O Curandeiro Malfoy escrita por Taquari


Capítulo 2
Novos Pacientes


Notas iniciais do capítulo

Olá novamente! Espero que estejam gostando :)



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Draco teve que se decidir em poucos segundos se ficava parado para ouvir um sermão, ou se continuava andando para evitá-lo. Porém, logo pensou que a segunda opção provavelmente provocaria sua demissão. Acabou então se entregando.

— Eu sei. Não devia ter agido de forma tão grosseira com o senhor Lovegood. – disse o rapaz objetivamente, incapaz de encarar a chefe nos olhos – Eu só... - mas as palavras para se justificar não vinham à sua mente, e a frase nunca foi terminada.

Astoria observava o jovem com uma expressão descontente, porém também tinha um leve quê de algo mais que Draco não conseguiu compreender inteiramente... seria pena?

— Venha comigo – disse ela, pondo-se a andar pelo corredor.

Draco não teve outra opção senão segui-la, calado. Embora fosse mais nova que ele, Astoria havia entrado diretamente para a carreira da medicina bruxa depois da escola, ao contrário dele, que ainda passara cinco anos no Ministério antes de vir ao St. Mungus. Mesmo assim, ela possuía um ar de autoridade que ele sabia que não deveria subjugar. Os dois continuaram andando pelo corredor apertado até atingir uma escada, a capa da chefe esvoaçando pelo chão a frente de Draco, de onde subiram para o terceiro andar. Os quadros pendurados nas paredes da escada, que representavam curandeiros de outras épocas, não paravam de lançar ao rapaz olhares curiosos e desaprovadores. Draco tentou ignorar, olhando apenas para frente. Astoria levou-os até uma sala vazia, fechou a porta, mandou-o sentar-se em uma cadeira, e então também se sentou. Continuou encarando-o por alguns segundos, o que fez o rapaz se sentir cada vez mais constrangido.

Seria despedido? Draco começou a conjecturar. Não, era muito novo naquele trabalho. Ninguém poderia ser despedido assim tão rápido.

Astoria por fim quebrou o silêncio.

— Eu estava lá em cima agora há pouco, quando lhe perguntaram por que você queria ser curandeiro.

Astoria fez novamente outra pausa, com a testa apenas ligeiramente franzida. Não parecia estar esperando uma resposta do seu subordinado, mas sim estar apenas o estudando.

— Sabe, Malfoy, eu não vou lhe falar nada sobre o que acabou de acontecer lá embaixo. Acho que você já sabe muito bem que não podemos jogar nossas angústias em cima de nossos pacientes. – Draco olhou para o chão, crispando os lábios. Gostaria de responder alguma coisa, mas sabia que o momento não lhe permitia – Eu só realmente gostaria de compreender por que você está aqui, entende? – disse ela em voz baixa, inclinando-se para frente - Não parece, aos meus olhos, que você está muito contente aqui no Hospital. Tem certeza que era isso mesmo o que você queria ao largar o Ministério?

Draco suspirou e então finalmente olhou para sua chefe. Pensou em lhe falar tudo: sobre como tomara aquela decisão por puro impulso, buscando apenas fugir do ministério, sobre como achara que uma carreira no hospital poderia fazer sua vida tomar o rumo mais diferente possível do que ele associava com sua vida “antiga”, sobre como ele imaginava que um convívio mais direto com outras pessoas poderia deixar sua vida mais plena e cheia de significado. Pensou também em lhe confidenciar o constante sofrimento que sentia desde que chegara ali, uma vez que a realidade não tinha sido como imaginava, sobre como ele ainda se sentia distante demais das outras pessoas... mas não conseguiu dizer nada disso. Conseguiu apenas sussurrar:

— Eu... não sei.

Astoria suspirou lentamente e então encarou a janela, mas não parecia estar olhando para fora; sua expressão era de alguém que tomava uma decisão importante.

— Eu tenho uma ideia, Malfoy, que acho que pode ser bem sucedida. Vou lhe transferir para outra enfermaria, onde acho que você pode se entender melhor. A partir de amanhã, você será o curandeiro responsável pela enfermaria Jano Thickey. Estamos entendidos? Espero ouvir de você boas notícias a partir de agora. – ela se levantou e, com um aceno de cabeça, saiu do aposento.

Draco permanecera em pé na sala depois de Astoria já ter saído. Ele mal acreditava no que sua chefe acabara de falar. Enfermaria Jano Thickey, a dos Danos Permanentes Causados por Feitiços?? Ora, será que ela achava que ele era tão incompetente assim? Só eram mandados curandeiros muito inexperientes para lá. Afinal, na concepção de Draco, “que curandeiro quer ficar cuidando eternamente de bruxos que jamais poderão se recuperar completamente?”

Sentindo-se mais infeliz do que nunca em sua vida, Draco se levantou e saiu da sala.

 

Na manhã seguinte, Draco se encontrava parado de frente à porta da sua nova enfermaria. Suspirando longa e pesadamente, abriu a porta e entrou. Logo de entrada percebeu a evidente diferença em relação à enfermaria antiga: o lugar, para além de ser apenas uma enfermaria, se tornara claramente a residência dos pacientes. Isso se tornava óbvio pelas inúmeras decorações nas paredes, na maioria fotos, bem como num maior número de móveis e objetos pessoais ao redor de cada cama. Mal teve tempo de observar bem o aposento quando uma curandeira de cabelos curtos e crespos e feições alegres veio ao seu encontro.

— Bom dia, você deve ser o novo curandeiro daqui, não? Astoria já me avisou. Me chamo Thessa Reed, e você é... Malfoy, correto? – disse ela, lançando um olhar ao nome bordado acima do brasão do Hospital St. Mungus nas vestes do rapaz – Não temos muitos pacientes aqui, mas podemos dividi-los entre nós para facilitar o trabalho. Acho que você pode começar com os dois leitos lá de trás, o casal Longbottom, tudo bem?

Draco arregalou os olhos quando ouviu aquele nome. Certamente seriam parentes do garoto Neville, que estudara junto com ele na escola. Sentindo uma pontada de remorso, uma vez que diversas vezes causara incômodos ao garoto, ele se dirigiu ao cortinado que separava os dois últimos leitos do aposento. Pigarreou alto antes de afastar as cortinas, entrou ali e viu dois adultos trajando roupas brancas simples. Olhou para a mulher, que tinha um ar definitivamente cansado com suas olheiras profundas e cabelos curtos grisalhos, e depois mirou o homem, igualmente cansado, com uma barba rala por fazer, que parecia encarar a parede com olhos vidrados.

— Bom dia, Sr. e Sra. Longbottom, sou o curandeiro Malfoy e a partir de hoje serei responsável pelo... – ele começou a se apresentar maquinalmente, mas parou quando percebeu que nenhum dos dois dera sequer sinal de ter percebido sua chegada. – Ei, estão me ouvindo? – perguntou ele com raiva.

Os dois continuavam encarando outras coisas, completamente alheios ao curandeiro, que agora se sentia pessoalmente ofendido. Naquele momento, para sua sorte, Thessa passou pelo cortinado e se pôs ao seu lado.

— Oi, preciso lhe passar as informações sobre nossos queridos pacientes – a curandeira falou, lançando olhares genuinamente carinhosos para o casal, que também pareceu ignorar sua chegada. Ela puxou o rapaz para fora do cortinado e continuou – foram torturados há muitos anos por bruxos das trevas até enlouquecerem.

O estômago de Draco despencou. Havia esquecido completamente da história que o pai lhe contara havia muitos anos, sobre como sua parenta Bellatriz Lestrange havia levado o casal Longbottom à loucura pouco após a primeira queda de Voldemort. Na época anterior à Segunda Grande Guerra Bruxa, Lúcio, o pai de Draco, lembrava jocosamente dessa história quando quer que achasse necessário acrescentar comentários como “Não queremos acabar desmiolados como os Longbottom, não é?”. À época, ainda criança, Draco achava graça e ria com o pai. Agora, ali no hospital, Draco sentia suas pernas bambas feito gelatina. Como podia ter algum dia achado graça daquilo? Sentindo o coração bater loucamente, fez de tudo para que a colega não percebesse sua inquietação, apertou os lábios e balançou a cabeça de um lado para o outro, tristemente.

— Mas conseguimos fazer alguma coisa desde que chegaram, sabe. No início, não faziam nada além de olhar para a parede o dia todo. Hoje, bom... ainda fazem isso de vez em quando, mas já andam por aí quando querem e já conseguem se alimentar sozinhos muito bem!

— Certo... – pontuou Draco, ainda mais horrorizado por dentro – e em que pé está o tratamento deles?

— Ultimamente, não damos nada medicamentoso a eles. Chegamos à conclusão de que o melhor tratamento no caso é a interação com as pessoas, de modo a tentarmos trazê-los o máximo possível para a realidade.

Draco fez uma inequívoca expressão de frustração. Como assim não tentariam fazer nenhum tipo de intervenção com poções ou elixires? Ora essa... ele não havia ingressado no hospital para curar seus pacientes com a incrível intervenção do amor e da felicidade! Estava ali para usar seus conhecimentos de poções e feitiços para trazer curas objetivas aos seus pacientes! A colega, como se lesse seus pensamentos, comentou com um sorriso esperto:

— Pois é, meu caro, é isso mesmo. Não é que não tenhamos tentado, sabe? Porém, nada do que demos surtiu qualquer efeito. Mas é nesse pé que estamos, respondendo sua pergunta.

— Hum... ah. Certo. Você me dá licença um segundo? Tenho que dar uma palavrinha com minha chefe.

Sem esperar resposta, ele saiu da enfermaria. Ao fechar a porta, bufou e saiu andando a passos duros em direção à sala onde estaria Astoria. O que diabos era isso?! Draco agora entendia perfeitamente qual era o plano da chefe: sem dúvida ela acreditava que o que lhe faltava era uma dose de interação humana, de abraços e amor... de novo aquele maldito tema que Dumbledore nunca se cansara de falar... ora essa, era o que faltava...

Mal enxergando por onde andava, chegou à enfermaria em que Astoria trabalhava, onde pôs a cabeça pela porta e a chamou. A mulher saiu e encarou Draco com uma expressão divertida. Não parecia surpresa, na verdade parecia até estar esperando aquilo.

— Greengrass, posso lhe perguntar qual foi sua intenção? – começou Draco com uma raiva contida, ao que Astoria deu uma risada.

— Eu sabia que você iria questionar, mas assim tão rápido? Você sequer foi conhecer seus pacientes? – ela perguntou com um sorriso, curiosa.

— Claro que fui! Mas jamais imaginaria que você me encarregaria desse tipo de pacientes...

— Não fale assim, Malfoy, você soa muito petulante desse jeito. Não tenho dúvida alguma que essa enfermaria será a que lhe dará mais oportunidades de crescer pessoalmente. Sim, eu sei – acrescentou ela com firmeza ao ver que o rapaz logo retrucaria, colocando a mão no ombro dele – eu sei que você acha que qualquer tratamento que não envolva dar remédios é completamente inútil, mas eu lhe garanto que não. Confie em mim, eu sei o que estou fazendo. Afinal, sou sua chefe — disse ela, dando ênfase à última palavra e mostrando que o assunto se dava por encerrado.

Draco crispou os lábios, mas assentiu. Desceu derrotado de volta à sua enfermaria, onde novamente foi para trás do cortinado tentar conversar com o casal Longbottom. Puxou uma cadeirinha de madeira ao lado de Alice, sentou-se e... não fazia ideia do que fazer. Olhou para o rosto da mulher em sua frente, mas que não lhe olhava de volta. Draco então pôde observá-la melhor. Embora seu olhar parecesse definitivamente cansado, seus olhos verdes ainda assim tinham um certo brilho diferente... mostravam algo como uma curiosidade expectante...

— Oi – tentou ele, cauteloso. Ela não esboçou reação alguma. – meu nome é Draco. – ele falava pausadamente como se estivesse diante de uma criancinha inapta. Alice vagarosamente virou seu rosto para o bordado do St. Mungus nas vestes do rapaz. Então, sem aviso prévio algum, ela soltou uma risada aguda e rápida.

“Ok. Por mim já chega”, pensou ele. Decidido, saiu da enfermaria e se dirigiu ao último andar, onde prepararia uma poção de recuperação de confusão para a mulher e seu marido. De volta à enfermaria, com dois cálices nas mãos, dessa vez tentou falar com Frank primeiro.

— Olá, Frank... – tentou ele novamente – Trouxe para você uma bebida, que tal? Gostaria que você a provasse. Você pode fazer isso por mim?

O homem permaneceu totalmente imóvel, exceto pela sua respiração tranquila e ritmada.

“Mas claro, o que eu estava esperando...” Draco já pensava impaciente, virando os olhos para o teto, quando de súbito a mão de Frank veio lentamente cambaleando até a mão de Draco e pegou o cálice. Estupefato e cheio de expectativa, Draco ficou olhando sem piscar para o homem, que agora segurava o cálice acima das pernas cruzadas no leito. Olhava muito indiferente ao cálice, como se toda a situação lhe entediasse. Durante quase um minuto inteiro, Frank continuou nessa mesma posição. Até que de repente, esticou a mão com o cálice de volta para Draco, devolvendo a ele aquele item tão desinteressante.

— Certo. Muito bem. Quem sabe você, Alice? – Draco virou para a mulher, aproximando-se dela – Será que você faria a bondade de provar esse refresco que preparei para você?

Ele esticou o cálice para ela, que para sua surpresa esticou logo a mão! Alice tentou segurá-lo na mão, mas seus movimentos foram tão desengonçados que logo teria feito o vidro se espatifar, caso Draco não tivesse segurado o copo e a mão de Alice entre as suas mãos. Com cuidado, ele a ajudou a levar o cálice até seus lábios e a tomar seu conteúdo. Depois, tornou a depositá-lo em cima da mesinha de cabeceira.

— Isso, Alice, fico feliz. – Draco comentou, ainda falando como se estivesse conversando com nada mais do que uma criança.

E então tudo aconteceu de forma muito rápida. Alice olhou pela primeira vez nos olhos de Draco e abriu a boca num ângulo meio esquisito, mas inconfundível: um sorriso. Draco arregalou os olhos abobalhado e tentou retribuir o sorriso, mas não conseguiu muito bem. Continuou encarando Alice por uns segundos até que ela voltou a observar intensamente a parede em frente.

Encorajado pelo sucesso com ela, tentou fazer o mesmo com Frank. Aproximou-se dele e tentou colocar o cálice próximo aos seus lábios, mas logo foi interrompido por um guincho de protesto do homem, que o empurrava com o dorso da mão.

— Mas o que diabos está acontecendo? – Draco ouviu uma voz atrás dele, e virou-se para ver quem entrava pelo cortinado.

Ninguém menos que o próprio Neville Longbottom, filho do casal.


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Notas finais do capítulo

Uuuh, o que será que vai acontecer? Fiquem ligados para o próximo capítulo!
Até breve!



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