Rony Weasley e a Câmara Secreta escrita por biapurceno


Capítulo 6
Lesmas


Notas iniciais do capítulo

Esse universo não me pertence, foi tudo maestralmente idealizado pela rainha JK Rowling. É apenas uma história baseada em seu mundo e sem fins lucrativos, apenas entretenimento.
***************-

Oieee!! Mais uma sexta, mais um capítulo!

Bjs!!



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Os dias seguiram tranquilos. A história da chegada no carro voador com Harry já estava quase esquecida e as pilhas de deveres estavam cada vez maiores. A aula seguinte que tiveram com Lockhart foi tão ruim quanto a primeira. Não era possível que só ele e mais meia dúzia de alunos percebiam que aquele homem era uma verdadeira piada. Tudo que trazia para ensinar em sala de aula não sabia explicar o que era, e caso alguém fizesse alguma pergunta mais a fundo (geralmente Hermione perguntava), o professor disfarçava contando algo interessante que fizera no passado e estava em seus livros, esquecendo do assunto inicial. No fim, aprendiam somente sobre a vida dele e nada sobre se defender das artes das trevas.

Outra questão que não estava indo nada bem era sua varinha, que parecia estar piorando a cada vez que tentava usar. As aulas de transfiguração e feitiços eram, no momento, as que ele tinha mais medo de participar. Toda vez acontecia um acidente com ele ou com alguém. Na aula de feitiços com o professor Flitwick, na sexta-feira, ao forçá-la para fazer um feitiço simples, a varinha se atirou de sua mão com força, atingindo em cheio a testa do professor, causando um enorme furúnculo onde batera.

Outra coisa que estava intrigando Rony era Gina. Nos primeiros dias ela parecia bastante animada, fizera amizade com algumas pessoas até mesmo de outras casas e estava sempre sorrindo. Porém de uns dois dias atrás ela mudou totalmente de postura. Toda vez que a via, ela estava isolada e escrevendo em seu diário. Quando via a ele e Harry chegando então... Ela sempre dava um jeito de sumir. Essa paixonite dela pelo seu amigo estava mudando demais sua irmã, talvez devesse conversar com ela.

Finalmente o final de semana chegou e agora poderiam relaxar da semana tortuosa que tiveram. Rony, Harry e Mione planejavam visitar Hagrid sábado de manhã. Por isso, Rony acordou mais cedo para que pudessem aproveitar mais o tempo. Viu que Harry não estava na cama e achou que o garoto devia estar fazendo sua higiene matinal para descer, porém, ao olhar para a cabeceira, deparou-se com um bilhete:

"Olivio Wood me chamou bem cedo para treinar. Quando acordar venha ao campo.

Harry P."

É verdade, Rony havia esquecido que Harry fazia parte do time de quadribol. No ano passado foi convidado à participar do time, sendo considerado o jogador mais jovem do século, uma vez que lhe foi dado uma exceção para que jogasse sendo um primeiranista, o que não é permitido.

 Já que não tinha jeito, se arrumou o mais rápido que pôde e desceu para a Sala Comunal.

— Finalmente apareceram! — Disse Hermione, correndo até Rony. — Vamos logo para a cabana de Hagrid... Cadê o Harry?

— Está no treino de Quadribol e pediu que fossemos ao campo esperá-lo.

— Mas ele não disse nada que teria treino. Quanto tempo isso deve demorar?

— Não faço ideia... mas já deve estar pela metade. Pelo jeito que falou no bilhete, deve ter saído bem cedo.

— Já que é assim vamos tomar café da manhã primeiro.

O Salão principal não tinha muita gente, já que era sábado e a maioria dos estudantes aproveitavam para dormir mais um pouco. Rony foi obrigado por Hermione a tomar o café da manhã correndo pois ela não queria perder o treino da Grifinória, e ele saiu do salão resmungando, carregando duas rosquinhas na mão. Não demorou muito e chegaram no campo de quadribol. Não estava muito cheio, então sentaram-se ao lado de Colin Creevey, o primeiranista fã de Harry, que já estava com a câmera fotográfica nas mãos.

— Já terminou o treino? — Rony perguntou a Colin.

— Ainda nem começou. — Respondeu cansado, ajeitando a alça da câmera no pescoço — Estou há um tempão esperando, mas eles não saem nunca do vestiário. Talvez hoje não haja treino, o capitão deve apenas passar os comandos e coordenadas para numa próxima vez começar a voar de verdade.

— Tá vendo, Mione. Eu podia ter comido mais! — Rony exclamou com raiva, olhando para as rosquinhas sem graça que tinha conseguido trazer.

— Você já havia comido o suficiente, sabe disso. — ela deu ombros, pegando uma das rosquinhas da mão de Rony.

— Onde já se viu? — ele reclamou, tentando pegar de volta, mas ela virou o corpo, abocanhando tudo de uma vez. Rony limitou-se a bufar. — Quer opinar na quantidade de comida que eu quero comer e ainda rouba o que me restou do café da manhã.

— Tava boa. — Ela comentou, lambendo o açúcar dos dedos — Podia ter trazido mais.

— Mas que cara de pau... — ele bufou. Olhou a rosquinha que tinha na mão e olhou de volta para ela, então esticou a mão, parando o doce na frente de seu nariz — Toma, pode comer. Não gosto disso mesmo.

Ela virou-se para ele, abismada.

— Quanta gentileza à essa hora da manhã. — Comentou — Obrigada.

Não gostava de compartilhar comida desse jeito. Comida é algo sagrado, já dizia sua mãe. Mas ela pareceu feliz com a rosquinha, não custava nada.

— Posso tirar uma foto de vocês dois?

A pergunta repentina de Colin pegou tanto Rony quanto Hermione, que terminava de mastigar, de surpresa.

— Uma foto nossa? — Hermione perguntou sem jeito — Eu não gosto muito de fotos.

— É só uma foto — Colin falou virando a câmera para os dois — Vocês são os melhores amigos de Harry Potter, quero ter uma foto de vocês também. — ele parou para pensar — Se bem que seria melhor tirar uma de vocês com ele... bem, não custa ter uma para garantir. Vamos, virem para cá e sorriam.

Rony e Hermione se entreolharam sem jeito e sentaram-se mais próximos um do outro, e Colin pôs-se na frente dos dois.

— Vamos lá, abrace ela — Colin bradou — Vocês estão juntos ou não?

Rony e Hermione se afastaram depressa.

— Estamos o que? — Rony falou sentindo suas orelhas queimarem — De onde você tirou isso?

— Não somos um casal, Colin — Hermione exclamou, vermelha — Somos apenas amigos. Aliás temos só um ano a mais que você, somos novos pra isso!

Colin pareceu profundamente envergonhado.

— Sinto muito, é que vocês estão sempre juntos... e ainda teve essa conversa sobre a quantidade de comida que você o deixa comer e ele deu a parte dele pra você, isso lembrou como minha mãe manda no meu pai...

— Estamos sempre juntos porque somos amigos. Aliás, estamos sempre em trio, porque o Harry está sempre conosco. E eu não mando no Rony! — Hermione se defendeu — Eu só falei para não demorar no café da manhã e... — ela virou-se para Rony, nervosa — Eu não mando em você, não é?

— Bem as vezes você manda... — Rony comentou pensativo — Mas você manda no Harry também! — acrescentou, mas não adiantou, pois ela corou ainda mais.

— Eu não mando! Eu...— Ela ficou calada por alguns segundos, certamente tentando achar algum argumento bom o suficiente, mas não havia como negar, ela era mandona e tanto ele quanto Harry obedeciam a tudo que ela dizia. Porém, se não fosse assim, provavelmente os dois se meteriam em muito mais encrencas do que se metem normalmente.

— Argh! Esquece. — Ela deu-se por vencida — Vamos lá, Colin, tire logo essa foto!

Hermione sentou-se próximo à Rony novamente. Muito sem jeito, ele passou o braço pelo pescoço da menina. Colin ajeitou a câmera e um flash muito forte estourou em seus olhos.

— Já aprendi a revelar as fotos do modo certo para se mexerem, vejam! — Ele puxou do bolso uma foto de Harry com o professor Lockhart, onde o professor puxava um Harry muito emburrado para tirar a foto. — Quando revelar darei uma cópia a vocês.

— Vou adorar! — Hermione falou paciente.

Momentos depois os jogadores começaram a sair de dentro do vestiário, cada um com sua vassoura na mão. Todos, com exceção de Olívio Wood, o capitão do time de quadribol, estavam exaustos e mortos de sono.

— Vocês ainda não acabaram? — Rony gritou para Harry.

— Nem começamos, Wood esteve ensinando novas jogadas ao time. — Harry respondeu desanimado.

O garoto deu impulso na vassoura e saiu voando seguindo Fred e Jorge, com quem começou apostar corrida. Colin Creevey entrou em transe no momento em que Harry apareceu. O garoto tirava fotos de Harry freneticamente, se pendurando na grade das arquibancadas, berrando para Harry olhar para a câmera. Os outros jogadores olhavam de cara feia e faziam comentários. Harry franzia o cenho, aborrecido, o tempo todo, mas fingia não notar o primeiranista lá em baixo.

— Acho que você está atrapalhando um pouco, sabe... — Hermione comentou.

— Que nada! — Colin falou, debruçado na grade — Eles nem notaram que eu estou aqui.

— Pode crer que notaram! — Rony puxou Colin de volta para as arquibancadas — Você já tem muitas fotos, por que você não para e assiste o treino como uma pessoa normal.

Colin cruzou os braços, irritado. Rony ia explicar a ele o porquê de não ficar fazendo alvoroço por ali quando recebeu um cutucão de Hermione.

— Rony olha! — exclamou.

Vários alunos de verde entravam no campo com suas vassouras, ignorando solenemente o fato da Grifinória já estar em campo treinando. Marcus Flint, o capitão da Sonserina, um cara grandão e corpulento, estava à frente do time, rumando para o centro do campo.

Olívio Wood desceu como uma flecha na direção de Flint, seguido pelos gêmeos e por Harry. Olívio também não era nada pequeno e parou a poucos centímetros do capitão da Sonserina, encarando-o, mas Marcus não pareceu nem um pouco intimidado.

— O que está acontecendo? — Colin perguntou

— Também quero saber...

Rony tomou a câmera de Colin e usou a lente como binóculo para tentar ver melhor. Todos os jogadores da Grifinória haviam descido, ficando cara a cara com o time da Sonserina. Porém de tudo que achou que veria, a última coisa estava lá no meio, vestido com o uniforme do time, com um sorriso desdenhoso no rosto.

— É o Malfoy! — Rony bradou — Malfoy está lá no campo! Eu vou até lá.

— Rony, não podemos entrar no campo, você sabe disso! — Hermione falou

— Então fica aí, eu estou descendo!

Rony apressou-se para as escadas. Sem surpresa, Hermione o seguiu. Atravessaram o campo como um foguete, juntando-se ao time da Grifinória.

— Que é que está havendo? —Rony perguntou a Harry. — Por que vocês não estão jogando? E que é que ele está fazendo aqui?

Rony encarou Draco, e o sorriso do Sonserino aumentou.

— Sou o novo apanhador da Sonserina, Weasley — Draco falou presunçoso. — O pessoal aqui está admirando as vassouras que meu pai comprou para o nosso time.

Rony então reparou que não só Draco, mas todo o time da Sonserina portavam a nova vassoura Nimbus 2001, a vassoura mais rápida, usada pelos melhores times de Quadribol do mundo. Era de uma linha nova, sua potência era incomparável com qualquer outra vassoura no mercado. Nem mesmo a Nimbus 2000 de Harry era páreo para elas.

— Boas, não são? — perguntou Draco a Rony com a voz macia que usava quando queria machucar — Mas quem sabe o time da Grifinória pode levantar um ourinho e comprar vassouras novas também? Você podia fazer uma rifa dessas Cleansweep 5; imagino que um museu talvez queira comprá-las.

O time da Sonserina dava gargalhadas.

— Pelo menos ninguém do time da Grifinória teve de pagar para entrar — disse Hermione com desdém. — Entraram por puro talento.

Rony não conseguiu esconder o sorriso enorme que deu na mesma hora, Hermione era mestra em ferir com palavras. Draco ficou profundamente ofendido.

— Ninguém pediu sua opinião, sua sujeitinha de sangue ruim. — xingou ele.

Rony ficou tão perplexo com que ouviu que nem reagiu do jeito que deveria: metendo-lhe um soco na cara. Ninguém xingava uma pessoa daquela maneira, era desrespeitoso, imoral, nunca pensou que mesmo um idiota como Draco teria coragem de ir tão baixo. Fred e Jorge mergulharam na direção de Draco e Flint teve que mergulhar na frente de Draco para impedir os dois o esbofeteassem. Alicia Spinett, uma das artilheiras do time da Grifinória, gritou com voz aguda:

— Como é que você se atreve!

Rony mergulhou a mão nas vestes, puxou a varinha e gritou:

— Você vai me pagar! — e apontou a varinha, furioso, para a cara de Draco, por baixo do braço de Flint.

Porém a raiva não deixou que pensasse direito. Não no feitiço certo, o feitiço era perfeito para dar a ele a mesma humilhação que havia feito Hermione passar, mas sua varinha estava quebrada e quase inútil, não deveria usá-la. Houve um estrondo forte que ecoou por todo o estádio, e uma luz verde saiu pelo lado oposto da varinha, atingindo-o na barriga com força e atirando-o de costas na grama.

Rony sentiu um enjôo fora do comum e uma vontade enorme de vomitar todo o café da manhã. Hermione correu até ele.

— Rony! Rony! Você está bem? — gritou ela.

Mas o enjôo ficou insuportável, e antes que pudesse responder a pergunta de Hermione, soltou um grande arroto e várias lesmas caíram em sua roupa.

O time da Sonserina ficou paralisado de tanto rir. Flint, dobrado pela cintura, tentava se apoiar na vassoura nova. Draco caíra de quatro, dando murros no chão. Rony não conseguia parar de vomitar lesmas para todo lado, não tinha como controlar, e isso era desesperador. Os alunos da Grifinória agrupavam-se a seu redor, mas cada vez que alguém se curvava para tentar ajudar, ele vomitava mais lesmas. Era nojento, e ele não podia culpa-los por se afastarem.

— É melhor levarmos o Rony para a casa de Hagrid, é mais perto — Harry falou a Hermione, e os dois, sem se importar com a nojeira, levantaram um Rony mole e totalmente humilhado pelos braços.

— Que aconteceu, Harry? Que aconteceu? Ele está doente? Mas você pode curá-lo, não pode? — Rony ouviu a voz esganiçada de Colin Creevey, nem havia percebido que o garoto também foi para o campo. Rony deu um enorme suspiro e mais lesmas rolaram pelo seu peito.

— Uaaau, — exclamou Colin, fascinado, erguendo a máquina fotográfica. — Pode manter ele parado, Harry?

— Sai da frente, Colin! — Harry gritou com raiva.

Ele e Mione carregaram Rony para fora do estádio e atravessaram os jardins em direção à orla da floresta. O caminho inteiro foi marcado pelos rastros de lesma que Rony veio deixando até o local. Que vergonha estava sentindo, já não bastava ser ridicularizado por ser pobre, ainda precisava dar de graça mais um motivo para rirem de si. Estava se sentindo mal em todos os sentidos: pela humilhação e por vomitar tantas vezes seguidas; se sentia tão mole e enjoado que se seus amigos o soltassem, ele não seria capaz de levantar. Já estavam quase à porta de Hagrid quando Harry saiu empurrando Rony e Hermione para trás de uma moita. Rony esticou o pescoço para ver o que houve: O professor Lockhart saía da cabana acompanhado por um mal humorado Hagrid.

— É muito simples se você sabe o que está fazendo! — Lockhart dizia em voz alta ao meio gigante. — Se precisar de ajuda, você sabe onde estou! Vou lhe dar uma cópia do meu livro. Estou surpreso que ainda não o tenha comprado: vou autografar um exemplar hoje à noite e mandar para você. Bom, adeus. — E saiu em direção ao castelo.

Assim que Lockhart desapareceu de vista, Rony foi puxado novamente por Harry para fora da moita. Harry bateu na porta desesperado, com medo do professor voltar.

Hagrid abriu na mesma hora, parecendo muito rabugento, mas seu rosto se iluminou quando viu quem era.

— Estive pensando quando é que vocês viriam me ver, entrem, entrem, achei que podia ser o Profº. Lockhart outra vez...

Rony entrou amparado por Harry e Hermione no casebre de Hagrid, sendo recebidos pelo alegre Canino, o enorme cão de caçar javalis de Hagrid, que pelo jeito também sentiu falta dos garotos.

Rony devia estar com uma cara horrível, pois quando Hagrid o olhou tomou um susto.

— O que houve com Rony?

— Longa história... — Harry o acomodou em uma das enormes cadeiras de Hagrid — Você tem alguma bacia?

O meio-gigante foi pegar a bacia para Rony enquanto Harry explicava resumidamente o que aconteceu. Ele não pareceu nem um pouco perturbado com as lesmas que Rony vomitava, e posicionou a bacia aos pés do garoto.

— Melhor para fora do que para dentro — disse animado. — Ponha todas para fora, Rony.

— Acho que não há nada a fazer exceto esperar que a coisa passe — disse Mione ansiosa — É um feitiço difícil de fazer em condições ideais, ainda mais com uma varinha quebrada...

Um feitiço difícil que Rony conseguiu fazer e com louvor, diga-se de passagem. Uma pena que tenha virado contra ele.

— Que é que Lockhart queria com você, Hagrid? — perguntou Harry.

— Estava me dando conselhos para manter um poço livre de algas — rosnou Hagrid, tirando um galo meio depenado de cima da mesa bem esfregada e pousando nela o bule de chá. — Como se eu não soubesse. E ainda contou vantagem sobre um espírito agourento que ele espantou. Se uma única palavra do que disse for verdade eu como a minha chaleira.

No geral Hagrid era um homem pacífico e nunca criticava os professores de Hogwarts, nem mesmo Snape. Se estava falando daquela maneira, é porque compartilhava o sentimento de Rony e Harry pelo professor: era uma mentira. Já Mione não concordava com isso.

— Acho que você está sendo injusto. É óbvio que o Professor Dumbledore achou que ele era o melhor candidato para a vaga...

— Ele era o único candidato — disse Hagrid, oferecendo-lhes um prato de quadradinhos de chocolate, mas ver o chocolate fez com que Rony vomitasse mais lesmas. — E quero dizer o único mesmo. Está ficando muito difícil encontrar alguém para ensinar Defesa Contra as Artes das Trevas. As pessoas não andam muito animadas para assumir esta função. Estão começando a achar que está enfeitiçada. Nos últimos anos ninguém ficou mais que um ano. Agora me contem — disse Hagrid. — Quem é que ele estava tentando enfeitiçar?

Rony tentou começar a contar, mas acabou vomitando lesmas assim que abriu a boca. Visto que não estava em condições, Harry começou a contar. — Malfoy chamou Mione de alguma coisa, deve ter sido muito ruim porque ele e todo mundo ficou furioso.

— Foi ruim! — Rony falou com dificuldade, sua voz saiu rouca e mole. — Malfoy chamou Mione de sangue ruim, Hagrid...

Mas não conseguiu terminar de falar, pois vomitou mais uma enxurrada de lesmas.

— Ele não fez isso! — disse Hagrid, abismado.

— Fez sim! — confirmou Mione. — Mas eu não sei o que significa. Percebi que era uma grosseria muito grande...

É claro, por isso ela não se importou e nem Harry. Eram trouxas, não conheciam o termo. Com dificuldade e tentando controlar-se ao máximo para não tornar a vomitar, pôs-se a explicar:

— É praticamente a coisa mais ofensiva que ele podia dizer — ofegou Rony falou com dificuldade. — Sangue ruim é o pior xingamento para alguém que nasceu trouxa, sabe, que não tem pais bruxos. Existem uns bruxos, como os da família de Malfoy, que se acham melhores do que todo mundo porque têm o que as pessoas chamam de sangue puro. — Ele deu um pequeno arroto, e uma única lesma caiu em sua mão estendida. Atirou à bacia e continuou: — Quero dizer, nós sabemos que isso não faz a menor diferença. Olha só o Neville Longbottom, ele tem sangue puro e sequer consegue pôr um caldeirão em pé do lado certo.

— E ainda não inventaram um feitiço que a nossa Mione não saiba fazer — disse Hagrid orgulhoso, fazendo Mione corar.

— É uma coisa revoltante chamar alguém de...— a sensação de vômito veio, mas passou. — sangue sujo, sabe. Sangue ruim. É ridículo. A maioria dos bruxos hoje em dia é mestiça. Se não tivéssemos casado com trouxas teríamos desaparecido da terra.

A sensação voltou, mas dessa vez era verdadeira, e mais lesmas rolaram para a bacia.

— Bem, não posso censurá-lo por querer enfeitiçar Draco — disse Hagrid alto para encobrir o barulho das lesmas que caíam na bacia. — Mas talvez tenha sido bom a sua varinha ter errado. Acho que Lúcio Malfoy viria na mesma hora à escola se você tivesse enfeitiçado o filho dele. Pelo menos você não se meteu em apuros.

Se Rony não estivesse vomitando naquele momento, olharia de cara feia para Hagrid. Como não teria se metido em apuros? Como se vomitar lesmas já não fosse apuro o bastante.

— Harry — disse Hagrid abruptamente como se tivesse lhe ocorrido um pensamento repentino. — Tenho uma reclamação sobre você. Ouvi falar que andou distribuindo fotos autografadas. Como é que não ganhei nenhuma?

— Não andei distribuindo fotos autografadas — Harry rosnou — Se Lockhart continua a espalhar este boato...

Mas Hagrid começou a rir abertamente.

— Só estou brincando — disse — Eu sabia que não tinha dado. Eu disse a Lockhart que você não precisava fazer isso. Você é mais famoso do que ele sem fazer a menor força.

— Aposto como ele não gostou disso — comentou Harry feliz.

— Acho que não — respondeu Hagrid. — E então falei que nunca tinha lido um livro dele e ele resolveu ir embora.

Pelo menos Hagrid colocou Lockhart no lugar dele.

Se comparado com a hora que foi enfeitiçado, o enjoo tinha diminuído um pouco e o intervalo entre os vômitos estava maior. Rony levantou a cabeça e encontrou um enorme prato esticado na frente do seu nariz.

— Quadradinhos de chocolate, Rony?

— Não, obrigado — Falou quase sem forças — É melhor não.

— Venham ver o que andei plantando — convidou Hagrid quando Harry e Mione terminaram de beber o chá.

Na pequena horta nos fundos da casa havia uma dúzia de abóboras anormalmente grandes. Se não fossem de cor laranja Rony poderia jurar que eram pedras enormes que haviam colocado ali.

— Estão crescendo bem, não acha? — perguntou Hagrid alegre. — Para a Festa das Bruxas... Até lá já devem estar bem grandes.

— Que é que você está pondo na terra? — perguntou Harry.

Hagrid espiou por cima do ombro para ver se estavam sozinhos.

— Bom, tenho dado, sabe, uma ajudinha...

Claramente a ajudinha vinha de magia, mas Rony sabia que Hagrid não tinha autorização para fazer magia. Em seu terceiro ano Hagrid fora expulso de Hogwarts e teve sua varinha quebrada, mas o motivo ele não comentava sob hipótese alguma.

— Um feitiço de engorda? — perguntou Mione, num tom de quem se diverte e desaprova. — Bem, você fez um bom trabalho.

— Foi o que a sua irmãzinha disse — comentou Hagrid a Rony. — Encontrei-a ainda ontem — Hagrid olhou de esguelha para Harry, a barba mexendo. — Ela me disse que estava só dando uma olhada pelos jardins, mas eu calculo que estava na esperança de encontrar alguém na minha casa. — E piscou para Harry. — Se alguém me perguntasse, ela é uma que não recusaria uma foto...

— Ah, cala a boca — exclamou Harry ruborizado. Rony foi rir do amigo, mas no lugar da risada saíram mais lesmas.

— Cuidado! — rugiu Hagrid, puxando Rony para longe das suas abóboras.

Ficaram com Hagrid até quase a hora do almoço. A essa hora o enjôo de Rony já era quase inexistente e as lesmas já haviam cessado. Voltaram correndo e felizes para o salão principal, onde só haviam colocado um pé quando uma voz surgiu atrás deles.

— Aí estão vocês, Potter, Weasley. — A Profª. McGonagall veio em direção a eles, com a cara séria. — Vocês dois vão cumprir suas detenções hoje à noite.

— O que nós fizemos, professora? — Rony perguntou assustado, sentindo que havia mais alguma lesminha em seu estômago querendo sair.

— Eu tenho certeza que o senhor ainda lembra do que fez de errado no início do ano. — Mcgonagall falou entre os dentes. O carro voador, claro. — Você vai polir as pratas na sala de troféus com o Sr. Filch. E nada de magia, Weasley, no braço.

Rony sentiu um arrepio na espinha. Algo Filch, o zelador, era o cara mais estranho, assustador, asqueroso e odiado de toda a escola. Vivia de mal humor e louco para punir fisicamente alunos infratores. Sozinho e sem varinha, Rony estaria sujeito a qualquer coisa.

— E você, Potter, vai ajudar o Profº. Lockhart a responder as cartas dos fãs.

Os olhos de Harry se arregalaram, assustado.

— Ah, não... Professora, não posso ir também para a sala de troféus? — perguntou Harry desesperado.

— É claro que não — respondeu ela, erguendo as sobrancelhas.

Os meninos entraram curvados no Salão Principal, no pior estado de ânimo possível, Hermione atrás deles sorria vitoriosa. Rony, que já não estava com uma fome tão grande, perdeu o pouco de fome que restava e apenas brincava com a enorme coxa de frango em seu prato.

— Filch vai me prender lá a noite inteira — disse deprimido. — Nada de magia! Deve ter milhares de taças naquela sala. Não entendo nada de limpeza de trouxas.

— Eu trocaria com você numa boa — disse Harry num desanimado. — Treinei um bocado com os Dursley. Responder as cartas dos fãs de Lockhart... Ele vai ser um pesadelo...

A tarde de sábado passou tão rápido que Rony teve a impressão que só piscara e já era cinco para as oito. Saiu desanimado, andando devagar até a sala de troféus, que ficava no terceiro andar.

A sala já estava aberta e Rony entrou. Nunca parou para reparar naquele aposento, aliás, nem se lembrava de ter ido lá alguma vez. Era enorme, com troféus de todos os tamanhos e formatos, por diversos feitos diferentes. Havia taças de torneios tribruxos, torneios interescolares de quadribol, taças de casas, clube de duelos, feitiços, herbologia... Rony se perdeu no meio de tantas coisas interessantes, quando um sibilar chamou sua atenção. Madame Norrra o fitava com seus olhos vermelhos vidrados em seu rosto.

— O que é? Gata estranha...

— É melhor demonstrar mais respeito à minha gata, garoto!

Filch estava parado atrás de Rony, segurando uma luminária velha. Sob a fraca luz, sua pele macilenta parecia mais assustadora e seu rosto mais carrancudo que nunca, embora, apesar da aparência, parecia levemente feliz por estar castigando alguém.

Na outra mão, Filch carregava um grande balde com diversos produtos de limpeza, panos e esponjas. O zelador se arrastou até Rony e empurrou tudo em seu peito.

— Pode começar, garoto. Tem uns três mil troféus nessa sala para você limpar e lustrar.

— Espera, você quer que eu lustre todos eles?

— Sim. — Filch falou com a voz arrastada — E considere-se com sorte. Antigamente, castigávamos os alunos prendendo-os pelos pés com correntes, amarrávamos os infratores a uma árvore na floresta proibida durante a noite... — o zelador olhou para cima, sonhador — Bons tempos aqueles, onde a disciplina era devidamente aplicada.

Rony girou os olhos. Nenhum diretor de Hogwarts permitiria essas coisas, isso não passava do sonho insano de um zelador velho e estranho.

Muito desgostoso, Rony começou a limpar e lustrar os troféus, começando pelos menores. Apesar do grande número a tarefa não era tão difícil e já estava até pegando o jeito, se não fosse por Filch.

O zelador mandava que lustrasse cada taça várias vezes, mesmo que já estivesse brilhando. Em um acesso de fúria contida, já que não podia fazer nada contra o zelador, Rony teve um ataque de vômito de lesmas em cima da taça de Tom Riddle, uma taça velha e enorme dada por serviços prestados à escola, e teve que limpá-la por longos minutos até conseguir tirar todas as lesmas de dentro.

Já era quase uma da manhã quando finalmente pôde voltar ao dormitório, com os braços doendo, as costas estalando e uma forte dor de cabeça causada pelo cheiro do produto para lustrar. Naquele momento tudo que queria era dormir até tarde no dia seguinte.

Entrou de fininho no dormitório para não acordar Neville, Dino, Simas e Harry, que já deveriam estar dormindo. Para sua surpresa, a cortina de Harry ainda estava aberta e o garoto estava acordado, parecendo ansioso. Também pudera, passar a noite com aquele cara chato...

Rony se jogou na cama com força.

— Os meus músculos estão todos travados— comentou desanimado em voz baixa para não acordar os outros e contou em poucas palavras como foi sua detenção — ... Então tive que limpar todas as lesmas. E como foi com Lockhart?

Harry parecia estar esperando por essa pergunta o tempo todo, pois levantou-se depressa e sentou na beirada da cama.

— A detenção não foi tão ruim, só tinha que ajudá-lo a responder as cartas dos fãs. — falou baixinho — Ruim era ter de aguentá-lo o tempo todo se vangloriando por ser famoso e poderoso, o que eu acho que a maior parte é exagero.

— Eu acho mesmo é que a maior parte é mentira — Rony riu.

Harry hesitou um pouco e continuou.

— Depois de um tempo respondendo às cartas, comecei a ouvir uma voz, uma voz arrastada e maléfica que dizia "Venha... Venha para mim... Me deixe rasgá-lo... Me deixe rompê-lo... Me deixe matá-lo..."; Porém quando perguntei, Lockhart disse não ter ouvido nada. E não houve barulho de porta batendo nem de passos, só a voz.

Rony franziu o cenho. A voz de alguém fazendo ameaças à esmo não era algo comum, não mesmo. Harry coçou a cabeça nervoso.

— A voz era nítida, Rony. Mesmo que estivesse meio longe era nítida e assustadora.

— E Lockhart disse que não estava ouvindo nada? — perguntou Rony e Harry assentiu nervoso. — Você acha que ele estava mentindo? Mas não entendo, mesmo alguém invisível teria tido que abrir a porta. 

— Eu sei — disse Harry, recostando-se na cama desanimado. — Eu também não entendo.

Havia uma série de possíveis donos da tal voz misteriosa; fantasmas, Pirraça, algum artefato novo da Zonko's... Rony poderia apresentar uma longa lista para Harry não ficar pensando nesse assunto, mas estava com sono e queria dormir, não conversar sobre vozes de pessoas invisíveis.

— Talvez você estivesse cansado... — Rony sugeriu para tentar acalmá-lo. — Se for alguma coisa séria, vai voltar a aparecer.

— É, você tem razão. Talvez eu tenha ouvido coisas por estar cansado. — Harry falou se ajeitando na cama. — Acredito que não ouvirei mais nada. Boa noite.

Rony, a exemplo de Harry, deixou o assunto de lado, assim como as lembranças da terrível detenção e logo pegou no sono.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado. Deixem comentários pra alegrar meu coração. ❤❤



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