O Portal escrita por LeniVasconcelos


Capítulo 2
A Biblioteca Boudleiana




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"Prepara-te para os dias ruins, Danna. Eles chegarão."

 

A voz ecoava em sua mente. Danna fechou os olhos e lembrou-se da linda visão do Leão falante. Era uma visão? Ou era totalmente real? De certo que era magia, mas magia desconhecida. Era muito forte e poderosa. Queria saber do que se tratava.

Danna morava em Falmouth, uma cidade costeira da Inglaterra, dentro de uma aldeia bruxa disfarçada. Os trouxas viam uma rua sem saída, com o nome de De Pass Gardens. Ficava cerca de seis horas de Londres. Ela ia de trem para o trabalho, junto com os não-mágicos, pois gostava de sair um pouco da normalidade de seu mundo. Agora, com a guerra dos trouxas, ela aparatava na Emslie Road, uma rua paralela a sua e voltava andando, para sua segurança.

A bruxa chegou em sua casa aflita. Não sabia nem por onde começar. Ela andou até sua estante e pegou seu exemplar de Animais Fantásticos e Onde Habitam, com esperança de encontrar a tal criatura que viu no final da tarde.

Knarl...Kneazle... Leprechaun. Newt Scamander não tinha encontrado um Leão imenso com passos suaves e falante. Quem sabe no Registro de Animagos?, pensou.

Danna passou a noite pesquisando o Registro de Animagos, do Departamento de Execução das Leis da Magia. O nome Aslam não consta em parte alguma registrado como algum animago. Algo extraordinário. Ninguém passava pelo Ministério da Magia.

A alquimista foi ao banheiro e olhou-se no espelho. Estava com olheiras  fundas na sua pele marfim. Precisava descansar, mas sua curiosidade não deixava dormir. Ela precisava encontrar algo, fazer algo.

Num estalo, lembrou-se de algumas palavras do Leão. Nárnia... Cair Paravel... Filhos de Adão... Algo tem que fazer sentido.

Filhos de Adão. Adão… Este nome aparece naquele livro dos trouxas: a Bíblia, pensou ela. A mulher deduziu então que deveria ter alguma informação numa biblioteca trouxa. Pegou sua varinha, fechou os olhos e se concentrou em seu destino. Imaginou o local com todos os detalhes possíveis. Determinou seu desejo de ocupá-lo naquele momento. Era algo tão claro em sua mente que deixou virar quase uma visão. Finalmente, ela rodopia e tudo fica escuro.

Danna abre novamente os olhos e se encontra em frente a Biblioteca Bodleiana, na Universidade de Oxford. Sabia que esta é uma das maiores bibliotecas da Inglaterra. Sem informações, ela não ficaria.

A Biblioteca Bodleiana tem um ar tradicional, uma arquitetura gótica do século XV. A entrada da Biblioteca, dois portões de ferros grandes na Catte Street, era detalhado com as cotas de armas de várias Academias de Oxford. Estava fechado, pois estava amanhecendo ainda. Contudo, existem vantagens de ser de um mundo mágico, principalmente em tempos de guerra trouxa.

—  Alohomora —  murmurou Danna.

A portão destrancou imediatamente e Danna o empurrou. Ela encostou a porta pesada com dificuldades antes de entrar.

A biblioteca por dentro era toda feita de madeira maciça. Estantes e mais estantes de livros em todas as paredes da biblioteca e mesas marrons no centro do salão, com bancos de cor igual. Levaria dias para buscar neste breu um único livro trouxa.

—  Lumos! — uma bola de luz apareceu na ponta da varinha de Danna. —  Accio, Bíblia! —  E o livro denominado Bíblia chegou em suas mãos.

O livro era grande e tinha diversos nomes nos capítulos. Curioso, pensou, eu nunca tinha visto um livro assim.

Danna sentou num dos bancos de madeira maciça, encostou o livro delicadamente a mesa e abriu nas primeiras páginas. Decidiu ler o primeiro livro,  de nome Gênesis.

“[...] E disse Deus: Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança; e domine sobre os peixes do mar, e sobre as aves dos céus, e sobre o gado, e sobre toda a terra, e sobre todo réptil que se move sobre a terra.

27  E criou Deus o homem à sua imagem; à imagem de Deus o criou; macho e fêmea os criou.

28  E Deus os abençoou e Deus lhes disse: Frutificai, e multiplicai-vos, e enchei a terra, e sujeitai-a; e dominai sobre os peixes do mar, e sobre as aves dos céus, e sobre todo o animal que se move sobre a terra [...]”

Então Deus criou o homem segundo este livro dos trouxas?, pensou a bruxa, Quem será este homem?. E continuou a ler a próxima parte:

“[...] 19  Havendo, pois, o SENHOR Deus formado da terra todo animal do campo e toda ave dos céus, os trouxe a Adão, para este ver como lhes chamaria; e tudo o que Adão chamou a toda a alma vivente, isso foi o seu nome.

20  E Adão pôs os nomes a todo o gado, e às aves dos céus, e a todo animal do campo; mas para o homem não se achava adjutora que estivesse como diante dele.”

Leu o Gênesis até o final. Se Adão foi o primeiro homem na Terra, teria que se reproduzir, logo teria filhos. Entretanto, não havia nenhuma menção de Aslam, Cair Paravel e muito menos Nárnia. Fechou o livro frustrada. Olhou a catalogação dele para devolvê-lo ao seu lugar.

Saiu discretamente da biblioteca, pois já eram seis horas da manhã e os não-mágicos costumavam já estar na rua. Trancou de volta o portão de ferro em que entrou. Olhou para os lados e entrou numa rua menos movimentada para desaparatar.

Danna olhava sua cidade com tristeza. Havia sido bombardeada nas docas no mês passado feita pela Luftwaffe, que se empenhou a atacar os navios de Falmouth. Hitler estava convicto em invadir o Reino Unido. Atacou o Canal da Mancha, Lister Street… Quantos civis mortos neste país! Era uma tristeza tão grande ver trouxas desesperados, chorando por perdas de familiares, não podendo ir para casa, por causa de conflitos políticos. E os bruxos não podiam fazer absolutamente nada para evitar. Às vezes, Danna flagrava-se chorando com familiares de algum morto jogado no chão como se fosse um parente seu. Odiava guerras por isso e, sempre que podia, afastava essas lembranças de si.

A bruxa desaparatou longe de casa, pareceu não querer voltar. Estava frustrada, inquieta. Não conseguiu achar nenhuma informação do tal Leão que encontrou na noite passada. Parecia um enigma dos livros de Sir Arthur Conan Doyle, mas envolvia magia. Sir Doyle não acreditava nisto. Danna riu de si mesma. Olha onde seus pensamentos estão?, pensou ela.

Estava na Falmouth Town, uma estação de trem mais próxima de sua casa. Resolveu caminhar para organizar seus pensamentos. Mulheres e algumas crianças estavam esperando o trem para trabalharem, já que os homens estavam defendendo seu país. Danna sentou no banco da estação, olhando os trilhos. Precisava esperar os trouxas saírem para  organizar seus pensamentos. Estava numa questão sem saída e totalmente inquieta.

Passou o trem, todos entraram. Danna manteve-se imóvel, e esperou o trem sair para levantar-se e andar próximo aos trilhos. Algo a atraía em andar sem rumo ou direção. Apenas caminhar perto dos trilhos sem parar.

Repentinamente, Danna parou sua caminhada e olhou para o lado. Os arbustos formavam um buraco oval de dois metros, parecendo um espelho colossal. A bruxa tinha certeza que havia magia naquele local, mas uma magia muito mais poderosa e diferente de tudo que havia sentido na vida. Atraía a bruxa como estivesse em estado hipnótico ou se alguém empurrando-na. Era difícil definir o que estava sentindo. Entrou no buraco dos arbustos, convicta de que havia uma trilha de passeio.

Tudo o que viu foi uma floresta. E reconheceu que não era Falmouth.


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