The wire of destiny escrita por Serena Bin


Capítulo 4
Capítulo 4 - O BAILE parte II




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Era de praxe que os anfitriões bebessem o primeiro gole oficial do brinde e naquela ocasião, o lorde celestial tomou a dianteira e erguer sua pequena vasilha cheia de vinho acima de sua cabeça e ofereceu-a à seu neto e sua nora sentados equidistantes a ele no lado direito.

O senhor dos Nove Céus fez um breve discurso em homenagem aos noivos. Todos em seguida beberam mais. Bai Qian, muito alegre levantou-se e agradeceu a presença de cada um ali, da mesma forma, o príncipe herdeiro Ye Hua agradeceu aos convidados.

O príncipe A-Li, cercado da família de sua mãe que viera de Qing Qiu ainda sentia-se estranho pela conversa que tivera com sua prima momentos antes.

De soslaio, o jovem acompanhava a moça de longe. Su Yin bebia lentamente seu vinho e comia silenciosamente ao lado da mãe. Ela parara de enviar olhares para o príncipe, mas ainda era nítido que ela brigava consigo mesma para não ceder ao desejo de espia-lo a cada minuto.

A-Li baixou a cabeça triste. Ele nunca tivera intensão de magoá-la, mas o coração das mulheres era diferente dos homens. E nem todas as mulheres eram como sua mãe, desprendida daqueles que não lhe merecem.

Desculpe, Su Yin. Ele pensou, tristemente, depois bebeu mais um gole de vinho.

Do outro lado do salão, escondida sob a máscara de plumas escuras, a segunda princesa do Reino Fantasma atentava-se a cada pequeno detalhe do grandioso local. A sonora balada das flautas de bambu pouco a pouco retiravam os rapazes em busca de parceiras para uma dança.

No meio do salão, via a deusa maior Bai Qian rodopiar ao lado do marido, sorridente.

As jovens de todos os reinos menores corriam os olhos para o primeiro príncipe celestial, mas o pobre rapaz apenas bebia silenciosamente.

A-Li tinha a intenção de esperar o término da primeira dança e recolher-se. Toda a questão embaraçosa com Su Yin o deixara desconfortável para divertir-se. Quando virou o ultimo gole de vinho, levantou-se e sorrateiramente esgueirou-se para a saída, mas antes que pudesse completar o caminho, Si Ming, o lorde das estrelas o interceptou.

— Já escolheu uma dama, alteza? – perguntou o lorde.

A-Li apenas tentou forçar um sorriso.

— Não estou no ânimo para dançar. – respondeu o jovem, desanimado.

— Alteza, - o lorde então curvou-se em respeito ao príncipe. – Perdoe-me a ousadia, mas não são dadas muitas festas nos nove céus, ainda mais uma em comemoração ao matrimônio de seus pais. Não pensa que seria uma descortesia não ficar pelo menos para uma valsa? Pense em todos os convidados.

Pensar nos outros.

Parecia a A-Li que tudo em sua vida se resumia a pensar em todos a sua volta. No que pensavam ou diziam a seu respeito. O jovem príncipe sentia no fundo de sua alma a amargura por ter sempre os passos vigiados por milhares de olhos.

— Todos sabem que recusei um noivado. – disse o príncipe. – Se eu dançar com uma jovem de outro reino não parecerá uma afronta à Su Yin?

Si Ming estreitou os olhos e coçou o topo da cabeça porque de fato o que A-Li dizia fazia sentido. Eleger uma princesa fosse dos mares ou desertos, seria como admitir a culpa.

Então ocorreu a Si Ming uma ideia.

— Então escolha uma dama que não tenha ligações com os nove céus. – disse o lorde. – Dessa forma, ninguém poderá fomentar boatos.

— E quem sugere?

Si Ming então apontou o olhar para o lado oposto ao salão onde as três damas trajadas de vestes escuras estavam assentadas.

— O Reino Fantasma está em paz com a Tribo Celestial, mas não possuem outros vínculos ou interesses.

A-Li olhou para o canto oposto. Ele conhecia a Senhora Fantasma, mas não as duas belas jovens que a acompanhavam. Notou os cabelos longos das princesas, e mesmo que não pudesse ver seus rostos, imaginava se seriam verdade os boatos sobre a beleza das moças do Reino Fantasma.

— Apenas uma dança, alteza. – disse o lorde das estrelas, sorrindo.

Apenas uma dança, pensou o príncipe, depois pôs-se a cruzar o salão.

Fazer o caminho contrário ao do muro de pretendentes celestiais fez com que as princesas dos reinos menores arregalassem os estreitos olhos e praguejassem contra o príncipe mesmo que silenciosamente.

Su Yin, a prima rejeitada sorriu delicadamente quando A-Li passou por ela. Embora seu coração estivesse em frangalhos, ela sabia que precisava deixa-lo ir.

O jovem príncipe A-Li passou por seu avô, pelos deuses maiores Mo Yuan e Dijun, por dezenas de altos imortais até chegar a ala destinada ao Reino Fantasma. Yan Zhi que bebia uma gole de vindo, repousou a tigela sobre a mesinha.

— Primeiro príncipe A-Li saúda a Senhora Fantasma, Yan Zhi. – disse o rapaz em respeito.

— Alteza, - cumprimentou Yan Zhi. Lan Yanjing e Ying repetiram o gesto após se dar conta da personalidade a sua frente.

— Gostaria de pedir permissão para tirar uma de suas adoráveis sobrinhas para uma valsa. – Disse o príncipe olhando dentro dos olhos de Ying – Me concede a honra, alteza?

Yan Zhi sentiu o coração bater mais forte, ao mesmo tempo que Lan e Ying olharam para a tia refreadas pela orientação de nunca interagir com celestiais além do necessário.

Perguntas corriam pela mente da Senhora Fantasma. Por que dentre tantas jovens imortais, ele havia escolhido dançar com uma de suas sobrinhas?

— Creio que seria mais adequado que escolhesse uma dama dos nove céus, alteza. – respondeu Yan Zhi.

— De certo que sim, majestade. Ocorre que algumas damas me deixam desconfortáveis ao passo que outras eu sequer consigo respirar o mesmo oxigênio. As belas senhoritas do Reino Fantasma são formidáveis e não possuem interesses, logo dançar com uma de suas sobrinhas não significará aos olhos alheios qualquer acordo de matrimônio. Será apenas uma valsa.

A ideia pareceu a Yan Zhi um tanto quanto arriscada. Ter uma de suas sobrinhas na mira dos olhares vorazes das demais princesas celestiais não era algo bom, mas não era como se Yan Zhi pudesse discordar do príncipe.

— Lan'Er, - disse a tia apontando para a garota com a máscara de plumas azuladas. Ela ainda precisava evitar que atenção do príncipe se voltasse para Ying, mas havia um detalhe o qual Yan Zhi não contava: Lan estava noiva e por disposição não seria lícito dançar com outro rapaz, mesmo assim ela incentivou. – Dance com o príncipe.

Lan olhou para a mulher, suplicando para não ser envolvida em um embaraço.

Yan Zhi não poderia pensar em uma sobrinha em detrimento de outra.

É um baile de máscaras, Yan Zhi. Ninguém a reconhecerá. Além de que, será apenas uma valsa. Seja racional.

Yan Zhi sorriu para Lan, depois olhou para Ying.

— Apenas uma dança. – sussurrou a tia.

O jovem príncipe estendeu a mão direita para a primeira senhorita do Reino Fantasma que ainda com o coração pulsando mais que o normal, engoliu em seco quando sentiu a mão aquecida de A-Li tocar a sua, fria e conduzi-la ao centro do salão.

Quando as flautas pautaram o ritmo dos apaixonados, Ying e A-Li pareciam ainda descordenados e desconfortáveis com a presença um do outro, mas pouco a pouco, com o avançar das notas da balada de amor, ambos iam acostumando-se aos passos de dança.

Por todos os lados, as princesas imortais praguejavam contra a nobre senhorita que o príncipe escolhera para a dança.

— Que ultraje! – uma princesinha rabugenta guinchou. – O príncipe, um celestial de alto padrão dançando com uma rélis fantasma.

— Acaso não somos boas o bastante para sua alteza? – outra princesa questionou, irritada.

Entrementes a isso, A-Li apenas atentava-se ao fato de sentir um fraco cheiro de pêssego em Ying, como os que ele sabia existir apenas em Qing Qiu, mas quando encarou Ying e viu seus olhos escarlate, como uma genuína garota fantasma, foi a evidencia de que ele precisava para entender que o aroma de pêssego era apenas impressão. Talvez fosse o vinho fazendo seu efeito.

Quando a música acabou, apenas o olhar de Yan Zhi fora o suficiente para que Ying curva-se em despedida ao príncipe.

— Agradeço pela valsa, alteza. – disse a princesa.

Era a primeira vez que ele ouvia a voz de sua parceira de dança. Era um timbre doce, contido e rouco. Muito diferente dos gritos estridentes das demais princesas dos Nove Céus que ainda naquele momento cerravam os dentes pela raiva entorpecente que sentiam da donzela mascarada.

Ying seguiu para junto da tia enquanto o príncipe parado a acompanhava com o olhar.

***

Bem distante do grande salão do baile, no lugar mais bem guardado dos nove céus, no alto de um mirante cercada por uma corrente enfeitiçada, um imponente monumento de pedra se erguia do chão.

A Rocha das Três encarnações era o local onde todos os matrimônios dos nove céus eram traçados. Nela, gravados em tinta celestial, os nomes de cada casal eram talhados.

Os nomes de Bai Qian e Ye Hua brilhavam com uma brilhante luz laranjada. Cada nome ligado ao seu par por um fio muito fino feito de ouro milenar, que se esticava por até três vidas.

Quando um destino era formado, um brilho dourado se desvencilhava do montante e formava um novo fio que entalhava os nomes na rocha, ligando-os pela eternidade.

Naquela ocasião, enquanto os convidados do Lorde Celestial festejavam, uma nova inscrição surgia na rocha.

Na terceira fileira, de baixo para cima, o nome do primeiro príncipe A-Li começava a ser preso ao nome de alguém. Quando o fio do destino terminou de traçar o nome, o hanzi traduziu-se em algo intrigante.

Uma princesa, mas não Su Yin ou qualquer outra dos Nove Céus.

O nome ligado ao de A-Li era o de Ying, a segunda princesa fantasma. 


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Notas finais do capítulo

Obrigada por ler ♥



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