Outro alguém escrita por Aislyn


Capítulo 6
Capítulo 5


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura!



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O casal entrou no apartamento em silêncio, no corredor cada um pegou um caminho diferente; Hayato foi para o quarto em busca de um banho e Takeo foi para a varanda, atrás de um lugar tranquilo para pensar. Shiroyama havia dito a coisa errada na hora errada e sabia que mais cedo ou mais tarde o namorado iria abordá-lo para tirar aquela história a limpo. Aquele momento de paz entre o percurso do maid cafe até em casa não ia durar muito.

 

A porta da varanda foi reaberta algum tempo depois e ambos sentiram a tensão baixar no local. Takeo evitou encarar Hayato, temendo o olhar reprovador, mas o vocalista se aproximou sem nenhuma palavra, sentando ao seu lado e estendendo uma caneca.

 

— Café. – Izumi explicou ao notar a pergunta silenciosa – Meu milk shake estava muito doce, pensei em fazer algo amargo.

 

— Que surpresa você não escolher uma cerveja. – o guitarrista pegou a bebida, tomando um longo gole.

 

— Quero estar bem sóbrio pra conversar, pra não ter desculpas.

 

A resposta de Takeo veio num resmungo, mostrando que havia entendido a intenção. Hayato bêbado e querendo tirar a história a limpo não seria algo legal de se ver.

 

— Então… qual seria seu tipo de mulher?

 

— Nenhuma. – respondeu de prontidão – Eu gosto de você, Hayato.

 

— Sei… então por que disse aquilo? Que não fazem seu tipo…

 

— Porque mulheres com aquelas roupas estranhas realmente não fazem. Eu só quis dizer que não gosto.

 

— Mas gosta em outras roupas.

 

Aquilo não foi uma pergunta. Takeo segurou o suspiro, ganhando tempo enquanto bebia mais um pouco do café. Precisava escolher bem as palavras, mas não gostava daquilo; de agir com cautela com alguém com quem podia fazer exatamente o contrário: relaxar e confiar, ser ele mesmo. Preferia jogar tudo pro alto e dizer o que pensava, esperando sempre ter aquele voto de confiança nessas horas.

 

— É algum pecado achar uma mulher bonita? Foi só um comentário! Eu não gostei daquelas roupas, da mesma forma que poderia gostar de outras, sim. Por mais que você pense que eu pego qualquer coisa que se mova na minha frente…

 

— … pegava. – Hayato corrigiu, ressabiado – Quando a gente se conheceu, você realmente pegava.

 

— Não, Hayato, não pegava. Você e o resto do mundo podem pensar o que quiserem, mas eu tinha critérios.

 

O vocalista encarou-o de lado, sem acreditar muito. Uma parte de si não conseguia imaginar o namorado com alguma mulher, mas outra parte, que tinha o passado bem fresco na memória, sabia que Takeo havia aproveitado bem sua vida de solteiro. Então, sim, Takeo já saiu com mulheres e definitivamente, na sua cabeça, se existiam critérios, eles eram bem amplos.

 

— Ok, tudo bem.

 

— Tudo bem? – o guitarrista virou-se para encará-lo, sem entender a resposta tranquila.

 

— Sim. Eu acredito em você.

 

— Quem é você e o que fez com o meu Hayato? – Takeo pegou uma almofada, colocando-a à frente do corpo como escudo – Oh, droga! Ele foi abduzido naquele lugar estranho! Não quero voltar lá pra buscar!

 

— Ah, então vai largar o verdadeiro pra trás? É isso que ele vale pra você?

 

— Se eu disser que sim, vou dormir no sofá?

 

— O sofá é bom demais pra você. – Hayato se levantou, sorrindo de canto, voltando para o interior do apartamento. Pelo visto estavam bem, apesar do clima ter ficado tenso mais cedo. Não havia motivos para brigar por algo do passado.

 

— Eu já te busquei na casa dos seus pais, por que não buscaria de um lugar tão assustador quanto?

 

Takeo seguiu o mesmo caminho do namorado, preferindo aquele momento ameno com uma conversa boba do que o medo de uma possível discussão. Recebeu um olhar atravessado pelo comentário, mas não houve resposta alguma. Realmente ia ficar tudo bem.

 

* * *

 

Katsuya aguardou Mikaru entrar para o banho, esperando pacientemente até ouvir o som da água caindo para então correr para fora do apartamento, seguindo até algumas portas à frente. A senhora que morava ali costumava receber a neta para passar alguns finais de semana. Se alguém podia ajudá-lo, era aquela mulher. Caso o colchão estivesse ocupado ou ela não o cedesse, estava disposto a ir até o inferno para conseguir qualquer coisa que substituísse. Valia a pena fazer aquele esforço. Por mais que a situação estivesse confusa, Mikaru estava ali, tentando ajeitar tudo entre os dois e ele precisava fazer sua parte também. O empresário merecia aquilo.

 

Enquanto esperava a senhora retornar com o futon, pensou em tudo que ouviu a seu respeito naqueles dias. Tanto Mikaru quanto Takeo afirmaram que ele havia mudado e, sendo crítico, realmente estava diferente. Se fosse analisar seus gostos, modo de agir, o que fazia e como costumava pensar, havia uma pequena mudança de um modo geral. Precisou se adaptar a várias novas situações, tanto no trabalho quanto na vida pessoal e também no namoro e nas amizades. Não era possível passar por tudo aquilo e não tirar alguma aprendizagem, assim como também não estava livre de cometer alguns erros.

 

Voltou para o quarto após agradecer várias vezes à senhora pela ajuda, encontrando Mikaru sentado em sua cama, secando os cabelos com a toalha enquanto conferia algo no celular, usando somente a camiseta que separou para emprestá-lo. A bermuda foi deixada de lado, possivelmente por ser um tamanho bem maior. Ele podia ter vestido a roupa extra que trazia na mochila do trabalho, mas Katsuya ficou feliz por ele ter aceito sua oferta.

 

— Consegui a outra cama. – comentou tentando conter a animação, mas era difícil demais esconder o sorriso – Você pode ficar na minha.

 

— Hm… obrigado. – Mikaru respondeu distraído, ainda lendo algo no telefone, atiçando a curiosidade de Katsuya, mas o rapaz preferiu não perguntar. Se fosse algo do trabalho, ele não entenderia de qualquer forma.

 

Depositou o colchão ao lado de sua cama, ajeitando também o travesseiro e a coberta, mas mantendo um olhar atento no empresário. Não sabia sobre o que conversar. Já havia dito tudo o que precisava, não é? Mikaru parecia ocupado… e ele não era o tipo de pessoa que deixava algo para depois, então talvez tivesse dito tudo que queria também. Mas ficar para passar a noite significava alguma coisa…

 

— Vou pro banho. Pode ficar a vontade para deitar e apagar a luz, se quiser.

 

— Hm… ok.

 

— Aconteceu alguma coisa? – questionou ao chegar à porta do banheiro, deixando a curiosidade falar mais alto. Não queria que fosse algo sério, para vê-lo sair correndo dali.

 

— Não. Só conferindo alguns e-mails e a agenda de amanhã.

 

— Ah… vai te atrapalhar ficar por aqui?

 

— Não.

 

— Ah… bom… – mesmo assim, alguma coisa ainda o incomodava. Tentou encontrar algo para perguntar, mas sentiu-se observado, levantando o olhar para encontrar com o de Mikaru.

 

— Eu não vou fugir, Katsuya. Se quiser, pode trancar a porta da frente e levar a chave com você para o banho.

 

— N-não, não tem necessidade. Eu só… não foi nada.

 

Era um medo bobo achar que sairia do cômodo e Mikaru não estaria ali quando voltasse. Ele deu sua palavra que não ia fugir e podia confiar, mas ainda era difícil acreditar que ele estava mesmo em seu apartamento. Precisava procurar Takeo para agradecer depois.

 

Quando retornou para o quarto minutos depois, Mikaru já estava acomodado em sua cama, virado para o canto e quieto. Tinha quase certeza que ele não estava dormindo, mas achou melhor não comentar nada, imaginando que o empresário quisesse evitar qualquer assunto. Acomodou-se no futon, murmurando um ‘boa noite’ antes de fechar os olhos.

 

O trabalho havia sido puxado e Katsuya estava cansado, mas não ao ponto de ter um sono pesado. Abriu os olhos um pouco confuso, imaginando se o dia estava amanhecendo, mas notou que seu despertar foi causado por um movimento próximo. Sua coberta foi levemente erguida e um corpo se postou ao seu lado, deitando de encontro ao seu.

 

Prendeu a respiração no mesmo instante e tentou não se mover, mas aquilo realmente tinha que significar alguma coisa! Mikaru ir procurá-lo, dizer que não ia fugir, deitar ao seu lado depois de dizer que queria camas separadas…

 

— Eu sei que você está acordado. – Katsuya ouviu o murmúrio, sentindo um leve toque em suas costas. Talvez Mikaru só estivesse assustado por conta de algum pesadelo enquanto ele estava imaginando coisas repletas de segundas intenções – Posso ficar aqui?

 

— Claro… – murmurou em resposta, sentindo a cabeça dele apoiar em suas costas.

 

— Vira pra cá.

 

Katsuya atendeu o pedido sem contestar, recebendo um suspiro satisfeito quando Mikaru se aconchegou mais ao seu corpo. Não perdeu tempo em abraçá-lo de volta, acariciando-lhe as costas e os cabelos.

 

— Posso perguntar uma coisa? – não era seguro para Katsuya trazer aquele assunto à tona, mas uma dúvida antiga voltou à mente. Esperou um aceno positivo antes de continuar – Você realmente tinha intenção de voltar comigo?

 

— Sim…

 

— Estava esperando que eu fizesse algo pra provar que merecia? Ou alguma data específica, algum sinal?

 

— Não… eu te disse que estava com medo, Katsuya.

 

— De mim?

 

— Não… bom, não deixa de ser. Mas com todas as idas e vindas que já tivemos, fiquei com receio que você brincasse comigo se eu desse mais uma chance.

 

— Entendi… Mas não é como se eu tivesse aprontado algo terrível das outras vezes. Cometi alguns deslizes, mas você também já fez coisas ruins no começo do nosso namoro.

 

— Ah, está virando o jogo. Agora eu sou o vilão?

 

— E você já foi o herói alguma vez? – Katsuya riu baixinho, sentindo um roçar de lábios em seu pescoço.

 

— Vamos dormir. Amanhã preciso trabalhar cedo.

 

A felicidade era tamanha que Katsuya nem notou quando pegou no sono. Também não se importou com a claridade que passava por uma fresta da cortina pela manhã, impedindo-o de continuar dormindo até tarde. Pelo menos podia continuar de olhos fechados, aproveitando o calor do corpo de encontro ao seu…

 

Abriu os olhos de súbito, analisando o quarto enquanto se virava no colchão, notando que tanto o espaço ao seu lado quanto a cama estavam vazios. Sentou com um pulo, captando enfim um movimento vindo do banheiro, de onde Mikaru saiu instantes depois, ajeitando a gravata. Olhou para o espaço ao seu lado novamente e então para a cama, já arrumada, sentindo o desespero crescer dentro de si. Ele devia ter acordado primeiro! Que prova tinha que Mikaru havia mesmo deitado na mesma cama que ele? E se tivesse sonhado? Precisava perguntar…

 

— O que foi? – Mikaru questionou ao notar que era fixamente observado, acabando com sua coragem de questionar. Precisava confiar mais em si mesmo, mas a dúvida era imensa!

 

— Nada. Achei que tivesse perdido a hora. – Katsuya passou a mão pelos cabelos, nem perto do comprimento que estavam algum tempo atrás. Ergueu-se do colchão, separando as roupas que usaria naquele dia, suspirando frustrado por mais aquela dúvida.

 

— Posso te dar carona. Vai trabalhar agora cedo?

 

— Não… hoje eu começo após o almoço. Tenho tempo ainda.

 

— Devia ligar pra sua família. – a mudança de assunto pegou Katsuya desprevenido, que parou a meio caminho do banheiro para encarar o empresário, esperando o que viria a seguir – Falei pra sua irmã que vim te visitar. Ela está preocupada. Seus pais também, mas não tiveram coragem de te ligar. Não sabem como você vai reagir se entrarem em contato.

 

— Todo mundo está esperando o pior de mim…

 

— Quer que eu te lembre o que fez pra merecer isso? – Mikaru bateu no espaço ao seu lado na cama, chamando-o para se sentar – Eles acham que você está se virando bem e, mesmo se não estiver, não vai voltar pra casa pedindo abrigo, porque você se mostrou muito orgulhoso e auto-suficiente, uma pessoa que toma decisões sozinha, sem consultar ninguém e sem se importar se vai magoar alguém.

 

— Estou me sentindo um monstro. – Katsuya desistiu de se trocar, sentando ao lado do empresário.

 

— Ah, não. Longe disso. Está mais pra um adolescente rebelde. Agora, ligue pra sua irmã, veja como estão as coisas e fale com seus pais. Imagino que voltar pra casa vai facilitar sua vida.

 

— Mas e se- – Mikaru colocou o indicador em seus lábios, impedindo-o de continuar.

 

— Se não te aceitarem, pode ir pra minha casa. Mas só depois de tentar. Você sente falta deles.

 

— Por que acha is… so? Sua casa?

 

— Você chamou por eles enquanto dormia. – conferindo o relógio uma última vez, Mikaru se pôs de pé, ajeitando o blazer e alisando uma dobra invisível na calça, ignorando a última pergunta – Me liga mais tarde, pra contar as novidades.

 

Katsuya não impediu o empresário de sair. Nem se lembrava de ter despedido. Havia entendido direito o que ele sugeriu? Ou ainda estava dormindo?


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