Amor Púrpura escrita por Maga Clari


Capítulo 1
Meio da tarde: De volta ao Chalé das Conchas


Notas iniciais do capítulo

Olá, olá!
Nem sei o que farei com o rumo dessa história, mas espero que gostem :3



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Duas batidas na porta.

Nenhuma resposta. Outra tentativa fracassada.

Muitas possibilidades surgiram nos pensamentos daquele garoto recém-saído da adolescência; pensamentos transformados em sensações, angústia, apertos no peito, no coração. Dominique poderia não mais residir naquele lugar. Dominique poderia ter sofrido algum acidente. Dominique poderia estar presa. Ou, na pior das hipóteses, Dominique poderia ter-se magoado com ele por alguma razão cuja lembrança lhe faltava.

Mais uma batida na porta.

O certo seria desistir de um plano que já havia começado errado. O melhor caminho teria sido procurá-la desde o início; desde que ainda eram amigos, que eram inseparáveis. Quando Dominique se importava com a existência dele, ao invés de construir muros e muros de separação.

O barulhinho da tranca. A chave.

Como estaria Dominique? Alta, baixa, magra, gorda? Teria ela feito algo no cabelo, no rosto, talvez? Quatro anos não são quatro dias. São o suficiente para novas personalidades, novos comportamentos. Teria Dominique adotado o hábito de ignorá-lo só por puro hobbie?

Quando a porta abriu, o vento pareceu tocar seu corpo pela primeira vez. Por instinto, abraçou-se para se proteger do frio litorâneo, temendo cada segundo que ainda lhe restava para encarar a velha amiga parada no hall de entrada.

― Ei, Niii-que! ― soltou-lhe ele, o costumeiro cumprimento, como no passado não tão remoto ― Como tu andas?!

Dominique sentiu o coração sair pela boca. Não tinha mais controle sobre seu corpo nem se quisesse. Na verdade, o ar lhe faltava, os dedos tremiam ao apoiar-se na porta de madeira branca e os olhos, ah, os olhos de seu querido amigo eram como duas faíscas de fogo azul.

― Casa errada, garoto.

― Ah, qual é! É uma nova brincadeira?

― Sai da minha frente, Lysander.

A porta na cara.

Por essa, realmente, não esperava. Uma recepção daquelas parecia mais impossível que Dumbledore tirar pontos da Grifinória. Portanto, sabendo que aquilo não passava de uma cena, Lysander optou por sentar-se no batente da casa para curtir a brisa marítima. Aproveitou para tirar as botas e pôr os pés na areia fria, recordando seus velhos verões no Chalé das Conchas.

Lembrou-se das vezes que correu e pregou peça nos vizinhos e de quando o Senhor Weasley o ensinou a nadar. Naquela época, Dominique tinha os cabelos loiros e retos, bem na altura dos ombros, e arrancava trezentos mil olhares de todos os colegas de escola e da vizinhança. Ela insistia em dizer que era uma questão de maldição, que sua família carregava no DNA algo que enfeitiçava as pessoas, como se fossem poções do amor ambulantes. No entanto, Lysander sempre soube que nada disso era verdade. Que o encantamento acontecia porque os Delacour-Weasley transbordavam cor a toda e qualquer pessoa que cruzasse seus caminhos floridos.

― Às vezes, eu queria ser feia ― disse ela, em seu último verão na Inglaterra. Os dois estavam lado a lado naquela mesma praia, perto das ondas.

― Às vezes, eu queria que você fosse mais perspicaz ― replicou-lhe Lysander, aborrecido ― Que olhasse ao seu redor.

― Meu redor?

― É, Nique. Tem pessoas com problemas piores do que esse.

― Tipo quem?

― Tipo eu.

― Ah, você?!

Lysander fez que não ouviu e mergulhou por alguns segundos. De volta à superfície, tomou o caminho da chave de portal e foi-se embora. Do mesmo jeito que, anos depois, Dominique o havia feito, bem na frente do Chalé.

O clique surgiu novamente. As orelhas de Lysander se eriçaram, mas tentando não parecer tão desesperado, preferiu permanecer onde estava, até que Dominique tomasse o lugar ao lado dele.

― Tudo bem. Eu te dou cinco minutos. Vai falando.

Dominique abraçava as pernas enquanto o olhava, intrigada. Será que ele havia reparado em seu cabelo roxo? Em seu maiô rosa-chiclete? Em seu piercing no nariz? Em suas unhas pretas? Teria Lysander sequer pensado em algo legal pra dizer, mas engolido, tomado por tanta vergonha, diante de seu comportamento seco e indelicado?

― Nique, eu preciso de você ― Lysander finalmente teve coragem de encará-la.

― Não, não, não, não, não!

― Nique, você precisa entender que...

― Eu não posso te ajudar nisso, eu já sei o que vai pedir ― Nique limpou uma lágrima teimosa, mas rápido o bastante para que seu velho amigo nem reparasse ― Pensa que não sei de sua correspondência com Victoire?

― Perdão?

― Sei que é errado, mas tomei a liberdade de ler a correspondência de minha irmã, já que vez e outra ela aparece com um namorado novo e algum pode ser perigoso. Agora imagina a surpresa que me tomou quando descobri que um dos remetentes era você.

Um silêncio incômodo se sucedeu. Lysander desviou a atenção para alguns siris brincalhões cavando buraco na areia.

― Eu não quis nem ler ― Dominique apressou-se em justificar, sem tirar os olhos dele ― Você descobriu que havíamos voltado para Inglaterra e ainda assim preferiu ter notícia de Victorie, mas não de sua velha amiga? É bem óbvio, Lysander. Por favor, não me peça isso. Eu não conseguiria.

― Uma vez ― Lysander finalmente tomou coragem para falar, ainda brincando com os siris ― Eu e você, nós estávamos sentados bem aqui. Não sei se você se lembra… Mas eu disse que queria que você fosse mais perspicaz. Bem, parece que nada mudou desde então, hã?

― Talvez eu tenha ficado mais feia.

― Feia?

― Não me olhe assim! Era tudo o que eu sempre quis, não era? Que essa história de veela deixasse de fazer efeito. E parece que já começou. Olha só! Olha só pra Victorie se exibindo com aquele biquíni!

Dominique apontou na direção do mar, onde a mais velha dos Weasley-Delacour trocava telefones com um surfista e mexia no próprio cabelo. Nique soltou um ruído abafado de desaprovação e abraçou as pernas, aborrecida.

― Escute, Nique ― Lysander respirou fundo e ficou bem na frente dela, impedindo a visão do resto da praia ― Eu vim aqui hoje pela mesma razão que me correspondi com Victorie. Preciso de você. Preciso que me ajude.

― Já disse que não posso te ajudar! Você é surdo ou retardado?

― Nique, eu sinto a sua falta. Paramos de nos falar, mas por pura vergonha de minha parte. Não queria te incomodar ou atrapalhar a sua vida na França. Mas agora você está aqui e eu quero muito que voltemos a ser amigos.

Dominique olhou-o de esguelha.

― Isso não tem nada a ver com você ter sido pego pelo feromônio veela de minha irmã?

― Pelas barbas de Merlim, Dominique! ― Lysander teve que levantar não somente a voz, mas todo o corpo, olhando-a de cima ― Eu me correspondi com ela perguntando por você! Querendo saber se ainda pensava em mim, se havia mencionado me fazer uma visita, se continuava a mesma. Esse tipo de coisa. Da próxima vez, tenta abrir e ler a correspondência antes de fazer esse drama todo.

― Bem… Se não fosse drama, não seria eu.

O comentário fez Lysander sorrir.

― Gostei do que fez no cabelo. Combinou com você.


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