The wire of destiny escrita por Serena Bin


Capítulo 6
Capítulo 6 - O CONVITE


Notas iniciais do capítulo

Olá amores, esse capítulo está um mel.
Espero que gostem.

Abraços da Serena Bin.



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Quando amanheceu, antes que algum de seus pais acordassem para o desjejum, o príncipe apressou-se para ir até o coreto.

Se sua suposição estivesse certa, uma das princesas do Reino Fantasma voltaria para averiguar se o pequeno prendedor de jade ainda estava por lá, e no íntimo de sua alma, ainda que não se desse conta do porquê, A-Li desejava que fosse a segunda princesa quem viesse.

O jovem rapaz parou frente ao monumento onde sob seu teto de madeira, no meio do poço, agora com águas tão frias quanto as das terras do Ártico, o lótus de inverno agora refletia a luz do dia brilhante em suas pétalas espelhadas de gelo.

Havia pedido na noite anterior para que servos averiguassem a água do poço.

O príncipe sorriu ao imaginar qual seria a expressão da segunda princesa fantasma quando o visse que a pequena planta havia se recuperado.

O sol brilhava muito forte naquela manhã e a brisa que soprava do sul trazia o cheiro das flores da primavera para o pátio onde ficava o coreto.

A-Li fechou os olhos para apreciar o momento e quando os abriu novamente, viu no horizonte uma silhueta vestida de roxo brilhante vindo em sua direção como uma miragem emergindo das areias do deserto.

Ying Yi por sua vez, ainda não havia notado o primeiro príncipe porque estava andando de cabeça baixa, atenta ao chão na expectativa de encontrar seu pertence.

O coração do rapaz bateu mais acelerado e ele não pode evitar de sorrir.

— Está procurando por isso? – o primeiro príncipe estendeu a presilha de jade branca para Ying Yi pegando-a de surpresa.

A jovem princesa sorriu imediatamente.

— Xiexie*... – ela levantou o rosto iluminado de felicidade e encontrou a face do primeiro príncipe. Ele sorria não apenas com os lábios, mas também com o olhar. – Shaoyè*?

A voz de Ying Yi saiu como um sussurro surpreso.

— Dianxia*. – disse o príncipe, curvando-se para a moça.

Foi por um breve segundo.

Uma fração de tempo em que os olhos dos dois se encontraram o suficiente para causar um descompasso na respiração de ambos.

De repente, o coração da princesa fantasma acelerou de uma forma que ela jamais havia sentido antes.

Uma agitação indefinida o qual ela não sabia atribuir uma causa, mas sentia que estar sob os olhares do jovem mestre a sua frente tinha alguma influência.  

As mãos ainda estavam estendidas. A de A-Li oferecendo a presilha de jade, a de Ying ameaçando apanhá-la.

A brisa soprando ainda mais forte trazendo além do cheiro das flores, aquele inconfundível aroma que A-Li havia sentido na noite anterior quando dançara coma princesa.

 Foi o príncipe quem fez o primeiro movimento, deixando Ying sem reação quando as mãos do príncipe foram em sua direção até parar no alto de seu penteado.

O rapaz prendeu a presilha de jade nos cabelos da princesa antes que ela pudesse refutá-lo.

— Você precisa prende-la bem, caso contrário pode perde-la novamente.

Quando o príncipe se afastou e viu o embaraço dela, percebeu o quão impulsivo fora.

— Perdoe-me, alteza. – Ele disse envergonhado, mas ainda atraído a olhar para ela. – Fui descortês.

Ying olhou para o chão sentindo seu rosto queimando. Ela forçou um sorriso para descontrair.

— Jovem mestre, - disse. – tenho certeza de que não foi intencional. Obrigada pela gentileza de encontrar minha presilha e guarda-la para mim. – então ela levantou novamente o olhar e virou-se para o príncipe. – E principalmente por devolve-la. – Ying sorriu. -  Obrigada por sua gentileza.

Um grupo de servas se aproximava do coreto e quando avistaram o primeiro príncipe, todas curvaram-se imediatamente para saudá-lo, mas A-Li lançou a elas um olhar repreendedor como se ele não quisesse que sua identidade real fosse revelada.

As criadas atenderam a silenciosa ordem e dispersaram logo em seguida.

Ying percebeu a maior movimentação em torno do coreto e sentiu que era hora de voltar aos seus aposentos de hóspede. Yanzhi a essa altura já devia estar desperta.  A tia não gostaria de saber que ela havia se encontrado sozinha com um celestial.

— Shaoye* - Ying voltou a dizer. – , uma vez que já me devolveu a presilha, devo agradece-lo novamente. – ela curvou-se para o príncipe. – Se não há mais nada, me retirarei primeiro.

A princesa fantasma viu o sorriso de A-Li desaparecer no momento em que ela virou-se para sair.

— Alteza, posso perguntar onde está hospedada? Para o caso de eu encontrar mais algum pertence seu...

— No Palácio da Neve.

— No Palácio da Neve... – ele refletiu, sorridente.

— Agradeço a preocupação, jovem mestre, mas não terei tempo de perder mais objetos importantes.

— Por que?

— Minha tia, a senhora fantasma Yanzhi deseja partir em breve. – Ying olhava para o lótus de inverno atrás do rapaz. – Ela tem assuntos importantes a tratar em casa.

— Quando pretendem voltar?

— Por que o interesse, jovem mestre? – Ying questionou, incrédula.

— Curiosidade. – respondeu. – Perdoe-me se fui invasivo.

Ying sorriu.

— Não sei ao certo, mas será em breve. – a segunda princesa fantasma então observou mais atentamente o lótus de inverno. – O lótus voltou a sua cor original...

— Repassei suas instruções para o Lorde dos Tesouros Divinos - mentiu o príncipe. - , e ele deve ter atentado para a temperatura da água. O lótus é realmente mais bonito quando está em seu estado natural.

— Fico feliz em ter ajudado.

Os olhos de A-Li novamente encontraram os da princesa que desviou logo em seguida.

— Shaoye* realmente preciso ir. Obrigada mais uma vez.

Ying curvou a cabeça em agradecimento escondendo seu sorriso, virou-se e começou a caminhar, mas de repente a voz do príncipe a chamou novamente e seu coração palpitou.

Ela parou alguns passos a frente e ouviu A-Li dizer:

— Dianxia! Perdoe-me se eu for descortês, mas no Reino Celestial uma vez que lhe fiz uma gentileza, você deve retribui-la.

Não que A-Li precisasse da gentileza da princesa fantasma, mas ele sentiu a necessidade de postergar a partida da moça porque se sentia muito vívido ao lado dela.

Ying respirou fundo.

— É justo.  – respondeu, sem virar-se para o rapaz. – Como deseja que eu lhe pague? Eu tenho posses. Peça o que quiser.

A-Li caminhou até a princesa fantasma parando há poucos passos dela, de modo que Ying percebeu sua presença atrás de si.

— Dianxia, eu sou um jovem celestial no caminho do cultivo. Coisas materiais não tem tanto valor para mim – respondeu o rapaz com uma voz muito paciente. – E mesmo se fosse alguém que desejasse riquezas, sinto que não deveria desperdiçar o seu favor com algo tão trivial.

— Então o que deseja em troca? – Ying apertou os punhos. A proximidade do príncipe a deixava nervosa de um jeito estranho.

— Gostaria de vê-la novamente.

Ying estremeceu.

Um celestial pedindo para vê-la novamente. Logo ela, a princesa que vivia sob os olhares cautelosos da Senhora Fantasma que a orientara veementemente para não ter contato com celestiais mais que o necessário.

Naquele momento, a jovem tentou imaginar como sua tia reagiria ao saber. Ela a repreenderia com certeza, muito porque a própria Ying havia sentido o amargo das palavras e olhares dos celestiais desde que chegava ao evento.

As divindades dos Nove Céus, as mais antigas principalmente reprimiam o desejo ardente de condena-la pelo passado dos pais que ela sequer conheceu.

Mas, aquele celestial, o que agora estava atrás dela pedindo para vê-la era diferente. Ele não lhe perguntara coisa alguma, tão pouco a refutava com olhares maldosos, ou mesmo a discriminava por ser mestiça de dois povos.

O coração de Ying palpitava tão forte que ela teve a sensação de estar bêbada.

Vivendo uma vida solitária no Reino Fantasma, onde seu círculo de amizade se limitava à tia, a prima e ao leal Qilin de Fogo, aquele jovem mestre parado há poucos passos dela significou em sua inocência um sopro de ar puro.

— E então? – o príncipe tornou a perguntar. – Posso vê-la novamente?

— Eu... – ela gaguejou. – Não acho apropriado, jovem mestre. Se alguma divindade nos vir...Poderá ser embaraçoso.

— Vossa alteza diz isso pela sua tia, a Senhora Fantasma? – perguntou o príncipe. – Posso pedir permissão a ela se assim desejar.

— Não! – Ying o refutou, assustada. – Não se incomode. Eu...Eu vou pensar.

A-Li sorriu.

No mesmo instante, Ying viu a silhueta do Qilin de Fogo se aproximando. Certamente a sua procura.

—Eu vou aguardar ansioso por sua resposta. – respondeu o príncipe.

— Me retirarei primeiro. – Ying curvou a cabeça e saiu apressada.

Quando voltou ao Palácio da Neve, Ying encontrou Lan Yanjing sentada abaixo de uma figueira, meditando.

A primeira princesa fantasma sentiu a agitação da prima e abriu os olhos no exato instante em que Ying pisou os pés sobre o calçamento do palácio.

— Onde você estava, meimei? Te procurei para irmos ao coreto encontrar a presilha...- Lan então viu o brilho pálido do adorno nos cabelos de Ying e sorriu. – Ah, você já a encontrou! Onde?

— No coreto. – Ying respondeu. – Um celestial a encontrou e me devolveu.

— Um celestial qualquer ou o que não tirava os olhos de você ontem?

Ying baixou a cabeça, incomodada e Lan Yanjing notou a tensão da prima.

— Parece nervosa. O que houve?

Então Ying contou o ocorrido à Lan Yanjing  que entendeu de imediato o nervosismo da prima. 

— Os Nove Céus é um lugar cheio de regras de etiquetas. – explicou Yanjing -  Retribuir favores é justo em qualquer lugar, mas eles levam muito mais a sério aqui.

— O que devo fazer?

— Você deve aceitar ou senão vai dever esse favor pela vida toda. – Lan respondeu. – Vá até o coreto, troque algumas palavras e se despeça; depois disso partiremos de volta ao Reino Fantasma e tudo estará bem.

— Mas a tia...

— Eu te darei cobertura dessa vez. – disse a prima mais velha. – Contando que seja discreta e rápida, ela nunca saberá.

— Por que ele tinha de pedir para me ver? – Ying refletiu, indignada.

— Não se preocupe. – Lan a consolou. – Logo voltaremos ao nosso reino e tudo voltará ao normal. Sua pequena pirralha, não perca mais seus pertences por aí.

As duas primas riram depois disso.

No coreto, o príncipe A-Li ainda estava admirando o lótus de inverno e pensando se a bela princesinha fantasma compraria sua exigência quando ouviu uma das criadas de sua mãe avisando-o que a deusa maior de Qing Qiu estava a sua espera no salão de chá.

O primeiro príncipe acatou o aviso e finalmente deixou o coreto.

— Mãe?

A deusa olhou por cima dos ombros e viu o filho mais velho entrando pela porta e caminhando até ela.

A mulher estendeu uma taça de chá para o jovem que se sentou após uma breve reverencia.

— A-Li, você dormiu demais. – disse a deusa com serenidade. – Não é de bom tom que príncipes durmam como os bebes.

A-Li riu depois de enfiou um naco de queijo dentro da boca.

— É uma ocasião de festa, mãe. – disse. – Anteriormente havia bebido muito então, o álcool me fez dormir mais que o normal.

Bai Qian não era dada a sorrisos e gracejos e podia reconhecer uma mentira quando via uma, mas naquele momento ela sorriu para o filho.

— Bolinho de arroz, - a mulher colocou mais chá em sua taça. – o chamei aqui para decidirmos um assunto. Daqui alguns meses haverá um evento importante, porém nem eu ou seu pai poderemos ir porque muito provavelmente eu esteja prestes a dar a luz. Você deverá ir como nosso representante.

— Que tipo de evento? – perguntou o príncipe interessado.

— Um casamento. Eu sei que você é como seu pai, não se sente a vontade em festas, mas é importante que marquemos presença

A-Li levantou uma das sobrancelhas.

— De quem?

— Da primeira princesa do Reino Fantasma. – Bai Qian esticou as costas. A barriga começara a incomodá-la.

O rosto de A-Li iluminou-se por um momento.

Bai Qian continuou:

— Recebemos um convite ontem.

— E eu vou representando qual dos clãs? Dragões ou raposas?

— Jiu’Er é a rainha das raposas. Você é mais próximo da nobreza do clã dos Dragões nesse momento. – Bai Qian segurou as mãos do filho mais velho. – Posso contar com você?

O príncipe A-Li de outrora teria se esquivado da obrigação de ir a uma festa em que ele mal conhecia os anfitriões, mas naquele momento, ele sentia-se animado.

— Obrigado por confiar em mim, mãe. – Agradeceu, sorridente e todo o entusiasmo não passou despercebido pelos olhos atentos da mãe.

— Por que está sorrindo tanto? – ela quis saber.

A-Li não quis mencionar que aquela notícia havia dado a ele mais uma chance de ver a misteriosa princesa fantasma, portanto, respondeu com o que julgava ser o ideal.

— Esse será meu primeiro evento em que serei representante do Clã dos Dragões. É uma ótima oportunidade para mostrar amistosidade, certo?

De repente, um chute em seu ventre fez com que os olhos da deusa maior Bai Qian se esquivassem do filho mais velho.

A-Li soltou o bolinho de arroz que segurava.

— A senhora está bem? – perguntou, preocupado.

Bai Qian encolheu-se.

— O pequeno morador parece estar querendo sair antes do tempo. – disse a mulher, acariciando o ventre estufado.

O príncipe A-Li sorriu, levantou-se e foi para o lado da mãe, pôs as orelhas próximas de onde o bebe parecia ter chutado e sorriu.

— Aya, xiao dìdì está muito apertado aí dentro? – o pequeno ser dentro do ventre contorceu-se ainda mais e Bai Qian suspirou alto.

O príncipe sorriu.

— Xiao dìdì – disse. – Não se preocupe, logo você estará conosco. Sabe que estou ansioso para ver seu rostinho? Mas, não faça nossa mãe sofrer muito. Se ela ficar zangada pode ser que te expulse de sua morada antes do tempo.

— A-Li, não diga bobagens. – a mãe o repreendeu.

O primeiro príncipe depositou um beijo singelo no ventre da mãe.

— Já está de saída? – Bai Qian acompanhou o filho levantando-se de seu assento.

— Tenho alguns assuntos a tratar. – respondeu. – Se não houver mais nada a dizer, peço para me retirar.

A deusa maior bebeu mais um gole de seu chá olhando para o filho com desconfiança, mas não fez mais perguntas.

— Certo. – disse a mãe ao filho.

— Então eu me retiro primeiro. – A-Li curvou-se em respeito, depois saiu para os jardins que ficavam além do palácio dos pais.


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Notas finais do capítulo

GLOSÁRIO

Meimei - do mandarim quer dizer "irma menor" ou "irmazinha".
Shaoye - do mandarim quer dizer "jovem mestre". Usado geralmente para rapazes de familias nobres.
Xiao dìdì - do mandarim quer dizer "irmãozinho".
Dianxia - do mandarim quer dizer "vossa alteza real".

Obrigadíssima por ler ♥
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Beijocas e até a próxima.



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