Rony Weasley e a Câmara Secreta escrita por biapurceno


Capítulo 15
Aragogue


Notas iniciais do capítulo

Oieee!!


esse capítulo em especial me deu um pouco de trabalho de escrever, retratar o que o Rony viveu na floresta pelo ponto de vista dele, que tem aracnofobia, não foi fácil, mas me esforcei. Espero que gostem!

Boa leitura!



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Os dias se passaram e o verão chegou de mansinho, trazendo com ele um lindo céu azul que se refletia no lago. A lula gigante nadava alegremente, e belas plantas mágicas deram o ar da graça nas estufas. Tudo isso seria ótimo não fosse o mal estar em que os alunos se encontravam com os últimos acontecimentos. Com a saída de Dumbledore, todos estavam com medo e a segurança havia sido reforçada de um modo que Rony nunca vira antes. Nem mesmo ao banheiro eles podiam ir sozinhos: formavam grupos e iam sempre acompanhados de professores ou monitores. Os corredores do castelo eram vigiados dia e noite, não havia um só momento em que ficavam desprotegidos; até mesmo pessoas que trabalhavam no ministério junto com seu pai ele havia visto.

Porém para Rony nada do que estava acontecendo era pior do que a ausência de Hermione. Não ter sua melhor amiga por perto era mais dolorido do que Rony jamais imaginou. O passar dos dias em nada diminuiu a culpa que sentia por tê-la deixado sozinha e ido para o jogo. Não chegou a quinze minutos entre o momento que foi à biblioteca e o que foi para o campo de quadribol. Já tinha repassado isso em sua cabeça tantas vezes que já estava ficando obcecado. Era impossível não pensar que poderia ter evitado, quem estava fazendo os ataques só visavam nascidos trouxas, sua presença poderia tê-lo inibido. Para amenizar a falta que Mione fazia, Rony e Harry tentaram visitá-la, mas as visitas haviam sido proibidas. Madame Pomfrey dizia que havia risco de que as pessoas que petrificaram os alunos poderiam voltar e terminar o que começaram.

 Ainda havia Hagrid. O guarda-caça havia sido preso, acusado de ser o responsável pelos ataques, e a única coisa que disse foi para procurar as aranhas. Procurar aranhas?! Se havia algo nessa vida que Rony não queria procurar eram aranhas. Por vezes cruzou com centenas delas correndo juntas para fora do castelo. Mas como iriam segui-las? O castelo estava fortemente vigiado, e no fundo, mesmo sabendo que as aranhas poderiam ser a chave para todas as respostas que precisavam, preferia não encontra-las. Por que aranhas? Não podiam ser borboletas? Se bem que era por Hermione, por ela, ele enfrentaria seu medo.

Apesar do clima tenso, havia uma pessoa em particular que parecia estar amando tudo aquilo: Draco Malfoy. O sonserino andava o tempo inteiro se exibindo, como se tivesse acabado de se tornar monitor. Em uma aula de poções em particular, Draco finalmente falou o porquê de tanta alegria. Sentado próximo dos meninos com Crabbe e Goyle, Rony conseguiu ouvi-lo se vangloriando:

— Eu sempre achei que meu pai era a pessoa que iria se livrar de Dumbledore — disse alto o suficiente para que todos o ouvissem. — Falei com vocês que ele achava que Dumbledore era o pior diretor que a escola já tinha tido. Talvez a gente tenha um diretor decente agora. Alguém que não queira manter a Câmara Secreta fechada. McGonagall não vai durar muito tempo, ela só está substituindo...

Snape passou por Rony, olhou a cadeira vazia a seu lado, onde Hermione estaria sentada, e passou direto sem fazer nenhum comentário.

— Professor — Draco chamou Snape, que voltou. — Professor, por que é que o senhor não se candidata ao lugar de diretor?

— Vamos, Malfoy — respondeu Snape, ao mesmo tempo em que um sorrisinho convencido brotava em seus lábios. — O Profº. Dumbledore foi apenas suspenso pelo Conselho. Quero crer que estará de volta conosco logo, logo.

— É claro — disse Draco, debochado. — Acho que o senhor teria o voto do meu pai, professor, se quisesse se candidatar, vou dizer ao meu pai que o senhor é o melhor professor que temos, professor...

Snape sorriu enquanto andava pela masmorra, felizmente sem ter visto que Simas Finnigan fingia vomitar no caldeirão.

— Fico surpreso que os sangues-ruins não tenham feito as malas — continuou Draco. — Aposto cinco galeões que o próximo vai morrer. Pena que não tenha sido a Granger…

Se não fosse pela sineta indicando o fim da aula e pelo bom reflexo de Harry e Dino que o seguraram na hora, Rony teria socado aquela cara pálida antes que terminasse de pronunciar o nome de sua amiga. Quem era ele? Como se atrevia a falar dela daquela maneira?

— Me deixe pegar ele — rosnou, tentando se desvencilhar dos outros dois, que o mantinham seguro pelos braços — Nem estou ligando, não preciso da minha varinha, vou matar ele com as minhas mãos...

— Você vai ser é expulso, fica calmo! — Harry bradou.

— Ele falou alto para você ouvir e ficar nervoso, Rony. Não cai na pilha dele. — advertiu Dino.

Mas o ruivo não queria saber, a raiva já tinha o consumido de tal forma que Harry e Dino seguiram segurando Rony enquanto seguiam na fila que o professor Snape liderava para a aula de Herbologia, e só o soltaram do lado de fora do castelo, quando parou de se debater. Rony só estava somando: mais cedo ou mais tarde iria descontar toda aquela arrogância afundando o nariz de Draco no próprio rosto.

A aula de Herbologia até que foi tranquila, mas parece que sem Hermione tentando ser a melhor em tudo as aulas não tinham muita graça. Na verdade, nada tinha graça. Os deveres de casa pareciam duas vezes mais difíceis sem ela pra dizer que ele estava fazendo tudo errado e mandar refazer, as horas de descanso não tinham o mesmo clima sem ela para puxar os assuntos, até mesmo seu mau humor, que Rony e Harry faziam piada quando ela não estava prestando atenção, fazia falta. A Profª. Sprout mandou todos podarem Figueiras Cáusticas da Abissínia, em dupla, e ele cumpria o dever, entediado.

— Você cortou torto. — Rony corrigiu Harry pela centésima vez — Se Mione tivesse aqui ela ia cortar logo abaixo para acertar o corte, pois assim a próxima muda nasceria mais saudável.

Harry rolou os olhos, impaciente.

— Se você sabe o que fazer, então faça você! — Harry mandou, entregando a tesoura a Rony. — Deixa que eu vou jogar esses galhos fora.

O ruivo começou a corrigir os cortes que Harry tinha feito incorretamente, e um tempo depois Harry retornou ao seu lugar, trazendo consigo Ernesto Macmillan e Ana Abbot, ambos da Lufa-Lufa. Rony fitou o amigo, confuso. Até poucos dias atrás Ernesto acusava Harry de ser autor dos ataques e dizia aos quatro ventos que não seria mais seu amigo. Agora aparecia como se nada tivesse acontecido.

Harry aproximou o rosto do ouvido de Rony, aproveitando que Ernesto e Ana estavam distraídos.

— Eles me pediram desculpas. — cochichou — Ernesto disse que agora acredita em mim pois sabe que eu jamais atacaria Mione.

— Agora acredita? Que idiota! — Rony cochichou de volta.

Harry deu ombros. Seu amigo era bonzinho demais, não era pra perdoar tão rápido assim; tinha que deixa-lo viver um pouco mais com a culpa de tê-lo acusado injustamente.

— Aquele tal de Draco Malfoy — disse Ernesto quebrando galhinhos secos — parece muito satisfeito com tudo isso, não é? Sabe, eu acho que ele bem poderia ser o herdeiro de Slytherin.

— Você é tão inteligente! — debochou Rony. Harry podia perdoá-lo fácil, ele não.

— Você acha que foi Malfoy, Harry? — perguntou o Lufano.

— Não — respondeu Harry com tanta firmeza que Ernesto e Ana arregalaram os olhos.

— Não acha? — Ana perguntou — Eu tenho quase certeza disso. Ele tem um modo de agir suspeito...

— Draco é burro demais pra arquitetar ataques tão bem executados como esses. — disse Rony, ácido.

Os quatro continuaram a trabalhar em silêncio. Rony ia adubar a terra com cascas de batatas quando quase teve sua mão furada por Harry, que bateu com a ponta da tesoura sem dó.

— Ai! — puxou a mão com pressa — O que é que...

Mas Harry estava com a boca aberta e pálido, e apontava o mais disfarçadamente possível para a janela. Rony acompanhou com os olhos, e foi inevitável gemer, assustado, sentindo um arrepio na espinha: Várias aranhas grandes estavam andando pelo chão do lado de fora da vidraça, deslocando-se numa estranha linha reta como se tomassem o caminho mais curto para ir a um encontro combinado.

— Ah, é — Rony tentou fingir costume, mas sabia que sua cara estava entregando o medo que estava sentindo. — Mas não podemos segui-las agora...

Os cochichos chamaram a atenção de Ernesto e Ana, que viraram para onde os meninos olhavam. Ana fez cara de nojo na mesma hora, já Ernesto ficou intrigado:

— Que comportamento estranho o delas, nunca vi isso. — ele ponderou — Vejam, estão seguindo sempre em frente. Parece que estão indo para a Floresta Proibida...

E ele tinha razão, não havia outro lugar naquela direção além da floresta. Rony gemeu, nervoso. A cada minuto essa história ficava pior.

Ao fim da aula a Profª. Sprout acompanhou os alunos até a aula de Defesa Contra as Artes das Trevas. Rony e Harry deixaram-se ficar para trás para poder falar sem serem ouvidos.

— Teremos que usar a capa da invisibilidade outra vez — disse Harry a Rony. — Podemos levar Canino conosco. Ele está acostumado a entrar na floresta com Hagrid, talvez possa ajudar.

— Certo — concordou Rony, que revirava a varinha quebrada nos dedos, nervoso. — Hum... Não dizem que tem... Não dizem que tem lobisomens na floresta? — Rony perguntou, nervoso. — Lobisomens, quimeras e... aranhas. — Estremeceu.

Harry perdeu a cor por um momento, depois acrescentou:

— Mas lá também tem coisas boas. Os centauros são legais, e os unicórnios...

Rony nunca havia entrado na floresta. No ano anterior, Harry, Hermione, Neville e Draco, tiveram que entrar acompanhados de Hagrid, por conta de uma detenção. Os garotos foram punidos por sair tarde dos dormitórios na noite em que foram levar Norberto, o Dragão Norueguês que Hagrid queria criar, para os amigos de seu irmão Carlinhos leva-lo para a Romênia. Naquela ocasião, o ruivo estava na ala hospitalar se recuperando do veneno do animal, que lhe dera uma mordida.

Rony e Harry pararam de conversar quando Lockhart entrou aos saltos na sala, e a classe ficou olhando para ele. Todos os outros professores na escola pareciam mais sérios do que o normal por conta dos acontecimentos. Mas Lockhart continuava com seu habitual sorriso, animado como nunca.

— Vamos, garotos — exclamou — Por que essas caras tristes?

Rony revirou os olhos. Sua melhor amiga estava petrificada junto com outros tantos alunos. Qual é o problema desse cara?

— Vocês não percebem — disse Lockhart, falando lentamente, como se todos fossem crianças de cinco anos — que o perigo passou! O culpado foi levado embora.

— Quem disse? — perguntou Dino em voz alta.

— Meu caro rapaz, o Ministro da Magia não teria levado Hagrid se não estivesse cem por cento convencido de que era culpado.

Foi inevitável não soltar um audível rosnado.

— Ah, teria levado sim! — Rony bradou, num tom que geralmente não usaria com um professor.

— Me lisonjeia dizer que sei um tantinho mais sobre a prisão de Hagrid do que o senhor, Weasley — O professor falou num tom presunçoso.

Rony ia responder o que sabia, Harry o chutou com força por baixo da carteira, franzindo o rosto. Claramente seu amigo também estava irritado com Lockhart, mas ele tinha razão em calá-lo. O professor era influente, discutir não adiantaria. Disfarçadamente, Harry lhe passou um bilhete: “Iremos hoje à noite”.

Lembrou-se das aranhas que viu na aula de Herbologia. Deveriam segui-las, e provavelmente na floresta haviam muito mais, talvez maiores ainda. Não seria fácil, nada fácil, dominar sua fobia, mas precisava, por Hermione. Olhou para onde ela estaria sentada, provavelmente ralhando com ele por não estar prestando atenção na aula, e sentiu seu peito encher de coragem; virou-se novamente para Harry, acenando com a cabeça. Essa noite, seguiria as aranhas.

A sala comunal da Grifinória andava sempre muito cheia ultimamente, porque a partir das seis horas os alunos da casa não podiam ir a lugar algum, e só começava a esvaziar muito tarde.

Harry foi buscar a capa da invisibilidade no malão logo depois do jantar e passou a noite sentado em cima dela, esperando a sala se esvaziar. Fred e Jorge desafiaram os meninos para umas partidas de snap explosivo, e eles aceitaram de bom grado. Se teriam que esperar, que fosse de forma divertida. Gina se sentou para assisti-los muito quieta na cadeira que Hermione geralmente usava. Ela andava muito cabisbaixa por conta dos ataques, ter experiências tão ruins logo no primeiro ano não fez bem à sua irmã. Rony e Harry perdiam todas as partidas de propósito, tentando terminar o jogo depressa, mas mesmo assim, já era mais de meia-noite quando Fred, Jorge e Gina finalmente foram se deitar.

Quando finalmente o único som aparente foi o crepitar da lareira, os garotos vestiram a capa de invisibilidade e correram para fora.

Por alguns momentos Rony achou que seriam pegos por conta da quantidade de professores que transitavam pelos corredores. Levaram quase o dobro do tempo que normalmente levariam, e quando finalmente saíram porta à fora, coisa que tiveram trabalho pois a porta não podia ranger ao abrir, suspiraram aliviados. Correram depressa em direção à cabana de Hagrid, olhando por todos os lados à procura das aranhas pelo gramado.

— Sabe, — disse Rony abruptamente quando atravessavam o gramado — podemos chegar na floresta e descobrir que não há nada para seguir. Aquelas aranhas talvez nem estivessem indo para lá. Sei que parecia que se deslocavam naquela direção geral, mas...

Sua voz morreu no momento em que chegaram na cabana de Hagrid, onde viu as centenas de aranhas correndo juntas floresta à dentro. O arrepio na espinha foi inevitável, e quase recuou por impulso.

É por Hermione, É por Hermione.

Harry se precipitou, abrindo a porta da cabana e liberando para sair um Canino muito animado de vê-los. O cão correu em volta deles enquanto Harry deixava sua capa em cima da mesa da cabana.

— Vamos, Canino, vamos dar um passeio — disse Harry dando palmadinhas na perna, e Canino saiu de casa dando saltos de felicidade atrás deles, correu para a orla da floresta e levantou a perna contra uma árvore.

Harry puxou a varinha, murmurou "Lumos!" e brilhou uma luzinha na ponta, suficiente para deixá-los ver o caminho à procura das aranhas.

— Bem pensado — disse Rony, pondo a mão no bolso e puxando sua própria varinha. — Eu acenderia a minha também, mas você sabe, provavelmente iria explodir ou fazer outra maluquice qualquer.

Harry bateu no ombro de Rony, apontando para a frente. Algumas aranhas remanescentes corriam para longe da luz que a varinha fazia. Chegou a hora. Não podia recuar, por maior que fosse seu medo.

— Muito bem — suspirou, tentando se conformar —. Estou pronto. Vamos.

Com um Canino extremamente animado correndo à frente, os garotos adentraram a floresta. A folhagem era densa e Rony sentia os galhos mais baixos arranhando seus braços enquanto andavam. Seguiram em frente logo atrás de Canino, que seguia o pequeno grupo de aranhas, farejando-as de perto. Rony procurava manter uma distância segura dos insetos, mas era difícil ter certeza que não haviam outras à sua volta. O lugar em que estavam ficava cada vez mais escuro, nem mesmo o céu acima conseguia enxergar. Passado cerca de vinte minutos de caminhada, as aranhas que os guiavam seguiram para um caminho oposto à pequena trilha que estavam.

Harry apontou a luz da varinha para a direção que elas foram. Ali as plantas eram ainda mais densas e de difícil acesso. De repente alguma coisa encostou-se em sua perna, e Rony deu um pulo pra frente, ao mesmo tempo que Harry pulou para trás, fazendo os dois colidirem com brusquidão. Harry virou-se para Rony, sussurrando.

— Que é que você acha? Seguimos?

A tentação à dizer “não, melhor não. Vamos voltar!” foi grande, mas Rony tinha consciência de que se queriam salvar Hagrid de Azkaban e trazer Mione de volta teriam que encarar aqueles animais asquerosos por qualquer que fosse o caminho. “Sigam as aranhas” o guarda-caças disse, era isso que deveriam fazer.

— Já chegamos até aqui — respondeu a Harry, tentando parecer confiante.

Então seguiram pelo caminho tortuoso ao qual as aranhas iam. Era difícil caminhar, seus braços e rosto já estavam arranhados e por vezes não conseguiam seguir e tinham que arrancar galhos e folhas na mão. Chegaram a perder as aranhas de vistas por alguns momentos, tendo que andar agachados para ver o chão de perto.

Foram cerca de meia hora nessa caminhada agonizante, já estava ardido com a quantidade de arranhões e já ia sugerir um descanso quando sentiram o chão descendo, e a visibilidade ficando cada vez pior.

Tentaram andar o mais silenciosamente possível, tensos pela mudança no relevo, quando de repente, Canino soltou um latido alto que ecoou por todos os lados, fazendo Rony e Harry saltarem e quase terem um ataque cardíaco.

— Que foi? — Rony perguntou, agarrando-se ao braço de Harry como se sua vida dependesse daquilo.

— Tem alguma coisa se mexendo ali adiante — sussurrou Harry, tentando livrar-se de Rony. — Escute... Parece uma coisa grande...

Eles se calaram. Pouco a frente de onde estavam, ouviram barulho de galhos partindo e folhas se mexendo. Seja lá o que estivesse vindo, certamente era grande.

Não tinham o que fazer, estavam parados no meio da Floresta Proibida com algo estranho vindo encontrar os dois. De repente, ouviram um ronco esquisito e em seguida o silêncio.

— O que acha que a coisa está fazendo? — perguntou Harry.

— Provavelmente está se preparando para nos atacar.

Os dois esperaram, tremendo, mal atrevendo a se mexer, mas nada acontecia além do silêncio absoluto.

— Você acha que foi embora? — cochichou Harry.

— Sei lá...

De repente, à direita de onde estavam, apareceu um clarão muito forte, tão forte que tiveram que proteger os olhos. Canino tentou correr, mas ficou preso entre os galhos de uma planta espinhenta e pôs-se a latir, assustado. Agora que seus olhos estavam se acostumando com a luz, Rony pôde reparar no que estava à frente deles. E para sua surpresa, não era uma criatura malvada prestes a ataca-lo, era o carro de seu pai, o Ford Anglia azul que havia se perdido na floresta no dia que chegaram. Ele estava lá, parado numa clareira, fazendo barulho.

— Harry! — gritou Rony, puxando o amigo na direção do veículo — Harry é o nosso carro!

Quando se aproximou, o carro veio em sua direção e deu leve piscadas no farol, como se fosse um cão enorme e azul fazendo festa para o dono. Rony acariciou a lataria em resposta.

— Estava aqui o tempo todo! — falou encantado, andando em volta do carro. — Olhe só para ele. A floresta fez ele virar selvagem...

As laterais estavam arranhadas e sujas de lama. Deve ter passado todos esses meses vagando pela floresta sozinho e sem rumo. Sentiu até pena do pobre carro que os trouxera para Hogwarts. Como o farol do carro estava ligado, Harry extinguiu a luz de sua varinha.

— Perdemos a pista das aranhas — ele falou, olhando em volta — Vamos ter que voltar a procurar.

Mas dessa vez Rony não estava preocupado. Tinham o carro e poderiam procurar as pistas na segurança do...

Rony não terminou o pensamento, sentindo suas pernas amolecerem e seu coração descompassar e sua respiração ficar pesada. Atrás de Harry vinham três aranhas. Mas não como as aranhas que estavam seguindo, eram aranhas imensas, do tamanho de um hipogrifo, senão maiores. Elas vinham sem pressa na direção deles, as pinças enormes para cima. Harry não as tinha visto, e Rony não tinha forças para avisar. A primeira agarrou Harry pela cintura, levantando-o do chão com facilidade. A segunda agarrou Canino, que ia tentar correr. Sabia o que vinha a seguir e mal pôde se preparar quando sentiu o aperto bruto da garra peluda da aranha imensa o levantando do chão. O pavor que sentia era tão grande que suas mãos e pernas ficaram dormentes na mesma hora. Queria gritar, queria chorar, mas não conseguia esboçar reação alguma; mal ouvia os gritos de Harry e os ganidos de Canino, mal sentia os solavancos que a aranha dava e sua cabeça batendo nos galhos à frente. Sentia que estava morrendo aos poucos enquanto seu pior pesadelo se realizava.

Mas aquilo ainda não era o pior. Depois do que pareceu uma eternidade, foi lançado com violência no chão coberto de folhas em uma clareira, um local que parecia ter sido desmatada há um tempo, onde podia ver as estrelas e a lua no céu. Rony respirou fundo algumas vezes, buscando força para reagir e tentou, com muito esforço tentou levantar, mas sentiu suas pernas cederem novamente quando vislumbrou o local. O grito que queria soltar ficou preso em sua garganta, e seus olhos lacrimejaram de pavor. Estavam no meio do ninho das aranhas, e ali havia centenas delas, talvez mais, não dava para mensurar ao certo. Iam de aranhinhas minúsculas até algumas maiores do que cavalos. Aranhas enormes peludas, pretas e prontas para atacar. Sentiu Harry se aproximar dele engatinhando, assim como Canino. Ainda bem, pois ele mesmo não teria forças para fazê-lo.

De repente, uma das aranhas à frente começou, para a surpresa de Rony, a falar.

— Aragogue! — chamou, batendo as pinças enquanto falava. — Aragogue!

E quando Rony achou que não pudesse ficar ainda pior, de trás da teia em forma de cúpula, saiu a maior aranha que já tinha visto até então. Era maior do que um filhote de elefante, suas pinças enormes e afiadas. Porém, diferente das outras, ela tinha a pelagem acinzentada e os olhos leitosos. Aquela aranha enorme era cega e provavelmente de idade avançada.

— Que é? — disse, batendo rapidamente as pinças.

— Homens — bateu em resposta a aranha que apanhara Harry.

— É Hagrid? — perguntou a aranha aproximando-se, os oito olhos leitosos movendo-se vagamente.

— Estranhos — bateu a aranha que trouxera Rony.

— Mate-os — bateu Aragogue — Eu estava dormindo...

As três aranhas que os trouxeram viraram-se ao mesmo tempo, erguendo as pinças e sibilando maldosamente. Nessa hora Rony sentiu que desmaiaria, porém o grito de Harry o despertou.

— Somos amigos de Hagrid — Gritou desesperado.

Clique, clique, clique fizeram as pinças das aranhas por toda a depressão. Mas o tal Aragogue fez um clique ainda mais alto e todos pararam.

— Hagrid nunca mandou homens à depressão antes — disse lentamente.

— Hagrid está com problemas — disse Harry num tom de voz muito agudo. — Foi por isso que viemos.

— Com problemas? — Perguntou a aranha mais velha. Se tivesse com todas as suas faculdades mentais funcionando direito, poderia jurar que ela estava preocupada. — Mas por que o mandou?

— Na escola acham que Hagrid andou fazendo uma... Uma coisa com os alunos. Levaram ele para Azkaban.

O tal Aragogue bateu as pinças furiosamente, e todas as aranhas que estavam no local repetiram o gesto. Era um pesadelo, não havia a menor possibilidade daquilo ser real.  Rony sentia seu estômago começar a lutar para devolver todo jantar que comeu mais cedo devido ao medo que sentia. Aliás, nunca ficou tão grato por ter lembrado de fazer xixi antes de sair, caso contrário certamente estaria molhado.

— Mas isso foi há anos — A aranha explicou. — Anos e anos atrás. Lembro-me muito bem. Foi por isso que o fizeram sair da escola. Acreditaram que eu era o monstro que morava na chamada Câmara Secreta. Acharam que Hagrid tinha aberto a Câmara e me libertado.

— E você... Você não veio da Câmara Secreta? — perguntou Harry.

— Eu? — Perguntou Aragogue, batendo as pinças zangado. — Eu não nasci no castelo. Vim de uma terra distante. Um viajante me deu de presente a Hagrid quando eu ainda estava no ovo. Hagrid era só um garoto, mas cuidou de mim, me escondeu num armário do castelo, me alimentou com restos da mesa. Hagrid é um bom amigo e um bom homem. Quando fui descoberto e responsabilizado pela morte da garota que foi encontrada no banheiro, ele me protegeu. Tenho vivido aqui na floresta desde então, onde Hagrid ainda me visita. Ele até me arranjou uma esposa, Mosague, e você está vendo como a nossa família cresceu, tudo graças a bondade de Hagrid...

Definitivamente a concepção de bondade para Hagrid deveria ser revista. Aranhas gigantes! Ele criava aranhas gigantes!

— Então você nunca... Nunca atacou ninguém? — Harry perguntou.

Ainda bem que Harry era forte o bastante para manter um diálogo com o animal, pois Rony continuava sentado no chão, mole, e não sabia nem se seria capaz de pronunciar alguma palavra novamente um dia.

— Nunca —  respondeu a aranha. — Teria sido o meu instinto, mas por respeito a Hagrid, eu nunca fiz mal a um ser humano. Não conheço parte alguma do castelo a não ser o armário em que cresci. A nossa espécie gosta do escuro e do silêncio...

— Mas então... Você sabe o que matou aquela garota? — perguntou Harry. — Porque a coisa que matou está de volta atacando pessoas outra vez...

No momento que Harry falou dos ataques, as aranhas se agitaram, batendo suas pinças com alvoroço. Rony encolheu-se, sentindo seu corpo tremer ainda mais.

— A coisa que mora no castelo — disse Aragogue, sombria — é um bicho que nós aranhas tememos mais do que qualquer outro. Lembro-me muito bem como supliquei a Hagrid que me deixasse ir embora, quando senti a fera rondando pela escola.

— O que é? — perguntou Harry presaroso.

As aranhas agitaram-se, aproximando-se de Rony, Harry e Canino devagar.

— Nós não falamos nisso! — disse Aragogue com rispidez. — Não mencionamos seu nome! Eu nunca disse nem a Hagrid o nome daquele temível bicho, embora ele tenha me perguntado muitas vezes.

As aranhas estavam muito agitadas, andando em torno dos garotos, como se fechassem o cerco. Precisavam sair dali o mais rápido possível. Harry levantou-se com dificuldade, erguendo Rony pelo braço no instante em que Aragogue recuava lentamente de volta para sua cúpula.

— Bem, então vamos embora — Harry anunciou nervoso, puxando Rony pelo braço para que andasse também.

— Embora? — repetiu Aragogue , parando de andar para seu esconderijo. — Acho que não...

— Mas... Mas...

— Meus filhos e minhas filhas não fazem mal a Hagrid, porque eu assim ordeno.  Mas não posso negar a eles carne fresca, quando ela entra com tanta boa vontade em nosso ninho.  Adeus, amigos de Hagrid.

As centenas de aranhas enormes vieram na direção dos dois, ferozes, batendo as pinças. Harry sacou a varinha e algum lugar dentro da mente de Rony pedia para ele fazer o mesmo com a sua quebrada, mas não tinha forças para se mover. Era o fim, não havia a possibilidade de vencerem uma luta contra tantos animais juntos. Seu pesadelo iria se concretizar: seria morto por aranhas.

Porém, como um milagre, um clarão forte iluminou todo o local em que estavam e um ronco alto de motor velho ecoou por todos os lados no momento em que o velho carro de seu pai chegou para resgata-los, abrindo as portas sozinho. Num lapso de consciência Rony agiu, agarrando Canino que gania alto e atirando-o no banco traseiro, e em seguida jogando-se no banco do motorista, onde Harry já o esperava no banco do carona. Sua mente estava uma bagunça, seus braços e pernas pareciam pesar uma tonelada. Por sorte, não precisou tomar nenhuma atitude na direção, o carro fechou as portas e acelerou sozinho, jogando várias aranhas que estavam no caminho para cima.

O carro realmente não ficou parado nesses meses que ficou pela floresta, pois pegou diversos atalhos e caminhos mais largos que com certeza já lhe eram conhecidos, mas Rony não conseguia olhar sequer para o lado afim de reconhecer esses caminhos. Tinha uma breve ideia que Canino estava lá pois ouvia ganidos, e teve a leve impressão de ouvir a voz de Harry, mas sua cabeça só registrava o pavor que sentia, repetindo em looping todo o terror que passou. Foram poucos minutos que pareceram uma eternidade que passou naquele carro até chegarem à orla da floresta. As portas se abriram sozinhas e Rony desceu do carro no automático.

Sua mente foi desanuviando bem devagar e aos poucos recuperou os sentidos. Viu de relance Harry correr na direção da cabana de Hagrid, e antes que pudesse segui-lo, sentiu seu estômago dar um salto e se não tivesse previsto o que ia acontecer não teria tido tempo de correr até uma das abóboras para se apoiar e não sujar a roupa enquanto colocava pra fora todo o seu jantar.

Aquela foi de longe a coisa mais assustadora que viveu na vida e provavelmente não viveria nada pior. Sua mente não cansava de repassar o que tinha acabado de ver, e quanto mais aranhas apareciam em sua cabeça, batendo as pinças, mais ele vomitava.

Sentiu algo encostando em si, e quase teve um ataque achando que era outra aranha, mas era Harry, com a capa de invisibilidade já nos braços. Ele apoiou Rony e o ajudou a levantar-se, preocupado. Seu amigo sabia de seu medo de aranhas, mas provavelmente não sabia da profundidade.

— Siga as aranhas — Rony murmurou, limpando a boca na manga da camisa. — Não vou perdoar o Hagrid nunca. Temos sorte de estar vivos.

— Aposto como ele pensou que Aragogue não faria mal a amigos dele. — Harry tentou defender.

Rony socou a parede da cabana, enraivecido, sentindo o sangue ferver.

— Este é exatamente o problema de Hagrid! — gritou, pontuando cada palavra com um murro na parede — Ele sempre acha que os monstros não são maus por natureza, e olhe onde é que ele foi parar! Numa cela em Azkaban! — Seu corpo tremia por inteiro e sua respiração estava ofegante. — Para que foi que ele nos mandou lá? Que foi que descobrimos? Eu gostaria de saber.

— Que Hagrid nunca abriu a Câmara Secreta, ele era inocente.

Rony bufou. Inocente onde? Ano passado Rony quase perdeu o braço porque ele achou que criar um dragão era o mesmo que criar patos. Agora quase perdeu a vida para um bando de aranhas gigantes porque achou que elas não iam fazer mal. Ele criou Aragogue dentro da escola, correndo o risco de gerar um grande acidente. O monstro que matou a menina pode não ser a aranha, mas poderia vir a ser caso ela não fosse tão leal a Hagrid, assim como o dragão que tentou criar ano passado não era.

Harry puxou Rony para que entrassem de uma vez, jogando a capa de invisibilidade em cima dos dois

Rony sequer passou recibo do caminho que fizeram até o castelo, nem mesmo percebeu quanto tempo levaram para chegar até a torre da Grifinória. Entrou calado, jogando-se em sua cama do jeito que estava, puxando as cortinas.

Sua mente continuava repassando tudo que aconteceu repetidamente, como numa tortura, e então seus olhos marejaram. Não ia conseguir segurar, então permitiu-se chorar baixinho, para não chamar a atenção de Harry, que ele sabia estar acordado. Seu amigo não entenderia o que estava sentindo, ninguém entenderia. Assim como seus irmãos, pensariam que era frescura, mas não era. O horror que viveu naquela noite foi bem real, e do fundo do coração não queria passar por aquilo novamente, Se precisasse escolher, preferia lutar mil guerras a voltar ao ninho de Aragogue. Se sua motivação maior não fosse trazer Hermione de volta talvez nem tivesse conseguido voltar. E depois de tudo, o que adiantou? Não conseguiram informação nenhuma. Não sabiam o que estava petrificando os alunos, não tinham ideia de como salvar Hermione.

Levou um tempo até conseguir se acalmar, mas mesmo depois que cessou seu choro não conseguiu dormir, estava agitado demais para isso. Não queria abrir a cortina e conversar com Harry, sabia que ele estava acordado mas não estava pronto ainda. Tentou mudar o foco de seus pensamentos, tentou encontrar uma brecha em tudo que já tinham coletado de informação, mas nada se encaixava nos ataques. De repente a cortina de sua cama abriu, e um Harry ansioso começou a chacoalha-lo, achando que ele dormia.

Rony sentou-se na cama, tentando enxerga-lo na escuridão do quarto.

— Aquela garota que morreu...  Aragogue disse que ela foi encontrada no banheiro — Harry falou muito rápido. — E se ela nunca saiu do banheiro? E se ela continua lá?

A garota morta? Como a garota morta não saiu do banheiro? Só se houvesse lá o esqueleto pendurado no teto, ou então...

— Um fantasma... — Rony murmurou, as peças encaixando-se como quebra-cabeças na sua mente — Você não acha que... A Murta Que Geme?


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Notas finais do capítulo

Espero muito que tenham gostado. Deixem comentários para alegrar meu coração! ^^



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