Os Treze Guardiões escrita por Miss Lidenbrock


Capítulo 26
Nunca mais


Notas iniciais do capítulo

Chegamos aos 50 comentários! Tô muito feliz, e espero que gostem desse aqui! Mais um personagem sendo apresentado...



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Eduardo estava voando havia horas.

Sobrevoava o bosque com familiaridade, como se de alguma forma seu sistema soubesse como se orientar ali.

Seus olhos de águia eram impressionantes. Eles podiam enxergar cada detalhe da floresta lá embaixo, cada folha, ca minúsculo animal.

No entanto, nem sinal de Eric e Lorena.

De repente, ao sobrevoar uma clareira, algo chamou atenção em sua visão periférica. Uma espécie de sombra, algo decididamente sombrio.

Havia duas escolhas: Ignorar e continuar voando, ou descer e investigar.

O antigo Eduardo provavelmente escolheria a primeira opção, mas ele estava tentando ser mais ousado. Além disso, o que quer que fosse, poderia ser uma pista do desaparecimento dos amigos.

Ele tomou impulso e pousou.

A pequena clareira parecia deserta de qualquer ser vivo. Um vento discreto soprava os cabelos de Eduardo – já em sua forma humana – e um silêncio suspeito pairava no ambiente.

De repente, o farfalhar de asas se fez ouvir. Eduardo virou-se imediatamente em direção ao som, que parecia estar embrenhado nas árvores atrás de si.

Um pássaro negro estava empoleirado na árvore mais alta. Eduardo, filho de um ornitólogo, logo o reconheceu: Um corvo.

Mas não havia corvos naquela região. Alarmado, Eduardo deu um passo pra trás. Era bem possível que o corvo se transformasse num monstro de duas cabeças ou coisa pior.

O pássaro crocitou. Nunca mais, parecia dizer. Como o corvo de Edgar Allan Poe.

— O que é você? – Eduardo teve coragem de perguntar – O que quer?

O corvo crocitou mais uma vez, parecia rir. De repente, ele voou para longe da árvore, pousando bem na frente de Eduardo. Sua forma tremulou, e, para espanto do garoto, um rapaz não muito mais velho que ele apareceu em seu lugar.

— O que eu quero – disse o rapaz, com a voz baixa e sussurrada – É saber o que um dos pequenos guardiões faz aqui, sozinho e indefeso, no meio da floresta.

Eduardo ficou boquiaberto. Olhou para o menino, examinando-o. Era pálido, de cabelo muito escuro e oleoso, como petróleo derramado sobre neve. Olheiras profundas se estendiam sob seus olhos, e ele se vestia todo de preto, como se estivesse em um funeral.

Um bruxo, sem dúvida. E podia se transformar em animal. Como...

— Você é um guardião? – Eduardo perguntou, incrédulo – Como é possível?

Não era possível. Os guardiões eram treze. Eduardo tinha certeza disso.

O garoto suspirou. Parecia entediado com a pergunta.

— Já fui – respondeu – Quando era jovem e tolo, como você. Tinha em mim os ridículos ideais de salvar o mundo, proteger a humanidade, etc. e tal. Que ingênuo fui – ele sorriu, exibindo dentes prateados como a lua – Felizmente, acordei a tempo. Enquanto os outros idiotas abriram mão de seus dons, eu fugi. Fui esperto. Me bandeei para o lado certo. E, se eu fosse você, faria o mesmo, antes que ele chegue.

Eduardo não entendera metade do que o garoto dizia. De uma coisa tinha certeza, no entanto – ele era perigoso. Teve o impulso de sair voando para bem longe dali.

— A águia – o garoto-corvo lhe examinou, com desprezo – Você não parece grande coisa. A primeira águia, Elisa, era majestosa. Aquela sim sabia aproveitar os poderes que lhe foram dados. Mas você – ele encarou Eduardo com escárnio – Você parece uma criancinha tentando controlar o brinquedo novo.

O sangue subiu à cabeça de Eduardo. Detestava que o subestimassem. Já fora subestimado demais por toda a sua vida.

— Ah, é? – falou – Me teste, então. Vamos ver o que essa criancinha faz com você.

Um sorriso sinistro brotou nos lábios do menino-corvo.

— Eu estava esperando que me dissesse isso – falou – Então, você é mais divertido do que pensei.

E, num gesto teatral, abriu os braços. Uma fumaça negra se desprendeu deles, fazendo os olhos de Eduardo lacrimejarem.

Lentamente, os focos de fumaça foram tomando forma. Pássaros negros e esfumados começaram a surgir. Eram inteiramente negros, exceto pelos olhos, de um vermelho incandescente e mortal. Todos encararam Eduardo, que estremeceu de pavor.

O outro percebeu seu medo e soltou um riso de escárnio.

— Vamos ver como você se sai contra o meu exército – disse ele, acariciando um dos pássaros com gentileza – Meninos, peguem ele.

Num segundo, Eduardo se transformou e mergulhou em direção ao céu. Pôde ouvir a alvorada de pássaros das sombras atrás dele, e voou o mais rápido que podia, desviando das nuvens que lhe atrapalhariam a visão.

Os pássaros eram rápidos. Rápidos demais. Estavam no encalço de Eduardo e se aproximavam rapidamente. Quando dois deles o cercaram, ele fez um giro com as asas e mergulhou dentro de uma nuvem, em busca de despistá-los.

Se ao menos eu soubesse fazer mágica, ele pensou, desesperado. Mas Santiago não havia ensinado nenhum deles. Tudo que ele dissera foi que eles deveriam encontrar a magia dentro de si, em seu cerne e seu coração.

Basta procurar dentro— falara ele – E, nos momentos de perigo, ela chegará para auxiliá-los.

Certo. Ele estava num momento de perigo. E agora?

Um dos pássaros chegou perto de mais e ficou perigosamente perto de cravar as garras em seu olho. Eduardo escapou por um triz, mas mais pássaros chegavam a sua volta, cercando-o. Eles estavam se multiplicando?!

Eduardo fechou os olhos, embora aquilo fosse perigoso pra quem estava em pleno vôo. Tinha que achar a mágica dentro de si. O que uma águia poderia fazer?

Ele lembrou-se das horas estudando aves com seu pai. Em algum momento, eles estudaram águias. O que seu pai dissera?

As águias são majestosas, filho— falou, apontando para a gravura de uma em seu livro – São exímias caçadoras, prontas para qualquer perigo. E seu grito pode ser ouvido de longe, ecoando nas montanhas.

O grito da águia, Eduardo percebeu. Era isso! Tinha que achar aquele grito dentro de si.

Inspirou fundo, e procurou dentro de seu ser. Havia uma força poderosa pulsando dentro dele, no centro de seu peito. Ele só precisava...

Soltar.

Um grito tão alto saiu de seu bico que ele pensou que reverberara por toda a floresta. Ondas de som de coloração azul eram visíveis à frente dele. Um por um, os pássaros que estavam ao seu redor se dissolveram, transformando-se novamente em fumaça negra até não restar mais nada.

Mas ainda haviam muitos pássaros. E encaravam Eduardo, furioso.

Eduardo mergulhou para cima, tentando despistar os pássaros restantes. Não sabia quando ou como conseguiria dar o grito de novo, e não havia tempo de descobrir. Os pássaros estavam cercando-o, cada vez mais rápido. Um deles cravou o bico em sua perna, causando uma dor intensa.

Se ao menos ele fosse grande o suficiente para dispersar o círculo de pássaros...

Era isso, pensou. Tinha que assumir a forma humana outra vez. Tinha que cair.

Se ele pudesse reunir a coragem...

Engolindo em seco, ele percebeu que não havia escolha. Os pássaros o cercavam cada vez mais.

Sentindo o calor se espalhar rapidamente por seu corpo, ele observou suas asas se transformarem em mãos.

Seu peso e seu tamanho fez com que os pássaros ao redor dele se afastassem, crocitando de fúria. Eduardo mal teve tempo de comemorar sua vitória, pois começou a cair.

E o mais assustador da queda é que ele não sentia nada. Nem um pingo de medo. Estava anestesiado.

Viu as árvores cada vez mais próximas, e soube o que tinha que fazer.

Vamos, Eduardo, pensou, Não seja um frouxo ao menos uma vez na vida.

No último segundo, se transformou novamente em águia, as asas batendo desesperadamente enquanto trombava com as árvores ao seu redor. Pousou desajeitado, rolando pelo chão enquanto se transformava novamente em humano.

Olhou para cima. A copa das árvores altas era um bom disfarce. Ao menos ganharia algum tempo antes que os pássaros do inferno e o garoto-corvo o encontrassem novamente.

Observou seu estado. Estava imundo, sua perna sangrava e ele parecia ter sido pego por um furacão. Nada mal para uma missão de resgate, pensou, amargurado.

Ele estava apenas se levantando quando ouviu passos. Se empertigou, esperando o inimigo.

Mas o que ouviu foi muito diferente.

— Eduardo? – chamou uma voz conhecida.

Ele se virou. Lorena estava à sua frente, montada num... Lobo? E quem diabos era aquele homem do lado deles?

— O que você estava fazendo aqui? – Lorena perguntou, os olhos arregalados.

Procurando vocês, pensou. Mas era ele quem tinha sido encontrado.

— Eu... Você... – ele gaguejou, confuso – Não vai acreditar no que acabou de acontecer.

Perturbado, ele narrou os acontecimentos da última hora. Lorena ficava cada vez mais pálida à medida que ele falava sobre o garoto transmorfo – como eles – e seu exército de pássaros do mal.

Lorena virou-se para o homem ao seu lado, indignada.

— Quer dizer que um dos guardiões perdidos é um corvo? — exclamou ela – E ele pode controlar um bando de pássaros feitos de sombra? Obrigada por mencionar isso!

— Alec. O nome dele é Alec. – murmurou o homem – E eu não sabia sobre os pássaros. Claramente, suas habilidades melhoraram com o passar dos séculos.

Eduardo abriu a boca, mas nada saiu.

— Que diabos está acontecendo aqui? – falou finalmente.

O homem ao lado de Lorena lhe lançou um sorriso benevolente. Ele lembrava alguém, Eduardo pensou. Mas não podia ser...

— Temos muito o que lhe explicar – falou ele – Bem vindo à resistência.


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Notas finais do capítulo

E aí, o que acharam?



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