Aeipathy escrita por GirldiAngelo


Capítulo 5
Annabeth




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Annabeth

 

— Senhorita Annabeth, o carro está a sua espera. – A voz doce da mulher designada para ser minha assistente me acordou dos meus pensamentos profundos.

Suspirei pesadamente enquanto olhava para a mala ao meu lado e repassava uma última vez a pequena lista mental do que deveria levar. Algumas roupas para usar quando fosse mandada embora (espero que não engorde até lá, caso contrário teria um grande problema), alguns dos meus livros favoritos, meus papeis de carta e algumas fotos. Eram poucas coisas, não havia como acabar esquecendo algo.

Eu já vestia o uniforme das selecionadas, uma calça preta simples e uma blusa branca com meu nome gravado. Meu cabelo, entretanto, chamava atenção. Mamãe havia feito questão de trança-lo em um tipo de coroa que terminava em um coque antes de prender o pequeno lírio brilhante que representava a província. Os tênis pretos, confortáveis e surrados haviam sido minha escolha. Algo em mim precisava gritar que eu não era a candidata perfeita à realeza.

— Senhorita... – a mulher chamou mais uma vez.

—Sim, eu estou pronta. – Respirei profundamente e a segui até o carro, ciente de quem meus pais e irmãos nos seguiam.

Aparentemente, eu deveria começar o trabalho incessante de ser simpática antes mesmo de chegar no castelo. Haveria uma despedida para cada uma das selecionadas na praça central da sua província, onde o prefeito faria um belo discurso antes de sermos enfiadas em um carro novamente e em seguida em um avião que nos largaria próximo ao palácio. 

Senti meu corpo travar assim que coloquei o pé para fora do carro e encarei a praça lotada. A província inteira parecia estar ali. “Você só precisa sorrir, Annabeth.” Repassava a mim mesma enquanto apertava a mão de cada um dos meus irmãos, já que eram eles que caminhavam em direção ao palco improvisado comigo. “Sorrir parada, enquanto um monte de gente a cerca sem motivo plausível, e se despede de você mesmo sem nunca ter trocado uma palavra que fosse. Acene e sorria, é o que eles lhe mandaram fazer!”

Assim que cheguei a altura que podia observar a todos, me senti ainda mais desconfortável. A maioria dos olhares eram cravados em mim, fossem eles com boas ou más intenções. As famílias de dois e três me encaravam com certa raiva, como se eu estivesse roubando algo de cada um deles. Enquanto isso, algumas garotas da cinco e seis sorriam abertamente enquanto acenavam para mim, como se realmente estivessem torcendo por mim.

Alguns olhares das castas mais altas eram depositados na minha mãe que se colocava sorridente as minhas costas. Eu sabia porque, todos sabiam. A imagem de que ela era somente uma interesseira jamais deixaria os olhares maldosos de algumas mulheres. Queria poder gritar a eles o quanto Atena amava e cuidava de Frederick Chase como se ele fosse a coisa mais linda desse mundo. Queria que todos parassem de julgá-la e percebessem o amor verdadeiro que existia ali.

Acima de tudo, queria um amor assim para mim mesma. Mas no momento me encontrava a caminho de uma competição onde um garoto, criado com tudo as mãos, teria novos trinta e cinco brinquedos.

— Então juntem-se a mim, Carolina, para torcer pela bela filha de Atena e Frederick Chase, nossa selecionada, senhorita Annabeth. – A multidão aplaudiu tão alto que despertei de meus pensamentos novamente. – Você gostaria de falar algo, querida? – O prefeito perguntou enquanto o hino de Illéa tocava alto ao nosso redor, só então percebi que havia perdido todo seu discurso.

— Estou tão maravilhada que nem saberia o que falar, senhor! – Menti sorrindo abertamente. O que eu deveria falar para aquele monte de pessoas que não conhecia?

—Tudo bem, eles a prepararão para isso no castelo, você verá! – Ele sorria de volta para mim.

Nesse momento, então, Misty – a assistente – adentrou na conversa dizendo que era hora de me despedir educadamente de todos para podermos partir. Os olhos dos meus irmãos lacrimejavam levemente, apesar dos esforços de Matthew para esconder estar emocionado. Bobby, por outro lado, dizia que a casa não seria a mesma sem meus livros espalhados por todo canto. Sorri abertamente com o comentário e dei um beijo estalado na sua bochecha, sabia que ele gostava muito mais de contato que eu e Matthew. Algum dos irmãos precisava ser mais caloroso, a exemplo da mamãe, que me abraçou apertado por longos segundos e me soltar apenas depois de deixar um pouco do seu hidratante labial na minha bochecha. Percebi que ela também se segurava para não chorar, Atena Chase jamais perderia a postura na frente de tanta gente.

— Sei que você vai conquistar aquele castelo, não vai?! Você já é uma princesa querida, ele escolhendo você ou não! – A mais velha sorriu abertamente ao olhar novamente nos meus olhos.

Segui então para a despedida que julgava ser a mais fácil – estava muito enganada. Papai me apertou em um abraço assim que me aproximei dele.

— Você é inteligente. Você é forte. – Ele sussurrou ao meu ouvido. – Nenhum príncipe vai tirar isso de você, querida. Lembre-se, a escolha não é só dele. Mostre a aqueles engomadinhos a garota que criamos você para ser – Frederick Chase sorria mais que nunca quando me afastou levemente para beijar minha testa. – Me orgulho de você, corujinha.

— Amo vocês – Sorri para toda a minha família. Nem havia partido ainda e já morria de saudades de cada um deles.

—Senhorita... – Misty chamou mais uma vez.

— Por favor, será que você não pode deixar a garota se despedir direito da família? – Mamãe a encarou, levemente irritada, o que me fez rir.

— Preciso ir, pestinhas cuidem da mamãe e do papai por mim, sim? Prometo escrever sempre. – Sorri uma última vez antes de me afastar com a assistente em direção ao carro.

Fui a primeira a chegar no aeroporto e agradeci mentalmente por isso. A verdade é que a Annabeth durona e preparada desapareceu assim que fechei a porta do carro e naquele momento ainda me encontrava com os olhos irritados e vermelhos devido ao choro. O que eu tinha na cabeça para me inscrever para essa loucura toda? Eu odiava atenção, detestava a ideia de usar vestidos enormes e viver longe da minha casa por tempo indeterminado era um pesadelo. Minha admiração pela coroa nem era tão grande assim, achava totalmente egoísta suas grandes festas transmitidas na televisão enquanto tantas pessoas ao meu redor passavam fome, detestava como eles enfiavam na cabeça das pessoas que era algo bom lutar pelo nosso jovem país em guerras intermináveis e, pior que isso, como não ligavam para a desigualdade causada pelo sistema de castas que tínhamos que suportar sem direito de questionar. Até mesmo o apreço que tinha pelo Príncipe Jason havia se perdido, o loiro se mostrava sempre de bom humor, educado e inteligente, mas desde a última quarta-feira só conseguia o ver desse jeito negativo.

— Nervosa? – Uma garota morena se sentou ao meu lado para me arrancar da minha reclamação interna.

— Você também parece estar. Suas mãos tremem. – Respondi ao desviar o olhar do rosto dela para as suas mãos no braço da poltrona.

Puxei na minha própria memória e nome e rosto de todas as selecionadas até reconhece-la. Lembrei rapidamente, aquela era uma das garotas mais bonitas da competição. Seu nome era Piper Mclean, tinha 18 anos e morava em Kent, era uma das três meninas que pegariam o avião comigo. Suspirei levemente antes de levantar novamente o rosto aos poucos. Seu cabelo era curto e cortado em camadas, o que dava um ar despojado para a aparência dela e contrastava com o uniforme engomado das selecionadas. Ela sorria divertida e sincera e seus olhos eram lindos com duas cores diferentes. Senti um pequeno alivio no peito – com uma garota como ela, Jason jamais me manteria por muito tempo na competição.

— Duvido que alguma das garotas não esteja... estamos indo para o castelo! De Avião! – Ela soava realmente empolgada.

— Do avião eu tenho certeza que não preciso ter medo. – Respondi tentando soar descontraída.

— Eu acho tudo apavorante. Quer dizer, sou uma 5 que está indo direto ao encontro do príncipe, com sorte casar com ele! – Ela suspirou em meio a um sorriso apaixonado. Será que ela havia recebido as mesmas regras que eu? – Se algo der errado por minha culpa, vou ficar péssima!

— Acho que se ouvirmos o conselho da rainha, podemos sobreviver a tudo isso.

— É, ela sobreviveu... – a garota concordou. – Você é boa nisso, Annabeth Chase. – Sorriu para mim. É claro que ela saberia meu nome. Todos sabiam agora.

— Nisso? – Perguntei sem entender.

— Acalmar as pessoas, acho que vamos precisar muito disso no castelo. – Piper respondeu ainda sorrindo e dessa vez eu retribui o sorriso, concordando com a cabeça.

Alguns segundos depois a terceira de nos chegou. Seu nome era Calipso, a selecionada de Allens, e apesar de ter sorrido simpática para nos duas, ficou em silencio por todo o tempo. Ela não demonstrava estar nervosa, mas ainda brincava impaciente com as próprias mãos enquanto éramos obrigadas a esperar a quarta, e última, selecionada para que pegar o avião. Os cabelos de Calipso era de um loiro cor de mel lindo e pareciam ir até o meio das costas da garota, a flor da província estava visível na trança jogada por cima do seu ombro, ela não usava nada de maquiagem – claramente não precisava, sua pele era perfeita, os cílios longos e os lábios eram perfeitos com sua cor viva. Toda aquela beleza natural a destacava e ela parecia ter consciência disso.

— Demorei muito? Tinha tantos fãs querendo se despedir! - Drew Tanaka chegou depois de um longo tempo de espera. Ao contrário de Calipso, ela usava uma maquiagem pesada debaixo dos óculos escuros, o cabelo dela estava moldado em cachos perfeitos e o confiante sorriso era moldado pelo batom vermelho vivo nos lábios. Tudo naquela imagem me incomodava.

Não precisei de muito para perceber que não impressionava nenhuma das garotas também, Piper inclusive a encarava com certo deboche e parecia pronta para dar alguma resposta nada amigável.

— Ótimo! Estão todas aqui, podemos ir! – Misty entrou na pequena sala de espera antes que qualquer uma pudesse falar algo e nos guiou até o avião.

Sentei ao lado de Piper após um pedido silencioso da garota, ela estava realmente nervosa com o voo e, por isso, apertou minha mão durante todo o tempo. Por mais que pequeno, aquilo era um gesto de confiança que me deixou feliz. Seria ótimo ao menos ter alguma amiga no tempo que eu ficasse dentro do castelo.

 


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