifestações de sua fantasia, não importava, Castiel estava ficando louco de um jeito ou de outro e não havia outra solução para seu problema, a não ser gozar enquanto imaginava Dean o dominando com a boca.

Eventualmente Castiel voltou a livraria querendo o restante da coleção dos caçadores, porque no final das contas nem era tão ruim assim (e admitir isso o fez perder cinquenta dólares e ganhar um belo eu avisei de Gabriel). No entanto, sua verdadeira intenção era encontrar novamente com Dean Winchester, que ele tinha certeza que encontraria por lá. A realidade era que Castiel sabia exatamente todos os lugares que poderia encontrar com o homem, graças a gloriosa internet. Algumas pessoas o chamariam de stalker, Castiel diria que elas estavam erradas.

Obcecado era o termo correto.

Quando entrou na livraria, não se decepcionou. Logo viu Dean parado perto da seção de Ficção Sobrenatural, acompanhado por um homem ainda mais alto e tão bonito quanto. Castiel não havia reparado nele a última vez em que esteve lá, mas sabia que deveria ser o irmão mais novo de sua paixão. Sam Winchester, o rapaz complicado e certinho, que o trataria como um rei caso fosse com ele que Castiel fantasiasse.

Se aproximou dos dois com o coração retumbando, tão alto que parecia estar em uma marcha de Ação de Graças. Castiel olhou para Dean sem esconder suas intenções, deixando estampado em sua cara que queria ser levado até o banco traseiro de seu Impala 67 e tornar aquele carro uns dois anos mais velho. O homem o olhou de volta com o cenho franzido, desgostoso, mas isso apenas aumentou o desejo de Castiel. Parou ao lado dos irmãos e procurou pelos volumes restantes da coleção, um deles estava na prateleira mais baixa e isso fez o rapaz engolir em seco ao se ajoelhar para pegar o livro. Sua cabeça estava na altura perfeita, bastava apenas virar para o lado.

Mas ele não seria capaz de fazer isso, não no meio de um lugar público. Dean não o rejeitaria, mas também não iria retribuir ao desejo de Castiel. Sam continuaria atrás do irmão e isso tornaria as coisas ainda mais constrangedoras. Além disso, havia câmeras pelo local, o que o segurança iria pensar ao ver o um garoto de dezessete anos tentar pagar um boquete para aquele homem de trinta e poucos, parado, sem reação? Ele chamaria a polícia definitivamente.

Castiel estava louco, mas não ao ponto de ser preso.

O garoto se dirigiu ao caixa com seis livros em mãos, pagou por cada um deles sentindo a antecipação crescer em seu peito. Seu pescoço queimava com o olhar que Dean dirigia a ele, ainda parado no mesmo lugar com o irmão. Castiel agradeceu ao rapaz que o atendeu quando a sacola pesada foi entregue junto com a nota fiscal da compra, sem olhar para trás saiu da livraria com pressa de chegar ao ponto de ônibus.

O caminho até em casa foi complicado, pois o peso dos livros em seu colo o fazia pensar em como seria a noite em seu quarto. Em qual posição fariam, nível de força e velocidade? Dean estaria mais vulnerável e ficariam na horizontal, com o homem por cima o tomando com carinho? Ou Dean estaria alterado, sufocando entre problemas internos enquanto sufocava Castiel com o próprio prazer? Seriam amorosos, egoístas ou se banhariam em fetiches que Castiel jamais compartilharia com outra pessoa? Ele não tinha ideia, mas estava preparado para o que quer que fosse.

Ao chegar em casa, com a sacola pendurada em seus braços para ninguém ser capaz de vê-lo duro como estava, Castiel foi direto para seu quarto. Deixou os livros caírem no chão e se jogou na cama, fechou os olhos com força enquanto abria o zíper da calça e em sua mente passou uma mistura de tudo o que havia imaginado durante o caminho. Ele terminou pouco tempo depois, mais rápido que em qualquer outra situação.

Com a cabeça ainda zunindo, se virou na cama para pegar o segundo livro daquela coleção. Abriu na primeira página e se deixou mergulhar na história que estava fazendo um sucesso estrondoso. Logo sairia a adaptação pro cinema, mas Castiel só veria quando baixasse ilegalmente em seu computador. Estaria na segurança de seu quarto e poderia passar os 122 minutos se satisfazendo, poderia até mesmo lamber a tela na hora que sentisse vontade, porque ah, ele sentiria.

Castiel não confiava em si mesmo para assistir ao filme rodeado por pessoas, pois ele não conseguiria ver Dean Winchester, o caçador de criaturas sobrenaturais, em uma tela tão grande e simplesmente não fazer nada.

E ele realmente não queria ser preso.