Aeipathy escrita por GirldiAngelo


Capítulo 4
Annabeth




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Annabeth

 

 

Em menos de uma semana depois daquele jornal oficial minha vida já havia virado de cabeça para baixo. Além dos telefonemas de felicitações e boa sorte de diversas pessoas que eu nunca sequer tinha ouvido o nome, minha casa se encontrava repleta de buquês de flores dos mais diversos tipos com cartões chamativos. Desde quando Annabeth Chase era uma garota que recebia flores?

Aparentemente, desde sábado pela manhã. Junto com as diversas visitas oficiais. A primeira delas foi uma garota, enviada para confirmar as informações da minha ficha, ela parecia tão desacreditada de cada linha escrita que senti a necessidade de mostrar para ela todos os livros que havia lido nos últimos dias e até escrever algumas frases nas línguas que constavam no papel. Ao fim, ela ainda parecia um pouco relutante, mas  assim mesmo me entregou um documento que confirmava ser verdade todas as informações iniciais e me pediu que assinasse para que acabássemos com aquele – desagradável – encontro.

No segundo dia, foi a vez de um guarda do palácio ter uma reunião comigo e todos os soldados da província, a fim de repassar meticulosamente todas as regras de segurança. Aparentemente, não estava mais livre das ameaças rebeldes nem dentro da minha própria casa, uma vez que havia me tornado particularmente especial para a Coroa. Ótimo.

A próxima visita, entretanto, foi maravilhosa. Um homem elegante e extremamente divertido havia sido mandado na terça-feira, afim de tirar minhas medidas e fazer algumas perguntas sobre os vestidos que eu usaria. Aquilo realmente me deixava ansiosa, saber qual seria minha rotina no castelo, se eu precisaria usar aqueles vestidos enormes iguais os da rainha – eles pareciam extremamente desconfortáveis, então fiquei contente em saber que não seria necessário tanto se eu não quisesse.

Algumas vezes havíamos recebido ligações de uma mulher chamada Vênus, que com sua voz enjoada e alegre se apresentou como responsável pelas selecionadas e nos pediu se precisávamos de alguma coisa em especial. Na última ligação ela nos informou sobre a última visita, que seria feita na quarta feira, dois dias antes da partida para o castelo.

— Boa tarde senhora Chase. – Um homem magricela usando um terno engomado sorria a porta quando o dia chegou.

— Boa noite, fique à vontade. – Mamãe sorria de volta para o homem enquanto o guiava até a sala de casa onde nos sentamos no sofá que rangia levemente.

— Estou encantado de conhecê-la, Senhorita – ele se direcionou para mim dessa vez. – Estou aqui para repassar algumas regras importantes da competição, mas tenho certeza que todas serão de muito fácil compreensão. Seus filhos estão em casa, senhora? – Ele voltou a falar com minha mãe.

— Não senhor, pedi que os garotos e o pai deles fossem ao mercado para mim. – Ela respondeu rapidamente.

— Ótimo, temo que alguns assuntos não sirvam para ouvidos jovens demais... – ele ajeitou o paletó e largou algumas folhas em cima da mesinha de centro enquanto eu trocava um olhar desconfiado com Atena. – Podemos começar então?

Concordei rapidamente com a cabeça.

— Talvez isso soe um pouco grosseiro, senhorita Chase, mas desde sexta-feira passada a senhorita é considerada propriedade oficial de Illéa, portanto preciso alertá-la sobre alguns cuidados que deve tomar com o seu corpo. Tenho diversos formulários aqui que devem ser assinados confirmando que a senhorita entendeu cada uma das informações necessárias. É meu dever informá-la que qualquer falha no cumprimento das regras acarreta na sua eliminação imediata da seleção, compreende? – Ele falou com tanta facilidade e confiança que me fez acreditar ser um texto decorado.

—Sim. – Respondi depois de engolir em seco. Aquilo tudo parecia sério demais para mim.

— Muito bem... – ele remexeu em alguns dos papéis. – Tenho aqui os exames do seu médico, não há nada com que se preocupar, a senhorita parece ter uma saúde excelente. – Sorri levemente ao ouvir isto, eu realmente me cuidava para ter uma boa saúde. – Entretanto, fui informado que você andou tendo alguns problemas para dormir.

— Bem... é um pouco difícil desligar com toda as informações a serem digeridas... quer dizer, eu faço parte da seleção! – Respondi como se fosse um pouco óbvio, tentando parecer ansiosa para que o dia chegasse logo enquanto, na verdade, eu estava assustada com tudo aquilo e passava as noites imaginando tudo o que poderia acontecer de errado. Pela primeira vez na vida me encontrava completamente insegura.

— Posso conseguir alguns calmantes, se for necessário. – O magricelo ofereceu com um sorriso leve.

— É necessário! – Mamãe respondeu antes que eu pudesse sequer pensar em recusar. – Você precisa estar bem descansada para ir até o castelo querida, e agora você está com olheiras péssimas. – Sincera demais, nem tive coragem de debater com a mais velha.

— Certo, me certificarei para que sejam entregues logo. Você não é a única das garotas que precisou, não há com o que se preocupar. – Ele respondeu enquanto escrevia no seu pequeno bloco de notas e então se voltou novamente para nós. – Vamos prosseguir então. Sei que pode se tratar de um assunto delicado, mas tratei do assunto com todas as selecionadas, então peço que não fique acanhada...

Franzi levemente as sobrancelhas, o encarando.

— Preciso que a senhorita confirme que é virgem.

— Como é?! – Minha mãe o encarou escandalizada.- Isso é sério?

— Receio que sim, se a garota não é, preciso saber imediatamente. – Ele pareceu não ter nenhum receio em fazer a pergunta. Em frente da minha mãe ainda por cima! Sentia minhas bochechas já quentes e provavelmente coradas.  

— É claro que sou virgem, conheço a lei de Illéa, não sou estúpida. – Respondi querendo acabar logo com aquele assunto.

— Por favor, tenha em mente que saberemos se a senhorita estiver mentindo...

— Mas é claro que ela está falando a verdade! Quem você pensa que minha filha é? Ela nunca nem saiu com algum garoto antes! – Mamãe exclamou.

— Muito bem, então peço que você assine esse formulário para confirmar a declaração. – Ele esticou a folha em minha direção e eu obedeci rapidamente, esperando que ele falasse das demais coisas logo.

Adorava que Illéa existisse ainda depois de entender toda a historia turbulenta do país, mas algumas regras pareciam quase sufocantes demais. Leis sobre como encontrar uma esposa, formulários sobre sua virgindade, restrições para muitas coisas. Era péssimo.

— Começaremos então com as regras agora, se houver alguma dúvida, sinta-se à vontade para perguntar. – Ele puxou uma das folhas e começou a lê-los – A senhorita não poderá sair do castelo sem a permissão do príncipe, apesar da sua vontade. Só o príncipe pode dispensá-la, nem mesmo o rei ou a rainha tem esse direito, mesmo que possam deixar claras suas opiniões sobre cada uma das selecionadas, se as aprovam ou não. Não existe um cronograma exato para a seleção, ela pode durar alguns dias ou até anos.

— Anos?! – Perguntei inquieta. Ficar presa entre aquelas paredes por tanto tempo era assustador.

— Não se preocupe, uma seleção longa demais resultaria em uma péssima imagem para o príncipe, portanto, é improvável que dure mais que poucos meses. Porém, se assim Jason quiser, você não terá de permanecer no palácio até ele tomar sua decisão de casar-se ou libera-la.

Suspirei levemente. Ótimo, aquela bagunça toda não tinha nem um prazo para acabar. 

— A senhorita não determina seus horários com o príncipe, ele a procurará quando julgar necessário um encontro ou quiser sua companhia para algo, à parte os grandes eventos sociais. Deste modo, as selecionadas não têm permissão de se aproximar do príncipe sem serem convidadas a tal. – Ele continuou, sem nenhuma interrupção desta vez. – Ninguém espera que você faça amizades entre as outras jovens, mas qualquer tipo de sabotagem ou violência será reportada imediatamente ao príncipe e então ele próprio decidirá o que fazer com o caso, mas o mais comum é que a senhorita seja eliminada no ato. Todos seus pensamentos românticos devem ser direcionados a Jason, não será tolerada nenhuma carta romântica ou relacionamento com alguém do castelo, caso algo do tipo seja descoberto, será um crime de traição contra a  coroa, e como previsto na lei illeana, a pena é a morte. – Ele parecia inabalável, mesmo com a seriedade de tudo que estava falando. Mamãe parecia um pouco entediada enquanto eu tentava pegar qualquer mínimo detalhe de toda a informação.

— Caso a senhorita quebre qualquer uma das leis de Illéa, será imediatamente julgada por tal. Sua condição de selecionada não a coloca acima da lei. Além disso, não é permitido que as selecionadas comam ou utilizem roupas que não sejam entregues a elas por alguém do castelo. É uma medida de segurança extremamente importante.

Aquilo parecia não acabar.

— Todas as sextas-feiras as selecionadas aparecerão no Jornal Oficial, apesar de todos os momentos em que serão feitas as entrevistas serem previamente comunicados. Ao decorrer da seleção, haverá fotógrafos e cinegrafistas documentando seus momentos com o príncipe. É importante que você os trate com gentileza e simpatia, deixando os mesmos fazerem seu trabalho. Somente o príncipe pode dispensa-los, se quiser privacidade total. Sua família será recompensada por cada semana que passar no castelo. Se a senhorita for dispensada da seleção, entretanto, teremos uma equipe para ajudá-la a se adaptar novamente a vida fora do castelo, com uma nova residência e um emprego adequado. Caso faça parte das últimas dez candidatas, será considerada da Elite, após receber esse status lhe informaremos os deveres e funções de uma princesa, antes disso a senhorita não tem permissão para perguntar detalhes. Você voltará a ser uma três, a não ser que seja a escolhida do príncipe. Se a senhorita vencer, toda sua família será Um, membros da família real.

Os olhos de minha mãe ao meu lado se arregalaram com a ideia. Ela sorria animada.

— Se assim acontecer, você se casará com o príncipe Jason e será coroada princesa de Illéa, assumindo todos os direitos e responsabilidades do título, compreende Senhorita Chase?

— Sim. – Confirmei com a cabeça. Apesar de parecer ser o sonho de todas as garotas, imaginava todas as responsabilidades que viriam com o cargo quando engoli em seco.

— Muito bem, só preciso então que a senhorita assine aqui – ele indicou o espaço no último dos formulários. – Confirmando que compreendeu todas as regras. E a senhora, preciso que assine o recibo do primeiro pagamento pela estadia da sua filha. – Entregou um pequeno papel para minha mãe, que por alguns segundos iluminou ainda mais o ambiente com o seu sorriso. Não fazia ideia do valor, mas deveria ser o suficiente para bancar a educação dos meninos por alguns meses, isso a deixaria nas nuvens.

Assim terminamos de assinar, o magricela recolheu todos os papéis de cima da mesa, agradeceu pela hospitalidade e pediu que somente eu o acompanhasse até a porta. Mamãe não se importou, dizendo que iria a cozinha para começar o jantar. Assim que paramos sob a soleira de porta, entendi o motivo do pedido.

— Há mais uma coisa, Senhorita Chase. – Ele me olhava um pouco apreensivo. – Não é exatamente uma regra, mas é prudente que a senhorita atenda a qualquer um dos pedidos do príncipe.

— Desculpe, não entendi. – O encarei de volta um pouco confusa.

— Você não deve dispensar Jason, independente de qual seja seu pedido. Se ele a convidar para o jantar, um encontro nos jardins, se quiser beijá-la ou até mais que isso... a senhorita seria imprudente em recusar-se a fazer as vontades da coroa. Tenha uma boa noite. – Ele acenou com a cabeça um pouco apressado e saiu.

Fiquei parada à porta por longos minutos enquanto digeria a informação. A lei Illeana afirmava que todos deveriam ter relações sexuais somente depois do casamento, era um jeito inteligente de evitar que doenças se espalhassem e o sistema de castas ficasse bagunçado. Filhos ilegítimos eram jogados na Oitava casta enquanto seus pais lidavam com a vida dura da cadeia. Bastava uma suspeita para que se passasse a semana atrás das grades.

Eu havia acabado de assinar um atestado de pureza e outro que me informava não estar acima de qualquer lei de Illéa. Mas não, aquilo não se aplicava ao príncipe. O grande Jason Grace poderia fazer o que quisesse comigo. Só porque ele era o filho do rei.

Só conseguia sentir nojo naquele momento. A seleção nem havia começado e eu já odiava tudo nela.


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