A rua estava deserta e escura, ela vestia um sobretudo com capuz e parecia irreconhecível. Ela não poderia arriscar ser vista, pois havia deixado tudo por essa missão e não iria arruinar tudo agora, mas precisava levar esses papéis para ele, não poderia enviar por e-mail ou qualquer outro meio de comunicação. Era muito arriscado. Tasha continuou se embrenhando pelos becos escuros da cidade de Nova Iorque até se aproximar do seu destino. Ela não o via há mais de dois meses, haviam trocado meia dúzia de palavras umas três vezes nesse tempo, mas apenas sobre a missão.

Depois que Reade a resgatara da prisão da CIA e a levara para o hospital eles não haviam conversado, ela sabia que ele estava com raiva, pois ficou muito claro no dia em que ele a prendera no México. A distância que ele estabeleceu foi muito dolorosa, mas ela não tirava a razão dele, pois a traição foi muito grande e mesmo querendo contar tudo para ele desde o início ela sabia que não poderia. Ela só revelou porque foi pressionada e também porque precisava de ajuda já que Keaton estava em coma.

Reade estava deitado, mas não conseguia dormir, já passava da meia noite, ele estava preocupado com Tasha. Há vários dias ela não ligava e não dava notícias sobre a missão. Ele ficou realmente muito chateado quando ela lhe contou que estava trabalhando para Madeline infiltrada, ele era seu melhor amigo e sempre a considerou demais, confiou nela mais que confiava nas pessoas da sua própria família e ela não pode lhe contar o que estava fazendo. No fundo ele sabia como a CIA trabalhava, que eles pediam sigilo sobre esse tipo de coisa, mas com ele seu segredo estaria seguro e ele poderia ter ajudado no que ela precisasse.

Eles não tinham mais nada, pois ele deixara bem claro durante o interrogatório, ele sabia que tinha vacilado e falou coisas que a machucaram e agora era muito difícil voltar atrás. Apesar de ter revelado um pouco suas emoções quando ela estava no hospital ele sabia que a barreira que ele criou ainda estava erguida e seria muito difícil ultrapassá-la, seria necessário muito tempo para resgatarem o que já tiveram um dia e ele não sabia se seria possível.

Imerso em seus pensamentos ele ouviu uma batida na porta. Se levantou e foi abrir. Reade quase não a reconheceu com o sobretudo e o capuz.

— Reade, sou eu. – Ela falou baixo, mas dava para sentir a emoção em sua voz.

— Entre. – Ele abriu totalmente a porta e a deixou entrar.

Ela tirou o capuz e ele pode vislumbrar seu rosto. Ela estava linda como sempre e lembranças vieram em sua mente, lembranças doces e nostálgicas de tudo que viveram.

— Vim trazer esses papéis. Aqui estão todas as pistas sobre horário e local da queda do avião. – Ela disse retirando um envelope grande do bolso e entregando a ele.

— Você está bem? Há dias que não faz contato. – Ele perguntou lutando para não deixar a emoção de vê-la trair suas palavras.

— Sim. Só estou tendo mais cuidado, pois tem pessoas demais em volta de Madeline e tenho muito medo de ser descoberta.

— Você quer abortar a missão? Já temos as informações do vôo, podemos continuar daqui.

— Não posso, Madeline desconfiaria na hora e mudaria os planos.

— Você está se arriscando demais. Tenho medo... – Ele foi interrompido por ela.

— Tenho que ir. Ninguém pode desconfiar onde estou ou arruinaria tudo. – Ela disse com tristeza, pois não queria ir tão rápido. – Ela virou as costas e passou pela porta.

— Tasha! – Ele a chamou.

— Sim. – Ela se virou e o encarou.

— Se cuida! – Ele lhe deu um sorriso fraco a encorajando.

Tasha apenas lhe devolveu um gesto afirmativo de cabeça e seguiu seu caminho saindo do prédio e se embrenhando novamente na escuridão dos becos de Nova Iorque.

Após ela sair Reade voltou para seu quarto, mas não conseguiu dormir, pois a presença dela estava forte demais. Como ele fora tolo! A vontade que sentiu de abraçá-la e confortá-la e mostrar a ela a saudade que estava sentindo e também poderia confirmar se ela sentia a mesma falta que ele. Ele queria dizer o quanto a amava e o quanto desejava que ela ficasse bem, mas depois de tudo que falou para ela tinha medo de ser rejeitado. Ele não queria perdê-la. Ela era o que mais importava pra ele, mas ele não via caminho para resgatar tudo que já tiveram.

Por sua vez, Tasha estava em seu quarto escuro, mas não conseguia dormir. Ver Reade a fez reviver tudo que passaram juntos. Ir até seu apartamento foi muito doloroso, as lembranças da noite que passaram juntos vieram em sua mente e ela teve medo de não se conter, mas as palavras que ele lhe disse no interrogatório ressoaram dentro dela e a impediram de falar ou fazer qualquer coisa que ultrapassasse os limites estabelecidos por ele.