O Portal escrita por LeniVasconcelos


Capítulo 5
O Justo e A Destemida




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"As árvores ouvem". Teko havia falado a Danna assim que a deixou na floresta. Só não havia explicado como elas ouviam. O que tinha na floresta... Tinha acabado de presenciar uma mulher inteiramente de água! Perguntas rondavam a cabeça dela.

Por falar em cabeça... Sua cabeça latejava muito quando abriu novamente os olhos. Seus braços estavam pendurados. Olhou para os lados e viu centauros apertando-a. Assustou-se. Centauros no mundo bruxo não são nada amigáveis. Decidiu fingir que estava desacordada para não haver consequências piores.

— Vossas Majestades, encontramos uma filha de Eva no meio da Floresta, próximo ao Espelho D'Água. Achamos que é uma impostora, pois carregava muitos alimentos e itens.

— Como podeis saber se é impostora ou não, Phebus? Com estas vestimentas, não parece nem de nossas terras, nem de Arquelândia! — disse uma outra voz masculina.

— Além de parecer muito suja para estar espionando — acrescentou uma mulher.

— Vossa Majestade, Rainha Susana, espiões também podem explorar a floresta e ficarem sujos.

— Phebus, meu caro amigo, não podemos tirar conclusões precipitadas. Sei que vós temeis uma futura guerra, mas não será uma única dama a fazê-lo — respondeu gentilmente a Rainha Susana.

— Eu cuidarei dela até que provem sua culpa! Ela não saberás onde estás! — falou uma quarta voz, mais jovem que a de Rainha Susana.

— Vossa Majestade, Rainha Lúcia, não acho que esta seja a melhor medida a ser tomada — disse Phebus pacientemente.

— Ela estará num quarto de hóspedes. Não falaremos nada até ela nos falar quem és. Vossas Majestades, meus irmãos, aparentemente estão de acordo com minha decisão. Levem-na a um quarto de hóspedes que a visitarei em breve.

Danna ouviu a conversa toda de olhos fechados. Tinha certeza que estava em Cair Paravel, mas não sabia como não havia notado centauros perto do riacho, ou qualquer indício que poderia ter causado o desmaio dela. Será que algum dia saberia?

Os súditos de Vossas Majestades começaram a retirar a vestimenta de Danna. Ela estava muito tensa, mas preferiu ainda fingir estar desacordada. Sentiu ser levada para outro local. Sentiu água, seu corpo sendo esfregado. Finalmente estava tomando um banho decente. Resolveu abrir os olhos.

Haviam apenas três mulheres que a banhavam no cômodo. Quando abriu os olhos, uma delas perguntou se estava bem.

— Sim, estou bem, obrigada. Poderia me banhar sozinha, por gentileza?

As damas pararam imediatamente o que estavam fazendo, fizeram uma pequena reverência e saíram rapidamente do cômodo. Danna agora estava sozinha.

Banhou-se rapidamente, e viu um vestido para vestir-se pendurado perto da toalha que lhe deixaram. Parecia um vestido medieval. Não havia prestado atenção nas mulheres que haviam banhado-na. De onde vieram? Vestiam de forma medieval também?

Vestiu-se rapidamente, pois estava desconfortável naquele lugar. Tiraram seus pertences, sua varinha! Apesar de não funcionar em Nárnia, a varinha era um objeto que jamais ficava longe dela. "A varinha escolhe o bruxo" dissera Olivaras, quando Danna foi com seus pais comprar sua varinha. Levou esta lição para toda vida e cuidava da mesma como se fizesse parte de seu corpo. Agora, parecia que tinham tirado um pedaço. Como a recuperaria sem despertar desconfiança de Vossas Majestades? Sabia que tinha um longo caminho pela frente.

Saiu do cômodo para um cômodo seguinte, que parecia ser um quarto. As três moças aguardavam-na prontamente com remédios e panos. Cuidariam de seu machucado. Uma onda de culpa corroeu Danna por tê-las expulsado anteriormente. Uma das moças apontou para a cama, sugerindo deitar-se. A alquimista prontamente acatou a sugestão. Deitou-se e duas delas cobriram-na, enquanto a terceira passava o medicamento em sua cabeça, exatamente onde latejava. Deve ter feito um galo, pensou.

As damas foram embora e deixaram Danna sozinha por um tempo. Olhou pros lados: nenhum dos pertences estavam lá. Será que me fizeram de prisioneira?, pensou ela. Havia tantas perguntas a se fazer que nem saberia por onde começar.

Seus pensamentos pararam quando viu uma jovem moça parada na porta. Era diferente das outras três, usava um vestido azul celeste com arabescos em prata nas bordas, uma capa de veludo e uma coroa de flores prata.

Era mais jovem que Danna, e dava um grande e lindo sorriso pra ela. Parecia muito feliz em vê-la.

— Ó que bom que acordastes! Seja bem-vinda a Nárnia!

— Obrigada, sra...?

— Sou a Rainha Lúcia, ainda não sou casada, apesar de ter muitos pretendentes — e deu uma risadinha.

A bruxa ficou desconcertada: ela era muito jovem para ser rainha. Mais desconcertada ainda por não ser apresentada dignamente a Vossa Majestade. Tentou levantar-se para fazer uma reverência, mas foi impedida pela mesma.

— Oh, não se levante! Tereis que descansar para o dia de amanhã! Parece que o Grande Rei Pedro, meu irmão, retornará da Guerra dos Gigantes! - disse Rainha Lúcia. Danna não entendia absolutamente nada do que ela estava falando.

— Então Vossas Majestades reinam no mesmo palácio?

— Sim, minha querida. Não vos assusteis! Decidimos em conjunto toda e qualquer decisão de Cair Paravel.

— Vocês sempre estiveram aqui?

— Que eu saiba... Sim!

— Onde está o inverno eterno que Aslam me falou?

— Aslam!? Tu O vistes?

— Faz uns dois dias.

— Isso é impossível! Aslam foi para Além-Mar há anos! Assim como o Inverno Eterno. Vossas Majestades, meus irmãos, junto a mim derrotaram a Feiticeira Branca e assumimos vosso trono, que era nosso direito, de acordo com uma antiga profecia.

Como isso era possível!? Em menos de dois dias passarem anos?

A conversa foi repentinamente interrompida com a entrada de um homem de pele clara como a neve, mas seus cabelos eram negros como noites sem estrelas e neles havia uma coroa prata com vários arabescos e pontas. Seu rosto continha sobrancelhas marcantes as quais emolduravam seu rosto e um nariz perfeitamente triangular. Nas suas bochechas, timidamente, apareciam pequenas covinhas que deixavam seu rosto ainda mais atraente.

Danna imediatamente enrubesceu com a chegada do rapaz. Não sabia o motivo de sua timidez, pois sempre foi muito segura de si para apresentar-se para novas pessoas.

Olhou para Rainha Lúcia, procurando saber quem seria esta figura tão notável.

— Vossa Majestade, meu irmão, Rei Edmundo, O Justo apresentou Rainha Lúcia com orgulho, olhando com admiração para o jovem rapaz que se aproximava dela.

Rei Edmundo deu um abraço carinhoso em sua irmã. E dirigiu-se a Danna:

— Seja bem vinda ao nosso castelo, viajante.

A bruxa ficou desconcertada, mas forçou-se a falar algo:

— Agradeço-lhe a toda hospitalidade.

— Não há de quê. Acredito em vossa inocência — Danna deu um sorriso tímido, e Rainha Lúcia disse imediatamente:

— Ela viu Aslam! Ela é inocente, sim, meu irmão!

Rei Edmundo franziu a testa, surpreso. Acreditava que sua irmã pudesse estar certa, como todas as vezes em que a mesma seguiu seus instintos, contudo, Danna era uma pessoa completamente enigmática para ele.

— Como tu vistes Aslam? Onde? — perguntou curioso.

— Vi perto da rua de minha casa, Vossa Majestade, há dois dias atrás... No dia seguinte, entrei num portal para Nárnia sem saber. Só gostaria de voltar para casa...

— Acreditamos em vossa pessoa... desculpe, não perguntei seu nome.

— Danna Shacklebolt, Vossa Majestade.

— É um belo nome: "Deus é meu juiz". — comentou Rei Edmundo com o pensamento distante. Danna desviou o olhar para o chão. Ele sabia até o significado de seu nome.

— Sra. Danna... — começou Rainha Lúcia.

— Senhorita, Vossa Majestade — corrigiu Danna prontamente. Percebendo seu erro, apressou-se a dizer: — Peço perdão pela interrupção, Vossa Majestade, são muitas informações para digerir, acabo falando besteiras.

— Não se preocupe com isso, Srta. Danna — a Rainha deu um sorriso solidário — Parece que precisas descansar.

— Eu tenho muitas perguntas a fazer...

— Terás todo o tempo do mundo a fazer — e se retirou com seu irmão.

A bruxa ficou sozinha por algumas horas, mas nas primeiras, não conseguia dormir. Esteve dois dias procurando Cair Paravel e, agora que finalmente achou o local, não conseguia respostas dos próprios moradores!

Rendeu-se na terceira hora, quando o cansaço tomou conta de seu corpo e sua mente.

Este mistério estava matando-a. Não sabia o que perguntar sem que suspeitasse que fosse uma invasora. Encontrou Cair Paravel, mas da pior maneira possível.


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Notas finais do capítulo

Não esqueçam dos revieeeews! Obrigada aos leitores que estão acompanhando, especialmente a Sherazade que tem mandado feedbacks em todos os caps ♥



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