Edward estava animado, nos últimos dias as coisas pareciam estar evoluindo bastante e ele esperava, em breve, conversar com Bella sobre o relacionamento deles. Queria dar mais tempo a ela, eles não poderiam apressar nada.

—Bom dia, Bella. – Estendeu uma xícara de café e ela negou.

—Aurora já acordou? – Ela estava sendo cautelosa e Edward sentiu que vinha problemas por aí.

—Está terminando de se arrumar para a escola. Vou deixa-la lá e te levo para a consulta. Tenho que atender um cliente perto do hospital, então assim que terminar é só me avisar.

—Quero que você vá embora. – Ela o interrompeu.

—Bella, entendo que toda essa situação seja difícil para você, mas eu não vou sair de perto da minha filha.

—Então temos um impasse e só tem uma forma de resolver isso. - Cruzou os braços o encarando e ele engoliu em seco.

—Você não vai fazer isso. - Apontou o dedo para ela. As coisas estavam bem, por que ela tinha que fazer aquilo?

—Vai me matar para me impedir? Não quero você aqui.

—Posso comprar o apartamento aqui do lado. - Sugeriu desesperado. Bella não precisou dizer as palavras para ele saber que ela entraria na justiça e pediria a guarda da filha. E se ela o fizesse, certamente ganharia.

—A única diferença seria que você teria o seu próprio quarto e deixaria de dormir na minha sala. - Retrucou nervosa. - Quero que você vá para bem longe. Você não queria fazer parte da vida dela, além de ser uma má influência. - Falou baixinho a última parte.

—Já te disse inúmeras vezes que eu mudei, melhor, a Aurora me mudou e ela é tudo na minha vida. Não vou ficar longe dela… Eu não consigo e não posso ficar sem ela. - Ele passava as mãos no cabelo desesperado. - Bella, meu passado é horrível. - Sei que sou um péssimo filho, namorado, amigo, mas eu amo a Aurora e faço de tudo por ela. Sou um bom pai e isso não tem como você negar.

—Você cuidou bem dela, mas agora é hora de se afastar e me deixar assumir o controle.

—Não vou fazer isso. Ela é minha filha e você não tem o direito de me afastar dela. - Tentou controlar o tom de voz, mas os dois discutiam aos gritos.

—Não tenho? Você que não tinha o direito de trazer aquelas pessoas para a minha vida. E não tinha o direito de me afastar dela durante cinco anos. Eu perdi tudo e a culpa é toda sua. - Deu um soco na mesa e começou a chorar. - Eu perdi tudo, Edward. Fui a última pessoa a conhecer a minha filha, e ela mal olha na minha cara.

—Bella. - Deu a volta na mesa e agachou ao lado dela. - Eu sinto muito por isso. Nunca foi a minha intenção e eu os fiz pagar pelo que fizeram. Só falta a Jane e eu estou indo atrás dela amanhã mesmo. Não tem como voltar no tempo, mas farei de tudo para que vocês possam se conectar. Vou ficar uns dias fora e vai ser bom para vocês duas.

—Vai me deixar sozinha com ela? - Ergueu os olhos e ele pode ver medo neles. Bella queria ficar sozinha com a filha, mas tinha medo de algo acontecer e ela não ser capaz de ajudar. Era até meio irônico, já que ela estava expulsando Edward de casa há poucos minutos.

—Vocês vão ficar bem. A Aurora só não está acostumada a sua presença, mas logo vai. Sei que não viu os primeiros passos dela, a primeira palavra, mas ainda há muito para se ver. Garantirei que não perca mais nada da vida dela. - Segurou as mãos dela junto ao coração. - Eu te imploro Bella, não me afaste dela, não sei viver sem ela, assim como você também não consegue. Vamos tirar esses dias para colocar a mente em ordem e depois conversamos, mas não vamos decidir nada de cabeça quente. Se você me odeia, tudo bem, posso conviver com isso, mas eu amo a Aurora e ela me ama, e por ela, precisamos nos esforçar para convivemos bem. Eu saio da casa se for isso que decidir, só não me obrigue a sair da vida dela. - Bella fungou e puxou as mãos.

—Tem mesmo que ir atrás dessa tal de Jane? - Ele se assustou com a pergunta dela e levantou se afastando.

—Jane e eu nos conhecemos em um bar. - Começou a explicar virado de costas para ela.

—Também teve uma filha com ela? - Perguntou imaginando se a relação dos dois era como a deles.

—Não. Você foi a única que me fez ser descuidado. - Respondeu sorrindo.

—Agora a culpa é só minha? - Ela estava irritada com a insinuação dele.

—Não foi isso o que quis dizer. - Virou a encarando. - Sempre tive o controle da situação, mas aqueles dias que passamos juntos, eu simplesmente me desconectei e perdi o controle completamente. Fui eu mesmo com você e quero que saiba que tirando as mentiras sobre o meu trabalho, tudo o mais foi verdade. - Bella olhou para os próprios pés e pigarreou.

—Vocês se conheceram em um bar… - Fez um gesto com a mão pedindo para que ele continuasse.

—Ela estava bem bêbada e começou a contar sobre a família dela. Os Volturi mexem com contrabando, drogas, comércio escravo e todas as atrocidades que conseguir imaginar. Jane também fazia parte dos negócios da família, mas ela tinha a intenção de sair, pelo menos foi o que me disse. Ela estava muito irritada com o pai dela. Ele a violentou e ela estava grávida e Aro não a deixava interromper a gravidez. Jane o queria morto e perguntou, de brincadeira, se eu conhecia algum assassino de aluguel. Respondi que eu era e deixei o meu número com ela para o caso dela resolver dar andamento na ideia dela. Dois meses depois ela me ligou e eu matei o pai dela. Provavelmente ela não contou isso para os irmãos dela. Nunca descobri como, mas Félix chegou até mim através de você.

—Você o matou? - Perguntou gaguejando.

—Sim. Ele, o irmão dele e o cara que apertou o gatilho. Agora falta a Jane. Sei que ela passou a minha descrição para eles, ela não sabia o meu nome verdadeiro, mas conhecia o meu rosto.

—É melhor deixar isso para lá. - Falou tocando o ombro dele.

—Não dá, Bella. Jane não vai deixar para lá e ela é tão implacável quanto os irmãos dela. Só não atacou ainda por medo do que posso fazer ao filho dela, mas se eu recuar, ela vai atacar e não vou deixar ninguém machucar vocês duas novamente. - Depositou um beijo na testa dela. - Vou pedir ao Emmett para ficar de olho em vocês.

—Faça o que tiver que fazer. – Deu de ombros, secando as lágrimas.

—Pai? – Aurora chamou olhando de um para o outro. Ouviu os gritos, mas não conseguiu ouvir o teor da conversa.

—Oi, filha. Já está pronta? – Só faltava arrumar o cabelo.

—Sim. Estavam brigando? – Foi direta na pergunta.

—Não. Só estávamos falando alto. – Beijou a testa da filha. – É melhor você tomar o café ou chegaremos atrasados.

—Pode fazer uma trança?

—Tenho que comprar as passagens para viajar amanhã.

—Vai viajar? – Ela olhou desesperada para ele.

—Vou ficar fora dois dias. Vai ficar com a sua mãe, tudo bem? – Ela olhou para a mãe e fez bico.

—Não posso ir com você?

—Você tem aula e alguém tem que ficar cuidando da mamãe. – Sussurrou a última parte.

—O que eu faço? – Sussurrou de volta.

—Só fica de olho nela.

—Por que ela está chorando? – Os dois conversavam como se Bella não estivesse ali.

—Por que não dá um abraço nela? – Aurora levantou e abraçou a mãe.

—Não chora. Sabe fazer trança?

—Sei algumas. O que acha de escama de peixe?

—O papai não sabe fazer essa. Ele diz que é difícil.

—É fácil. Depois eu o ensino a fazer. Moramos na mesma casa e temos muito o que aprender e a ensinar. – Bella sabia que estava sendo injusta com Edward. Não poderia afastar pai e filha, assim como não deveriam tê-la afastada da filha. Aurora merecia e teria os pais presentes. Quando ele voltasse de viagem, eles teriam uma séria conversa e colocariam tudo em pratos limpos.

—Vou comprar as passagens enquanto vocês terminam de arrumar. Bella, será que pode pegar um Uber e buscar a Aurora na escola? Podemos sair para comer mais tarde.

—Vai estar ocupado?

—Só tenho que resolver algumas coisas, mas se precisar é só me ligar. – Ele daria espaço as duas e deixaria que a raiva de Bella passasse.

[...]

—Ali. – Aurora apontou e saiu correndo com os amigos atrás dela.

—O que aconteceu? – Bella correu de encontro a filha, preocupada que algo grave tivesse acontecido.

—Pessoal, essa é a minha mãe. – Ela estava ofegante, mas muito orgulhosa. – Viu Susan? Eu tenho uma mãe. – Mostrou a língua para a garota.

—Sua mãe é muito bonita. – Um garoto falou e Aurora sorriu para ele.

—Mãe, esse é o Seth e essa é a Emily, eles são irmãos e os meus melhores amigos. E tem a Susan, só que eu não gosto dela. – Declarou cruzando os braços. Bella já havia sido alertada sobre Susan.

—É um prazer conhecer vocês. – Cumprimentou as três crianças.

—Muito prazer, Senhora Cullen. – Seth estendeu a mão e apertou a dela. Bella gostou de como o nome soou. Seria bom eles ficarem um pouco separados para que ela pudesse entender o que ainda sentia por Edward.

Ela se apaixonou por ele na Grécia e ainda o amava, mas ela o culpava pelo que aconteceu e sentia muita raiva. Ela sentia raiva do mundo por ter ficado longe da filha por quase seis anos, mas sabia que não adiantaria ficar lamentando. Ela sofreria por tudo o que perdeu, mas não poderia ficar presa ao passado. Como Edward disse, ela ainda veria muita coisa. Estaria ao lado da vida quando ela se tornasse uma mocinha, quando arrumasse o primeiro namorado, conversaria com ela sobre sexo, drogas e sobre a vida. E estaria presente quando ela cassasse ou tivesse filhos. E se ela decidisse que não queria nada daquilo, ela estaria lá para apoiá-la.

—Seu pai vai atrasar um pouco e disse que nos encontraria na lanchonete.

—Podemos comer enquanto esperamos ele? – Pediu segurando a mão da mãe.

—É claro. Tem alguma por aqui?

—Tem sim. Eu te mostro o caminho. – As duas começaram a caminhar. – Vai na minha apresentação de balé?

—É claro que vou. Você vai arrasar. Tem uma postura muito boa e seus movimentos são graciosos. – Aurora corou envergonhada. Aquele elogio da mãe significava muito para ela.

—A minha professora também diz isso. Podemos treinar quando chegarmos em casa?

—É claro. – Aurora ainda corria primeiro para Edward quando algo acontecia, mas elas estavam evoluindo. Bella enviou uma mensagem para ele. – Quer comer torta?

—Amo torta.

—Senta ali enquanto eu pego um pedaço. Vou ver se tem a minha favorita. – Bella observou a filha sentar a mesa e batucar os dedos enquanto esperava. – Olá, vou querer dois pedaços de torta de nozes e dois milk-shakes de chocolate. – Bella aguardou e assim que a vendedora entregou a ela o pedido foi até a mesa e sentou ao lado da filha. – Aqui está, meu amorzinho. – Aurora comeu um grande pedaço da torta.

—É gostosa. De que é? – Perguntou com a boca cheia.

—De nozes. Amo torta de nozes. Achei que minha mãe fosse fazer uma no dia em que almoçamos lá.

—Nozes? – Aurora começou a agitar as mãos e Bella viu que a filha começou a ficar vermelha.

—Filha? – Levantou, desesperada. – O que está acontecendo?

—O que ela comeu? – Edward também estava desesperado e deitou a filha em cima da mesa. Bella agradeceu por ele ter chegado rápido. Parecia até que ele estava do lado de fora as observando.

—Torta de nozes. – Bella declarou quase chorando.

—Ela tem alergia a nozes. – Declarou correndo até o carro para pegar a epinefrina injetável. Ele sempre andava com uma para o caso de acontecer alguma emergência.

—Eu não sabia. – Bella choramingou assim que ele voltou. – Calma, filha, vai ficar tudo bem.

—Deveria ter te falado, me desculpe. A culpa não foi sua. – Ele aplicou o remédio e esperou que fizesse efeito.

—Ela poderia ter morrido. – Bella segurava a mão da filha. – Já vai passar. – Sussurrava tentando tranquiliza-la. – Ela precisa de você, Edward.

—Calma, Bella. Já levamos esse susto várias vezes.

—Quer que chame uma ambulância? – A vendedora perguntou.

—Não, obrigado. Ela já está melhor. – Aurora já estava voltando a cor normal e o inchaço estava diminuindo. As pessoas saíram de perto para ela pudesse respirar.

—Não me deixe sozinha com ela. – Bella implorou agarrando o braço dele. – Eu não sei como cuidar dela.

—Bella. – Edward segurou o rosto dela. – Você é mãe dela e enfermeira, é claro que saberá o que fazer. O que aconteceu aqui não foi culpa sua. Não tinha como você saber que ela é alérgica a nozes.

—Deveria ter perguntado a ela.

—Está tudo bem. É a sua torta favorita e você queria comer junto com ela.

—Ainda tenho muito o que aprender. – Edward pegou a filha no colo.

—Acho melhor irmos para casa.

—Não é melhor a levarmos ao médico?

—Foi só uma crise leve e ela já está medicada. Vamos só acompanhar, por enquanto.

—Estou com fome. – Aurora reclamou e os dois riram.

—Vou pedir para eles colocarem o milk-shake em um copo descartável. Encontro vocês no carro.

—Pode pedir um para mim também e alguns sanduíches?

—Tem mais alguma restrição alimentar que deva saber?

—Nós não gostamos de picles. – Bella assentiu.

—Anotado. – Ajeitou uma mecha do cabelo da filha que havia soltado. – Está bem, meu amor?

—Sim. Não foi sua culpa, mamãe.

—Da próxima vez vou perguntar antes o que você pode ou não comer.

O caminho ainda era longo, mas os três percorreriam juntos.