The wire of destiny escrita por Serena Bin


Capítulo 5
Capítulo 5 - O LÓTUS DE INVERNO




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Trezentos e sessenta e cinco dias já havia se passado entre os mortais quando a grande festa em comemoração ao matrimonio do príncipe herdeiro chegou ao fim do primeiro dia. 

O vinho de pêssego ainda era servido dentro do enorme salão, mas houve um estágio da festa em que apenas os mais tolerantes ao álcool ainda permaneciam por lá. 

Os que eram mais jovens já haviam se dispersado pelos jardins do palácio. 

Nas muitas passarelas que ligavam um bosque a outro, as duas princesas do Reino Fantasma andavam lentamente enquanto admiravam as dezenas de pagodes e palacetes pelo caminho. 

— Esse lugar é realmente magnifico, não acha? – Lan Yanjing comentou, abrindo um gigantesco sorriso ao se deparar com o coreto coberto de hera dourada logo a frente. – Veja, Ying’Er, há um pequeno lago no centro do coreto!

Ying Yi seguiu a prima até o monumento a passos vagarosos. Subiu os dois pequenos degraus de mármore até poder vislumbrar a água límpida de um profundo poço sob o teto de madeira. 

No centro das águas calmas do poço, uma miúda plantinha flutuava. A planta emitia um brilho peculiar que se assemelhava com lanternas de ano novo. 

As duas princesas estavam tão absortas admirando o coreto que sequer notaram quando uma terceira silhueta parou a frente do monumento. 

— Eu nunca entendi o porquê desse lótus brilhar tanto. 

Ambas as princesas olharam surpresas para a esquerda, e sem aviso, encontraram o primeiro príncipe A-Li, mas nenhuma delas o reconheceu sem a máscara de penas e pérolas que usava dentro do salão de baile. 

— É um Lótus de Inverno. – Ying Yi de repente respondeu, voltando-se para a plantinha no centro do poço. – A cor natural geralmente é azulada com aspecto de gelo, mas quando a água está muito quente, o lótus brilha. É um sinal de que suas células sensíveis a temperatura estão morrendo. 

O príncipe A-Li ouviu cada palavra atentamente, depois sorriu abismado e comentou:

— Nunca encontrei alguém que soubesse tanto sobre lótus.
Ying Yi riu.

— Eu as conheço porque são nativas do Reino Fantasma. 

— Do Reino Fantasma? – o príncipe A-Li questionou, surpreso. – Sempre pensei que fosse uma planta celestial... E única uma vez que foi um presente.

— Única? – Lan Yanjing riu-se. – Existem centenas delas nos lagos congelados das Terras do Ártico. 

— Mas apesar de muito comuns no Reino Fantasma, os lótus de inverno só podem florescer uma vez a cada noventa mil anos. Elas são de certa forma, raras. – Ying Yi voltou a olhar para o príncipe. – Quem quer que tenha dado de presente ao Reino Celestial, teve grande sensibilidade. No Reino Fantasma, ganhar um lótus de inverno é selar um acordo de paz. 

A-Li debruçou-se sobre o parapeito do coreto, olhando fixamente para a pequena plantinha no centro do poço. 

— Acordo de paz. – Divagou o rapaz. – Agora faz sentido que o Lorde Celestial a tenha ganhado de presente de um Senhor Fantasma após a grandiosa Guerra do Sino. 

Ouvir a menção de um senhor fantasma fez com que as duas princesinhas ouriçassem seus ouvidos, especialmente Ying Yi. 

— Um Senhor Fantasma? – Lan Yanjing perguntou, interessada. – Qual deles?

A-Li olhou para o horizonte tentando lembrar-se de uma conversa que tivera há muitos milênios com seu pai, onde lhe fora mencionado o nome do remetente do lótus de inverno. 

— Não me lembro exatamente... – continuou. – Era algo com Li.

— Li Jing? – Ying se apressou. Seus olhos cor de carmesim estavam tão brilhantes quanto o próprio lótus no meio do poço. – Era esse o nome?

— Sim! O Lorde Fantasma que meu avô apoiou depois da guerra. 
Ying sorriu e voltou a olhar para a lótus. 

Então fora seu pai quem presenteara o Reino Celestial com aquela planta. Seu coração se encheu de um sentimento bom que misturava a saudade de algo que ela nunca tivera: um pai, mas de alguma forma, estar tão próxima a um objeto tocado por ele, era como se a presença de Li Jing estivesse espreitando sutilmente pelo coreto, local aliás que Ying supôs ter sido visitado pelo pai. 

Um fio de lágrima nasceu nos olhos de Ying Yi. 

Em algum lugar além do que ela estava naquele momento, em uma realidade diferente da sua, a figura alta de Li Jing, do jeito como a descrição de Yan Zhi a fez imaginá-lo apareceu em seus pensamentos, com longos cabelos, olhos escarlate e chifres como os de sua tia, andando lentamente, percorrendo o caminho até o coreto com a lótus de inverno em mãos. Sorrindo após ser agradecido, passando por ela mesma no caminho de volta para o Reino Fantasma. 

— Meimei, - a prima a chamou de volta de seu devaneio. – Você está bem?

— Estou. – A princesinha respondeu. – É que...Meu pai esteve aqui, jiejie.

Lan Yanjing sorriu para a prima porque entendia o que ela queria dizer. Orfãs desde pequenas, ambas as princesas fantasmas sabiam muito pouco a respeito dos pais. Não havia retratos, cartas, pertences ou quaisquer tipos de suvenir porque nem Yan Zhi ou qualquer outro fantasma gostava de falar ou relembrar todas as tragédias acontecidas no Palácio Ziming.

Lembravam sim da monarquia, mas sem grandes detalhes.

O passado era doloroso demais para o Reino Fantasma e deixa-lo no passado foi a forma que aquele povo encontrou para poder seguir em frente. 

— Diànxià – uma voz suave irrompeu atrás dos jovens.  
Lan Yanjing e Ying Yi viraram-se para a voz e encontraram uma criatura humanoide cujos cabelos muito vermelhos pareciam como tochas de fogo. —

 

Sua majestade, Yanzhi pediu para que as princesas se recolhessem aos seus aposentos.  

A-Li, surpreso, deu uma boa analisada nas jovens ao seu lado, especialmente em Ying Yi.  Ela não era como sua tia Yan Zhi ou como a prima Yanjing. Seu biotipo poderia ser facilmente confundido com um celestial ou mortal, mas então A-Li concentrou-se nos olhos da jovem e os encontrou de uma coloração escarlate e imediatamente se lembrou dela como sendo a donzela com quem dançara horas antes. 

Ele então curvou-se rapidamente. 

— Perdão, altezas. – disse o rapaz. – Eu não as reconheci antes e acabei sendo descortês. 
Lan Yanjing apenas respondeu:

— Shaoyè* - curvou-se a primeira princesa fantasma para endireitar a postura do príncipe. – Não há necessidade de reverências. Somos apenas convidadas menores. 
Lan Yanjing virou-se para a prima menor, sorrindo docemente.

— Vamos meimei. Não devemos deixar a tia preocupada.  – em seguida, a jovem princesa Yanjing curvou brevemente a cabeça para o príncipe A-Li. – Shaoye, obrigada por nos fazer companhia. Nos retiraremos primeiro. 
Ying Yi fez despediu-se logo depois, mas antes de sair, por um breve milésimo de segundo, seus olhos encontraram os do rapaz e ambos não puderam compreender a sensação estranha que veio depois desse breve olhar. 

As duas princesas seguiram diretamente para os aposentos acompanhadas pela criatura de cabelos vermelhos.

*** 

A noite nos Nove Céus era marcada sempre quando o sol que iluminava o reino constantemente ficava em sua posição mais baixa emitindo uma fraca luz dourada que permanecia por pelo menos seis horas. 

Essa peculiar característica deixava as princesas fantasmas, especialmente Lan Yanjing muito curiosas.

— Os celestiais dormem com o sol vigente. – Observou a primeira princesa. – Não é engraçado, meimei?
Mas Ying Yi parecia muito alheia a conversa da prima porquê de repente notara a falta de um objeto importante para si. 

— Ying Er? – chamou a princesa Yanjing. – Está ouvindo?
Ying Yi virou-se para a prima com um olhar preocupado.

— Lan jiejie, por acaso sabe onde foi parar o meu prendedor de flor de jade? 

— O que pertenceu a sua mãe? – rebateu Lan Yanjing. – Veja se está em alguma dessas caixinhas de joias. 

— Não está. – Ying Yi respondeu. 

— Então você deve tê-lo deixado em casa. 

— Nunca me separo dele. – respondeu a primeira princesa, aflita. 
Aquele era um item especial demais para ser simplesmente perdido e Ying Yi sabia que deveria reavê-lo a todo custo. 

— Amanhã podemos perguntar aos criados do palácio se alguém o encontrou. – Lan Yanjing tentou acalmá-la. – Não se preocupe. Vamos encontra-lo. 

As duas princesas caminharam para o leito e se deitaram juntas como sempre faziam no Reino Fantasma. 

— Me lembro de ainda estar com ele quando fomos ao coreto. – Ying Yi refletiu. – Será que o perdi por lá?
Lan Yanjing sorriu.

— Podemos procurar se for o caso. – A primeira princesa tocou a mão da prima e sorriu mais uma vez.  – Não se preocupe. Vamos encontra-lo quando amanhecer. 

As duas ficaram em silencio por algum tempo enquanto observavam o céu ainda iluminado pela fresta das janelas. 
De repente, Lan Yanjing comentou baixinho:

— Aquele rapaz celestial não tirou os olhos de você, hoje mais cedo. 
Ying Yi deu um muxoxo incrédulo.

— Pare de pensar coisas, Lan jiejie. 

— Você não notou porque estava absorta com as lembranças de seus pais, mas eu vi como ele sorrateiramente deslizada o olhar para encontrar você.

— Lan Yanjing! – a primeira princesa deu um beliscão na prima. – Não diga bobagens! Se a tia escutar esse tipo de conversa, como acha que ela reagiria?

— Certo, certo. – Protestou Lan Yanjing. – A tia não nos quer envolvidas com celestiais, mas ela nunca disse que não poderíamos admirá-los de longe. 

— Lan Yanjing! – outro beliscão encontrou o braço da primeira princesa. – Você está noiva! Não deveria ficar à espreita para espiar os celestiais. 
As duas primas riram da situação. 

— Sou uma donzela noiva, mas não sou cega, meimei. – Yanjing olhou diretamente para a Ying. – Eu sei o que eu vi. 

— E o que você viu, sua pequena xereta? – Ying sussurrou. 

— Um celestial encantado por sua beleza fascinante, sua pequena pirralha. 

— Vá dormir. – Ying Yi rebateu, incomodada. – E pare de inventar coisas. Amanhã vamos procurar meu prendedor de flor. 

As duas ficaram em silencio. Lan Yanjing adormeceu pouco tempo depois, mas Ying Yi permaneceu acordada por mais alguns minutos tentando relembrar onde poderia ter perdido seu pertence tão importante, mas de repente ela se auto flagrou relembrando as falas de sua prima sobre o jovem mestre celestial do coreto. 

Mas, na mesma rapidez com que pensou, repreendeu a si mesma. 

Não pense bobagens, Ying Yi. Durma.  Ela pensou, em seguida, fechou os olhos e adormeceu. 

No outro lado do reino, no Palácio da Juventude, o príncipe A-Li encontrava-se pronto para repousar quando seus pés involuntariamente os levaram até uma pequena cômoda. Sobre a superfície do móvel, uma caixinha de cedro.

O jovem abriu a caixa e de dentro dela retirou um objeto. 

O pequeno prendedor de flor de jade reluzia em sua mão. O príncipe o havia encontrado caído no chão do pátio há poucos passos do coreto e sabia pertencer a uma das princesas fantasmas porque havia notado o adorno preso aos cabelos da jovem de olhos escarlate.

No entanto, A-Li não sabia onde encontra-la para devolver-lhe o objeto.

Pensou em entregar a algum criado e pedir que devolvessem a sua dona, mas ainda não parecia certo. 

Aquele era claramente um prendedor feito de jade branca e tinha enorme valor financeiro. Talvez, entregando a qualquer um, nunca chegasse até a princesa; então, ocorreu a ele a ideia de voltar ao coreto na manhã seguinte.

Se fosse algo de valor emocional, a princesa certamente voltaria para averiguar, e assim, haveria também uma chance para admira-la mais uma vez.

A-Li sorriu novamente ao se lembrar da face da princesa fantasma de olhos escarlate, depois guardou o prendedor novamente na caixinha de cedro; voltou para o leito e adormeceu.


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Notas finais do capítulo

GLOSÁRIO

Shaoyè* - Do mandarim, quer dizer "jovem mestre"

Dianxia - Do mandarim, quer dizer "alteza".

Obrigada por ler. Ah, que tal deixar seu comentário? É tão rapidinho ♥



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