Outro alguém escrita por Aislyn


Capítulo 10
Capítulo 9


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura!



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Mikaru não pareceu se surpreender com sua visita àquela hora, pelo contrário, parecia estar esperando-o e Katsuya só podia supor que era graças aos seus ‘contatos’. Imaginava se foi Izumi quem avisou que ele estaria indo pra lá ou talvez Takeo, antes de saírem.

 

Seguiu Mikaru até a sala, sentindo-se ansioso quando sentou à sua frente, como se aquela fosse a primeira vez que pisasse ali. Era um sentimento idiota, mas seu medo se baseava no fato que quase tudo deu errado naquele dia. Não compareceu ao serviço e não sabia que consequências aquilo poderia trazer, além de não ter saído satisfeito da casa dos pais após a conversa. Seu medo era que mais alguma coisa desse errado. Por outro lado, a conversa com Izumi e Shiroyama foi tranquila, conseguiu se acertar com o amigo e ainda teve apoio para procurar Mikaru.

 

— Jantou na casa do Shiro?

 

— Ah… n-não, só tomamos chá. – Katsuya estranhou aquele início de conversa, já que Mikaru costumava ser direto, mas imaginou que ele também não sabia por onde começar.

 

— Quer sair pra comer?

 

— N-não, não precisa, eu… depois.

 

— Você parece desconfortável.

 

— Você também. – o que Katsuya não queria assumir é que não sabia como agir na frente do empresário. Era como se tivesse perdido o jeito.

 

— Não achei que viesse hoje, não estava preparado. – Mikaru se acomodou melhor no sofá, lançando um olhar para os cigarros na mesa de centro antes de voltar a encarar seu visitante – Como foi com seus pais?

 

— Mayu não te contou as notícias?

 

— Ah, é bem possível que sim. Chegaram algumas mensagens dela no celular, mas ainda não li. Queria ouvir de você.

 

— Eles me aceitam em casa, se eu quiser voltar, mas colocaram algumas regras e condições pra seguir.

 

— Foram muito rígidos?

 

— Bom, basicamente tenho horário pra chegar a noite, preciso avisar com quem vou sair e pra onde vou, isso se eu tiver autorização pra pisar fora de casa. Eles também querem que eu volte a estudar e ajude com as despesas.

 

— Hm… até que foram razoáveis. Quando volta pra lá?

 

— Você acha isso razoável? – Katsuya encarou-o surpreso, sem entender a afirmação. Izumi tentou ver os dois lados, dizendo que os pais não confiavam e ainda estavam preocupados, mas Mikaru pareceu ficar do lado deles, sem contestações.

 

— Se você soubesse quantos pais expulsam os filhos de casa por coisas menores… Quer um exemplo? Pergunte ao Shiro há quantos anos ele não pisa na casa dos pais.

 

— Mas já ouvi ele falar que visita a mãe algumas vezes…

 

— E visita. Ele fica hospedado num hotel e ela vai encontrá-lo. O pai não aceita que ele entre na casa.

 

— Ah… eu não sabia disso…

 

— Ele finge que não se importa. Mas compare com sua situação: você foi aceito depois de mentir e esconder o que fazia. Ele foi expulso por estar namorando. Quer motivo mais idiota? Sem falar que ele mal tinha dezessete na época.

 

— Deve ter sido difícil… – vendo ali uma oportunidade e lembrando da conversa mais cedo com Izumi, Katsuya não resistiu em perguntar – E seus pais, como são? Te aceitam na casa deles?

 

— Não piso lá por vontade própria. Mas pelo mesmo motivo, quando descobriu que eu estava namorando outro rapaz, o velho me mandou pra fora do país, achando que a distância ia me colocar na linha.

 

— Mas eles te tratam bem? Vocês fazem coisas de família, como reunir todo mundo ou-

 

— Eu não sou um filho, Katsuya. Sou um herdeiro. Só sirvo pra seguir com os negócios da família depois que eles morrerem.

 

— Isso foi pesado…

 

— Concordaria comigo se conhecesse eles. – e vendo a expressão do rapaz, Mikaru conseguiu imaginar o que vinha a seguir e emendou no mesmo instante – E não, não vou te apresentar.

 

— Ah… ok. – Katsuya pareceu murchar, desanimado com o rumo daquela conversa – Então, pra não passar pela mesma coisa que Takeo-san, você acha que preciso voltar pra casa dos meus pais?

 

— Só se quiser voltar. Você já é maior de idade, tem um emprego, um lugar pra ficar e mostrou que sabe se cuidar. – Mikaru suspirou fundo, tentando passar a mensagem de forma mais branda – É só que você passa essa imagem de alguém de família grande, sempre cercado por pessoas, sua irmã te admira muito e eu sei que seus pais sentem sua falta. Eu não tenho muita experiência com essa coisa de parentes, mas seus pais são pessoas incríveis. Não quero que perca contato com eles.

 

— Você está tentando me manipular… – Katsuya resmungou em resposta, ficando em dúvida sobre sua decisão. O empresário tinha bons pontos a favor.

 

— Estou, mas vamos para a próxima parte. Falou com o Izumi sobre voltar pra cafeteria?

 

— Ele disse que você quem faz as contratações, mas se estivesse tudo bem, eu estaria na escala da próxima semana.

 

— Ótimo, mas uma escala não será necessária. – Mikaru virou-se em sua direção, adotando uma expressão mais séria como a que usava quando estava trabalhando – Minha proposta pra você engloba vários aspectos da sua vida e você pode negar ou impor suas condições.

 

Diante daquele mistério, Katsuya se sentiu um pouco intimidado, temendo que mais regras e restrições fossem impostas. Contudo, Mikaru estava dando brechas para negociações, o que era um bom sinal.

 

— Eu concordo com seus pais com relação aos seus estudos e gostaria que voltasse para a faculdade. Não vou conseguir outra bolsa à essa altura, mas posso te inscrever em um projeto da empresa e ganhar um desconto, contudo, precisa trabalhar em alguns cargos específicos da área. Com isso, vamos para a parte da cafeteria. Você não vai voltar como atendente, e sim como assistente de supervisão. Miura vai entrar de férias em alguns meses e eu preciso de alguém de confiança para ficar no lugar dela e ajudar Izumi. Isso te daria a vantagem de usar a sala da gerência para estudar em dias tranquilos.

 

— Ahm… Mikaru, não sei se levo jeito para esse cargo… Miura praticamente toma conta de tudo quando vocês não estão.

 

— Você será treinado e não vai ficar sozinho. Sempre terá um de nós três por perto para auxiliar. Outro ponto a favor do cargo é que Miura ganha duas vezes mais que os atendentes. Você vai chegar bem perto disso, o que resolveria seus problemas com as mensalidades do curso e as despesas de casa, se decidir ficar com seus pais. Se for continuar sozinho, pode tentar um lugar mais próximo dos dois locais e com menor preço. Posso verificar isso pra você.

 

— Isso quer dizer que sua outra proposta não está mais valendo. – as ofertas de Mikaru eram boas, mas não conseguia afastar da mente que ele estava planejando tudo para que voltasse a morar com os pais. O convite para morarem juntos parecia ter sumido no ar, ou talvez tivesse mesmo sonhado com aquilo. Lamentava muito por deixar Takeo alimentar suas esperanças…

 

— Que outra proposta?

 

— Eu sei que você tem boa memória, Mikaru. Sabe do que estou falando. – Katsuya negou com um aceno, confirmando suas suspeitas de que o dia não terminaria muito bem – Me pediu para não mentir mais pra você, mas pelo visto, o contrário não é válido. Por que propôs se não tinha intenção de levar adiante?

 

— Queria que tivesse motivação pra resolver sua vida. Não me orgulho disso, mas foi uma das poucas vezes que falei sem pensar nas consequências.

 

— Entendi… bom, vou pensar na sua oferta e na dos meus pais. Depois entro em contato pra dar as respostas. – Katsuya levantou-se do sofá, caminhando para a saída sob o olhar atento e confuso de Mikaru.

 

— Não vai passar a noite aqui? – o empresário seguiu-o no mesmo instante, alcançando-o com poucos passos e parando ao seu lado.

 

— Não. Eu não sei até que ponto do que você me falou é verdade. – virando-se para encará-lo, Katsuya ficou frente a frente com Mikaru, sentindo-se confuso e enganado – Eu posso passar uma noite, mas não posso ficar aqui com você, porque o convite foi feito da boca pra fora. Era mentira também que me daria outra chance pra namorar? E sobre o emprego, me pediu para faltar hoje, com a desculpa de uma proposta nova, mas esperando que eu fosse demitido e ficasse sem nada?

 

— Nada disso é mentira. Eu não quero enganar você. Nunca quis.

 

— Como posso ter certeza quando uma parte é verdade e a outra, supostamente, não é? Você me deu esperanças e agora quer tirar tudo…

 

— Não quero… só é uma situação complicada.

 

Katsuya esperou a continuação daquela resposta, tentando entender os motivos de Mikaru, mas ele não parecia inclinado a prosseguir com a conversa. Era por isso que pedia pra ele se expressar melhor. Não conseguia adivinhar o que estava pensando.

 

— Se não vai me explicar o motivo, então vou pra casa.

 

— Eu tenho… receio, que essa coisa toda dê errado. – ainda esperando por mais, Kurosaki acenou com a cabeça, incentivando-o a continuar – Nós temos rotinas diferentes, os horários nem sempre coincidem, você tem seus hobbies, seus amigos, sua vida… e aí eu chego tarde, cansaço, de mal humor, sem vontade de ver ninguém… a última coisa que daria certo seria sentar para conversar.

 

— Eu não exigi isso em momento algum.

 

— Ficaria satisfeito em cada um virar para um lado e dormir? Claro…

 

— Não precisa me dar as costas. Nós dormimos bem perto, isso não pode continuar?

 

— Pode, mas… ainda acho que não daria certo… Eu não fico muito em casa, tenho viagens de negócios, reuniões…

 

— Eu sei como funciona seu trabalho, Mikaru. – Katsuya aproximou um passo, pousando as mãos na lateral de seu rosto e erguendo-o para que o encarasse nos olhos – Você é sempre tão direto, por que está enrolando agora para dizer o que realmente pensa e quer? Me conta, qual parte é mentira e qual é verdade? Eu sou devagar pra algumas coisas, então se não me disser, eu não vou conseguir adivinhar. Por favor?

 

Katsuya se sentia um masoquista dos grandes… não entendia porque insistia naquela relação. Mikaru era instável e mesmo assim ele ainda tentava fazer aquele namoro ir pra frente. A troco de que? O que ganhava com toda essa persistência? Ele gostava de Mikaru, é claro, mas tinha um limite para se fazer de idiota. Katsuya sempre dizia como se sentia, o que o magoava e o que gostava, enquanto Mikaru conseguia fingir que era uma porta: evitava demonstrar sentimentos e, quando fazia, era para bater com força com a ajuda do vento.

 

— Eu quero que você fique… pelo tempo que quiser ficar. – Kurosaki voltou a atenção ao atual momento quando Mikaru o envolveu em um abraço, escondendo o rosto em seu peito – Uma noite ou um mês. Pode ser mais… Não era mentira. Eu só tenho medo que você veja como sou em tempo integral e desista de tudo, sem chances de voltar.

 

— E tem como ser pior do que já me mostrou até agora? Tem como ser mais cruel e insensível? – com um suspiro fundo, Katsuya correspondeu ao abraço, confirmando suas suspeitas de que precisava se tratar. Devia estar ficando louco por ainda querer aquele homem em sua vida.

 

— A proposta de emprego é verdadeira. A ajuda com a faculdade também. Tudo. – Mikaru ignorou a pergunta feita, pois imaginava que era sim possível. Se continuasse a se parecer tanto com o pai quanto achava que estava, então a tendência era piorar…

 

— E a proposta de namoro? Também está inclusa nisso tudo?

 

— … claro que está. – Mikaru resmungou, apertando o abraço – Eu não vou deixar um estranho morar comigo.

 

— Ótimo. Acho que estamos andando. – sorriu um pouco aliviado. Algumas vezes era tão difícil falar com aquele ranzinza – Sobre suas propostas, posso colocar algumas condições?

 

Katsuya precisava aproveitar quando Mikaru estava mais flexível para esclarecer todas as dúvidas, impor limites e tirar algumas respostas. Conhecia-o o suficiente para saber que na manhã seguinte ele podia negar tudo, apenas por orgulho, mas só de Mikaru confirmar que era tudo verdade e o queria ali, já era um grande passo e esperava que não fosse para trás.


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Notas finais do capítulo

Até a próxima!
Feliz natal e feliz ano novo pra quem vai comemorar -q



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