Os Treze Guardiões escrita por Miss Lidenbrock


Capítulo 10
Astúcia e Liberdade


Notas iniciais do capítulo

Vamos dar um pouco de destaque pro Samir e a Renata... Se preparem!



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Ela está dormindo.

Está vulnerável. Podemos pegá-la agora.

Não... Espere... Vamos alcançá-la na hora certa.

Lorenaaa...

Acordei com um susto.

Inspirei fundo, procurando acalmar meu coração acelerado.

Eu mal podia acreditar que já era segunda feira. Eu passara o domingo inteiro numa bruma de terror, tendo pesadelos horríveis com as criaturas enrugadas e monstruosas que eu vira no sábado. Minhas costas ainda doíam com o arranhão que eu levara de uma delas.

Eu mal podia acreditar que teria que ir pra escola depois de tudo isso.

Meu celular vibrava sem parar em cima da cômoda, que era o que tinha me acordado meia hora antes do necessário. Resmungando, peguei e chequei as mensagens.

Esse grupo é o bicho!

Bernardo, Daniel, Eduardo, Eric, Gisele...

Paulo adicionou você

Leonardo: Wtf

Renata: Que

Ricardo: Pra que isso

Paulo: Fala rapaziada! Eu pensei que, agora que nós somos uma irmandade de fadas mágicas, devíamos ter um grupo só nosso!

Gisele: Qual o objetivo disso?

Daniel: Se um de nós esbarrar com um monstro por aí, podemos dar adeus antes de morrer!

Pâmela: Isso é ridículo.

Pâmela saiu

Paulo adicionou Pâmela

Paulo: Vocês podem até sair, mas eu vou adicionar de volta. Eternamente. Então nem percam seu tempo!

Leonardo: Que merda

Renata: Você é um idiota.

Paulo: Um idiota que você ama!

Me joguei de volta na cama, suspirando. Ia ser um longo dia...

*                                            *                                       *

— Não acredito que vocês não se beijaram – exclamou Renata, balançando a cabeça, após eu terminar de contar os acontecimentos de sábado.

— É, bem, os monstrengos enrugados atrapalharam um pouco – resmunguei – Depois de tudo o que eu falei é com isso que você tá preocupada?

— Tá, tá, os monstros. Uuh, que medo. Mas nem um beijinho? Sério?

— Não – suspirei – Sempre aparecia alguma coisa pra atrapalhar.

— Não se preocupa – tranqüilizou Gisele – A festa da Paola é nesse fim de semana. Com certeza vai rolar lá.

— Oi, pessoal? Monstros sugadores de alma à solta – falou Samir – Isso não devia ser nossa prioridade?

— Não acredito que isso está acontecendo – gemeu Sofia com as mãos na testa. Gentilmente, pus a mão no ombro dela. Eu sabia que ela ainda se culpava por tudo o que estava acontecendo, e eu me sentia péssima em não conseguir consolá-la melhor.

— O que eram aquelas coisas, afinal? – perguntou Gisele – Os bruxos malignos que o Santiago falou?

— Não sei – admiti – Não pareciam nem gente.

— Talvez o Santiago saiba – sugeriu Samir – O próximo encontro na casa dele é amanhã. Podemos perguntar.

Mordi o lábio. Eu não estava muito ansiosa para voltar à casa de Santiago, mesmo sabendo que ele era o único que podia nos ajudar. Estava mais ansiosa pra começar a minha busca pelas páginas do contra feitiço.

— Precisamos saber logo – falou Gisele – Você pode ter sido envenenada ou coisa assim.

Toquei o lugar nas minhas costas onde a criatura tinha arranhado. Eu me sentia bem, mas não duvidava que pudesse cair dura a qualquer momento.

O sinal tocou, interrompendo meus pensamentos mórbidos.

— Argh. Aula de física – resmungou Gisele – Eu vou bombar nessa matéria.

— Até parece – provoquei – Suas notas são perfeitas.

— E se eu dissesse pra vocês que não vamos pra aula? – sorriu Renata.

— O quê? – Gisele exclamou – Claro que vamos. Por que não iríamos?

Renata e Samir trocaram olhares e sorriram um pro outro.

— Porque vamos descobrir qual animal nós somos.

Depois disso, ninguém mais discutiu.

*                                             *                                    *

— Tem certeza de que esse lugar é seguro? – Samir olhou em volta, desconfiado.

— Quando me transformei, vim parar aqui – falei – Nunca vem ninguém antes da hora do almoço. Além disso, se alguém se aproximar, a Gisele e eu vamos ouvir.

Em pleno horário da aula de física, nós quatro estávamos parados no meio do estacionamento. Sofia acabou preferindo assistir a aula – ela parecia mal demais pra aproveitar qualquer coisa – mas eu estava um pouco animada por quebrar as regras, mesmo com todo o risco de me dar mal se fosse pega.

— Tem certeza de que não tem nenhuma câmera aqui? – Gisele perguntou, olhando ao redor.

— Ah, quer dizer pro caso de alguém querer roubar os carros super chiques dos professores? – zombou Renata, apontando para os veículos enferrujados ao longo do estacionamento – Deixem de ser dramáticos. Vamos logo começar com isso!

— Porque de repente vocês resolveram fazer isso? – perguntei.

— Porque estamos curiosos – respondeu Samir – E queríamos que vocês estivessem junto, caso a gente vire animais perigosos e queiramos almoçar alguém.

— Ah, muito obrigada – resmungou Gisele – Somos o quê, seguranças?

— Não, vocês são nossas melhores amigas – retrucou Renata – E devem estar com a gente nos momentos importantes. Agora, podemos começar?

O rosto de Samir repentinamente empalideceu, e ele dirigiu um sorriso envergonhado a Renata.

— Então... Damas primeiro, certo?

— Frouxo – Renata fez uma careta – Ok. Esse é meu momento. O que eu faço?

Eu e Gisele trocamos um olhar apreensivo.

— Normalmente eu diria pra você ficar com raiva – falou Gisele – Mas, hã, não faça isso.

— Tenta se lembrar do que o Santiago disse – falei – Se concentra, bota os sentimentos pra fora, sei lá!

— Certo – Renata fechou os olhos e cerrou os punhos, parecendo extremamente concentrada.

— Cuidado pra não se concentrar demais, ou pode acabar acontecendo um acidente! – provocou Samir.

— Cala a boca! – exclamou Renata – E aí, alguma coisa?

— Você ainda é você – falei.

— Talvez o feitiço não tenha pegado nela – sugeriu Gisele.

— Relaxa – eu disse – Apenas deixe vir até você.

Renata inspirou fundo, relaxando as mãos. Ela ficava incrivelmente bonita quando não estava com o rosto contorcido em uma careta ou um riso de escárnio.

— Espera... – murmurou ela – Acho que estou sentindo alguma coisa.

Então, sua silhueta tremeluziu. Pareceu mais suave do que na das outras vezes. Num instante, eu estava olhando para Renata, no outro, ela tinha desaparecido.

— Onde... – olhei em volta.

— Olha! – Samir apontou para baixo.

Olhei. Na altura da minha cintura, um animal comprido e esguio olhou pra mim. O focinho comprido contra o pelo alaranjado – da cor dos cabelos de Renata – se agitou enquanto me encarava.

— Ah, uma raposa! — exclamou Gisele, juntando as mãos contra o rosto – Que linda!

A raposa olhou para ela, e pareceu sorrir. Num instante ela estava na nossa frente, no outro, tinha disparado para os carros, pulando nas capotas de um por um com uma agilidade impressionante.

— Cuidado! – gritei – Não vai disparar o alarme dessas coisas!

— Ela é muito rápida – comentou Samir – Igualzinho quando ela corre pra roubar minha comida.

A raposa deu a volta no estacionamento até parar de novo na nossa frente, sentada. O peito subia e descia rapidamente, e ela tinha a expressão de quem havia executado um belo truque.

— Ok, agora que acabou de brincar – falei – Que tal voltar ao normal?

A raposa deu uma piscadela pra mim, e se enrodilhou toda no chão, como um cãozinho prestes a dormir. Em questão de segundos, o animal tinha sumido e Renata estava no lugar dele, sorrindo.

— Isso foi tão divertido! – comentou ela, se levantando num salto. – Sou uma raposa! Não estava esperando por essa!

— Na verdade, tem tudo a ver – disse Gisele – Raposas tem fama de serem espertas e astutas. Você é as duas coisas.

— E também são ruivas – acrescentei.

— E tem fama de roubar coisas – comentou Samir – Coisa que você também faz. Como quando rouba minhas canetas e minhas coxinhas de frango.

— Você só tá com inveja – Renata mostrou a língua pra ele – E, por falar nisso, acho que agora é sua vez... – ela abriu um sorrisinho travesso para ele.

Samir engoliu em seco. Pareceu estar arrependido da sua decisão.

— Ah, gente... – falou – Não sei se consigo fazer isso.

— Ah, qual é – falei – Você já trouxe a gente até aqui. Não vai amarelar agora.

— Não se preocupa – Gisele abriu seu melhor sorriso – Eu sei que você consegue.

Isso pareceu resolver as coisas pra Samir. Com uma expressão determinada, ele se moveu mais para o centro do estacionamento e inspirou fundo.

— Concentra – falei – Lembra de não ficar tenso.

Mas não foi preciso muito trabalho. Em um segundo, a forma de Samir pareceu girar, como se atingida por um pequeno tornado, e eu mal pude ver no que ele se tornara porque ele disparou para o ar.

— Ah, caramba – exclamou Renata – Olhem lá!

Olhei pra cima. Uma grande ave pairava no céu acima de nós. Era preta, com a barriga branca repleta de pontinhos escuros. Ela deu uma volta em torno de nós, e, num impulso, disparou para cima.

— Uau – balbuciei – Samir, seu sortudo.

O pássaro deu mais uma volta ao redor do estacionamento antes de pousar na nossa frente. Ele se curvou e ergueu uma das asas, como se estivesse fazendo uma reverência. Segundos depois, Samir estava na nossa frente de novo.

Mal ele voltara ao normal pra ser atacado por nossos gritos:

— Ah, meu deus!

— Você é um pássaro!

— Você pode voar!

— Você é um pássaro!

— Eu sei! – Samir jogou os braços pro alto, parecendo extasiado. – Foi a sensação mais doida que eu já tive! Eu não achei que fosse conseguir voar, mas foi tão fácil, como se eu fizesse isso há um tempão!

— Não me surpreende – falei – Você sempre foi meio que um espírito livre. A não ser por... – olhei de canto para Gisele por um momento – Enfim. Isso foi incrível!

— Você tem sorte – concordou Renata – Tudo o que eu faço é roubar uvas e dar conselhos filosóficos pro pequeno príncipe.

— Mas que pássaro era aquele? – perguntou Gisele – Não consegui reconhecer.

— Também não sei – dei de ombros – Não entendo de pássaros.

— Já sei! – falou Renata – Eu tirei uma foto sua enquanto estava voando. Aquele grupo vai servir pra alguma coisa, afinal.

Esse grupo é o bicho!

Bernardo, Daniel, Eduardo, Eric, Gisele...

Renata enviou uma foto

Renata: Ei galera! Alguém sabe que pássaro é esse?

Ricardo: Ué, por quê?

Renata: É o Samir.

Daniel: Ele é um pássaro?? Dá pra ser um pássaro?? Eu quero ser um pássaro!!

Sofia: Pra voar?

Daniel: Não! Pra poder cagar na cabeça das pessoas!

Pâmela: Você é um porco. Talvez literalmente.

Renata: Será que ninguém vai responder a pergunta?

Eduardo: É um falcão.

Leonardo: Como você sabe?

Eduardo: Meu pai é um ornitólogo. Confia em mim, é um falcão.

Paulo: Ornitólogo? Que isso, estudo dos ornitorrincos?

Eduardo: Não, idiota. Estudo das aves.

Paulo: Calma, cara. Também não precisa ofender.

Renata: Valeu, Eduardo! E o resto de vocês, vão assistir aula!

Ricardo: Vocês estão fazendo isso na escola?

Daniel: Matando aula no estacionamento. Queria ter pensado nisso.

Bom, parece que você é um falcão – falou Renata, bloqueando o celular.

— Um falcão – repetiu Samir, sorrindo – Legal.

— Eu li em algum lugar que é o animal mais rápido do mundo – falei.

— Opa – Samir sorriu pra Gisele – Parece que superei você, Gi.

— É o que vamos ver – Gisele ergueu uma sobrancelha – Vamos apostar uma corrida um dia desses. Falcão versus guepardo.

— Aceito – Samir falou, enquanto nós ríamos.

Daquele jeito, era fácil esquecer o quanto aquela história era perigosa e complicada. Naquele momento no estacionamento, nós nos permitimos brincar sobre aquilo, aproveitando o dia como adolescentes normais.

*                                        *                                       *

O que não sabíamos é que, naquele momento, a secretária do gabinete da diretora entrava correndo em sua sala, o rosto muito pálido e o peito ofegante.

— Jesus, Célia – a diretora exclamou, largando os papéis na mesa – O que aconteceu? Parece até que viu um fantasma.

A secretária engoliu em seco, parecendo não acreditar no que ia falar.

— Diretora – disse – A senhora não vai acreditar no que as câmeras do estacionamento filmaram.


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Notas finais do capítulo

E então, o que acharam?



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