Amor Púrpura escrita por Maga Clari
Notas iniciais do capítulo
Oi, gente!
Tive uns probleminhas de saúde e por isso não respondi ainda os reviews. Mas assim que eu melhorar, respondo. Só vim postar este capítulo porque já estava escrito e não queria desapontar vocês.
Beijos
― Tudo bem, me explica esta história direito. Você está dizendo que nunca teve uma namorada? Ou que nunca ficou com ninguém?
Já era quase pôr-do-sol quando Lysander levou Dominique numa lanchonete em formato de trailer nos arredores de Londres. Os waffles tinham acabado de chegar quando a pergunta de Dominique surgiu.
― Estou começando a me sentir pressionado, sabe?
― Oh. Meu. Merlim. Você quer perder a virgindade comigo. É isso, não é? ― Nique arregalou os olhos, achando a situação hilária. Lysander pareceu perder toda a cor de seu rosto ― Pelas barbas de Merlim! Você quer que seja comigo. Porque somos amigos. Cara, eu preciso de uma bebida.
Lysander observou Nique ir até o balcão e solicitar um copo de Uísque, entornando-o de uma vez, sem nem respirar. De longe, poderia perceber como seu companheiro estava nervoso. As pernas balançando debaixo da mesa, o colarinho da camisa-polo sendo afrouxado junto com a gravata. Quem em sã consciência usa polo com gravata além de Lysander?
― Olha, esse é o acordo ― disse ela, ao retornar ― Eu te ajudo a achar uma namorada e você me ajuda com outra questão. Combinado?
Lysander não gostou muito de ver a amiga agir daquela maneira. As mãos firmes ao redor dos pratos, o corpo por cima da mesa, o olhar feroz. Parecia mais amedrontadora do que se lembrava, antes de Beauxbatons.
― Boa sorte com isso, Nique, porque acho bem difícil que dê certo.
― É mesmo? Por quê?
― Não era você que dizia que beleza não é tudo? O que te faz achar que vim aqui transar com você?
Os olhos de Dominique vacilaram. Seu corpo voltou ao assento, relutante.
― Escute, Nique. Minha família anda me pressionando com essa história de casamento. Parece que na época deles, com a minha idade, já era para eu ter uma noiva. Então eu inventei essa história de que estávamos saindo.
― Você fez o quê, Scamander?!
― Disse que era um relacionamento à distância, mas agora que a mamãe soube do retorno das “meninas da Fleur”, como ela mesma chama, todos estão querendo que eu te leve para um jantar informal.
― Isso soou de um machismo de tantas maneiras, cara. Tantas!
― Me perdoe, Nique.
― O que você quer agora? Vai me pedir em casamento?
― Nique, eu tenho um problema ainda pior do que esse.
― Prossiga. Estou adorando esse roteiro de tragédia grega.
Dominique havia aproveitado o momento para devorar o que restara de seus waffles, enquanto Lysander procurava a calma que não vinha. Seria a primeira vez que diria aquilo em voz alta, a primeira vez que confessaria sua condição insegura, pois estava mais confuso que uma criança no meio de adultos.
O olhar de Dominique o tranquilizava de alguma maneira, como se não se importasse com o que quer que estivesse por vir. No entanto, o nervosismo era genuíno. Subitamente, a lembrança de sua pré-adolescência surgiu.
— Quem você chamará para a formatura? — ouvia alguns dos Weasley lhe perguntarem durante as aulas.
— E eu deveria chamar alguém? — ele respondia, como sempre.
— Qualquer pessoa aceitaria, Lys. Não falta opção — dessa vez, quem disse foi Lily Luna, que costumava preencher o vazio após a transferência de Dominique para a França.
A verdade é que, na época, Lysander não tinha certeza se queria chamar alguém para ir com ele à formatura. Havia centenas de garotas em sua escola e nenhuma, nenhuma delas, parecia lhe trazer qualquer sorte de sentimento “a mais”.
Lysander experimentou a popularidade que havia acompanhado Dominique desde que a conhecera, mesmo após a sua ida. Garotas e garotos ficavam aos seus pés. Bilhetinhos eram postos em suas mochilas, flores e sapos de chocolate, tudo oferecido como se fossem deuses, filhos de Afrodite.
Ainda assim, Lysander preferiu ir ao baile de formatura sozinho. Aproveitou a festa, dançou, brincou, tudo sem precisar de companhia. No entanto, quando seu irmão apareceu um belo dia com o primeiro namorado, um clique surgiu em seu cérebro. Havia outras possibilidades. Se Lorcan gostava de garotos, talvez o mesmo estivesse acontecendo com ele.
— Eu acho que gosto de garotos, Dominique — ele confessou, como se guardasse o segredo a sete chaves — Mas não sei se tenho certeza.
— Como assim não tem certeza?!
— Eu não sei, Dominique, eu não sei!
Os olhos de Lysander foram para a janela do trailer. Havia certa confusão em seus pensamentos, poderia ser capaz de jurar estar sendo assombrado por zonzóbulos. Mas não é como se tivesse tempo sobrando para afastá-los.
— Lys, olha pra mim — Dominique deslizou as mãos por cima das dele, carinhosamente — Lys...
— Agora não, Nique.
— Lys, por favor.
— Eu nem devia ter vindo, pra começar — ele levantou-se, de repente, deixando algumas notas de dinheiro trouxa na mesa — Quer saber? Esquece. Deixa pra lá. Eu… Eu vou… Bom… Adeus.
Antes que Dominique pudesse impedi-lo, Lysander já havia se esgueirado para o lado de fora da lanchonete e, num piscar de olhos, já não estava mais lá.
**
Dominique esperou até que o dia escurecesse para ir atrás de Lysander.
O caminho atravessando a horta de abóboras e ameixas dirigíveis trouxe a vaga lembrança de seu tempo de menina quando ia brincar de Quadribol com os Scamander. O aroma era adocicado, saudoso; por alguns instantes ela parou para apreciá-lo. Ir à Ottery St. Catchpole sempre havia sido um bom passeio.
Pensando em tudo isso, Dominique tomou a direção do quarto mais alto da casa e escalou a árvore mais próxima, cuidando-se para passar-se despercebida. No entanto, sabia que não seria tão difícil, considerando a distração da família Lovegood-Scamander. De fato, no térreo estava Rolf conversando animadamente com um amigo do trabalho, enquanto Luna atirava balões de tinta numa tela acoplada à parede de pedras. No andar superior, Lorcan dava uns amassos com o namorado às escondidas, no banheiro. Lysander era o único solitário; escorado à janela, aproveitava a brisa de verão, mas sem muita energia. A figura de Dominique assustou-o o bastante para tropeçar em seus próprios pés.
— Ei, Lys! — imitou-o Dominique, arrancando um meio-sorriso do amigo pelo velho cumprimento — Como tu andas?
— Ando é dolorido, ante tamanha pancada que vossa aparição causou-me.
— Ridículo! — bradou Dominique, impulsionando-se para dentro da casa — Ei, me ajuda aqui!
Lysander levantou-se e puxou a amiga para conduzi-la logo em seguida à poltrona de visitas. Dominique jogou-se lá, tão à vontade, tão naturalmente, que parecia frequentar aquele ambiente todos os dias, como se nenhum hiatus houvesse existido.
— É o seguinte, Lys — ela começou, sem rodeios — Refleti por horas e horas e tomei uma decisão.
— Sobre..?
— Hello-ô?! Não percebeu que estou toda arrumada? — Dominique apontou para si mesma, fazendo um gesto amplo com as mãos — Eu vim jantar com você e sua família, bocó!
A afirmação fez Lysander sorrir. Dominique puxou-o para que ele sentasse no braço da poltrona, ao seu lado.
— Mas antes, quero saber essa história direito. Por que mentiu para os seus pais, por que me envolveu… O que você pretende com tudo isso, Lys?
— Olha só — Lysander respirou bem fundo, apertando os olhos — A questão nem é se eu sou gay ou se eu hétero, sabe? Não importa. Eu só quero trazer alguém aqui e apresentar à minha família, pra essa pressão acabar. Entende? Nós somos amigos, meus pais gostam muito de você. Facilita tudo.
— Lys… Saber a sua sexualidade é importante sim. Mais importante ainda do que trazer qualquer pessoa aqui…
— Você não é qualquer pessoa.
Dominique sentiu as bochechas esquentarem, então brincou com as mechas de cabelo para disfarçar.
— Tudo bem, Lys, mas por quanto tempo pretende fingir que é meu namorado? E se você não conseguir fingir que gosta de meninas? Que gosta de mim? Caramba, e se eu me apaixonar por você?
Ao ouvir tudo aquilo, Lysander começou a rir. Mas rir de nervoso mesmo, de terror, de pavor.
— E por que trasgos você se apaixonaria por mim?
— Ah, Lysander, vai saber.
— Você não vai se apaixonar por mim.
— De onde vem tanta certeza?
— Estamos falando de uma garota independente e superior demais para esse tipo de coisa.
— Que tipo de coisa?
— Ah, Nique. Namorar. A não ser que…
— Não mude o foco, Lysander. Estamos falando de você.
Dominique hesitou e deixou que suas mãos corressem pela sua bolsa de couro para então tirar de lá um aparelhinho trouxa.
— O que é isso?
— Pensei que fosse mais inteligente, Lys. É um smartphone. Presta atenção, vamos fazer um teste, tudo bem?
— Eu tenho escolha?
— Não — Nique sorriu, e então, aconchegou-se mais perto dele, mostrando imagens em seu smartphone — Você vai me dizer o primeiro pensamento que te vem com cada fotografia que eu for passando, okay?
— Okay.
— Às suas marchas… Preparar… Já!
— Hã… Não entendi essa foto.
— Isso é… Isso é… Eu não vou explicar. Próxima!
— Parece um troll, só que humano.
— Lysander!
— Diga se não é? Achei horrível.
— Okay, e essa aqui?
— Constrangedor — nesse momento, os olhos de Lysander ficaram inquietos, sem saber que direção tomar — Próxima, Nique.
— Preparado para a última do primeiro round?
— Mostra logo de uma vez, Dominique. Ah! Que nojo! Muda essa porra.
Dominique então apagou a tela do celular para olhá-lo bem seriamente.
— Nenhuma dessas imagens mexeu positivamente com você? Nem adianta mentir, Lys, isso é entre nós.
— Eu estou falando sério!
— Tudo bem. A próxima etapa do teste é um pouco mais problemática. E eu preciso que você tome isso com seriedade.
— E por que eu não levari… Ah… Meu… Merlim!
O coração de Lysander parecia saltar para fora, tamanho era o susto acometido. Seus olhos relutavam em acreditar que Dominique havia tirado a camisa e estava sem sutiã.
— E então? — ela quis saber, encolhendo os ombros.
— E então o quê?
— Nada?
Lysander precisou piscar os olhos muitas vezes para certificar-se de que não era alucinação.
— Você já viu peitos antes, certo?
— Na verdade…
— Pode tocá-los, se quiser. Qual é, Lys, não tem problema.
— Não é apropriado.
— Lysander...
— É porque.. Olha só… — então, Lysander aproximou-se para observar, segurando o corpo dela no encosto da poltrona — Eu não… Isso é muito esquisito, Nique.
Quando Lysander estava para pegar a camisa de Dominique e devolvê-la, ele viu-se pego no flagra, mesmo se nada estivesse de fato acontecendo.
Seu irmão-gêmeo, Lorcan, havia aberto a porta para chamá-lo para o jantar.
— Ora, ora. Parece que alguém já fez o desjejum.
Não quer ver anúncios?
Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!
Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!