12 & Clara: A Roda De Fogo escrita por Cassiano Souza


Capítulo 11
O cerco de chamas - parte 1


Notas iniciais do capítulo

OLÁ! Dois novos capítulos de uma vez, dois de três partes, as últimas da história. Essa, a apresentação e preparação, o segundo a reação, e o terceiro a conclusão e resolução. Mais tarde posto o próximo. Ansiosos para terminarem de ler as minhas bobagens? Pois então, tudo tem o seu tempo, e tudo acaba um dia. Esse é o fim da jornada. BOA LEITURA!



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A luz do sol cortava brilhante e viva por uma janela, e iluminava o quarto, um luxuoso e rustico quarto, em decoração vitoriana. Parecia com aqueles cenários lindos de filmes de época. Sensacional. E sentada em uma poltrona forrada por pobres zebras que um dia tiveram suas peles roubadas, o meu traseiro me agradecia pelo conforto, a semana havia sido bem cheia. E ao meu lado, e com certeza também confortável, Clara dormia na cama, e que cama! Devia ser como se deitar no céu. Bem, tudo naquela casa era. Mas, continuando, eu a-esperava acordar, devia estar cansada, afinal trabalhou muito de ontem para cá. Mas no aguardo de seu despertar, eu assistia a TV, uma que tinha em uma mesinha de canto no quarto, e esperava por algo terrível, algo ameaçador, e algo que nós já sabíamos que iria acontecer. Isso era, uma matéria no jornal matinal, no tão famigerado jornal brutal e sensacionalista visto por toda a Grã-Bretanha, e que havia condenado a todas nós.

— É isto mesmo. - Dizia a jornalista. – Londres e o mundo estão hoje definitivamente mais ainda em alerta do que nunca antes. Além de uma muito improvável porém não impossível visita extraterreste marcada para o dia de hoje às 12:30, ainda há também uma possível lista de terroristas espalhados por todo o Reino Unido.

Um grande mural com as fotos dos possíveis terroristas era mostrado na matéria. E dentre as fotos, homens e mulheres, porém muito mais mulheres. Bom, acho que gênero não define caráter mesmo. Mas, mulheres que eu conhecia muito bem, e que sempre admirei. Um segredo, eram os nomes de minhas Barbies e Power Rangers.

— E estes são eles. - Continuou a jornalista. – Recebemos estas informações diretamente pela UNIT, a Força-Tarefa de Inteligência das Nações Unidas. E os seus nomes, são: Dorothea Chaplet, Polly Wright, Ben Jackson, Victoria Waterfield, Liz Shaw, Jo Grant, Sarah Jane Smith, Harry Sullivan, Tegan Jovanka, Chang Lee, Capitão Jack Harkness, Gwen Cooper, Mickey Smith, Martha Jones, Petronella Osgood, professor River Song, e Clara Oswald. Sim meus caros telespectadores, é uma lista enorme!

E após ouvir o seu nome citado, Clara imediatamente acordou em um impulso. Nossa, que susto eu tomei, pus a mão no peito, em minha pose chocada, e continuamos a nos encarar curiosas.   

— Quem me chamou?!

Antes de eu responder, aspirei com a bombinha, e Clara me chamou estranhando.

— Osgood?

— Olá. Bom dia, bela adormecida, 8:30.

— Como cheguei até aqui? Seguia o nosso plano, eu era uma traidora, e a Zyjela o meu aluno. Mas aí fui sequestrada por um... - Não soube descrever. – Mas espirrou algo na minha cara, e aquilo fedia!

— Sim, e foi mal, urina de gambas mutantes. Mas aquele foi só o Grasgeek, um Graske, e um novo amigo. Porém, Clara... Tenho uma má noticia agora, para todos nós.

— Que notícia?

E eu apenas fitei a TV, e assim Clara igualmente.

— Terroristas?! Como assim? - Questionou a jovem da cama, se aproximando descrente até o aparelho televisor.

— Assim. Somos nós. Bem, não somos terroristas! Claro. Mas sim, somos nós. A Kate joga com as cartas que tem, e tendo a Roda roubada, irá descontar em todos os amigos do Doutor. Bom, todos aqueles que ainda acabaram no presente, e... Vivos até hoje.

Clara estava chocada com a informação horrorosa, mas mais do que isso, eu notei outro traço de declínio em seu olhar, algo que parecia a-perturbar ainda mais.

— Sei que estamos quase encurralados, Clara, mas há algo mais te machucando?

— Vi o Alonso morrer em minha frente. E tive de continuar o nosso teatro. Às vezes mentir dói muito. - Uma lagrima lhe desceu o rosto. – E a Ignis...

— Sinto muito.

— Mas não é só isso. - Ficou séria.

— O que mais?

— O seu ídolo.

— O Doutor?

— O Doutor. Osgood, o Doutor é um bom homem?

Eu estranhei completamente a questão. Eu possuía a minha resposta, em minha completa e sincera opinião, mas ouvir uma pergunta como aquela, e vinda de uma das pessoas que mais conhecia o Doutor, era algo que só poderia me significar uma coisa...

— Senhores do Tempo não são tão diferentes de humanos, Clara. As mentes deles são sabias, mas os seus corações são cegos. Se ele lhe negou ser o que era, houve uma boa razão.

Pelo que notei em seu olhar, Clara tentou então refletir sobre, e esquecer aquilo. Aquilo, que com certeza só poderia ser fruto de algo feito ou dito pelo Doutor. O que seria? Me perguntei o dia inteiro. Mas, já estava na hora de descer, e se organizar.

— Vou indo lá pra baixo. - Eu disse, me levantando da poltrona.— Se arrume, todos te esperam. Temos muito a se fazer.

— É? E onde estamos?

— Highclere Castle.

— Sério?! - A vó e o pai de Clara eram muito fãs de Downton Abbey.

— Não, uma mansão qualquer em Bel-Air, Los Angeles. 

— Los Angeles?!

— Não, mentira de novo. É Highclere Castle mesmo.

— Ah, tudo bem. — Disse desanimada.

 

***

 

UNIT/ ALA CIENTÍFICA

Presos e impotentes sobre as suas macas, frias e postas de cabeceira uma contra a outra, o Doutor e a Missy encaravam ao teto, ao sem cores e sem nada de interessante teto. Porém, imaginando algo que tanto já sonharam em ver juntos; as estrelas. O escuro do ambiente contribuía com a imaginação, e o ar gélido da sala também, poderiam se sentir no espaço, e relembrarem de suas aventuras, e lembranças de infância. Porém como ponto negativo, tiaras neurais se encontravam na cabeça dos dois Senhores do Tempo, e cabos ligados a elas ligavam-nas às suas naves, ali também dentro da sala. Aquela era a sala de canalização mental, a sala por onde as mentes e sistemas das TARDISes seriam usadas como ferramenta de cálculo preciso, para a Roda de fogo. Mas, ignorando o tremendo azar, os dois amigos apenas conversavam entre si, talvez felizes e tristes ao mesmo tempo.

— Sabe que dia é hoje, amigo?

— Quarta feira? Odeio quartas feiras.

— Terça. Mas não é isso.

— O que então?

— Um dia importante, muito muito importante. Tente adivinhar.

O Doutor pensou bastante:

— Hum, dia 04 de janeiro, feriado nacional de Abreugrafia?!

— Ah, não seja ridículo! Lamentável. É dia do meu aniversário!

O Doutor se espantou completamente ao saber, parecia não esperar que fosse.

— Você não se lembrava, não é mesmo?

E o Senhor do Tempo apenas se manteve calado. A Mestra reclama:

— Ah, você sempre se esquece. - Soou triste. – Eu nunca me esqueci dos seus.

— Perdão. Mas você vive me dando presentes malucos! Não poderia ser algo normal?

— O que por exemplo?

— Tipo o que eu vou te dar. Um liquidificador.

— Ora, mas que absurdo! Que tipo de Senhora do Tempo recebe um liquidificador?!

— Bom, então... Um planetoide velho, que tal?

— Um planetoide velho e empoeirado?!

— Uma lua de mel. - Corrigiu.

— Hum, lua de mel? - Pareceu interessada.

— Sim, mas literalmente!

— Ah, então você está ficando velho.

— Não, você ficou. 3500 ou 4100?

— Umas casinhas por aí, mas não conte a ninguém! - Riram. – Veja só, Doutor, quem diria que para nós nos acalmarmos um pouco e ficássemos juntos por algumas horas conversando como pessoas normais, precisaríamos antes de macas e amarras? - Riu. – E deitados um ao lado do outro.

— É, mas não também literalmente “um ao lado do outro”.

— Mas poderia.

— Não, não poderia.

— E por que não? Se não for comigo, quem será?

— Ninguém em especial. Você seguiu caminhos pelos quais eu nunca poderei aceitar, Missy.

— Sei. Todas aquelas humanas intrometidas... Saiba que são como fumaça, Doutor, nunca poderão o-acompanhar para sempre.

O Senhor do Tempo desvia o seu olhar, para os seus mais distantes pensamentos. Porém, imediatamente é retirado de sua distração, ao ver a porta sendo bruscamente aberta. A luz do corredor brilhava forte, e fazia doer as vistas dos dois trancafiados.

— Não está em nenhum lugar. - Diz Kate irritada, chegando com um de seus capangas. – Clara Oswald, E a Roda. Onde estão?

— Ora, queridinha, você é quem estava mancomunada com ela! - Respondeu a Mestra. – Acha que nós nos envolveríamos com animais do tipo?  Bem, o Doutor talvez.

— Não está na base de Whitechapel, ou em nenhum metro quadrado da UNIT. Onde estaria? Só vocês saberiam!

— Eu e Missy não sabemos de nada! - Respondeu rude o Doutor. – Fomos enganados, acreditando em quem nunca desconfiaríamos. Porém, acho que não fomos os únicos, acho que na verdade havia uma armadilha dentro da armadilha.

Kate fechou a cara. O Doutor provoca:

— Você perdeu, aceite isso.

— Eu não perdi!

— Perdeu, não tem mais o seu mini poço dos desejos.

— Não importa.

— É claro que importa, queridinha, vai fazer o que agora? - Indagou a Missy – Continuar a farsa? os humanos poderão acreditar, mas não se curvar, não há mais como ameaça-los.

— Você é que acha.

— O que então? - Quis saber o Doutor.

— Derramamento de sangue. Não abriremos mão do plano. Mesmo que o mundo se volte contra... Ele se voltará contra o próprio.

— Está errada, está louca!

— Bom, talvez eu seja a Brigadeira louca.

— Você não é a Brigadeira!

— Não. Mas tenho tudo o que ela teria. A primeira ministra e todos os chefões da União Europeia concederam todos os seus poderes a mim, sabia? Estão com medinho dos ETs. Que patéticos são os seres desse mundo. - Riu.

— Podem ser patéticos, querida, mas ainda conseguiram te enganar. - Colocou a Missy. – Não devia compartilhar do mesmo sentimento?

— Ora, e quais além dos amigos do Doutor tentariam mais algo? - Fitou ao Senhor do Tempo, que a fitava furioso. – Os seus amiguinhos, Doutor, estão todos em perigo. -  Riu. – Mas quem irá salva-los, pobrezinhos?! Bem, ninguém, contei uma fake. E todos creem nos jornais. Porém, eles divulgam ou criam a realidade? Bom, não faz diferença nesse mundo.

O Doutor encarava Kate com todo o seu ódio e fúria possíveis. Mexer com um amigo do Doutor já era como as consequências de chegar perto de um vulcão, mas mexer então com todos eles... Isto trazia ao viajante os sentimentos mais obscuros e cruéis de seu interior.

— Eu entendo. - Diz o Doutor tentando ir mais a fundo. – Eu entendo perfeitamente o seu ódio pela humanidade e por os que lhe enganaram. Mas... Há algo que eu não entendo ainda. A guerra que procura... Isso arrasará o mundo, e quer o mundo. Um mundo belo e aconchegante, eu sei como é. Eu e a Missy sabemos, porque somos como você.

— Eu não sou como vocês!

— Ah, é sim querida, escute o escocês. - Aconselhou a Mestra.

— Somos apenas três forasteiros rabugentos e mal-amados, eu, você, e a Missy. - Suspira o homem. - E em algum belo ou triste dia... Encontramos uma rocha esquecida por Deus, porém a mais bela e frágil delas. E sabe o que havia de especial?

Kate não sabia o que dizer. O Doutor prossegue:

— Ela era esquecida, mas não ingrata, estava de braços abertos. Qualquer um poderia entrar, até os filhos da mãe. Até você e eu!

— Não sei o que quis dizer com isso.

— Eu também não, mas foi bem tocante. - Elogiou a Senhora do Tempo.

— É claro que sabe o que quis dizer. - O Doutor se referiu a Kate. – Não é um cérebro de pudim. Sabe que estou pedindo para não continuar, e sabe o quanto este planeta é importante para muitos. Viva em paz, ele está de braços abertos, é de todos que quiserem um lar. Você só precisa respeitar as regras.

Kate se voltou para a porta, estava irritada e cega por seu ódio, não queria escutar ao Doutor, e não queria escutar mais nada na verdade, ela parecia estar completamente decidida. Mas antes de sair, tentava arranjar forças para dizer algo, porém... Não conseguiu, e simplesmente saiu, com o seu acompanhante.

— Sabe o que isso tudo me lembrou, querido? - A Missy retoma.

— A mãe dos dragões?

— Um pouco, mas não é isso. Uma história antiga dizia... Que os sinos do perigo da grande viajante de tempo tocariam mais uma vez, a última vez, e assim... Um fantasma do passado a levaria à morte.

— Você falou “última vez?!”

— E você escutou “morte?!”

— Bem, já faz parte do cotidiano.

— Ahr! E... Sabe o que dizíamos sobre aniversario?  Acho que irei convidar alguém.

— Do que está falando?

A Missy fechou os olhos, parecendo se concentrar em algo.

 

***

 

HIGHCLERE CASTLE/ 10 DA MANHÃ

Já de cabelo penteado, dentes escovados, e banho tomado, desceu Clara então à enorme e luxuosa sala de estar, onde todos nós estávamos. E com todos nós, eu quero dizer realmente gente pra caramba! Clara encarava empolgada e estranha ao mesmo tempo, parecia até comigo, quando vi todos ali pela primeira vez. Ver todos aqueles velhos rostos em sua frente, que nada mais eram do que os velhos rostos que já haviam testemunhado o mesmo do que ela já havia testemunhado, em exuberâncias e horrores. Ela fitava os muitos ex-acompanhantes, e eu fitava cada sorriso dela. É empolgante ver a empolgação de um amigo, tipo quando você indica uma série pra alguém, e aí você descobre que essa pessoa está amando! E todos esses ex-acompanhantes, já muito vividos estão hoje, com a maioria estando nas casas do 50 a 60 ou 70 anos. Só escapavam destas faixa etárias Martha, Mickey, Gwen, e eu, mas eu e Gwen não somos e nunca fomos acompanhantes, apenas estamos envolvidas na novela do Doutor. Mas Clara encarava vibrante para todos, não importando em nada quem fossem.

— Do jeito que nos olha... Vamos começar a nos sentir especiais. - Disse Tegan modesta. Viajou com o quarto e quinto Doutor, e uma vez foi possuída por uma entidade que se aprestava como uma enorme cobra de borracha. Eu sei, é insano.

Clara então voltou à realidade, e se concentrou no que Tegan disse.

— Desculpa, o quê?

— Somos só um bando de velhos. - Disse Tegan, e Mickey e Gwen reviraram os olhos.— Não sei por que sorri para nós.

— Porque são sim especiais! Não são só um bando de velhos! Ei, Osgood, diz pra ela que... Aí meu Deus! Você é a Jo, aquela que tirou uma foto pelada com um Dalek!

Jo apenas sorriu sem graça, e todos os outros seguraram o riso disfarçadamente, e pigarreando. Ela fez mesmo isso, disse que estava bêbada, após comemorarem o salvamento do mundo, em mais uma típica invasão. Acho às vezes que nunca há outro mundo para invadir!

— Vamos lá. - Disse eu. – Pessoal, essa é a Clara, Clara Oswald. Novata da gangue, então peguem leve com os apelidos!

E com isso, todos foram se apresentando aos poucos, com Ben e Grasgeek se levantando do jogo de dominó, para apertarem na mão dela, e assim todos foram deixando de fazer o que faziam, para cumprimentar a nova “eles”, aquela que é agora o que todos já foram. Polly, Victoria, e Tegan abraçaram Clara, e ela, apenas sorria, se sentindo amada talvez, ou uma pop-star, ou... Algum profeta charlatão. Mas não a abraçavam apenas por ser a nova acompanhante, mas também por ter sido fundamental no plano de roubo da Roda, e ter conseguido executar com precisão todo o plano. Martha, Mickey e Gwen foram os últimos a cumprimentarem ela. E olhando para o chão, onde o Grasgeek lhe fazia um gesto de “legal”, Clara pareceu achar aquilo perturbador.

— Todos vocês... Como poderia? O jornal, ele... Ele disse que éramos terroristas! Ainda apouco.

— Já sabíamos de tudo. - Disse Martha simpática. – Só você que ainda estava meio de fora. - Martha, viajou com o décimo Doutor, e foi fundamental na derrota do Mestre, acho que até hoje está na lista negra da Missy. E o Shakespeare tinha um crush por ela.

— Osgood não lhe contou todo o plano, tínhamos de estar sempre um paço a frente. E talvez você fosse abrir a boca para o Doutor. - Completou Mickey. Viajou muito pouco com o decimo, e era chamado de “Mickey o idiota” pelo nono. Mas mesmo assim foi muito importante na derrota dos Slitheen corruptos do governo.

— Então não confiaram tanto em mim. - Notou Clara.

— É, não, mas é tipo o que o governo faz com a gente! - Respondeu Gwen. – O que importa é o sucesso da missão.

— Então quer dizer que nós já vencemos?

— Longe disso. - Respondi, me sentando à mesa junto a todos e Clara.— Temos a Roda, mas a vitória ainda não.

— Como não? Se a Roda era o símbolo do poder Zygon...

— Mas o fogo em um clima de tensão política e da forma em que está... Vem de qualquer direção, Clara. - Disse Polly. Viajou com o primeiro e segundo Doutor, e foi a primeira acompanhante junto à Ben a ver o Doutor se regenerar.

— Kate pode não ter a Roda, mas terá o mundo ferido. - Explicou Jo. — Uma grande ameaça, é isto que os Zygons estão fazendo. O medo, em troca da Roda. - Jo, viajou com o terceiro Doutor, e foi posta pelo Brigadeiro como a “ajudante” do Senhor do Tempo, ainda se lamentando pela ida de Liz. Mas quando chegou a hora de Jo ir, aí ele até chorou. É o que dizem as pastas mais obscuras da UNIT.

— E o que faremos? Sucumbir? - Questionou Clara, se referindo ao que Jo havia dito.

— Não, podemos nos esconder, mas nunca sucumbir. - Determinou Gwen, agente da Torchwood, e ajudante do Capitão Jack.

— Mas também não podemos só nos esconder para sempre!

— E não iremos. — Disse Mickey. – Em breve começaremos a agir.

— Tudo bem, mas na verdade eu estou começando a achar que vocês são as Espiãs Demais! Como um Graske entra na UNIT e me leva em bora?!

— Computadores alienígenas facilitam bastante. - Respondi.

— O Senhor Smith! O computador alien da Sarah Jane?! E aliás, onde está ela?

— Em uma casa de campo em Chilbolton, junto de seu filho, companheiros, e Dorothea. Liz escondida do outo lado do mundo, e Ian e Barbara... Se tornaram um mistério. Chang, em São Francisco.  Já Jack e River... Bem, viajantes do tempo, por aí.

E ouvindo isto que eu contei a Clara, logo notei uma certa e severa tristeza nos olhos de Gwen. E Clara com a sua sensibilidade, confortou a pobre.

— Não fique assim.

— O Jack sempre some, e eu odeio isso.

— Eu sei, comigo é o Doutor. - Sorriu.

— E eu sempre digo “uma hora você vai voltar, e não vai achar ninguém aqui”, e ele diz “então pego o meu manipulador e volto algumas horas”. E aí eu digo...

— O quê? - E Gwen fitou Clara, com um olhar distante.

— Você pode ser imortal, mas nós não, iremos acabar, como a fumaça arrastada pelo vento. Iremos acabar, e ninguém estará aqui por nós, ou em nosso funeral.

Um silêncio fúnebre tomou a sala, e todos se entreolharam calados. Mas, após alguns segundos, Jo dá um toque de descontração, relembrando algo. Por isso amo a Jo.

— Bem, podemos estar por aí sendo perseguidos, massacrados, e ameaçados a extermínio há todo o instante por um alien horroroso diferente a cada dia, mas também há algo que sempre deve estar conosco. Sabem o que é?

E todos permaneceram pensativos. Eu pessoalmente não fazia a menor ideia.

— Sempre, sempre há um jeito. Foi o que aprendemos com o Doutor, todos nós, não foi?

E Jo estava certa, havia sido isso, e assim todos confirmaram piamente a ela. Eu sabia desde o início, só pra deixar bem claro.

— Ótimo, algo extraordinário irá acontecer, confiem em mim. - Diz Jo sorrindo contente.

— Parece muito certa disso. - Notou Ben.

— Sim, talvez tenha os meus motivos.

— Como aquela vez em que enfrentou os Macras?

— Eu nunca enfrentei os Macras, esse foi você.

— Então os homens-peixe?

— Também você.

Ben permaneceu confuso. Viajou com o primeiro e segundo Doutor, junto à Polly, e ajudou junto à ela e ao Doutor, a enfrentar maquinas IA assassinas, Cybermans, Daleks, e foram os três pegos por escoceses revoltados.

— Tomou os seus remédios? — Perguntou Polly severamente preocupada, e Ben simplesmente se expressou com os ombros.

— Já são 10:20. - Avisou Victoria, encarando a um relógio de pulso. Viajou com o segundo Doutor, e teve o pai massacrado por Daleks, mas logo foi acolhida na TARDIS. E viu Pés Grandes. Na verdade viu Yetis, mas acho que dá na mesma.— O que iremos fazer? Meio dia e meia não está tão longe.

— Zyjela tem o segundo passo. - Respondi. – E nós, torceremos para que dê certo. Mas caso contrário, então... Teremos três ações a serem feitas, e uma delas... Uma segunda escolha.

— Que escolha? — Questionou Clara preocupada.

— Uma muito difícil. Que Harry Sullivan nos concederá. - Harry Sullivan, viajou com o quarto Doutor, e após conhecer os Zygons e o monstro do lago Ness, inventou o gás que faria total diferença agora, mas que um certo Senhor do Tempo havia desaparecido com a formula.

— Mas onde o Harry está?

— Em seu quarto. Chorando.

Foi apenas isto que respondi, e deixei Clara ainda mais curiosa e apreensiva, porém para dá-la outra atenção, um pronunciamento ao vivo acabava de começar na TV.

— Vejam, é ao vivo, e do pátio da UNIT. — Avisou Tegan. – Há um representante da ONU, e um representante do presidente americano lá também.

— E os seus exércitos. — Colocou Martha. – 5000 homens da UNIT, sendo deles 4000 Zygons, e 3500 homens da ONU. Em um conflito... Imagine quanto sangue seria derramado.

— Seria terrível mesmo. — Correspondeu Clara. – Mas e a Zyjela, desde o dia do meu “sequestro” o que ela fez a respeito de tudo?

— A Zyjela? Por aí. — Respondi apenas.

— E confia nela?

— Totalmente. Somos conectadas agora, Clara, sinto todas as suas angustias... E todos os seus medos, e ela sente os meus. Ela está sim ao nosso lado. Tudo o que resta é esperar pelo melhor.

Zyjela havia sido terrível no passado, mas hoje... Ela era outra pessoa, e eu confiava nela, éramos uma só, assim como a outra “eu” antes dela havia sido. Zygons reformulam o seu exterior, e utilizam parte da mente humana, mas com ela... Às vezes sentimentos e emoções também acabam sendo extrapolados. E assim eu sentia sempre que ela e eu éramos “nós”, e que havia sim humildade em seu coração.

 

***

 

UNIT/ SALA DE OPERAÇÕES

Fitando pela janela da sala, Kate encarava aos exércitos. Os exércitos, que ela tanto sonhou em reunir, e testemunhar a “chegada” dos novos donos do mundo. O seu olhar estava cheio de malicia, e com ele, mirava para o palco, para os jornalistas, e todos os representantes de governo. 

— É uma visão linda, não acha, senhora? - Perguntou o comparsa posicionado alguns metros da Brigadeira.

— Linda. - Confirmou cheia de orgulho. – Já consigo vê-los gritando, e matando uns aos outros.

— Igualmente. Mas, por quê?

— Como por quê?! Este será o plano C, perdemos a pequena fonte dos desejos, mas não perderemos o teto. Ao menos não isso.

— É bom ter um teto realmente, mas conquistado a esta maneira... Acha que restará algo para alguém, senhora?

— Para nós, é claro. Limparemos o mundo dos humanos com os humanos.

— Reino Unido não é tão poderoso.

— Não, mas alguém da confiança de um dos poderosos do mundo estará aqui.

— E migraremos para a maior potência.

— Correto.

— É um bom plano, senhora, mas sinto que terei de interferir.

— Como assim?

Kate se vira surpresa, e logo se depara com uma pistola CZ 75 P-07 Duty apontada para a sua cabeça, porém para a testa agora.

— Abaixe essa arma. - Ordenou paciente.

— Renda-se primeiro. Chame o representante da ONU à uma conversa e diga a verdade.

— Não seja estupido!

— Não estou, você está.

— Está contra o seu próprio povo?!

— Não, contra você e os tolos que a-seguiram.

— E quem é você? Zyjela? 

E o homem se mantem calado. Kate insiste:

— Zyjela, a traidora, a fraca. Sabe quantos títulos você recebeu?

— Não me importo.

— Eu sei, assim como não se importa mais com a sua raça.

— Isso não é verdade!

— Então por que se aliou aos humanos?!

— Porque eles estão certos, Kayjela. Queremos um lar, mas este já é deles. E Kate nos aceitou, o Doutor nos aceitou, tudo o que precisávamos era conviver em paz.

— Mas tendo que nos esconder em suas formas deploráveis! Grande acolhimento.

— Porque teriam medo, teriam ódio!

— Correto, porque são seres preconceituosos, não conseguem aceitar as diferenças! Somos monstros para eles... Somos como... Tudo o que houver de pior. Como poderíamos viver em paz dentre estas criaturas?!

— Com compaixão. Compaixão, sempre.

— Ah, é isso que o escocês grisalho te contou? Patético.

— Patético? Pois é isto que te mantem viva agora. Poderia já estar naquele palco agora, e eu aqui. E silenciosa e discreta, te dar um tiro na cabeça.

— Mas não vai dar, vai?

E Zyjela custou em responder:

— Eu estou aqui para te dar uma chance de vida. Se renda e seja aceita, ou continue... E encontre a morte. Escolhas e consequências.

— Teve mesmo compaixão por mim? - Quis saber, parecendo estar tocada.

— Tive, somos irmãs de segundo grau. - Zyjela deixou uma lagrima escorrer. – Por favor, Kayjela, se eu mudei... Você também pode mudar. 

— E acredita nisso? - Pareceu descrente, mas não contraria.

— Acredito, sei que você ainda é a minha pequena quinta irmã casula. Sempre tão impulsiva, sempre tão determinada... Mas, sábia também. Siga a sua cabeça, não o seu coração. Sabe que não há logica em continuar. 

Kayjela fita o chão pesarosa:

— Você está certa, sempre, sempre certa.

Confirmou abatida, e logo em seguida, caiu de joelhos no chão, chorando e soluçando, enquanto encobria a cara envergonhada. Zyjela apenas observou em estranhamento com a cena.

— Por que está chorando? - Indagou Zyjela cautelosa.

— E por que não choraria? Eu estou errada, e reconheço.

— Não acredito nisso.

— Não há problemas, você venceu, eu estou perdida. - Chorou ainda mais, e Zyjela imediatamente se sensibilizou com a visão.

— Vamos lá, não chore, não quero vê-la sofrer.

— Então me abrace.

Entretanto, Zyjela recuou com os ombros. Kyjela insiste: 

— O que foi? Não confia em mim?! - Se abismou com a desconfiança da irmã. – É só um abraço, só isso, nada mais ou menos além.

E após um respiro profundo, Zyjela então se deixa convencer pelo pedido, e realiza o desejo da irmã. Ela poderia ter se tornado em um monstro por suas ações, mas mesmo monstros ainda possuíam sentimentos, e Zyjela sabia disso, pois já esteve na mesma situação.

— Obrigado.

E assim se abraçaram. Zyjela posicionou a sua arma sutilmente na cabeça da irmã, não queria fazer, mas estava pronta para fazer o mais terrível do necessário que fosse. Um tiro, e isso pararia o show de mentiras da Zygon lá fora, porém, lhe levaria a pessoa de sua cadeia genética mais importante. E Kayjela, chorava e chorava, com toda a sua tristeza e lamentações possíveis, parecia completamente arrependida. Porém, descendo as suas tremulas e gélidas mãos até o meio das costas da outra, desfez assim a aparência humana daquele membro, e logo sem demoras, lhe eletrocutou sem dó. Zygons podem converter adrenalina em energia desintegrativa, assim como a usam para remoldar os átomos de seu exterior.

— Kayjela! - Gritou Zyjela, em seus últimos momentos, enquanto se debatia em seus últimos segundos, antes de virar um monte de fibras eletrizadas pelo chão. E Kayjela, fitou ao monte de fibras, mas não como se um dia houvesse sido a sua irmã, e sim, como se ele sempre houvesse sido apenas aquilo.

— Escolhas e consequências, então é isso que quis dizer. Não deveria ter escolhido o lado errado.

Então assim, simplesmente se retirou da sala, partindo para o seu pronunciamento ao mundo.

Tenho certeza, apenas isto pode ter acontecido, pois senti uma parte de mim indo em bora, e não consigo imaginar outra cena. “Eu” se foi, mas eu ainda estou aqui, então é melhor se preparar, Kate, pois não há mais tempo para escrever, e chegou a hora de agir. Martha, Mickey, Gwen e Grasgeek logo sairão, e eu e Clara, iremos à Harry. Eu sinto muito, mas não há mais escolha. Fim do diário. Bem, se eu não morrer... Talvez escreva mais umas duas páginas. Foi o que sobrou.

 

 


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Notas finais do capítulo

Para, eu sei que você me xingou nessa cena final! Kkkk não negue. E a Brigadeira louca, o que estão achando dessa vilã/revolucionaria?
E o próximo já tá escrito, hoje mesmo eu posto ele.
E a presença dos companions antigos da série? quem gostou? Infelizmente não posso dar um super destaque a todos, porque afinal são muitos, e há assuntos pendentes a serem discutidos além de mostrar a interação deles, então não puderam ser um máximo. Ainda. Pois desejo em algum futuro distante quando eu já estiver preparado escrever uma história multi-doctor e muit-companion! Agora quando? Anos, décadas... meio século. Quem sabe? Mas no capítulo citei apenas os companheiros da série de TV, porque os do UE eu tive de ignorar, por falta de conhecimento.
E sim, 04 de janeiro, feriado nacional de Abreugrafia. Abreugrafia era um método brasileiro rápido e barato de tirar pequenas chapas radiográficas dos pulmões, para facilitar o diagnóstico da tuberculose, doença mortal. O teste, que registra a imagem do tórax numa tela de raios X, espalhou-se pelo mundo.
E o caso da Jo pelada com um Dalek não foi exatamente assim, foi na verdade a atriz que interpreta ela, Kate Manning. Vi isso numa foto famosa que circula pela internet.
Mas sobre o capítulo, e aí?
Depois posto o outro.



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