Amor Púrpura escrita por Maga Clari


Capítulo 4
Madrugada: Sete Minutos no Purgatório


Notas iniciais do capítulo

Oiezinho!
Graças a sugestão de uma pessoa, consegui juntar o capítulo 2 e 3 num só e agora esse virou o capítulo 4. Mudei os títulos também, gostaram?
Enfim. Agora falta só mais um! Uhuuu!
Beijos de luz



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Depois daquele jantar desastroso, Lysander conseguiu contornar a situação. Rolf, convencido de que nada de errado se passava com seu filho, retornou ao escritório; Luna, ao contrário, insistiu por mais histórias dos anos em que se distanciara da menina, que havia mudado-se para a França.

Lysander ainda estava constrangido, pois, para todos os efeitos, ele e Dominique permaneciam namorando. Ele não fazia a menor ideia de como deveria se comportar ao lado dela; onde colocaria as mãos, que tipo de comentário fazer e onde encaixaria “amor” em suas frases. Namorar não vinha com manual de instruções, muito menos quando o namoro é dentro de casa, na frente da família. Sua sorte foi quando Luna havia se retirado para o quarto e, logo em seguida, Hugo, em sua agitação costumeira, levantou-se num pulo do sofá:

— Ei, gente! Vocês esqueceram que dia é hoje?

— Por Morgana! — Lorcan exclamou, indo atrás dele e catando alguns de seus pertences da sala de visitas — É verdade, Huguinho! Por que não falou mais cedo? Agora estamos atrasados!

— Desculpe — Lysander interrompeu, confuso — Do que vocês estão falando?

— Acorda, Lysander — Lorcan deu um peteleco na cabeça do gêmeo, soltando uma piscadinha — Despedida do verão. Falei grego, né? Deixa pra lá, não parece ser o tipo de evento que você frequenta, de todo o jeito.

— Isso é uma festa? — Dominique perguntou, interessada.

— Olha, a namoradinha gosta — Lorcan riu e parou bem na frente deles — Sim, Dominique, é a despedida das férias, organizada por ex-alunos de Hogwarts em Godric’s Hallow. Quer ir?

— Lorcan, já são quase meia-noite! — Lysander arregalou os olhos, espantado.

— E…?

— Hugo não devia estar em casa a essa hora?

Os meninos se entreolharam e caíram na gargalhada.

— O que foi? — Lysander cruzou os braços, aborrecido — Posso saber o motivo para risadas?

— Calma, papai — Lorcan tinha um meio-sorriso cravado em seu rosto e segurava o namorado pela cintura — A carruagem não vai virar abóbora.

— Lysander fala como se fosse cinquenta anos mais velho que eu — Hugo interviu, revirando os olhos — Relaxa, cara, a gente vai cuidar bem da sua namorada.

— Cuidar? — Dominique começou a rir também — Se enxerga, pirralho! — então, virando-se para Lysander, alisou o rosto dele, falando em tom baixo — Ei, Lys… Pode ser divertido.

— Certeza? — ele respondeu no mesmo tom, sem tirar os olhos dos dela.

— Tenho um kit de sobrevivência — Dominique riu, falando em seu ouvido — Vamos, confie em mim.

Lysander sentiu um súbito rubor esquentar toda a extensão do seu corpo. Era estranho, nunca havia experimentado aquilo antes. Como se estivesse hipnotizado por Dominique Weasley. Faria qualquer coisa que ela lhe pedisse. Incluindo ir a uma festa ridícula no início de uma madrugada.

Lorcan ficou genuinamente surpreso por uma garota conseguir o que ele havia tentado a vida inteira: trazer o irmão para seu mundo, incluí-lo em seus momentos de diversão. Fazê-lo aproveitar a juventude. Por Merlim, Lysander nem parecia ter vinte anos!

A verdade é que algo acontecera no meio do caminho. Quase uma inversão de papéis. Enquanto Lorcan saiu do armário, não somente pela sexualidade, mas para sua personalidade antes reprimida, Lys adotou uma postura mais madura e certinha. Pelo menos, na frente da família.

— Lys… Ei, Lys, acho que já chega de bebida por hoje.

— Ah, não seja careta, Nique!

— Lysander — Dominique tirou os copos da mão dele, aborrecida. A festa estava barulhenta e lotada de gente — Chega. Okay?

— A senhorita anda muito mandona hoje, hein?

— Lysander, vem aqui comigo.

— Ei, pra onde você está me levando? Está querendo me seduzir, é?

Dominique revirou os olhos e puxou-o pela mão para a pista de dança. O som ficou ainda mais forte, mas ela estava acostumada com festas e, principalmente, bebidas.

— Dançar ajuda a desintoxicar, idiota! — Dominique gritou, em seu ouvido.

— Não estou intoxicado!

— Só me imite, tudo bem?

A situação era quase cômica. Dominique não participara do auge da adolescência do amigo, então nunca o havia visto daquele jeito. Mas, apesar de tudo, estavam se divertindo. Ela não se lembrava de que Lysander tinha o dom da dança; nem de que ele dificilmente se importava com o que pensassem dele. Embora estivesse alto, pelo FireWhisky, Dominique sabia que aquilo era sua antiga personalidade encontrando brechas para sair.

Aos poucos, os bruxos que compartilhavam a pista com eles começaram a parar para assisti-los. Havia sintonia e muita diversão entre os dois. Subitamente, Dominique pegou-se recordando seu tempo de Hogwarts; quando sua pura existência era suficiente para tanta bajulação e admiração, e quando os boatos de que Lysander e ela formavam o casal mais bonito da escola. De relance, Nique notou que esse seria o foco dos cochichos dos bruxos mais velhos.

— Pausa? — ela pediu, olhando fixamente para Lysander.

— Pausa.

Sentindo muito calor, o menino foi diretamente para o balcão, pegar uma garrafinha de água. Algumas garotas se aproximaram, jogando charme. Elogiando, enrolando o cabelo entre os dedos.

— Lys! — a mais comunicativa chamou-o, sentando no banco — Lembra de mim?

— Desculpe?

— Sou eu, Alice Longbottom!

— Ah! Oi… — Lysander estava visivelmente desconfortável, e olhando o tempo inteiro para sua acompanhante, à espera dele na pista — É que eu já estava de saída…

— A gente só queria saber se você quer brincar de Sete Minutos No Céu.

— O que é isso?

As meninas deram risadinhas.

— Uma brincadeira muito divertida. Pode chamar Dominique também. A gente vai jogar lá em cima, perto do armário de vassouras. Te vejo lá!

Ainda um pouco zonzo, Lysander voltou para a pista de dança, estendendo a garrafa de água para a amiga.

— Obrigada! — ela gritou, para ser ouvida.

— Ei, Nique!

— O quê!

— Alice chamou a gente pra brincar de não-sei-o-quê lá em cima.

— Brincar de quê?

— Esqueci o nome da brincadeira. Mas ela disse que era divertido. Quer subir?

— Por que não? — ela sorriu e pegou a mão dele. Mas quando chegaram no andar superior, a ficha caiu. Do lado de fora, dava pra ver. Pessoas levantavam para o armário de vassouras aos pares. Era Sete Minutos No Céu — Lys… — Nique sussurrou, puxando-o para o canto da porta, antes de entrar —  Acho que é melhor a gente voltar.

— Voltar?

— Olha, Lys, eu não quero participar disso.

— É tão ruim assim?

— É.

Dominique olhou para os próprios pés e respirou fundo.

— A gente pode até entrar — ela explicou, inquieta — Mas eu vou ficar só olhando. Tudo bem?

Antes que Lysander pudesse dizer qualquer coisa, Dominique largou a mão dele e entrou no quarto a passos largos. Sua aparição fez o mundo congelar. Todos os olhos foram levantados para ela, que exibia uma pose de punk impaciente em seu traje preto e vermelho. Dominique era capaz de apostar que sabia a razão pela qual três dos garotos da roda tinham as bochechas rosadas.

— Dominique! — exclamou Susan Goyle, uma de suas ex-colegas de Hogwarts — Todos estavam indóceis, à sua espera!

— É mesmo? — ela respondeu, cruzando os braços e esboçando um meio-sorriso — Inacreditável, hã?

— Senhorita Weasley..! — outro veterano, Luke Jordan, chegou a levantar-se para cumprimentá-la, quase teatralmente.

— Nem adianta esse assanhamento todo, bocó. Vim só trazer o meu… — ela buscou as palavras certas, tentando decifrar o rosto de seu acompanhante, que adentrou a sala.

— Namorado. — ele disse, na lata, como se já houvesse se acostumado com a palavra. Dominique sorriu.

— Ah, mas gente comprometida não pode brincar — Susan, que parecia a líder do jogo, reclamou — Vocês sabem as regras, não sabem?

— Na verdade… — Lysander estava para perguntar as regras, quando ele reparou em Frank Longbottom e Roxanne Weasley, que voltavam do armário de vassouras com as roupas amassadas. Seus olhos se esbugalharam na direção de Dominique, que encolheu os ombros — Qual o propósito do jogo, desculpe perguntar…?

Todos da roda gargalharam.

— Se está tão curioso, por que não vai você agora? — Alice questionou, ansiosa.

— Alice — Susan retomou a fala — Está nas regras que não é certo estimular traições aqui. Primeiro temos que saber de Dominique.

— Eu não me importo — ela disse sem rodeios, encostando-se no sofá.

— Ótimo, então Lysander está oficialmente inscrito no Sete Minutos No Céu! — Susan sorriu e abriu espaço para que ele tomasse um lugar ao lado dela. Então, direcionou a palavra à dupla que havia voltado — Parece que se divertiram muito, hã?

— Cale a boca! —  Frank exclamou, rindo, ao retornar à roda.

— Okay, vamos ao jogo — Susan girou a varinha, que rodopiou por alguns segundos até cair numa nova dupla. E assim se seguiu por um tempo, até a varinha finalmente cair na direção de Lysander — Uh… Ora, ora. Scamander e Malfoy.

A cor sumiu de todo o corpo de Lysander. Ele parecia que desmaiaria a qualquer momento. Talvez fosse o que sobrara de álcool, talvez fosse aquele monte de incertezas, mas, por alguma razão, a perspectiva de ir para um armário de vassouras com um garoto talvez fosse justamente o que ele precisava. Uma última etapa daqueles testes que sua consciência queria confirmar. Já havia tocado em peitos e recebido um beijo feminino. Agora seria a hora em que teria a certeza: sim, sou gay.

— Ah, Susie, tem certeza? — Scorpius Malfoy reclamou, murmurando, enquanto olhava para Lysander.

— Qual a segunda regra?

Scorpius revirou os olhos:

— Não escolher o par.

— Que orgulho do meu escorpiãozinho!

— Tanto faz — ele levantou, hesitante — Anda logo, nerd, vamos acabar logo com isso.

Dominique estava atenta, o coração a mil. Os olhos iam de Scorpius para Lysander e de Lysander para Scorpius, pensando exatamente a mesma coisa que o amigo.

— Vou pegar uma bebida — ela declarou, antecipando-se para alcançá-los na porta. Quando Lysander passou, Nique puxou-o para lhe falar no ouvido: — Estou aqui fora. Não se preocupe.

— Você é mesmo incrível — e foi tudo antes de Lysander adentrar o armário de vassouras.

Os primeiros dois minutos foi de puro silêncio. À meia-luz, Lysander olhava Malfoy em tom de desconfiança. Sua dupla, ao contrário, o olhava em desafio.

— Algum problema, Scamander?

— N-não, de forma alguma.

— Você não vai me beijar?

— A gente tem mesmo que beijar nessa brincadeira?

Scorpius respirou fundo e esfregou os olhos.

— Tudo bem, podemos só esperar os sete minutos.

— Obrigado.

Lysander estava extremamente desconfortável. Consultava o relógio de cinco e cinco segundos, experimentando a costumeira sensação claustrofóbica em situações como aquela. Faltava apenas três minutos para que seus Sete Minutos No Céu acabassem. E Scorpius parecia realmente entretido em desenhar rabiscos no chão com a varinha. Seria mais fácil deixar pra lá, esquecer essa história de beijos e sexualidade e voltar pra casa no minuto que saísse daquele armário. No entanto, algo dentro dele clamava por respostas. Foi por isso que Lysander chamou-o:

— Scorpius, eu acho que quero te beijar.

— Quer? — ele ergueu a sobrancelha, curioso.

— Quero.

— Então você gosta de meninos.

— Talvez eu goste.

— Hum…

— E então?

Scorpius balançou a cabeça, sem muita paciência, e partiu para cima de Lysander. Segurou o rosto dele com fervor e, diferente de Dominique, não havia qualquer tipo de emoção. Apenas o movimento mecânico de sua boca na dele e suas mãos aqui e ali.

— Scorpius..?

— Hã — ele respondeu, ocupado.

— Eu… Eu acho que… Scorpius! — Lysander finalmente havia desvencilhado-se dele, irritado — Scorpius, eu acho melhor você ir embora.

— O quê?

— Agora.

— Já deu sete minutos?

Lysander consultou o relógio:

— Falta um minuto, mas eu não aguento mais nenhum milésimo com você aqui.

— Mas foi você que quis o beijo — Scorpius olhou-o, sem entender nada — Eu beijo tão mal assim? — brincou.

— Não seja ridículo — Lysander encolheu-se num canto, amolado.

— Qual é o motivo, então?

— Me deixa aqui, por favor. Vá embora!

Havia um princípio de lágrimas em sua face. Scorpius estava mais desesperado que desentendido. Seus olhos observavam Lysander em todos os ângulos, buscando entender o que tinha acabado de acontecer.

— Tudo bem — ele se levantou, colocando a mão na maçaneta — Vou limpar sua barra com a galera, falou? Nem se preocupe.

Lysander apenas assentiu, fazendo sinal para que Scorpius fosse logo de uma vez. Lá fora, encontrou não somente Dominique, a guarda-mor, mas alguns da roda, em expectativa.

— E aí? — Frank quis saber, animado.

— E aí o quê?

— Vocês se pegaram?

Scorpius sentiu o olhar de Dominique cravar-lhe o coração, por mais que a menina estivesse em silêncio. Por isso, preferiu ficar sem responder ao garoto, para encaminhar-se diretamente para a saleta.

Sentindo que algo estava errado, Dominique foi atrás do amigo, cheia de raiva. Principalmente ao encontrá-lo daquele jeito, aos prantos, como uma criança que acaba de descobrir que Babbitt, a Coelha, nunca existiu.

— Vá falando — ela disparou, sem rodeios — O que o imbecil fez com você?

— Nada — a voz de Lysander era embargada — A culpa não é dele, Dominique.

— Nunca fomos de mentir um para o outro e não vai ser agora que isso vai acontecer. O que foi que houve?

Mas Lysander estava tão absorto em seu choro que mal conseguia dizer uma frase qualquer. Dominique respirou fundo e sentou-se ao seu lado, colocando-o no colo. E assim ficaram o resto da madrugada; com um feitiço potente, Dominique travou o armário de vassouras e permaneceu com Lysander em seus braços, tentando acalmá-lo, e, com sucesso, conseguindo fazê-lo pegar no sono.


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