The wire of destiny escrita por Serena Bin


Capítulo 3
Capítulo 3 - O BAILE parte I




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O salão majestoso do Reino Celestial era um enorme pavilhão cujo teto ricamente ornamentado em ouro místico de imensurável valor era sustentado por uma dezena de colunas de mármore branco de onde dragões dourados acendiam do chão enroscando-se no corpo do adorno até chegarem próximo ao topo, de onde suas boas, viradas para a entrada do saguão parecia dizer boas vindas aos seus célebres convidados.

Nas laterais, entalhadas da mais pura madeira de cedro rosa, centenas de pequenas mesinhas sustentavam os banquetes individuais que eram servidos a cada presente. Nas taças de cristal, o nobre vinho de pêssego de Qing Qiu era oferecido sem regra. 

Nas tigelas de porcelana minuciosamente decoradas com tinta retirada dos polvos das profundas e frias águas do mar do Oeste ostentavam ainda mais o requinte do evento.

Por todos os lados era possível encontrar figurões e na parte mais alta do salão, acima de uma plataforma, o trono celestial era ocupado pelo Lorde dos Nove Céus.

O homem, já velhíssimo em idade, aparentava finalmente estar chegando ao fim de seu extraordinariamente logo período de reinado. Com os cabelos começando a exibir linhas grisalhas, o velho homem sorria para todos.

Ao lado dele, como de praxe, um deus com seus longos cabelos tão alvos quanto a neve permanecia alheio a toda a conversação. Respondia com um leve aceno de cabeça a todos quanto o vinham cumprimentar. Mas, muito embora não estivesse muito interessado na festa em si, seus olhos ainda permaneciam atentos à porta de entrada, sempre esperando para que a nobreza de Qing Qiu aparecesse.

Equidistante ao recluso Dong Hua Dijun, encontrava-se Mo Yuan acompanhado de seu discípulo mais antigo, Zilan.

O deus da guerra, em sua longevidade imensa, exibia a mesma face do príncipe herdeiro Ye Hua, no entanto, ainda mais contido que o irmão, apenas bebia seu vinho silenciosamente.

O discípulo, no entanto, prometera que nunca mais beberia álcool. Se contentava com o chá de amendoim.

Tomava gole a gole, apreciando o leve sabor da bebida como se ela fosse eterna. Em oitenta mil anos guardando o Mar da Inocência onde tudo o que podia ver eram as ondas suaves e os pequenos pássaros que faziam seus ninhos nas montanhas, havia aprendido a apreciar as coisas simples da vida.

— Alto imortal, Zilan. – a sexta princesa do Mar do Norte o cumprimentou educadamente fazendo uma breve reverência.

O homem acenou e sorriu para a jovem, em seguida voltou-se para seu chá, sem pensar muito, quando de repente, a voz do locutor de cerimônias ecoou pelo salão trazendo aos ouvidos do despreocupado discípulo um nome conhecido.

— Do Reino Fantasma, a sua Majestade, Yan Zhi.

O coração de Zilan tremulou por um instante antes que ele levantasse o rosto para finalmente encontrar, na entrada do salão, aquela que vivia guardada no lugar mais profundo de sua alma. A única mulher em quem ele pensara em todos os dias de sua vida.

A Senhora Fantasma, recebeu muito soberana as reverências dos celestiais ao seu redor, depois sorriu sobriamente e adentrou o salão acompanhada de suas duas sobrinhas. Seus olhos não haviam se fixado em ninguém em especial, tampouco havia notado que do outro lado, muito discretamente o veterano da Montanha Kunlun a admirava extasiado.

Era ainda tinha o sorriso gentil de quando haviam se conhecido há muitos milênios. Mas, sua postura perdera o aspecto inexperiente e amedrontado de outrora, então ocorreu a Zilan que Yan Zhi, assim como ele, aprendera com os longos anos em reclusão a ser mais pacientes e estáveis. Ela era agora uma digna rainha que conduzira seu povo a uma era de paz e prosperidade ascendente sem precedentes.

Era verdade que guardando o Mar da Inocência ele decidiu não pensar em seu próprio futuro, mas ainda assim se perguntava sobre o fim que teria levado sua bela donzela o qual era impedido de amar.

Não a via desde aquela tarde em que ela trouxera a sobrinha para agradece-lo quando a menina tinha pouco mais de cinco mil anos. Hoje no entanto, Ying já estava crescida e havia se tornado uma jovem muito bela.

— Sente-se, majestade. – disse a serviçal, mas a monarca recusou-se alegando que seria desrespeitoso sentar-se antes de cumprimentar os anfitriões.

Yan Zhi deu uma boa olhada no salão e perguntou:

— A deusa maior Bai Qian e o príncipe herdeiro ainda não estão presentes?

— Não, senhora. – respondeu a criada. – Eles devem chegar daqui a pouco.

— Então leve-me até o Lorde Celestial, por gentileza.

— Por aqui, majestade.

Yan Zhi caminhou lentamente atrás da serviçal. Ying Yi e Lan Yanjing a seguiram também. Quando chegaram ao pé do púlpito, o Lord das Estrelas, ao lado de Dong Hua Dijun foi o primeiro a curvar-se para a Senhora Fantasma.

— Majestade. – disse o lorde, em seguida fez uma reverencia.

Yan Zhi logo depois, virou-se para o Lorde Celestial. Desde que ascendera ao trono, a dama não o vira. Naquela ocasião da coroação, o grande rei dos Nove Céus havia ido ao Palácio Ziming pela primeira vez e levara alguns presentes como forma de reconhece-la como monarca.

A relação entre os dois reinos vinha se consolidando desde então. O acordo para que as fronteiras obscuras do Reino Fantasma permanecessem há duas milhas do caminho de Qing Qiu, sugerido pela própria Yan Zhi e firmado juntamente com Bai Fengjiu era frequentemente lembrado como um ato de que os fantasmas queriam apenas viver em paz, sem interferir nas terras de nenhum outro povo, especialmente as terras pertencentes ao poderoso Clã das Raposas.

Mas, no intrínseco de sua alma, a Senhora Fantasma escondia a verdadeira motivação de tal proposta: manter sua sobrinha Ying Yi longe dos imortais a fim de que sua excelência celestial jamais fosse descoberta.

Ela decidira não revelar a ninguém porque o fazendo, não apenas traria infortúnios para Ying, mas também para o discípulo que agora estava há poucos metros dela.

A bela dama levantou os braços em arco acima do busto e curvou-se respeitosamente.

— Yan Zhi, do Reino Fantasma saúda o Lorde Celestial.

Depois, a mulher virou-se para Dijun e fez o mesmo, em seguida, cumprimentou o deus da guerra, Mo Yuan.

As duas sobrinhas reverenciavam logo após a tia.

Quando o olhar da monarca atingiu o rapaz ao lado de Mo Yuan, Yan Zhi sentiu seu coração pulsar diferente em seu peito. Apenas a presença de Zilan a fazia sentir-se imediatamente agitada. Ela havia aprendido a lidar com seu destino, mas vê-lo novamente depois de tanto tempo, a fez entender que o que ela tentara sufocar há oitenta mil anos ainda sobrevivia em seu peito: o afeto pelo décimo sexto discipulo da Montanha Kunlun.

Hierarquicamente, Zilan foi quem se curvou para ela.

— Alto imortal, Zilan saúda a Senhora Fantasma. – Ele disse, de cabeça baixa, sentindo-se mais vívido do que há minutos atrás.

Quando Zilan encontrou os olhos cor de âmbar de sua amada foi como se ambos estivessem de volta ao dia em que se viram pela primeira vez. De repente, todo o barulho do salão já não existia. Apenas eles.

Ela então acenou brevemente e sorriu quando a voz do locutor anunciou a plenos pulmões a chegada dos mais esperados: os noivos.

Todos viraram-se para vê-los de perto.

Bai Qian, tal qual a deusa que era vestida de azul celeste parecia flutuar pelo salão ao lado de seu tão amado príncipe, Ye Hua, tradicionalmente vestido de preto.

A felicidade estampada nos rostos de ambos era natural. Depois de tantas provações haviam encontrado finalmente a felicidade.

O casal adentrou rapidamente enquanto em uníssono, e em um momento orquestrado todos os presentes se curvaram dizendo:

— Bem-vindo, príncipe herdeiro! Bem-vinda, deusa maior Bai Qian de Qing Qiu!

Ying Yi e Lan Yanjing, estavam em extasiadas frente a pessoas tão importantes dos Nove Céus, afinal, até mesmo no Reino Fantasma, a fama de Bai Qian era comentada.

— Ela é tão bonita. – Cochichou Lan Yanjing – Formam um belíssimo par.

O casal celestial passou por elas e curvou-se ao Lorde Celestial. A deusa maior acenou para Dijun e Mo Yuan, enquanto Ye Hua curvou-se para os dois deuses maiores.

Zilan, os cumprimentou respeitosamente e depois, Yan Zhi fez o mesmo. Yan Zhi, apesar de alta em status e maturidade, ainda era menor que a deusa ou o príncipe herdeiro porque ainda não havia ascendido a deusa maior.

— Não temos notícias do Reino Fantasma desde sua coroação. – Bai Qian disse olhando para a dama a sua frente. – Espero que não tenhamos ressentimentos entre nossos povos.

— De maneira alguma. – respondeu, Yan Zhi.

— Vejo que trouxe convidadas. – a deusa maior comentou alegremente olhando para Lan Yanjing que logo apresentou-se. – É muito bela, Lan Yanjing.

A jovem fantasma sorriu.

— Obrigada.

— E você... – Bai Qian começou.

— Ying Yi, segunda princesa do Reino Fantasma saúda vossa alteza, a deusa maior Bai Qian de Qing Qiu e o príncipe herdeiro, Ye Hua.

Bai Qian sabia quem era a jovem, mas ainda não havia lhe prestado a devida atenção porque já estava alegre pelo vinho que bebera horas antes, mas quando seus olhos fixaram-se no rosto da segunda sobrinha de Yan Zhi, ela assustou-se.

Era como ver a sua frente a representação de Xuan Nu e Bai Qian não conseguiu reprimir encará-la.

A forma do rosto ovalado, a pele pálida, os lábios bem desenhados e o nariz levemente arrebitado, apenas os olhos não pareciam terem sido herdados de Xuan Nu.

— Nem Xuan Nu se parecia tanto com ela mesma na sua idade. – disse a deusa, impressionada.

Ying Yi não conseguiu refutar sua curiosidade e devolveu com notável entusiasmo.

— A senhora conheceu a minha mãe?

Os olhos de Ying Yi brilhavam porque tudo o que sabia sobre sua progenitora eram as poucas coisas que Yan Zhi lhe contara em raros momentos de modo que qualquer um que tivesse tido algum contato com Li Jing ou Xuan Nu eram para Ying pessoas muito interessantes.

— Sim. – respondeu. – Você é como uma cópia dela, exceto os olhos...

Bai Qian então encarou a garota ainda mais de perto, e Yan Zhi temeu por um momento que o selo colocado em Ying Yi pudesse ter sido quebrado pelos poderes da raposa de nove caudas, mas não era o casso. Bai Qian estava apenas relembrando vagamente de alguma coisa, em seguida disse:

— Você tem os olhos...

— Os olhos do meu pai?

— Qian Qian – Ye Hua dirigiu-se a esposa. – Precisamos cumprimentar os outros convidados.

— Certo. – respondeu a deusa. A mulher então sorriu. – Você é muito bonita, Ying Yi. Sintam-se em casa e aproveitem a festa.

Os dois saíram em seguida.

***

Quando o sol já estava dando seus primeiros raios no mundo mortal, nos Nove Céus a festividade estava apenas começando, mas os convidados, estimulados pelo vinho já se encontravam muito alegres. Alguns, mais intolerantes ao álcool perdiam o decoro e eram gentilmente acompanhados até seus aposentos de hóspedes.

O primeiro príncipe, A-Li porém não se sentia no clima de embebedar-se porque o pedido que sua mãe fizera mais cedo o deixara irritado, por isso, demorou-se para a festa. Havia chego ao salão quando todos os convidados já estavam utilizando suas belas e pomposas máscaras, requisito do baile.

O jovem então vestiu o adereço escolhido para ele, ornamentado com pérolas azuis e seguiu para o fundo do salão para cumprimentar o bisavô, depois, discretamente sentou-se em sua mesinha.

Todas as moças, celestiais e imortais o estimavam muito e competiam entre si para ver quem teria a sorte de ser tirada por ele para dançar. Era como uma guerra silenciosa em que os olhares raivosos iam passando de uma para outra ao mínimo interesse do príncipe.

— Sua alteza olhou para minha senhorita. – Dizia a criada de uma princesa do sul.- Certamente a escolherá.

— Mas foi para minha senhorita que sua alteza voltou a olhar depois de já ter olhado uma vez. – Contestou a criada de ouça jovem princesa.

Mas o príncipe, pobre rapaz, sequer pensara em princesa alguma. Estava preocupado em livrar-se de toda essa atenção indesejada, especialmente da atenção de sua prima Su Yin que o atingia frequentemente com expressões de dor e sofrimento.

A-Li fazia apenas tentar não ofende-la ainda mais, no entanto, no coração de Su Yin, o príncipe A-Li era muito mais que um noivo arranjado. Ela havia se apaixonado por ele anos antes quando passaram a ter mais contato, mas desde sempre soubera que não estava no coração do rapaz, mesmo assim, ela o amava.

— Está sentindo-se bem, alteza? – a criada perguntou à princesa, vendo sua jovem senhorita segurar o choro.

— Eu preciso de um pouco de ar puro. – respondeu Su Yin.

— Está bem. Vamos ao jardim.

— Não. – a princesa objetou. – Eu quero ir sozinha.

— Alteza...

— Eu estou bem, Han'Er.

A criada não fez objeções.

— Se alguém perguntar por mim, diga que fui ao jardim admirar o bosque.

— Sim, senhorita.

A jovem princesa então levantou-se com cuidado, sorriu e saiu em direção à porta. O príncipe A-Li não pode deixar de nota-la. Ela parecia muito decomposta e instável. Toda a história de sua recusa ao casamento somado aos boatos deveriam ser algo pesado demais para a reputação de uma donzela de boa família como Su Yin.

O rapaz então lembrou-se das palavras de sua mãe, dizendo para que ele se comovesse com a situação da prima e de repente, pareceu certo que ele fosse até ela e esclarecesse os fatos. Pelo bem ou pelo mau, se ambos estivessem livres de amarras ou mau entendidos, poderiam seguir em frente sem medo do que as más línguas dos Nove Céus falariam.

A-Li seguiu a princesa Su Yin até os jardins e a encontrou em uma das muitas sacadas das torres do palácio, longe o bastante da algazarra do salão, mas não tão silencioso a ponto de que seu choro pudesse ser ouvido.

Ela respirava ofegante enquanto as lágrimas desciam por sua face rosas e caiam sobre o parapeito da sacada.

— Su Yin. – o príncipe A-Li sussurrou. – Você está bem?

— Alteza. – a princesa curvou-se para ele. – Estou sim.

Mas era mentira. O coração dela estava doendo e de alguma forma, A-Li podia sentir sua angustia.

— Desculpe. – ele disse.

Su Yin ainda de olhar baixo respondeu:

— Pelo que, alteza?

— Por ter me negado ao casamento. – ele chegou mais parto dela. – Não foi intensão magoá-la. Você guarda rancor de mim por isso?

A jovem limpou as lágrimas do rosto, olhou para o príncipe e respondeu:

— Não ouso, alteza. Você foi honesto. Não me deu falsas esperanças com um casamento que estaria fadado ao fracasso.

— Yin Er. – O príncipe disse baixinho, limpando uma lágrima do rosto da jovem. – Não dê ouvidos aos boatos. Eles são cruéis e você é uma donzela tão gentil...Realmente é uma pena que eu não possa retribuir o seu afeto. No entanto, eu desejo de todo coração que encontre alguém que a ame tanto quanto você merece.

— Alteza, não tem que se desculpar. – Ela respondeu retirando as mãos do príncipe de seu rosto. – Não há nenhum ressentimento. Meu coração está doendo, sim, mas nenhuma dor é para sempre.

A jovem princesa afastou-se do príncipe, recolou sua máscara, curvou-se em reverencia e disse por fim:

— É um baile, então não deixe de escolher uma bela moça para dançar.

Depois disso, A-Li acompanhou a prima entrar para a festa novamente, sentar-se em seu lugar e tentar sorrir, como ela sempre fazia quando estava sofrendo. 


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Notas finais do capítulo

Obrigada por ler.

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