Entre vírgulas escrita por Heloísa Bernardelli


Capítulo 8
Capítulo 7




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/774189/chapter/8

― Senhor?

Lucjan afastou os olhos do folheto colorido em que podia analisar a proposta de todos os cartões que o sistema de transporte da Breslávia tinha a oferecer. A moça do outro lado do balcão o examinava com olhos curiosos, quase preocupados.

― Desculpa ― pediu, sua voz falhando como se tivesse ficado enroscada no meio da garganta. ― Eu quero um short-term.

― Certo. ― Loretta, como estava escrito em seu crachá, puxou um cartão branco de uma das gavetas do lado de dentro. ― O cartão de curto prazo pode ser carregado só uma vez. Você pode validar com trinta, sessenta ou noventa minutos, vinte e quatro, quarenta e oito, setenta e duas ou cento e sessenta e oito horas. Durante o período de tempo que você escolher, você pode viajar de ônibus e bonde em qualquer linha.

Ela continuou e continuou. Lucjan se perdeu outra vez, escorregando sem cuidado por entre a desordem que aquela decisão, de aspecto tão simples, causava em sua mente. Mais cedo, durante o café da manhã, Marlena tinha explicado sobre suas opções e sugerido que ele solicitasse um cartão de cinco meses, que levaria alguns dias para ser entregue, mas Lucjan não precisaria se preocupar em renová-lo até dezembro.

Ainda assim, quando Loretta deslizou o panfleto informativo sobre o balcão, e ele entrou em contato com todas as outras possibilidades, os únicos cartões que pareceram realmente atrativos foram os menos permanentes. Como se caíssem melhor com aquele sentimento de inconstância que o atormentava desde sua chegada, quatro dias atrás.

Não que tivesse planos de ir embora. Não era disso que se tratava. Não tinha nada a ver com suas decisões lógicas e conscientes, e sim com o impulso que ele nem percebia, mas que o fazia levar a escova de dentes de volta para o quarto depois de usar, e que ainda não o deixava enfileirar os sapatos ou pendurar as camisas que tinha comprado na segunda-feira. O estranhamento que ele tratava de ignorar todas as vezes que abria a geladeira para procurar algo que pudesse comer, como se nada daquilo lhe pertencesse. Como se precisasse de permissão para ir e vir dentro do espaço que tinha sido escolhido também para ser seu.

Depois de pagar pelo máximo de horas que poderia validar em seu novo cartão, Lucjan andou até o ponto de ônibus mais próximo. Deus, que calor fazia naquela quinta-feira! Era sua terceira entrevista de emprego. As duas outras tinham acontecido no dia anterior, uma pela manhã e outra à tarde, ambas em escolas de idiomas do bairro, às quais deu preferência pela proximidade e comodidade. Esta, por sua vez, ficava do outro lado da cidade. Levaria uma boa hora e meia de ônibus, e ele passou cada minuto do caminho apenas torcendo para que a proposta ao menos fosse adequada. Se não um ótimo pagamento, pelo menos um ambiente de trabalho receptivo.

Nem um, nem outro.

Lucjan foi recebido pouco calorosamente pela secretária e esperou cerca de quarenta minutos até ser chamado para sua reunião com a diretora, que parecia pouquíssimo disposta, mas avaliou rapidamente seu currículo. Não fez muitas perguntas e não o deixou à vontade para se manifestar sem ser convidado. Ao final, porém, disse que a vaga era sua, desde que estivesse de acordo com as condições: ele trabalharia como professor substituto e precisaria estar disponível sempre que outro da mesma área faltasse. Receberia trinta złotych por cada aula de polonês e eslovaco, e quarenta pelas aulas de russo e língua sérvia, o que não seria de todo ruim caso soubesse quantas horas trabalharia ao longo da semana.

Apesar da instabilidade da oferta, e da falta de acolhimento do ambiente, Lucjan não quis abrir mão da chance de voltar a trabalhar. Porque sentia falta de dar aulas, mas principalmente porque não achava justo com Marlena que ela fosse a única contribuinte e, pior do que isso, que ele continuasse usando o dinheiro que tinham economizado juntos para quando se casassem. Não havia mais nenhuma chance de isso acontecer, mas poderiam ao menos dividir por igual o valor que restara e usá-lo para planos individuais.

Saiu da sala da diretora ao mesmo tempo em que uma turma inteira, entre adultos e adolescentes, deixava uma aula que ele supôs ser de polonês pela maneira como se despediam. Parou junto do balcão da secretária para deixar uma cópia de todos os seus documentos e do diploma, que vinha carregando consigo em um envelope desde o dia anterior. Judyta, como se apresentou a ele, prometeu que prepararia o contrato até segunda-feira, e então ele poderia voltar e assinar. Tão simples que nem Lucjan acreditou.

Despediu-se da mulher e costurou por entre os alunos que se aglomeravam na entrada, como se quisessem aproveitar os últimos minutos após a aula para confraternizarem, de repente fazerem algumas amizades. Já estava na esquina, esperando até que o sinal fechasse para poder atravessar a rua, quando um rapaz o alcançou.

― Przepraszam, ehm... Czy m... możesz mi... ehm... Pom...

― Eu falo inglês.

― Ah ― o outro disparou com embaraço, enquanto fechava o pequeno livro que tinha nas mãos. ― Você pode me ajudar? Qual ônibus eu preciso pegar para ir até o bairro ― e, depois de dar uma olhadela nas anotações que tinha feito na palma da mão, falou bem devagar ― Ołbin?

― Desculpa, eu também não sou daqui ― Lucjan lamentou. ― Talvez seja melhor você consultar na internet.

― Você conhece alguma biblioteca por perto? Ou qualquer lugar onde eu possa usar o computador?

Lucjan negou com a cabeça.

― Por que não usa o celular? ― Sugeriu.

― Bem... ― O rapaz tirou do bolso dos jeans o aparelho pequeno de abrir e fechar. Depois, com um sorriso sem jeito, o guardou outra vez.

― Ok ― Lucjan soprou junto a um riso. ― Eu estou indo para o ponto de ônibus. Se quiser vir comigo, podemos nos informar por lá.

― Legal, obrigado.

Os dois olharam ao mesmo tempo para semáforo, que já tinha ido para o verde e voltado para o vermelho enquanto conversavam.

― Sou Lucjan ― ele lembrou de dizer, estendendo a mão.

― Fionn.

Lucjan perdeu um tempo reproduzindo o nome do rapaz em sua cabeça, uma vez atrás da outra, mas não teve certeza de como soaria se dissesse em voz alta.

― De onde você é? ― perguntou enquanto atravessavam até o outro lado da rua, Fionn parecendo se esforçar para alcançar suas passadas largas.

― Irlanda ― o outro respondeu. ― E você?

― Daqui mesmo, de Tarnów. Não sei se você já ouviu falar ― emendou rapidamente. ― Fica no sudeste.

― Não conheço. Mas eu não conheço quase nada por aqui ― Fionn contou, virando o rosto para o lado e para cima, em direção ao seu. ― Eu decidi vir de última hora, não tive tempo de pesquisar.

― Vai ficar quanto tempo?

― Seis meses ― disse, mas não pareceu muito convicto, Lucjan notou. ― É o tempo de duração do curso de polonês.

― Quando você começou?

― Hoje. ― Fionn soprou um riso desanimado. ― Foi humilhante. A turma começou tem um mês. Quando me matriculei, eu menti que tinha noção básica da língua, senão eu teria que esperar até setembro, quando eles normalmente abrem outra turma.

Lucjan riu enquanto lhe assistia negar com a cabeça, como se reprovasse a decisão não muito esperta.

― Logo você consegue alcançar o resto ― garantiu, no entanto, porque achou que deveria ser legal e otimista. ― Você trabalha com quê?

― Tradução. Já trabalhei como intérprete também. Mas eu não sei se sou muito bom com, ehm, contato e, você sabe, pessoas.

Lucjan engoliu um riso, porque, pela expressão do outro, não era uma piada, embora parecesse com uma.

― Agora eu faço tradução de artigos ― o rapaz continuou. ― Normalmente do francês para o inglês, mas também aparece o contrário às vezes, dependendo da revista onde vai ser publicado.

― Você já deve ter lido sobre todo tipo de coisa.

― Sim. De benefícios emocionais da dança até análises sobre cocô de pinguim.

― Impossível ― Lucjan duvidou.

― Me dá seu e-mail, eu te envio o arquivo ― Fionn prometeu. ― Mas eu sinto que é minha responsabilidade te avisar de que não é interessante para todas as pessoas.

― Será que é interessante para alguém?

― Foi publicado em uma revista internacional de biologia que parece bem conceituada.

― Deve ser pela originalidade.

E Lucjan se deixou levar pela risada de Fionn enquanto se acomodavam no banco vazio do ponto de ônibus.

― Você é professor lá na escola?

― Bem, a partir de segunda-feira, sim.

Fionn arqueou as sobrancelhas e deu uma palmada gentil em seu ombro.

― Parabéns, cara.

― Valeu.

― Você dá aula de quê?

― Sérvio, eslovaco e russo. Ah, e polonês, claro.

― Sério? Tudo isso?

― Não é tão difícil quanto parece ― Lucjan admitiu. ― Elas ficam em grupos parecidos, apesar de serem de regiões diferentes.

― E você veio pra cá para trabalhar?

Lucjan, sem pensar duas vezes, disse que sim. Contou que tinha decidido sair da casa dos pais havia pouco tempo, sem dizer que eles eram que tinham decidido isso por si. Até disse que morava com Marlena, sua melhor amiga, mas escolheu ocultar o fato de que tinham sido namorados e, mais tarde, noivos. Assim, pensou, evitaria que em algum momento chegassem ao assunto do término e ao motivo que os levara até isso.

Percebeu que, depois das entrevistas de emprego, que não pareciam contar exatamente como socialização, aquela era a primeira vez que conversava com alguém que não sabia pelo que tinha passado nos últimos tempos. E tinha algo de muito interessante nisso. Não como se pudesse finalmente fingir que aquele período não existira, porque pensava que essa não deveria ser a maneira mais saudável de lidar com suas marcas, mas como se finalmente pudesse afirmar quem era sem dizer obrigatoriamente quem tinha sido antes, ou o caminho que percorrera para chegar ali.

Bem, não que tivessem entrado no assunto. Em nenhum momento falaram sobre sua sexualidade, ou a sexualidade de quem quer que fosse. Não era sobre o que conversaram, mas sobre o que não precisara esconder. Sobre o que poderia dizer caso quisesse e houvesse a chance.

― É aquele ― Lucjan falou quando viu o ônibus que Fionn deveria pegar, segundo o que dissera um passante. ― Você vai descer na terceira parada.

― Valeu, Lucjan ― o rapaz disse enquanto se levantava, colocando a mochila no ombro antes de estender a mão para um aperto. ― Nos vemos lá na escola, provavelmente?

― Provavelmente.

—--

― Querido, estou em casa!

Lucjan riu sozinho ao ouvir o informe melódico de Marlena. Girou na cadeira e voltou-se para a porta, onde ela logo apareceu. Parecia desorganizada, com a roupa úmida e fora do lugar, os olhos cansados, os cabelos ouriçados.

― Quem foi que te atropelou no caminho? ― perguntou e, apesar de soar muito sério, deixou que Marlena encontrasse o tom debochado por trás disso.

― Tantas coisas diferentes que você não acreditaria ― disse ela entredentes, com os olhos espremidos em ameaça. ― Como foi seu dia?

Lucjan a observou soltar a mochila pesada no chão e, sem se preocupar em tirar os sapatos, derrubar o próprio corpo em sua cama.

― Bom ― ele respondeu. ― Até cheguei em casa antes da chuva ― provocou. Marlena continuou olhando para o teto, mas ergueu lentamente o dedo do meio em sua direção. ― Fui contratado.

Isso, sim, a fez saltar e se sentar imediatamente no meio do colchão. Os olhos de repente menos exaustos.

― Sério?

― Sério. ― Lucjan mal teve tempo de sorrir antes de gemer com o ataque desajeitado do corpo dela contra o seu. ― Não sei se é para tanto ― ele falou, sufocado no abraço.

― Me conta! ― Marlena pediu enquanto pulava para trás. Acomodada na beirada da cama, de frente para ele, ouviu atenta enquanto Lucjan falava sobre o lugar, a secretária e a diretora, a falta de acolhimento, a proposta razoável e o salário incerto.

― Ah, Lout, é um bom começo ― ela ponderou quando ele parou de falar. ― Quer dizer, você acabou de chegar aqui, poderia ter levado muito mais tempo para encontrar algo.

― Eu sei. ― E ele de fato sabia. ― Só é duro ficar dependendo de um dinheiro que pode não vir com muita frequência.

― Mas vai vir ― Marlena argumentou. ― Pelo menos você não vai ficar parado enquanto não aparece vaga melhor. É legal ter alguma coisa com o que se ocupar.

Lucjan concordou com a cabeça enquanto lhe assistia chutar o par de tênis para o lado antes de engatinhar pela sua cama, se espalhando no meio do colchão outra vez. Se livrando dos próprios sapatos, foi se juntar a ela. Marlena contou sobre as aulas da manhã, depois sobre a reunião que estava programada para depois do almoço e que deveria ter durado duas horas, mas se estendera por quatro e meia. Falou com detalhes sobre o evento que estavam planejando, e do qual ela, como membro muito ativo do curso, tinha sido colocada na organização.

Lucjan se lembrou com carinho de todas as vezes que, em dias como aqueles, Marlena ligava antes de dormir para compartilhar com ele a ansiedade e, com frequência, as tormentas nas quais se enfiava. Ela também gostava de falar sobre as confusões e discussões que acabavam sempre em gritarias toscas e sem sentido, das quais ela nunca participava, mas admitia sentir algum prazer em assistir.

― Eu tenho um encontro amanhã ― ela disse de repente, quase sem tomar fôlego após o último assunto, que não tinha absolutamente nada a ver com aquela notícia.

― Ah é? ― Lucjan perguntou, virando o rosto para olhar o dela, que também veio em sua direção. ― Com quem?

Marlena ficou um tempo em silêncio, observando-o atentamente, como se tentasse descobrir sozinha quais os efeitos daquela novidade sobre ele. Torceu para que pelo menos um dos dois chegasse a uma conclusão.

― O nome dele é Mateusz, ele está na minha turma de integração europeia ― ela contou. As palavras saíam uma de cada vez, como se estivesse testando o efeito delas. ― Ele é novo, veio transferido de uma faculdade da Varsóvia.

Lucjan concordou com a cabeça e, se estendendo em sua quietude, tentou silenciar também a desordem interna. Lembrou-se de Apolonia dizendo que em algum momento aquilo aconteceria, e também de como ele próprio tinha decidido que deixaria para lidar com a situação quando ela de fato se apresentasse. Só não imaginou que seria tão já. Bem, era inadiável agora.

― Ele é legal? ― perguntou, porque não sabia direito o que dizer, ou o que Marlena gostaria que ele dissesse.

― Acho que sim. Nós conversamos pouco, na verdade, talvez ele seja um pé no saco. Vou descobrir só amanhã.

Lucjan se deixou rir com ela.

― Eu não sabia se deveria te dizer ― Marlena murmurou, sempre com os olhos nos dele, como se não quisesse perder nada, nenhuma das reações que ele pudesse ter. Lucjan se esforçou para não parecer nada além de feliz e otimista por ela estar seguindo em frente. Não tinha direito nenhum de sentir-se mal. Não depois de tudo o que a tinha feito passar.

― Mena, está tudo bem ― disse quando achou que tinha encontrado o tom certo, algo que a convencesse de que estava sendo honesto. Até ele achou que sim, no fim das contas. ― Você não precisa se preocupar com isso, nem se privar de nada por causa de mim.

― Mas é estranho, não é?

Lucjan suspirou devagarinho, depois concordou com a cabeça.

― É. Com o tempo vai deixar de ser.

― Você acha?

― Acho ― ele garantiu. Pela primeira vez em todos aqueles anos, Lucjan parecia o mais convicto dos dois.

― Você sabe que você também pode sair com quem quiser, certo? ― Marlena perguntou em seguida. ― Sério, não vou me importar.

― Eu sei. ― Mas não sabia. E não tinha certeza de que ela mesma poderia prometer algo do tipo.

― Certo. Bem, vou tomar um banho.

― Vai lá.

Lucjan ficou ali, tentando se induzir a acreditar que tinha razão. Que com o tempo Marlena deixaria de parecer tão sua, e ele também deixaria de se sentir tão dela. Ainda estavam sob o efeito de dez anos de relacionamento. Sob aquela ideia enraizada de que, de todas as coisas que poderiam um dia perder de vista, o vínculo entre eles sairia sempre ileso. Ainda teriam um ao outro quando não sobrasse mais nada. Era confuso demais olhar para tudo o que tinha permanecido – a amizade, o companheirismo, a cumplicidade e o carinho – e perceber que, apesar disso, tinham se desencontrado em uma bifurcação inesperada no meio do caminho.

Ainda eram amigos, mas nunca mais seriam um casal.

Automaticamente seriam parceiros de outras pessoas. Uma ou mais. Talvez Marlena se apaixonasse por Mateusz naquela sexta-feira, e mais tarde teriam a casa com uma cozinha grande e dois cachorros que antes eram seus planos com ela. Quem sabe até fizessem um bebê, do qual ele se consideraria tio. Mas poderia ser que o cara fosse mesmo um pé no saco e ela voltasse para casa entediada, pronta para contar sobre os desastres do encontro. E em qualquer das duas situações, nada mudaria entre eles. Não importaria o que acontecesse com a vida amorosa de ambos dali para frente, porque não compartilhavam mais dela.

E era estranho. E talvez fosse estranho ainda por um tempo.

Torceu apenas para que em algum momento, num futuro mais próximo do que poderiam prever, tratassem com naturalidade os relacionamentos de um e de outro.

Talvez aí Lucjan deixasse de morrer de ciúmes.

—--

― Mas que... merda...

Lucjan se distraiu de sua tarefa principal, que era a de tentar fazer, com a força da sua mente, com que a água na panela começasse a ferver. Olhou por cima do ombro sem nenhum motivo para isso, porque dali não tinha visão do banheiro, onde Marlena estava trancada havia um tempo, resmungando sem parar.

Com um suspiro rendido, andou até lá.

― Tá tudo bem aí?

― Sim! ― ela gritou de volta, apressada.

― Precisa de ajuda?

― Não, tudo sob controle.

Ele esperou dois segundos, e foi o suficiente.

― Lout?

― Pode falar.

― Você fecharia meu vestido?

Ele riu baixinho. Que bagunça tinha virado sua vida.

Sem dizer nada, abriu a porta do banheiro para encontrar Marlena de frente para o espelho, um pouco maquiada, com os cabelos cuidadosamente presos em um rabo-de-cavalo, e o vestido azul-marinho que era o motivo dos olhos enfezados com os quais ela o encarou.

― Pronto ― soprou quando conseguiu levar o zíper até o alto das costas dela.

― Obrigada. Desculpa por isso ― Marlena pediu meio envergonhada, se curvando para calçar os sapatos bonitos que tinha separado para usar. ― Você tem certeza de que vai ficar bem sozinho?

― Mena ― Lucjan reprovou, achando graça. ― Eu não sou seu irmão caçula, não vou cair da sacada e nem pôr fogo no apartamento, relaxa.

― Eu prometo que amanhã vamos nos divertir juntos.

― Você tá começando a me irritar ― ele resmungou.

― Ok, desculpa. Desculpa. ― Ela suspirou, depois parou em frente a ele e abriu um pouco os braços. ― O que acha?

― Você tá linda ― garantiu sem pensar duas vezes. Marlena era linda o tempo todo, concluiu só para si.

― Lout ― ela começou, mas Lucjan foi mais rápido. Pegou a bolsa que estava no canto da bancada e colocou nas mãos dela, depois a conduziu delicadamente para fora do banheiro e em direção à porta, sob o amontoado de "ei" com que ela protestava.

― Boa sorte ― desejou ao deixar um beijo na bochecha dela.

Marlena ainda o observou por um segundo, do lado de fora. Com um sorriso agradecido, veio para abraçá-lo mais uma vez antes de começar a se afastar em direção às escadas.

― Se ele for um pé no saco ― Lucjan disse, e ela parou para ouvir ―, venha embora. Sério. ― E Marlena sorriu com diversão, concordando com a cabeça. ― Você merece o cara mais legal de todos, Mena. Se não for ele, não perca seu tempo.

― Quando eu encontrar o cara mais legal de todos, ele será seu.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Entre vírgulas" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.