Os Treze Guardiões escrita por Miss Lidenbrock


Capítulo 23
Capturados




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Samir não podia acreditar que estava na escola.

Depois de levar uma bronca federal de sua família – “Como você ousa sumir assim?” – ele havia sido imediatamente despachado para o colégio, dando uma explicação furada de que o grupo de estudos tinha se transformado numa pizza-e-filme que durara tempo demais.

Renata estava sentada ao meu lado, com a expressão do mais puro tédio no rosto. O professor de física, alheio à indiferença da maioria dos alunos, continuava a monologar monotonamente:

— Como vocês podem ver, pessoal – ele dizia, a voz desanimada – Massa vezes a aceleração é igual à força resultante...

Renata olhou para ele e simulou um longo bocejo, o que fez Samir rir. Mas seu riso logo morreu ao relancear os lugares onde Gisele e Lorena deveriam estar.

Não sabia qual das duas a deixava mais triste e preocupado. Lorena, desaparecida em algum lugar do bosque. Gisele, que não respondia suas mensagens e agora provavelmente o odiava. Como tudo aquilo tinha dado errado tão rápido?

Ele estava tão mergulhado em pensamentos que mal percebeu quando a secretária da diretora entrou na sala e deu uma palavrinha com o professor.

O professor fez uma expressão grave e se voltou para a turma, a voz monocórdia substituída por um tom de seriedade:

— Renata Pompeu, Samir Larrat – falou ele – Vocês dois estão sendo chamados na sala da diretora.

A classe fez um coro de “uuuh” e Samir e Renata se entreolharam. Que soubessem, não haviam feito nada de errado. Ou haviam?

Renata deu de ombros e se levantou, Samir logo atrás dela. A secretária manteve a porta aberta para eles, e era impressão de Samir, ou ela ostentava uma expressão temerosa ao encará-los?

— Por aqui, vocês dois – ela conduziu, como se Renata e Samir não soubessem o caminho da sala da diretora.

Renata encontrou o olhar de Samir. Sua boca desenhou as palavras “o que está acontecendo?” , ao que Samir deu de ombros, mostrando que não fazia ideia.

Ao chegarem à porta da sala, cuja placa de metal muito sobriamente dizia Diretora Eneida Arantes – Bata ao entrar. A secretária, com as mãos trêmulas, abriu-a e indicou com o braço para que eles entrassem.

— Não saiam até que a diretora permita – falou ela, o que parecia algo bem óbvio de se dizer. Os dois se entreolharam novamente, confusos.

Ao que a secretária bateu a porta, os dois se viram sozinhos na sala com a diretora, que os encarava com a expressão grave atrás de sua mesa. Samir engoliu em seco. O que quer que fosse, não podia ser nada bom.

— Sentem-se – pediu a diretora, indicando duas cadeiras à frente dela.

Ambos obedeceram. Renata estava com o rosto ilegível, mas Samir se sentia prestes a surtar. A diretora apenas os encarava em silêncio, parecendo estar sem a menor pressa de falar.

— Então – disse ele, para quebrar o torturante silêncio – Se eu posso perguntar, diretora... O que está acontecendo?

— Se isso é por causa da prova de filosofia, posso jurar que eu não colei – falou Renata, de repente – Na verdade, filosofia é uma das poucas matérias em que eu não preciso colar. E Samir é nerd demais pra fazer isso, ele não...

— Basta, Renata – a diretora solicitou, parecendo um tanto impaciente. – Não é sobre colas que eu vim falar.

Os dois se entreolharam novamente, aturdidos.

— Então... O que é?- Renata perguntou.

A diretora mordeu o lábio, parecendo, pela primeira vez desde que Samir a vira, insegura. Então, ela mexeu em algumas teclas de seu computador, e sem falar nada, virou-o para eles.

No computador havia uma gravação. Samir ficou pálido de susto quando a reconheceu.

Era o dia em que haviam se transformado no estacionamento.

Observou, tremendo, as figuras dele, Renata, Gisele e Lorena se movimentarem. A figura de Renata foi para o centro da garagem, e sua forma tremeluziu, se transformando em uma raposa.

Samir olhou de canto para Renata. Sua expressão era quase calma, talvez levemente curiosa, mas suas mãos a traíam: Seguravam o tampo da mesa com tanta força que podia quebrar.

A diretora apertou uma tecla, e o vídeo avançou. Agora, era Samir que estava no meio do estacionamento. O garoto suou frio ao assistir a si mesmo se transformando em falcão.

Os dois encararam a diretora, mudos de espanto.

— Será que um dia vocês dois poderia me explicar o que é isto? – A diretora perguntou calmamente, unindo as mãos.

Renata balançou a cabeça, a expressão sinceramente confusa.

— Diretora, não estou entendendo – disse – Isso é algum tipo de brincadeira? Algo que um dos nossos colegas fez?

Samir a encarou, espantado. É incrível como ela conseguia manter a cabeça fria diante de uma calamidade como essa.

— Foi o que pensei da primeira vez que vi – concordou a diretora, assentindo – Mas o vídeo foi chegado várias vezes. É real. Tudo que está aí, por mais absurdo que seja, é verdade. Vocês dois sabem bem disso.

Renata agora parecia mais nervosa. Forçou uma risada.

— Com todo o respeito, diretora, mas isso é ridículo – falou – É impossível que eu... Eu não poderia me transformar... Nesse... Bicho.

A diretora não pareceu comprar o teatro. Em vez disso, olhou direto pra Samir, como se soubesse que ele era o alvo mais fraco. Ele engoliu em seco.

— Quero que vocês me respondam algumas perguntas. – disse ela – E quero que sejam sinceros. Há quanto tempo os dois podem fazer isso? Como aconteceu? E suas amigas... Gisele e Lorena, que aparecem no vídeo, quão envolvidas elas estão nisso?

— Elas não tem nada a ver com isso – Samir falou automaticamente, sentindo-se desesperado. Se não podia se proteger, ao menos podia proteger as amigas. – Por favor, deixe elas fora disso.

A diretora não pareceu se impressionar. Em vez disso, suspirou, como se estivesse muito cansada.

— Eu não sabia o que fazer diante dessa situação – disse – Primeiro, pensei em contatar os pais...

Renata e Samir ficaram tensos. Se seus pais soubessem de sua condição, estariam expostos ao perigo.

— ... Mas achei melhor não – continuou ela, fazendo os dois relaxarem por um instante. Mas então ela acrescentou: - Concluí que os dois precisavam de ajuda. E consegui ajuda pra vocês.

Os dois se entreolharam, confusos. De repente, foram interrompidos por uma batida na porta.

— Ah. Aí está – a diretora levantou-se, e por um momento Renata e Samir se encontraram sozinhos. Renata estendeu a mão para o amigo, que a apertou com força.

Eles podiam ouvir a diretora sussurrando com alguém à porta, mas mesmo seus ouvidos sensíveis não conseguiam identificar as palavras. Então, a diretora entrou. E não estava sozinha.

Estava acompanhada de um homem alto, com um início de calvície e um cavanhaque longo que parecia compensar. Ele usava um jaleco branco e olhava para Renata e Samir com ávido interesse.

Mas o mais preocupante eram os homens atrás dele. Eram imensos. Ambos também vestiam jalecos, e eram tão idênticos em sua forma de brutamonte que é inútil descrevê-los. Renata apertou a mão de Samir com mais força.

— Samir, Renata, esse é o doutor Augusto Meira – apresentou a diretora – Ele é um geneticista muito renomado no país; e se interessou muitíssimo pelo caso de vocês.

— É um prazer conhecê-los – cumprimentou o professor com voz de barítono. – Creio que nós três podemos nos ajudar mutuamente.

— Como? – Renata perguntou, com um tremor na voz. – O que você quer de nós?

— Bem, estou trabalhando em uma pesquisa – respondeu ele – Sobre como os genes humanos podem se transmutar para dar ao indivíduo habilidades extraordinárias, sobre-humanas. E vocês são o caso mais aterrador que eu já vi. Adoraria fazer alguns testes para que possamos compreender o que acontece dentro de vocês. Assim, vocês serão beneficiados, e eu também.

Samir não via onde ele seria beneficiado.

— Você não pode fazer testes na gente! – protestou ele, sentindo-se desesperado – Você não tem autorização de nossos pais! Isso é crime! Eles vão sentir nossa falta se formos levados; vão nos procurar. E quem diabos são esses homens?!

— Samir – a diretora repreendeu, como se ambos estivessem em sala de aula e Samir estivesse se comportando mal. – Linguagem.

O doutor suspirou, com cara de quem estava achando aquilo mais difícil do que o esperado.

— Estes homens são apenas meus assistentes – disse ele – E quanto aos seus pais, acho que todos concordamos em deixá-los fora disso. Já cuidamos deles; por tudo o que eles sabem, vocês passarão os próximos dias em uma olimpíada de matemática do outro lado do país.

Renata ficou boquiaberta.

— Isso é ridículo! Meu pai nunca acreditaria nisso! Eu sou péssima em matemática – falou – E não precisamos de teste nenhum. O que aconteceu com a gente não tem nada a ver com genética, tem a ver com... – mágica, Samir deduziu que ela ia dizer, mas se calou a tempo.

A diretora esfregou a testa, como se estivesse com dor de cabeça.

— Meninos, estamos fazendo isso para o bem de vocês – falou – O doutor só está aqui pra ajudar.

— Não precisamos da ajuda dele! – Renata protestou, mas foi ignorada.

— Bem – o doutor esfregou as mãos – Vamos conduzi-los ao meu laboratório. Lá poderemos ter uma conversa com mais facilidade.

— Não! – Renata gritou – Diretora, faça alguma coisa! A senhora não pode permitir isso!

Mas a diretora olhava pro chão, como se não tivesse coragem de tentar nenhum dos dois.

Samir olhou para o doutor, de repente sentindo-se destemido.

— Não vamos ser levados – falou – Não sem lutar.

Um dos homens brutamontes se adiantou, exibindo uma seringa na mão.

— Se tentarem alguma gracinha – falou, com a voz grave – Os dois serão apagados.

Claro. Eles não eram assistentes coisa nenhuma. Eram seguranças.

Renata e Samir se entreolharam, e ambos levantaram da cadeira, ainda de mãos dadas, e correram em direção a porta. Antes que conseguissem chegar lá, entretanto, um dos homens já se colocara diante deles.

Ouviram o doutor suspirar atrás deles.

— Eu estava esperando que pudéssemos fazer isso de forma pacífica – disse – Mas pelo visto, não. Sérgio, Anderson, segurem eles.

— Não! – Renata protestou, ao ser agarrada por um dos trogloditas – Samir...

Ele tentou agarrar a mão dela, mas ela já havia sido levada. Haviam sido separados.


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Notas finais do capítulo

Agora o bicho pegou! O que acharam?



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