18 de junho de 1994

09h38

Casa dos Forman

Led atravessou a cozinha seguindo o mais rápido que conseguia até a garagem. Ela estava com raiva. Embora o início da manhã houvesse sido agradável, a chegada do inesperado de Martin fez toda a sua alegria se dissipar. O idiota havia conseguido o endereço dos Forman da mesma maneira que sempre conseguia encontrar Jackie, era quase assustador como ele sempre aparecia nos mesmos lugares que elas estavam. Led puxou a bola da mão de Betsy e a arremessou na cesta, errando por alguns centímetros.

—Onde estão os meninos?

—Tentando matar formigas com uma lupa. Por que você está tão irritada? - Betsy indagou se sentando no capô do carro de Red.

—O noivo da mamãe está aqui. - ela murmurou pegando a bola e arremessando novamente contra a cesta. - Não suporto estar na mesma sala que ele. Uma criatura idiota e ignorante.

—Nossa! Você o odeia mesmo.

Led se virou para ela. Sua aversão a Martin não era algo “fútil” de uma garotinha mimada, estava longe de ser apenas isso. Encarou Betsy por alguns segundos, observou seu vestido de verão florido e sua anabela de tiras, sabia que por baixo daquela cara de boa garota, Betsy podia ser o demônio. Ela era uma líder de torcida. E segundo sua mãe líderes de torcida eram apenas crias de Lúcifer na terra. Um pensamento cruzou sua mente a fazendo sorrir.

—Betsy, eu tenho um plano, mas preciso de sua ajuda. - disse se aproximando dela. Betsy enrolou uma mecha de seu cabelo no dedo e olhou intrigada.

—Que tipo de ajuda?

—Quero acabar com o casamento da mamãe. Mas não conseguirei fazer isso sozinha.

—E o que eu ganho com isso?

—Minha eterna amizade? - sugeriu jogando a cabeça para o lado e sorrindo.

—Desculpa, querida, mas só trabalho com números.

—Te dou 50 dólares.

Betsy estendeu a mão sorrindo.

—Já pode contar comigo, parceira.

Led riu, mas segurou a mão de Betsy e apertou com força.

—Então me escuta com atenção, o plano é o seguinte.

10h27

Betsy mirou e acertou um soco no ombro de Led que pulou no mesmo lugar.

—Vaca! - ela exclamou e Betsy não pode deixar de rir. Kelson olhou confusa para as duas meninas.

—Você falou. - Betsy disse.

—Essa vai ter volta. - Led prometeu massageando o braço.

—Não preoc… - Betsy não terminou a frase pois Led a acertou no ombro.

—Hey! O que está acontecendo? - Kelson indagou. As duas garotas se olharam, mas foi Betsy que respondeu com seu olhar angelical.

—É uma brincadeira, papai. Toda vez que alguma de nós diz alguma palavra que começa com P, a outra pode socá-la. É divertido.

Kelson sorriu. Aquela podia ser uma boa brincadeira para se fazer com Fez. Ele se levantou subitamente da cadeira e correu para a cozinha.

Led se voltou para Betsy e ergueu a mão para a garota bater contra ela.

—Fase um, concluída com sucesso. - sussurrou.

—Você tinha razão. Papai é o melhor para fazer isso.

Led sorriu e se levantou do sofá. Ela e Betsy seguiram para a cozinha. Sua promessa era não acabar com o relacionamento de sua mãe, então era óbvio que não faria isso. Deixaria as coisas seguirem por si só, já que tudo estava destinado ao desastre. Led sabia que o melhor para sua mãe era Steven, o amor deles era óbvio.

12h06

O barulho de algo batendo contra a mesa fez Led sorrir. Os gritos altos e a agitação vindas da sala de jantar sinalizavam que algo estava errado.

—Não foi minha culpa! - Kelson gritou alto enquanto provavelmente estava sendo acusado.

—Você bateu nele, Michael! - Jackie gritou. Led riu olhando para Betsy, as duas se levantaram da mesa e correram para a sala de jantar.

Led parou ao notar que Martin estava caído no chão com as mãos sobre o nariz e o sangue escorrendo entre os dedos.

—É apenas uma brincadeira. - Kelson disse tentando se defender.

—Uma brincadeira? Seu panaca, olha o que você fez! - Red bradou irritado.

—Temos que levá-lo ao hospital. - Kitty afirmou. Eric e Kelson ajudaram Martin a se levantar.

Led mordeu o interior das bochechas tentando não rir. Kelson era realmente a melhor pessoa indicada para aquele plano. Ele era tão influenciável que chegava a ser bobo, Led se sentia um pouquinho culpada por colocá-lo naquela situação, mas sabia que Kelson não ficaria de castigo caso soca-se alguém com força.

Led observou sua mãe se apressar para seguir Martin que saia arrastado pelos outros. Ela sorriu minimamente e virou de costas, ergueu a mão e deixou que Betsy batesse contra ela enquanto seguia de volta para a cozinha.

—Parte dois concluída com sucesso. - sussurrou segurando a mão dela e a puxando consigo.

—Deus! Mamãe vai matar papai quando souber que ele socou alguém inocente, de novo.

Led não pode deixar de rir. Brooke havia levado Dave para jantar com os pais dela, mas como Betsy estava no seu plano, ela havia se retirado do convite.

—Tenho pena do tio Kelson por às vezes ser tão bobo. - afirmou se sentando na mesa.

—Mas se ele não fosse tão tonto, não seria fácil manipulá-lo. - Betsy abriu um sorriso diabólico e então riu.

—Oh! Então quer dizer que a culpa disso tudo é de vocês.

Led congelou seu sorriso e então lentamente se virou encarando Kitty. Embora ela fosse baixinha e meio rechonchuda, seu olhar feroz fazia Led tremer.

—Oi vovó Kitty. - ela e Betsy falaram ao mesmo tempo com suas vozes doces tentando fazer a sra. Forman se aclamar. Ela amava quando as crianças a chamavam de vovó Kitty.

—O que vocês tinham na cabeça ao dar essa estúpida ideia a Michael? E como diabos conseguiram convencê-lo a atacar o pobre coitado? - Kitty indagou colocando as mãos na cintura.

—Não foi tão difícil, você conhece o papai, sabe como ele pode ser influenciável. - Betsy disse enquanto Kitty caminhava até elas e se sentava na mesa. - E só para deixar claro, o plano todo foi feito por Led.

—Por quê?

—Porque eu não quero que minha mãe se case com idiota como o Martin. Ela merece ser feliz e o único jeito de ser realmente feliz é com papai. - argumentou recebendo um olhar de reprovação de Kitty. - Eu nunca tive um pai, eu nunca tive alguém para me levar aos jogos ou assistir filmes de terror comigo. Mamãe fez muito seu papel, mas agora quero um pai que esteja ao meu lado. E você sabe muito bem que Steven é um bom pai, eu ainda tenho muito o que aprender com ele, eu o amo e não quero ficar longe dele. Mas se mamãe ficar com Martin, teremos que ir embora daqui. Eu não quero ir.

Kitty suspirou e agarrou a mão dela tentando transmitir carinho e compaixão.

—Eu entendo o que está querendo dizer. Mas você não pode tentar controlar a vida de seus pais, isso seria egoísmo.

—Vovó, mamãe e papai se amam. Nunca deixaram de se amar. E eles apenas não se dão outra chance porque acham que não conseguiriam ficar juntos sem ferrar com tudo. Mas nós sabemos que eles estão errados.

—Jackie e Steven são cabeças duras, não vão ceder tão facilmente apenas porque você quer.

—Eu sei. E é por isso que eu tenho um plano. Mas primeiro tenho que fazer mamãe se livrar de Martin.

—Um simples soco no nariz não vai fazer eles terminarem. - Kitty disse e Led assentiu.

—Eu sei. O soco nem vai estar entre um dos motivos para eles terminarem, o fato é que Martin vai dizer que os amigos da mamãe são idiotas e ninguém chama os amigos dela de idiotas, só ela. - Led falou fazendo Kitty e Betsy de entreolharem confusas. - Lembro muito bem das vezes em que mamãe contava histórias sobre eles e nana Letta dizia que eles eram estúpidos. Mamãe ficava irritada. Ela não gosta que falem mal deles. E é exatamente isso que Martin vai fazer. Tenho certeza absoluta que mamãe logo, logo estará aqui irritada com ele.

—Espero mesmo que você saiba o que está fazendo, Led.

—Eu tenho um plano, vovó. E este plano é totalmente sem falhas. Mas eu preciso que você não conte a ninguém sobre isso, está bem?

Kitty suspirou novamente. Led cruzou os dedos torcendo para que ela não lhe dedurasse para seus pais. Já tinha problemas demais para ter que lidar com um outro castigo.

—Ok. Eu não vou contar. - Kitty falou fazendo as duas garotas sorrirem, ela então se levantou e bateu as palmas no vestido. - Eu não ouvi nada e nem vi nada.

—Obrigada, vovó. - Led sussurrou assim que Red entrou na cozinha.

—Quando penso que aquele panaca não consegue ser mais idiota, ainda me surpreendo!

—O que houve? - Kitty indagou.

—Ele tacou a cabeça daquele namorado de Jackie no carro. Tenho pena do pobre coitado. Namora a tagarela e ainda é massacrado pelo grandalhão.

Led apertou os lábios impedindo o riso de escapar pela sua boca. Red estava certo, Martin era um pobre coitado que não fazia a menor ideia com quem estava lidando.